Por Leandro do Carmo
Relato
Chegamos cedo ao Paraíso Café, onde estacionamos os carros. A viagem até ali foi tranquila. Havíamos feito uma parada para o café da manhã na Parada Modelo. Nos arrumamos e separamos os equipamentos e começamos a descer até o início da trilha. Já havia ido duas vezes ao Escalavrado, uma das minhas montanhas preferidas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Durante a descida, passaram por nós algumas pessoas conhecidas que acenaram de um carro, mas só fui saber quem eram, duas semanas depois no evento do “Rio nas Montanhas”, na Urca.
Descemos rápidos e assim que cruzamos o corte na crista do Escalavrado, atravessamos a rua e demos uma pequena parada na rampa do pequeno muro de contenção e drenagem de água. Ali, apontei a placa um pouco mais acima. Iríamos iniciar a subida! Começamos a subir por uma canaleta. A rocha é bem aderente, mas por não pegar sol diretamente, tem sempre um limo. Mas estava tudo muito seco, o que facilitou bastante. Passamos por alguns trechos mais difíceis e continuamos a subida. Um grupo do CERJ passou por nós e logo tomou a dianteira. Depois de alguns minutos, havíamos chegado a uma diagonal mais exposta. Ali, resolvi esticar uma corda, servindo de corrimão. Isso facilitou bastante, agilizando nossa subida. Aos poucos, fomos subindo e nos reunimos novamente na base de um trecho mais íngreme.
Fizemos uma rápida parada e de lá, optamos por seguir pela lateral. Está bem ruim, com alguns pontos bem erodidos. Novamente, tivemos sorte por estar tudo bem seco. Se tivesse chovido nos dias anteriores, acho que valeria a pena subir escalando. Com um pouco de dificuldade, conseguimos vencer o trecho e continuamos subindo, fazendo uma parada mais acima. Ali pudemos lanchar e descansar um pouco mais. Apesar do tempo firme, não tínhamos visão de quase nada. De vez em quando, conseguíamos ver a estrada ao fundo e um pouco das montanhas ao redor, mas muito pouco. Pelo menos o sol não castigava. Aí, vale a questão: Subir sem vista, mas sem sol ou subir com vista e com sol? A resposta não importava, pois não dá para combinar detalhes com a mãe natureza.
Depois da pausa, voltamos para a subida. Passamos pelo trecho da lombada, uma grande aresta abaulada em aderência. A maioria foi por baixo, optei por seguir mais pela lateral, tornando o trecho bem mais exposto, porém com uma vista alucinante. Ao final, estávamos no lombo do burro. Ali era o teste psicológico da subida. Uma parte de aproximadamente 25 metros, numa crista bem estreita, tendo um precipício dos dois lados. Em dias de vento forte é até difícil conseguir andar em pé. Da estrada, quando olhamos esse trecho, percebemos uma cor avermelhada, ocasionada pelo acúmulo de barro que escorre da parte de cima, na qual está bem erodida. Há uns 10 anos atrás, quando a frequência não era tanto, não havia esse barro extra.
Subi à frente e fixei uma corda numa proteção para ajudar. Aos poucos todos foram subindo. Os mais corajosos olhavam para baixo. Uma sensação ímpar. Ficamos aguardando todos chegarem e após nos reunirmos novamente, retomamos a caminhada. Mais acima, mas um trecho exposto. Parecia com o debaixo, porém maio, tinha aproximadamente 50 metros. Esticamos a corda e aos poucos todos foram subindo. Em alguns momentos, o tempo parecia que iria abrir, podíamos ver a fundo da Baía de Guanabara e parte de Itaboraí, mas logo fechou novamente. De volta a subida, seguimos passando por trechos em rocha e pequenas “ilhas” de vegetação. Estávamos num grupo grande e não dava para todos estarmos juntos, assim, numa grande e espaçada fila indiana, fomos subindo, intercalando os mais experientes com aqueles que precisavam de um pouco mais de ajuda. Alguns optaram por colocar a sapatilha, dando um pouco mais de confiança.
A forte neblina não permitia vermos o cume, mas sabia que já estava próximo. Mais um grupo passou por nós. Passamos por mais um trecho com lances de escalada e caminhada. Quando comecei a seguir um pouco mais para a direita, comecei a ouvir bastante gente conversando. Mais alguns metros e estava no cume. Um alívio. Todos foram chegando e logo arrumamos um espaço para que todos pudessem estar juntos. Ouvi um barulho alto no meio do mato e logo em seguida apareceu um cara dizendo que havia passado um macaco. Se eu não tivesse ouvindo um barulho, teria duvidado da história, que gerou várias risadas. Estabelecemos um tempo de 40 minutos para iniciarmos nossa descida
Deu tempo de conversarmos, assinarmos o livro de cume, lancharmos e ainda bater algumas fotos. Não tinha vista, mas pelo menos queríamos registrar o momento. Foi dando a hora e começamos a descida. Os trechos expostos na subida, também são expostos na descida. Isso somado ao fator cansaço, é um dos grandes desafios do Escalavrado. Eu estava tranquilo, por isso fui à frente. Fixei cordas onde os trechos eram mais expostos e optamos por montar rapel. Alguns optaram por descer somente com a corda como apoio. Fizemos algumas paradas extras para que todos pudessem continuar com segurança e aos poucos fomos vendo a estrada mais perto. Era por volta das 16h30min, quando retornamos ao asfalto. De lá, seguimos subindo a estrada, até chegar ao Paraíso Café, onde pudemos fazer um lanche reforçado e já contar nossas histórias com nossos amigos que havíamos encontrado. Um sábado espetacular.