Dia: 11/11/2023
Local: Tibau
Participantes: Leandro do Carmo e Diversos
Relato
Manhã de forte calor. Era dia de voltar ao Tibau para
continuar as conquistas que tinha por lá. Chegamos cedo e aproveitei para dar
uma explorada com o Luis e leva-lo nos projetos antigos que havia iniciado com
o Ary. Deixamos as pesadas mochilas na base e iniciamos a caminhada, reabrindo o
caminho. Seguimos até a extrema esquerda, de quem olha para a parede.
Demos continuidade ao projeto que havia iniciado com o Ary e
o Ivison, onde tem a grande jaqueira caída. O Zé Gabriel aproveitou a corda
fixa que deixaram lá na última investida e subiu, colocando algumas chapeletas.
Nem acreditei que ele estava conseguindo ficar lá naquele sol forte, já estava
difícil para mim na sombra... Por volta das 11h 30min, depois que o Zé Gabriel
desceu, nem quis continuar. Aproveitei para arrumar as coisas e ir embora. O
pessoal ainda ficou por lá.
Relato da Conquista da Via Bernardo Collares Arantes, por Michel Cipolatti
Há alguns anos eu carregava duas vontades que nunca havia
colocado em prática: conquistar uma via e dar o nome em homenagem ao Bernardo,
e; saber se alguém já tinha conquistado alguma via naquela aresta que me
chamava atenção toda vez que eu passava pela estrada em Inoã.
E foi escalando a CEB 60 com a Hélida, sempre muito motivada
para escalar, no dia 22 de fevereiro de 2020, que ao contar essa história eu
escuto: “Bora chegar na base amanhã!”. E fomos no dia seguinte mesmo.
Depois de muita subida abrindo trilha e muitos espinhos,
chegamos na base da aresta, e para nossa surpresa, não tinha nenhuma via!
Começou então a conquista, sem nenhum projeto ou preparação. Começamos do zero.
Compra de chapeletas… Juratan entrou para reforçar o time com a sua
experiência… contato com a prefeitura, pois o local é uma Unidade de
Conservação… equipamentos móveis e furadeira emprestados… parabolts do Miguel
Monteza… e tudo pronto.
No sábado, dia 7 de março, conseguimos iniciar a escalada
(desculpa pai, por não ter conseguido te dar um abraço no dia do seu
aniversário). A idéia foi, desde o início, conquistar uma via limpa explorando
ao máximo as proteções móveis, economizando nos furos e evitando a vegetação.
Mais uma vez, para a nossa surpresa, a parede se mostrou
muito generosa, oferecendo boas agarras e muitas fendas. A via já começa com
uma fenda, com boas proteções móveis. Lembro de ter chegado no primeiro platô,
aos 10m de via, e o Juratan dizer: “Cabe uma chapeleta aí, hein!” Mas eu estava
com um móvel perto do pé e “toquei para cima”. A primeira proteção fixa fica a
13m da base, e neste dia foram conquistados 30m de via, passando por um lance
talvez de 5° grau, após a segunda chapeleta.
Uma semana depois voltamos para mais uma investida. Saindo
do P1, encontramos uma sequência de pequenas fendas boas para colocação de
móveis. Foram instaladas mais duas chapeletas até o P2. Mais uma vez, tocando
para cima, mas desta vez com a Hélida fazendo a segue, que ficou orando kkk.
O traçado encontrado e indicado pela parede alterna entre
sair da aresta para aproveitar as fendas existentes e voltar para a aresta para
aproveitar o visual do diedro, com a vista para suas paredes negativas em toda
sua extensão. E que visual! A cada investida a parede superava nossas
expectativas.
Entraram para o time o Sérgio Magalhães, que foi em todas as
demais investidas com sua raça, e o Bruno Moretto, que fez imagens incríveis
com o drone. Na terceira investida foram conquistados mais 30m de via. Terceiro
esticão todo em proteções móveis. Optamos por fazer esticões curtos, para não
perdermos a comunicação entre guia e participante, e que coincidem com as
duplas de rapel com uma corda de 60m.
Definido o P3 e… Perrengue!!! Ao tentar puxar a mochila com
a furadeira, a mesma agarrou em um arbusto e não subia de jeito nenhum. Achei
que fosse arrebentar a retinida de tanto puxar do platozinho do P3. Não soltava
por nada! A solução foi descer a mochila de volta até o Magalhães, que soltou a
retinida para eu poder recolher, e consegui jogar de volta em uma linha reta
com a chave 14 de peso. Deu certo!
Passados mais cinco dias e estávamos nós de volta à parede
para conquistar um dos lances mais bonitos da via: o lance da aresta! Logo após
o P3, com ajuda do Magalhães que apontou um possível traçado passando pela
aresta (enquanto eu estava buscando um caminho com muita vegetação) consegui
vencer um trecho que alterna entre agarras e aresta, com a utilização de dois
móveis. Porém, o lance ficou um pouco exposto demais e não é facil (eu não ia
querer guiar aquele lance de novo rs) a ponto de colocamos uma chapeleta
intermediária para reduzir o risco. Mais 30m de via e definido o P4.
A última investida antes de interrompermos por causa da
pandemia foi a mais produtiva, com ascensão de 60m. O quinto esticão não
apresenta grandes dificuldades e é protegido todo por móveis. Em seguida vem
uma horizontal para a esquerda, que passa por cima do “grande negativo”. O
final da horizontal também ganhou uma chapeleta na última investida para diminuir
o grau de exposição. A chegada ao P6, talvez o crux da via, tem proteção fixa e
boas colocações móveis.
Passados alguns meses sem voltarmos na via, decidimos
terminar a conquista. O dia escolhido em que estávamos disponíveis eu e Sérgio
Magalhães, e que não choveu, foi o dia 20 de dezembro de 2020. Marcamos 5 horas
da manhã no início da trilha para não pegarmos muito sol, tendo em vista que a
via fica voltada para o noroeste e pega sol à tarde. O objetivo era recolher as
3 cordas fixadas na parede, instalar as duas citadas chapeletas para reduzir o
risco (pintadas de amarelo para diferenciar) e conquistar o trecho final, do P6
para cima, para acessar o mirante e descermos por trilha. Chama atenção a
presença de blocos soltos a partir do P6. Sendo assim, quem optar pela descida
por trilha deve escalar a chegada ao cume com bastante cautela, também em
móvel.
A descida, conforme indicado no croqui, pode ser feita por
rapel a partir do P6 com uma corda de 60m (todas as paradas são em chapeleta
dupla) sendo o primeiro rapel em diagonal, ou por trilha a partir do mirante
(cume). Não há proteção fixa no cume, para evitar que pessoas inexperientes
montem rapel. A segurança do participante pode ser feita em arbustos ou
palmeiras confiáveis.
Ao todo, a via tem cerca de 200m, foram instaladas 12
chapeletas durante a conquista (mais seis duplas), duas intermediárias para
reduzir a exposição, e foram utilizadas 21 colocações de móveis.
Agradeço muito aos demais conquistadores, Magalhães, Juratan
e Hélida, por me permitirem a realização deste trabalho, que acredito ser o
maior feito da minha vida (depois dos meus filhos). Sem o apoio e a
participação de vocês não seria possível. Não medimos esforços durante a
conquista, pegamos sol, sentimos sede, muitas dores musculares, mas como disse
o Juratan, a dedicação e o espírito de montanhista sempre prevaleceu.
Conseguimos superar esse desafio. Ainda segundo o Jura, que conhece
praticamente todas as vias da região, “é a mais bela conquista de Niterói e
Maricá”. Eu não discordo. A parede é realmente impressionante pela sua formação
e pelo visual.
Fico muito honrado em poder contribuir para o esporte,
oferecendo mais uma opção de escalada com um requinte de adrenalina. Ainda, em
conseguir homenagear meu amigo Bernardo, um grande escalador que deu sua vida
para as montanhas, e que tanto contribuiu para o desenvolvimento do esporte,
com suas conquistas, com a intensa participação na FEMERJ e nos Clubes, com a
sua contagiante paixão pelas montanhas que certamente influenciou e ainda influencia
muitos escaladores. Esta homenagem ainda é pouco para a grandeza do Bernardo e
para o que ele representa para o montanhismo.
Fico com o sentimento de missão cumprida. Valeu cada momento
de dificuldade e superação, cada esforço e dor sentida, cada minuto de
desânimo, cada gota de suor deixada na montanha, pois “As Montanhas são uma
espécie de Reino Mágico, onde por meio de algum encantamento, eu me sinto a
pessoa mais feliz do mundo”. Bernardo Collares Arantes. Obrigado meu amigo!
Via Paredão Rosângela Gelly - 3º IV E2 D2 380m Conquistadores: Juratan Câmara, Hélida Rodrigues, Leandro do Carmo, Michel Cipolatti e Luis Avelar Ano: 2021 Local: Pedra de Itaocaia - Face Sudeste
Linha aproximada da via Paredão Rosângela Gelly (amarelo) com a Paredão Itaocaia (vermelho) à sua direita:
Dicas
A via é bem bonita e qualidade da rocha ajuda bastante. Boas agarras e lances variados. A via segue bem protegida e é possível rapelar de qualquer ponto da via com uma corda de 60 metros.
Descrição das cordadas:
A via começa tranquila e com lances mais fáceis. Agarras sólidas. Depois a via ganha um pouco mais de inclinação. Passa por uma sequencia de cristais e vem o primeiro crux, numa saída bonita de um buraco raso para a direita. Continua com lances bem bonitos e mais delicados. A partir da P4, a via perde inclinação e vai ficando mais fácil e um pouco mais suja. As proteções mais espaçadas. Já é possível ver de longe algumas proteções da Paredão Itaocaia.
Bate sombra na parte da tarde.
Acesso
OBS: Por ser uma via recente que ainda não tem muita repetição, o traçado da trilha pode não estar muito bem definido, mas siga sempre paralelo a rocha.
Para acessar a via, deve-se entrar num terreno vazio, entre a loja de material de construção Pé da Pedra e uma loja de Colchões, onde há uma construção abandonada. Siga pelo lado direito dessa construção e vá andado. Depois que passar um bambuzal, deve-se cruzar uma talvegue em direção a umas bananeiras. Siga subindo em direção à pedra. Chegando nela, siga paralelo para a esquerda até encontrar a base da via.
Vídeo da 5º Investida
Relato por Juratan Câmara
Há algum tempo eu estava escalando com a Hélida Rodrigues, a quem
conhecera recentemente. Ela escalava muito bem e como ama o esporte, pensava
sempre em evoluir tecnicamente mais e mais. Foi aí que conversando com ela veio
a ideia de fazermos uma conquista, pois não existe nada melhor para se evoluir
nas escaladas. Conquistar tem toda uma técnica única, é desbravar o
desconhecido, aumentar o controle emocional e desenvolver uma visão até antes normal.
A leitura de um futuro lance pode levar a uma ótima conquista ou a uma daquelas
que ninguém gosta de ir ou quando vai não volta mais. O conquistador não pode
pensar em si, tem que lembrar que é mais uma via para o esporte, pelo menos é a
minha visão. E foi com esse impulso que a Hélida conquistou os primeiros lances
muito bem, com segurança e uma calma de veterana, cometeu pequenos erros
normais a quem começa, mas ficou muito acima da média dos iniciantes...
Escolhemos uma linha mais limpa possível, inclinação razoável e com boas
paradas. Neste dia, estava muito quente e descemos depois de algumas chapeletas
fixadas na parede. Fiquei pensando depois que nome daria a via e em nossa
segunda investida falei que gostaria de homenagear uma pessoa que sempre fez
algo pelo esporte, Rosângela Gelly, talvez Hélida tivesse um outro nome, mas
não fez resistência a minha proposta.
Depois de irmos duas vezes, convidei o Michel Cipolatti para nos ajudar,
visto que já sabia o tamanho da parede que iríamos encarar. Ao mesmo tempo,
chamamos o Leandro do Carmo e o Luiz Avellar, excelentes escaladores do Clube
Niteroiense de Montanhismo. Na terceira investida, tivemos que abrir uma outra
trilha, bem mais longa, vindo lá da direita, visto que o proprietário da casa
por onde passávamos não mais permitiu nossa entrada, neste dia estava um calor
absurdo e Cipolatti e Leandro abriram a caminhada cortando todo o mato pelo
caminho, os dois ficaram tão cansados que não tiveram forças pra mais nada, eu
fiquei pelo meio do caminho vendo Luís.
Ficamos um tempo sem voltar lá, porque o sol andava muito forte, quando
retornamos dividimos o grupo, Cipolatti e Leandro subiram para conquistar, eu,
Hélida e Luís fomos intermediando os lances longos. Nossa preocupação sempre
foi deixar a via bem protegida, e assim fizemos. Cipolatti e Leandro voavam na
pedra e avançaram bastante e quase terminaram a conquista.
Por fim Cipolatti e Leandro foram na última investida, colocaram as
paradas duplas que faltavam, fizeram as anotações das distâncias dos lances e
encerraram mais uma via linda, bem protegida, boas paradas, visual lindo. Comunicamos,
oficialmente a homenageada que sua via estava concluída, uma justa homenagem a
quem sempre trabalhou para o montanhismo, sempre deu palestras sobre riscos, fez
lives, convidando várias pessoas nos
mais diferentes assuntos ligados ao esporte e ainda é a autora do livro “Isto
Não é Coisa de Menina”. Para quem gosta de uma boa via, aconselho que vá
conhecer o paredão Rosângela Gelly
Relato por Leandro do Carmo
Sempre achei que aquela face da Pedra de Itaocaia tinha potencial de
novas vias. Eu e o Ary já havíamos olhado, mas nunca houve oportunidade de
irmos lá. Mas o destino fez com que começasse uma via ali. Já estava há um
tempo conversando com o Juratan sobre conquistas, mas ainda não havíamos tido a
oportunidade de conquistarmos uma via. Quando recebi o convite para poder
continuar com ele e a Hélida, uma via na Pedra de Itaocaia, não pensei duas
vezes. Além mim, o Luiz e o Michel também foram.
O Juratan e a Hélida já haviam ido lá duas vezes. Marcamos cedo a
terceira investida e seguimos para Itaipuaçú. Chamamos o caseiro que nos
autorizou a entrar. Enfrentamos um forte matagal até chegar à base da via. O calor
estava forte. Dali, subimos o trecho que já estava protegido e seguimos mais
para cima. O Michel conquistou os primeiros metros e acabei finalizando o dia
com um lance bem bacana, acho que o mais difícil até ali. O calor estava forte
e resolvemos ir embora, afinal de contas ainda tinha um mato pela frente... Na
descida, o dono da casa apareceu e reclamou que estávamos indo lá várias vezes
e dificultou a nossa entrada para as próximas investidas. Ainda precisaríamos
de algumas.
Ao mesmo tempo em que estávamos nessa conquista, o Cauê Zago dava
continuidade a uma via, mas o acesso era bem mais para frente. Aí, surgiu a
ideia de acessarmos pelo mesmo caminho dele e seguir paralelo a rocha até chegarmos
a base da via. E assim marcamos a quarta investida. Entramos ao lado de uma
loja de material de construção, num terreno onde tem uma construção abandonada.
Dali, seguimos até a rocha e passamos pela via do Cauê e continuamos paralelos
a rocha, abrindo caminho e deixando preparado para futuras investidas. Ao longo
caminho, pudemos observar diversas linhas e o grande potencial que a parede
tem. Fomos metro a metro até, finalmente, que chegamos exaustos à base da via. O
calor estava tão forte e estava tão cansado, que nem deu para pensar em
conquistar. Mas pelo menos havíamos conseguido uma alternativa viável para
acessar a base. Ao final, encontramos o Cauê Zago e o Alexandre Langer na
padaria, onde paramos para tomar uma cerveja gelada e conversar um pouco sobre
as conquistas.
Na quinta investida foi mais fácil. O caminho já estava pronto. Chegamos
bem mais rápido a base da via e avançamos bem na conquista. A rocha era de boa
qualidade e foi facilitando bem a subida. Se não me engano, ainda voltamos lá
pelo menos umas duas vezes até que encontramos a via Paredão Itaocaia num
trecho da rocha. Aí, tínhamos duas opções: ou parávamos ali, ou continuávamos mais
para a esquerda. Como avaliamos que ficaria um mais do mesmo, optamos por
encerrar a via ali mesmo. Já estávamos com aproximadamente 380 metros de via.
Os melhores lances já haviam passado. Intermediamos alguns lances mais expostos
e demos por encerrada a conquista. O Juratan havia sugerido homenagear a
Rosângela Gelly, uma acertada decisão. E assim ficou batizada a via...
Conquista da Via Carlos Boechat - 4° Vsup E2 D2 - 220 metros
Dicas:
Para acessar a base, seguir pelas pedras à direita da prainha de Itacoatiara, até encontrar a trilha que passa abaixo das casas de um condomínio e descer no setor de boulders do Oriente (caminho também frequentado por pescadores).
A via se inicia próximo ao último bloco deste setor, que fica “apoiado” na parede. Da base, é possível ver as quatro primeiras chapeletas e a fenda que permite vencer o trecho negativo.
A primeira parada dupla (P1) foi instalada na quinta proteção fixa, logo após a fenda, para evitar o atrito da corda na aresta da parede e o “peso” a ser puxado pelo guia, além de facilitar a subida do participante e a comunicação entre os dois. É possível esticar da base até o P2 com uma corda de 60m, no limite da corda.
Os esticões seguintes são predominantemente em agarras (cristais) e algumas passadas em aderência. A via segue tendendo levemente para a esquerda.
Após a última parada dupla (P5), é possível caminhar até a trilha do morro das Andorinhas, que dá acesso próximo à praia de Itaipu. A via pode ser rapelada com uma corda de 60m, porém, recomenda-se a descida por esta trilha, para evitar danos à vegetação da parede durante o rapel, evitar o rapel em aresta na chegada à base, e ainda, para desfrutar do mirante do Morro das Andorinhas, voltado para as lagoas de Itaipu e Piratininga na descida.
Com a perda do amigo, engenheiro, administrador regional da
Região Oceânica de Niterói, durante muitos anos eleito vereador de Niterói, que nos deixou aos 70 anos, no dia 12 de dezembro de 2020, vítima de
covid-19, iniciei uma busca por uma parede a fim de conquistar uma via de
escalada em sua homenagem, em alguma formação rochosa de Niterói. Foi lançado o
desafio!
Normalmente, se encontra uma parede, se conquista uma via, e
durante (ou depois) se decide o seu nome. Desta vez foi ao contrário. Eu já
tinha o nome da via, mas não sabia onde seria.
A escolha da linha não foi fácil, pois, apesar do relevo
acidentado, o município possui diversas vias e algumas paredes já não comportam
novas conquistas. Além disso, a intenção era abrir uma via “diferenciada”.
Tanto o local, quanto a vista, deveriam impressionar os escaladores que viessem
a conhecer e repetir.
Foram paqueradas algumas possibilidades no Morro do Morcego,
Santo Inácio, Cantagalo, Costão de Itacoatiara e Alto Mourão. Foram vários dias
de procura e olhar atento às paredes, quando certo dia, meus olhos bateram na
face sudeste do Morro das Andorinhas, aquela voltada para Itacoatiara. A rocha
possui muita vegetação, e à primeira vista, não seria um local apropriado.
Porém, ao chegar na base, depois do setor de blocos do Oriente, encontrei uma
linha relativamente “limpa”, com pouca vegetação. Definido, então, o local e o
traçado da via. Ao consultar o Parque Estadual da Serra da Tiririca, foi
constatado que este setor não possui vias de escalada e encontra-se liberado
para novas conquistas. Ufa!
Escolhido o dia 26 de janeiro de 2021 para iniciar a
ascensão. Ao convidar alguns escaladores para fazer a minha segurança (e
ninguém pôde ir comigo), decidi iniciar sozinho, em auto-segurança, o que
dificulta mas continua sendo possível. Assim, o desafio se tornou ainda maior.
Avistei uma fenda negativa a cerca de 15 metros da base em
que foi preciso usar uma estratégia inusitada para mim. Deixei a mochila com a
furadeira pendurada pelo cliff na quarta chapeleta, subi a fenda em livre e só
então puxei a mochila para cima. Foi o maior perrengue!
A parede demanda uma diversidade de técnicas de escalada,
com lances atléticos, como a referida fenda, e lances mais técnicos, como os
cristaizinhos e as aderências no meio da parede. Foram cinco investidas que
demandaram muito esforço e dedicação. Vários momentos de risco e dificuldade (o
risco era controlado, viu, mãe?) e muita adrenalina. Durante os momentos de
cansaço, dor e desconforto, consegui manter o foco e a motivação, pois a
vontade de vencer o desafio era maior (frase boa para o vídeo).
O resultado foi uma escalada muito bonita, com seu início
bem próximo do mar, onde as ondas batem na base da montanha, o que traz ao
mesmo tempo uma mistura de paz e apreensão. Difícil de explicar! Meu objetivo
foi atingido (pelo menos eu fiquei impressionado). Na última investida, no dia
15 de abril de 2021, o mar estava agitado e o início da via molhado pelos
respingos. Para completar a beleza do local, a vista para um “cartão postal da
cidade”: a praia de Itacoatiara cercada pela Serra da Tiririca.
Fico muito satisfeito com o resultado, na torcida para que
muitos escaladores a admirem com o devido cuidado com a vegetação, e faço a
doação da via ao Clube Niteroiense de Montanhismo.
Fico, também, muito honrado em conseguir fazer esta
homenagem. Este trabalho, além de eternizar em uma montanha da Região Oceânica
o nome do “amigo incansável”, como disse o Prefeito da cidade em uma homenagem
(e o Boechat era mesmo uma pessoa excepcional), certamente contribui para o
desenvolvimento do montanhismo na cidade de Niterói.
Seguem informações sobre mais uma conquista na Pedra de Itaocaia, via Moinho de Sonhos. Pra quem não conhece, a Pedra de Itaocaia está localizada em Itaipuaçu, Maricá. A face da via fica voltada para a Av. Carlos Mariguella.
Obs: Faltam os últimos metros da saída da via até o cume, mas é
fácil se localizar mesmo andando através do capim alto.
Dicas
Material recomendado: Corda de 60m, 12 costuras, sendo 3 bem longas para diminuir
o arrasto na primeira enfiada.
Tempo de duração: Dependendo da velocidade da cordada é possível terminar em
umas 6h, mas é recomendado chegar cedo.
Há sombra na parte da tarde.
Descrição do acesso:
O começo da trilha de acesso para a via é ao lado direito de
uma loja de material de construção (Av. Carlos Marighella, 48 - Reserva Verde,
Maricá - RJ, 24936-435 – Pé da Pedra Material de Construção), onde é possível
estacionar. A trilha passa pelo terreno de uma casa em construção pelo lado
direito até a parte aberta atrás da casa. No final desta parte mais aberta
segue para a esquerda para atravessar uma descida de água ao lado de um boulder
e segue na direção de algumas bananeiras a frente. Depois das primeiras
bananeiras segue na direção da montanha caindo um pouco para a direita até encontrar
novamente a descida de água, onde há um grande bloco no meio dela. Passa pela
esquerda do bloco e vai subindo essa descida de água até chegar na parede.
Depois segue margeando a parede para a esquerda até chegar em uma parte mais
aberta com um bambuzal. Contorna o bambuzal e continua perto da parede
encontrando um caminho por dentro da vegetação. Passa por uma pequena subida
até uma parte mais aberta. Nesta parte o começo da parede começa a ficar mais
positivo formando um rampão. No final desse espaço mais aberto, onde a
vegetação começa a fechar o caminho, verá as chapeletas da via começando onde a
parede fica mais vertical após a subida do rampão.
Descrição da Via
A Via começa em um rampão de pedra de II, mas a parede logo
fica vertical. Há um pequeno trecho de III até o começo de um veio de cristais.
A partir daí a via continua com agarras variadas. Buracos, crocas, lacas
pequenas e grandes, frisos, grandes batentes. Uma variedade grande de agarras
solidas. Fazendo com que tenha que ler bem os lances, já que são muito
diferentes dos lances de escalada mais comuns da região. Essa primeira enfiada
é a mais bonita da via. Já vale a pena ir só para fazer essa enfiada. Essa
linha foi um achado e torna a via uma das mais bonitas e interessantes de
Niteroi/Maricá.
A segunda enfiada é uma diagonal forte para a direita
caminhando sobre um extenso veio de cristais.
A terceira enfiada é a mais difícil da via, com grau
sugerido em VIIc. São longos trechos em agarras bem pequenas até a parada que é
sobre outro pequeno veio de cristais.
A quarta enfiada já começa tendo que vencer um teto com um
pequeno trecho bem forte.
A quinta enfiada segue por agarras pequenas, porém a parede
é mais positiva aqui, fazendo com que o lance fique mais fácil, em torno de V.
A via termina em um ótimo platô de vegetação bem confortável.
A sexta enfiada segue em uma leve diagonal para a direita em
trechos com grandes buracos, agarras e aderência. Após um trecho exigente de
aderência a via fica bem mais positiva e fácil, continuando assim até o final.
No final dessa enfiada é possível ver bem a grande contenção. A contenção é uma
grande grade de aço bem alta (uns 8 metros), presa
por grandes cabos de aço e grampos gigantes. Também há uma grande tela sobre
parte. Uma construção bem interessante de se ver em uma escalada. Este é o
último ponto que se recomenda descer por rapel
para não prejudicar a vegetação. A partir desse ponto buscar chegar até
o cume e descer pela trilha principal da montanha.
A sétima enfiada segue pela esquerda contornando a tela da
contenção e termina logo após um conjunto de bromélias.
A oitava enfiada segue em trechos simples de II até uma
parada em grampo simples em uma parte já bem positiva.
A nona enfiada segue
para a direita em direção a parte de trás da grande grade de contenção, passa
entre o começo da grande e seus cabos de suporte, contorna um mar de bromélias
pela direita subindo até chegar um um bloco. O último grampo da via está sobre
esse bloco. Acima há um trecho extenso de capim alto, porém fácil de passar,
até o cume.
Saída da via
Seguir pelo capim alto em direção ao cume, passando por algumas rochas
Conquista da Via Guela Seca - 3 IIIsup E1/E2 D1 150m
Setor Vale da Serrinha, Parque Estadual da Serra da Tiririca, Niterói-RJ.
Ary Carlos, Leonardo Carmo e Ivison Rubim.
Setor Vale da Serrinha. Para chegar na base, basta seguir pro setor das Vias Golpe do Cartão, Dois dias de sol, De Olho nas Vizinhas, O Mistérios do Arranha Gato etc. A base fica ao lado esquerdo da Via CNM 15 Anos.
Pra quem for de carro, sugiro estacionar na rua atrás do posto que fica logo no início da subida.
Fizemos a primeira investida (Leonardo e Ary) no dia 11/09/2020. O dia estava super quente. Conseguimos umas chapeletas com o Leandro. Eu pensava que ele tinha doado, mas descobri que ele tinha "vendido" pra gente, mas como ele não falou nada na hora, levou um calote.
Nessa primeira investida fizemos a primeira enfiada de 60 metros. Duplicamos a parada e intermediamos a descida pra um eventual rapel. Utilizamos chapeleta simples Bonier PinGo.
Nessa primeira enfiada fica o crux, um IIIsup. O lance tá protegido, porém se entrar errado, complica um pouco.
Por conta do sol forte e falta de chapeleta, encerramos ali a nossa primeira investida.
No dia 22/10/2020, fomos fazer a nossa segunda investida. Dessa vez com chapeletas próprias. O Ary tinha comprado. Convidamos o Ivison Rubim para essa segunda etapa.
Subimos até a P1 e de lá começamos a procurar uma linha. A pedra tinha perdido inclinação e era andar tranquilamente pelas pedras soltas. Muitas pedras soltas nesse trecho. Depois de 30 metros, a parede voltou a ter inclinação e ali fizemos a P2. Dali pra frente achamos uma linha que rendeu um 3º grau e assim fomos até finalizar a P3 com mais 60 metros.
obs.: a via termina num lance tranquilo. Dali pra frente é pegar uma trilha auxiliar, a mesma da CNM 15 anos, e sair na trilha principal do Alto Mourão. São aproximadamente 110 metros.
O calor já tava intenso e a goela já estava seca querendo uma gelada . Como a trilha do Alto Mourão estava interditada por conta das restrições, tivemos que rapelar.
Já de volta à base da via, na hora de tirar os equipamentos da mochila, a marreta cai no dedo do Ary. Acho que até hoje a unha dele continua preta.
Depois de pegar a trilha de volta, fomos em busca da gelada. Afinal, a goela estava mais seca do que nunca. Nossa primeira opção pra resolver o problema após as escaladas nesse setor, é o bar Guela Seca. Só que por conta das restrições, o bar não abre dia de semana. Partimos então pra nossa segunda opção: Quiosque do bolinho de peixe em Itacoatiara. Também por conta das restrições estava fechado e só abriria às 16h. Não dava pra esperar mais 30 minutos rsrs Partimos pra nossa terceira opção: Quiosque na beira da laguna de Itaipu. Esse estava aberto e lá molhamos a goela e fizemos a hidratação.
Em homenagem aos 15 anos do Clube Niteroiense de
Montanhismo.
Setor Vale da Serrinha, PESET, Itaipu, Niterói.
Conquistadores: Marcelo Corrêa, Leandro do Carmo, Luis Augusto
Avellar, Eny Hertz e Ivison Rubim.
Datas: 15/02, 07 e 08/03/2020
Material: 7 costuras, sendo 2 longas (120 cm), e corda de
60 m.
Acesso: a trilha inicia na Estrada da Serrinha 100mts depois
da placa com a proibição jogar lixo, para quem sobe. Passa pelas bases das vias
Didática, Golpe do Cartão/ Dois Dias de Sol, Variante Levadas da Breca e De
Olho nas Vizinhas, segue uma trilha por 300mts até a pedra voltar a
"deitar".
Saída: por rapel a partir da 4a parada ou saída a partir da
5a parada, caminhando por 70mts de costão e 30 mts de trilha até a trilha do
Alto Mourão.
Proteções: Chapeletas pingo e dupla da Bonier, com parabolts
Âncora e Walsywa.
Imaginamos a linha da via em torno desta mancha preta de
descida de água, pois vendo a parede de longe percebemos que ela se estende até
o mais próximo da vegetação que recobre a parte alta do morro. Quando chegamos
na base, chamou-me a atenção uma pequena canaleta em V no meio da parede. O
lance da esquerda para a direita, entre a 3a e a 4a chapeleta, antes de subir a
canaleta em V, ficou bem interessante. Quando subi essa primeira canaleta, vi
uma extenso grupo de cactos que impedia seguir reto e desviei para a direita
até um grande platô, antes da segunda canaleta
Primeira investida no dia 15/02, Marcelo Correia conquistou o primeiro
esticão, aproximadamente 30 metros. O Leandro
Do Carmo aparece no alto conquistando o segundo esticão e indo em
direção ao lance que é o crux da via. Eny
Hertz Bittencourt subindo o primeiro esticão, com Ivison aguardando na
base, eu e Luis Avellar na primeira parada. Na segunda investida, a Eny
intermediou este lance que ela está fazendo colocando uma chapeleta à direita
de onde ela está na foto. Essa chapeleta pode ser vista na foto anterior.
O crux é a saída da canaleta, com
agarras de mão em pequenos frisos e um pé em em aderência ou alto e longe.
O Leandro
Do Carmo apontou que o lance seguinte também é delicado, tem um bom
apoio para o pé à direita, porém escaladores mais baixos têm que fazer um
movimento dinâmico para segurar em um friso no alto, ou com apoios para os pés
um pouquinho mais altos em pequenos frisos. A subida para alcançar a canaleta,
se for feito mais à direita, também ficou um lance interessante de aderência,
ou com um leve movimento dinâmico,. Imaginávamos subir reto em aderência, em
vez de seguir pela canaleta, mas seria em uma linha de descida de água muito
suja.
Na segunda investida, o Luis fez um ajuste na proteção do
crux, que foi conquistado pelo Leandro
Do Carmo e instalou uma chapeleta acima, na parede após o friso, para
proteger uma possível queda de participante, evitando um pêndulo que seria
gigantesco.
Trecho bem fácil entre a 2a e a 3a parada. Conquistei os
primeiros 30 metros, colocando uma chapeleta a uns 20 metros da parada no alto
deste dique em curva e outra 8 metros acima. O Leandro
Do Carmo tocou os outros 30 metros direto. onde paramos, fazendo a 3a
parada dupla. Na segunda investida, intermediamos este trecho que o Leandro Do Carmo conquistou e o Ivison
Rubim duplicou a segunda chapeleta que eu havia batido, fazendo uma
parada dupla para rapel. Por fim, com duas cordas de 60mts, pode-se fazer o
rapel da 4a parada até esta parada intermediária e depois desta até a primeira
parada dupla, restando somente um rapel de 30 metros para finalizar a descida.
O Marcelo conquistou este trecho entre a 3a e a 4a parada na segunda
investida. "No dia anterior, tive um dia cheio com viagem, 4 apresentações e
duas reuniões, sendo uma delas bem estressante. Assim, dormi muito pouco. Isto
me afetou física e psicologicamente. Assim, coloquei três proteções entre as
paradas, quando tínhamos previsto só duas, e elas ficaram exatamente em
passadas de lances que me pareceram um pouco mais delicados, mas que na verdade
são fáceis".
Com Luis Augusto Avellar, na última investida no dia 08/03,
para avaliação, alteração de duas proteções e retirada de pedras. Por fim,
avançamos por mais 55 metros, a partir da 4a parada, que seria a última, e
conseguimos uma saída por costão e trilha, conectando com a trilha do Alto
Mourão. Menor impacto e menores riscos.
Na segunda investida, dia 07/03, quando alcançamos a 4a
parada, e fizemos intermediações nos três primeiros esticões, que foram
conquistados no dia 15/02.