quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Expedição Bolívia 2024 - Vale do Condoriri

Por Leandro do Carmo

Data: 20 a 21/08/2024
Local: La Paz
Participantes: Leandro do Carmo, Marcos Lima, Dâmaris Pordeus, Rafael Pereira, Ricardo Bemvindo, Daniel Candioto, Leandro Conrado e Jorge Pereira.





Vídeo do Trekking ao Vale do Condoriri

Relato do Trekking ao Vale do Condoriri

Passei uma péssima noite. Minha saturação de oxigênio continuava baixa. Não passava de 80%. Minha aclimatação estava lenta e até o momento era como se não evoluía. Mas precisava manter a programação e torcer para que tudo desse certo.

Como programado, a van chegou no horário e de lá, seguimos até próximo à Jiwaki, agência que contratamos para operar a logística. Aguardamos carregarem os equipamentos. Foram com a gente os dois guias e o cozinheiro. A viagem foi bem tranquila, levamos cerca de 2h. No caminho paramos num local para comprar algumas coisas. Acabou que não peguei o nome do local, mas era bem pobre e me impressionou bastante. As pessoas vendendo comida numa péssima condição de higiene. Compramos água e continuamos a viagem.

A quantidade de casas foi diminuindo e logo entramos numa área desabitada. Muita poeira, como de costume. Fizemos uma parada rápida em um trecho da estrada e de lá conseguíamos ver parte da Cordilheira Real. Paisagem fantástica. Estávamos indo em direção ao vilarejo de Tuni, na qual alçamos algum tempo depois. Tuni é um pequeno vilarejo e serve como ponto de partida para o trekking no Vale do Condoriri.

Vale do Condoriri


Estávamos no fundo de um vale, numa planície que era cortada por um rio, que é formado pelo desgelo. Ali, fizemos o pagamento da taxa de entrada, que nos custou 20 bolivianos. Arrumamos tudo e nos preparamos para a nossa caminhada até o refúgio, a beira do lago Chiar Khota. Podia ver o caminho que faríamos bem ao fundo. Estávamos a cerca de 4.500 metros e subiríamos ainda um bom pedaço. Os maiores cumes estavam encobertos por nuvens, mas já podíamos ver o branco do gelo, contrastando com o azul do céu em alguns pontos.

Sentia um pouco a altitude, assim como em todos os dias até aqui. Bebi um pouco de água, mais para aliviar o peso da mochila, do que por conta da sede. O Guia ainda perguntou se tínhamos alguma coisa para carregar, mas optei por levar tudo. Iniciamos nossa caminhada. Era por volta das 12h 30min. Estava bastante frio e isso incomodava. Era um frio seco e havia bastante poeira e isso dificultava mais ainda. Respirar já era um grande esforço.

A descida na Estrada da Morte de Bike teve esforço, mas não foi tanto. A subida até Chacaltaya foi mais alta, mas caminhamos pouco. Hoje, apesar de estarmos mais baixo, teríamos um trecho maior caminhado e esse era o maior desafio. Até o Refúgio seriam 2,5 km e, contando a caminhada ao glaciar, foram mais 5 km, totalizando 7,5 km no dia, atingindo 4.860 metros no ponto mais alto.

Era hora de andar. Deixamos o vilarejo para trás e subimos um pequeno trecho, cruzando o rio por um caminho de pedras. Fomos ganhando altura e do alto podíamos ver a Laguna Khauan Khota. O leito da trilha tinha muita pedra solta, característica de todo o local. Continuávamos caminhando no fundo vale, mas agora estávamos mais alto.



De longe já conseguia ver algumas construções e em pouco tempo havíamos chegado ao Refúgio. Havia outros no entorno. Deixamos as coisas no Refúgio, fizemos um lanche e aproveitamos para dar uma volta no entorno. Difícil até de descrever. Estávamos aos pés de diversos cumes, de frente para a Laguna Chiar Khota, um local mágico. Ao fundo podíamos ver os cumes com gelo, entre ele o Condoriri. O nome “Condoriri” vem do aimará e significa “Cabeça de Condor”. A montanha tem essa denominação porque, vista de longe, sua forma lembra um condor com as asas abertas

Depois de um tempo descansando, seguimos para mais uma caminhada. Sem a mochila pesada, deu para caminhar melhor, mas aos poucos, com o aumento da altitude, também foi ficando difícil. Contornamos o lago e subimos um trecho íngreme, até que fomos nos aproximando da faixa de gelo. Já bem perto, pude perceber que era como se fosse uma gruta. O gelo fazia uma espécie de teto e pudemos entrar e ficar abrigado.

A cor meio azulada do gelo no teto dava um tom especial ao local. Impressionante a formação. Tinha a impressão de que tudo poderia desabar a qualquer momento e depois da foto que fizemos juntos, saí logo dali e fiquei observando mais de longe. Olhando para cima, fiquei hipnotizado pelo tamanho do glaciar. E olha que ele não é um dos maiores. De qualquer forma, era um espetáculo à parte.



Voltei andando devagar, agora olhando a lagoa por um outro ângulo. Dali, podíamos ver os outros refúgios, uma vista de tirar o fôlego. Segui andando, agora já contornando novamente a lagoa. Em pouco tempo já estávamos de volta ao refúgio. Entramos para poder nos aquecer um pouco. Minha dor de cabeça aumentou, incomodando bastante. Foi servido uma sopa de entrada e logo em seguida a janta.

Estava bastante frio lá fora, então o jeito era ficar dentro do abrigo. Iríamos dormir ali no salão. As condições não eram as melhores, mas com certeza era melhor do que armar uma barraca lá fora. E falando em “lá fora”, vale deixar o registro de como eram os banheiros. Ficavam um pouco distante dos abrigos e ter que sair a noite, era um sofrimento. Sem contar que não tinha porta e para chegar à segunda “casinha”, tínhamos que passar pela primeira.

Depois do jantar, ficamos conversando durante um tempo e minha dor de cabeça foi aumentando. Chegou uma hora que que não conseguia mais ficar deitado. Para se ter uma ideia de como estava ruim, quando eu colocava a mão na cabeça, sentia o sangue ficar pulsando. Aí eu me levantei e fiquei sentado à mesa. Passei a noite acordado. Acho que foi a pior noite da minha vida. Nessa situação, já sabia que seria difícil para mim subir o Huyana Potosí, mas ainda tinha uma esperança.

Na manhã do dia seguinte, estava detonado. Tomamos café e o pessoal saiu para fazer o Pico Áustria. Eu optei por não subir. Acho que poderia piorar a situação. Fiquei ali em volta da lagoa, pensando em um monte de coisas. Vendo os pontinhos se mexendo bem no alto da montanha e sentindo o sol aquecer meu corpo, tomei a decisão de que não iria ao Huayna Potosí. Pensei também sobre as diversas opções que tínhamos para aclimatar, mas definitivamente não tinha certeza de muita coisa.

Aproveitei para fazer algumas fotos, pois o local era fantástico. Conversei com algumas pessoas que passavam pelo local, alguns indo em direção ao Pico Áustria e outros, somente caminhando até a laguna. Já se aproximando da hora do almoço, os primeiros começaram a retornar. Fui recepcionando cada uma e dando os parabéns pela conquista.

Com todos de volta, almoçamos e começamos a preparar as coisas para o nosso retorno. Peguei a mochila e fui me despedindo. O local é bem bonito, mas já estava na hora de descer. Peguei o caminho de volta. Impressionante, mas fui vendo coisas que não havia percebido no dia anterior. Passamos por várias lhamas que estavam pastando próximos ao caminho e paramos para fazer algumas fotos.

De longe, já conseguíamos ver o nosso destino. Algumas vans esperavam próximas e pela distância, não conseguia identificar qual seria a nossa. Mais alguns minutos e chegávamos. Arrumamos tudo e entramos na van, fazendo uma viagem bem tranquila até La Paz. Chegando ao apartamento, fui verificar minha saturação de oxigênio e ela estava em 79%. Agora era tentar descansar. Amanhã temos o dia livre e a noite, iremos assistir ao jogo do Flamengo contra o Bolivar, pelas oitavas de final da Copa Libertadores.


Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri


Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri


Vale do Condoriri

Vale do Condoriri