Mostrando postagens com marcador Travessias. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Travessias. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 8 de abril de 2025

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Por Leandro do Carmo

Dia: 15 a 17/11/2024
Local: São José do Barreiro SP/Mambucaba RJ
Participantes: Leandro do Carmo, Simone d'Oliveira, Andréa Vivas, Alexandre Bibiani, Aline Vaz, Carla Rosa, Daniel Candiotto, Fabienne, Juliana, Juliana Silva, Maria Fernanda Patrício, Nerval Roedel, Silvana e Sérgio Molina

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba


Histórico

O Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB) foi criado em 1971 com objetivo principal de proteger as últimas áreas de Mata Atlântica e ecossistemas marinhos do litoral sul-fluminense. É a segunda maior Unidade de Conservação Federal de Mata Atlântica, com 104 mil hectares, e abrange parte dos municípios de Ubatuba, São José do Barreiro, Areias e Cunha, no estado de São Paulo; e Paraty e Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro.

O PNSB faz parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e a é unidade núcleo do Mosaico da Bocaina, um dos mais significativos remanescentes brasileiros do bioma da Mata Atlântica, e que, juntamente com outras unidades de conservação, compõe o Corredor Ecológico da Serra do Mar.

O grande diferencial do PNSB está em seu enorme gradiente altitudinal que vai de áreas marinhas em Paraty/RJ, até os mais de 2.000m do “Pico do Tira Chapéu”, no estado de São Paulo. A vegetação que acompanha este gradiente envolve as Restingas, presentes nas áreas litorâneas; a exuberante Floresta Ombrófila em diferentes formações conforme sua altitude; até chegar aos Campos de Altitude nas áreas mais altas da serra. Sua grande extensão permite a sobrevivência de animais de grande porte e ameaçados de extinção tais como: mono-carvoeiro, sagüi-da-serra-escuro, bugio e felinos diversos. Estas características resultam em uma imensa variedade de climas, paisagens, cachoeiras e espécies que elevam o Parque Nacional da Serra da Bocaina ao grau de extrema importância para a conservação da biodiversidade.

Trilha do Ouro – Caminho de Mambucaba

A região do Parque Nacional da Serra da Bocaina é cortada por diversas trilhas que guardam remanescentes da história da interiorização do país. Dentre essas trilhas, a que perfaz o Caminho de Mambucaba tem a sua operacionalização turística consolidada há bastante tempo, o que a consagra como a mais famosa das “Trilhas do Ouro” que cortam a Bocaina.

A travessia pode ser feita em três ou quatro dias de caminhada acompanhando o Rio Mambucaba desde sua nascente em São José do Barreiro, no estado de São Paulo, até desaguar na Baía da Ilha Grande, entre os municípios de Angra dos Reis e Paraty, no estado do Rio de Janeiro. No seu percurso é possível visualizar parte do calçamento histórico, belíssimas paisagens e a biodiversidade da Mata Atlântica. Além disso, pode se aproveitar diversas cachoeiras como a de Santo Izidro, a das Posses e a espetacular cachoeira do Veado.

A trilha histórica contribui para a integração cultural da Bacia do Rio Paraíba do Sul e da região do litoral sul-fluminense. Nos municípios paulistas de Bananal, São José do Barreiro e Areias, por onde passam o caminho dos tropeiros e a antiga estrada Rio-São Paulo, aflora a cultura caipira e tropeira e se festeja a Folia de Reis. Na região litorânea, onde Angra dos Reis é conhecida pela beleza das praias e ilhas e Paraty reconhecida pelo seu conjunto histórico-cultural do período colonial, têm-se a influência da cultura caiçara. Esse patrimônio ambiental, histórico e cultural situado próximo a importantes centros urbanos dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais aumenta ainda mais a importância do Parque Nacional da Serra da Bocaina, no que tange à conservação e ao turismo. Dessa forma torna-se ainda mais necessário manter e ampliar o seu grau de conservação.

O Caminho de Mambucaba - “Trilha do Ouro” é citado por alguns historiadores como um dos “descaminhos” do ouro, rotas de contrabando, fugindo às barreiras dos caminhos oficiais.

O “ciclo do ouro” ocorreu entre o final do século XVIII e início do século XIX. Nesta época este caminho seria uma trilha indígena sem nenhum tipo de calçamento e com movimento mínimo. Ao longo do século XIX, quando ocorreu o apogeu do café no Vale do Paraíba, cresceu na via o transporte de café até o porto de Mambucaba, e de mercadorias “Serra Acima”.

Por conta das inúmeras tropas de mulas que por ali trafegaram carregadas de café, a estrada recebeu calçamento, pontes e benfeitorias diversas, além da instalação de vendas e ranchos, para abastecimento e descanso das tropas e dos tropeiros, e de um registro para fiscalização e cobrança dos direitos devidos.

Originalmente a estrada partia de São José do Barreiro, distrito de Areias até 1859, recebendo em seu percurso variantes de Bananal, e de Campos de Cunha.

Do porto de Mambucaba o café era transportado para embarcações até o porto do Rio de Janeiro. No retorno, as tropas de mulas levavam mercadorias para suprir as necessidades das fazendas e das vilas cafeeiras do interior.

O período de maior atividade desta rota ocorreu entre 1840 e 1864. Seu declínio começa na década de 1870 quando o café passa a ser transportado pelos trens da Estrada de Ferro D. Pedro II e ramais intermediários. O segundo e derradeiro golpe no movimento da estrada ocorre com a abolição da escravidão em 1888, que reduziu de forma drástica e rápida a produção de café do Vale do Paraíba. Sucumbiram a estrada assim como as vendas e ranchos para pouso dos tropeiros que, com a interrupção do tráfego regular das tropas de mulas subindo e descendo a serra, desapareceram. Declinaram também o porto e a freguesia de Mambucaba, uma das mais importantes localidades comerciais da Baía da Ilha Grande.

Vídeo da Trilha do Ouro 

Relato

A logística para fazer essa travessia não é das mais fáceis e eu tinha vontade fazer já fazia um tempo. Quando a Andréa e a Simone abriram essa atividade no CNM, aproveitei para me inscrever e já tirar da minha lista de pendências. Aproveitaríamos o final de semana prolongado com o feriado de 15 de novembro.

Para a logística, optamos por contratar uma van para nos levar até São José do Barreiro e depois nos buscar em Mambucaba. Para os pernoites, ficaríamos hospedados nas super modestas pousadas Barreirinhas e Zé do Zico. Definida a logística era esperar o dia.

O tempo não estava bom. Havia chovido nos dias anteriores e a previsão não era das melhores para o final de semana. Algumas pessoas desistiram, mas ao final éramos 15 pessoas. Marcamos de sair lá da sede do CNM, às 4h da manhã do dia 15, sexta-feira. Como havia tido reunião social no clube, optei por dormir lá. Assim não precisaria acordar tão cedo. Ainda passamos num posto na Praça da Bandeira, lá no Rio, para pegar parte do grupo. Era uma atividade em conjunto entre o CNM e o CEB.

A viagem foi tranquila e chegamos por volta das 7h na padaria que havíamos feito contato para tomarmos café da manhã. Depois de tudo pronto pegamos a estrada que leva à portaria do Parque Nacional da Serra da Bocaina. Foram 26 km, na qual fizemos em aproximadamente 1 h. A estrada estava em boas condições. Já na portaria, preenchemos os termos e nos preparamos para o início da caminhada.

Dia 1: Portaria do Parque x Pousada Barreirinhas

Depois de tudo pronto, foi hora de colocar a mochila nas costas e iniciar a caminhada. Como não iria levar barraca, a mochila foi leve. Era por volta das 9h 30 min quando iniciamos a caminhada. Seguimos por uma estradinha e logo cruzamos um rio, passando por uma ponte, a primeira de muitas ao longo desses 3 dias de caminhada. Estávamos paralelos ao rio Mambucaba. Aos poucos fui aumentando o ritmo da caminhada, à medida que o corpo ia aquecendo. Fomos num bom papo até chegar à primeira cachoeira do dia, a Cachoeira do Santo Isidro.

A cachoeira do Santo Isidro é a que fica mais próxima da portaria do parque, são aproximadamente 1,5 km de caminhada. Entramos no caminho onde havia uma placa indicativa e logo chegamos ao topo da cachoeira, dali começamos a descer. A cachoeira tem uns 50 metros e forma um grande poço com fundo arenoso. Como o tempo estava bastante nublado e muito quente, aproveitei para tomar um banho e garantir logo o mergulho, não sabia o que me esperava pela frente. A temperatura da água estava bem agradável.

Depois do mergulho, era hora de voltar. Só que agora era subida. De volta a estrada, continuamos nossa caminhada. Passamos por trechos com bastante lama. Alguns carros passaram por nós, indo em direção a algumas pousadas dentro do parque. Pegamos um atalho sinalizado pelo parque. Nesse ponto já estávamos divididos em alguns pequenos grupos. Aproveitei para conhecer a Cachoeira dos Mochileiros. Bem pequena, mas sempre vale a pena. A descida é que não é muito boa. São trechos bem íngremes e escorregadios. C

De volta a caminhada, acabei encontrando novamente com algumas pessoas do grupo que haviam passado direto pela Cachoeira dos Mochileiros. Continuei andando sempre desviando das poças de lama. Existiam vários trechos em recuperação, onde árvores exóticas estavam sendo retiradas para dar lugar a mata nativa. Novamente na dianteira do grupo, veio uma placa indicando a Cachoeira da Posse. Era uma entrada bem aberta e num largo, deixamos as mochilas num canto se seguimos descendo novamente. Nesse ponto, há um bom lugar para camping, mas é muito perto da portaria. Estávamos a apenas 8 km. Mais uma bela cachoeira. Dessa vez não mergulhei, mas na volta parei para fazer um lanche.

Nesse ponto, nos reunimos novamente. Nossa ideia era parar para juntar o grupo de tempo em tempo. Era hora de voltar a caminhar e resolvi voltar antes do corpo esfriar totalmente. A Maria Fernanda me acompanhou nesse trecho e andamos bem. Um pouco após a Cachoeira das Posses, passamos por uma placa que indica um ponto de controle do parque. Mais à frente, entramos numa área mais aberta e agradeci por estar nublado, porém, não tínhamos muita vista. Não dá para ter tudo nessa vida.

Durante a caminhada, fomos encontrando diversos grupos e a gente ainda se encontraria diversas vezes durante esses 3 dias. Foram nossos amigos de trilha. Numa bifurcação, onde indicava Barreirinha e Pousada Vale do Veado, fizemos mais uma parada rápida. Nesse ponto encontramos mais um grande grupo, o último desse primeiro dia.  Seguimos e continuamos num trecho bem aberto. Pegamos algumas subidas e em determinado ponto a Maria Fernanda me disse que era a última subida do dia, mas ao final, ainda tinha mais. Ainda brincamos que toda subida na qual pegamos era a última. Finalmente a última subida havia chegado.

Num determinado ponto, a chuva começou a apertar. Foi necessário colocar a capa. Chegamos a uma placa, indicando Pousada Barreirinhas. Ela saía da estradinha e o caminho era bem fechado. Mas resolvemos seguir por ele. A descida foi meio ruim, estava bem molhado e escorregadio. Mas logo avistamos uma casa ao fundo e foi fácil identificar que era a pousada. Descemos um e voltamos para a estradinha que levava direto à pousada.

Chegamos e entramos na varanda, onde fomos recebidos pelo Sr. Tião. Ele nos orientou onde poderíamos deixar as coisas, sendo bem objetivo. Estava bem cansado, havia caminhado num bom ritmo. Como a casa estava vazia, aproveitei para tomar um banho. Aí sim consegui relaxar.

A chuva apertou e o Daniel chegou dando uma má notícia: O Sérgio havia torcido o pé logo na saída da cachoeira das Posses, desmaiou e ele estava lá sem condições de andar. Primeiro grande problema do dia. Logo em seguida, chegou o Marcelo, confirmando a má notícia. Tínhamos um problema, estávamos com uma pessoa, mais ou menos na metade do caminho sem conseguir andar, segundo informações que havíamos recebido. Já tinha, aproximadamente, 1 hora que eu havia chegado na pousada.

A chuva apertou e por volta das 17h, a Andréa, Silvana, Carla, Juliana e Alexandre. A situação não era nada animadora. A informação era de que o Sérgio não tinha condições de andar. Por outro lado, ele estava acompanhado de mais 4 pessoas, inclusive a Simone, guia do CNM. Com isso, tentamos conversar com o Sr. Tião para buscá-lo de carro, mas ele disse que não podia, pois precisava arrumar as coisas para os outros hóspedes. Enquanto isso, outras pessoas foram chegando e a casa foi ficando cheia.

Eu não podia sair naquele momento para ajudar, pois ainda não havia comido nada. A janta seria servida as 18h. A Carla ofereceu um pacote de comida liofilizada, na qual aceitei. Minha ideia era comer e depois sair. Uma das coisas que aprendi é que em um resgate, você não se deve colocar em risco, se não, serão dois a serem resgatados. Sair sem ter comido nada, seria um grande erro. Afinal de contas, até o ponto onde o Sérgio estava, seriam uns 9 km e voltar para a pousada ou seguir para a portaria, seriam mais uns 9 km, depois de já ter andado 18 km no dia.

Assim que já estava quase pronto para sair, conseguiram convencer o Sr. Tião em sair para buscar o Sérgio. Foi um alívio. Para compensar, ajudamos na arrumação da janta. Em pouco tempo ele foi e voltou. Ele os encontrou a aproximadamente 2 km da pousada. Depois de um tempo, o Sérgio conseguiu andar com bastante dificuldade. Assim que chegou, vimos a situação dele. Estava bem ruim, tremia bastante, já quase desenvolvendo uma hipotermia. Falei para ele ir para o banho. O que deu um pouco de ânimo. Já mais aliviado, jantei e aí pensei que fosse descansar.

Mas a vida é uma caixinha de surpresas, dizia Joseph Climber... Logo após a janta, a Juliana começou a sentir uma falta de ar e seu rosto começou a inchar. Estava desenvolvendo uma alergia a alguma coisa que havia comido. Seu rosto inchou a ponto de não conseguir enxergar direito. Mais um grande problema. Demos um anti-alérgico e esperamos um pouco até amenizar. Aos poucos ela foi conseguindo respirar melhor, mas o rosto ainda estava muito inchado. Tínhamos dois problemas agora.

Após uma conversa com o Sr. Tião, soubemos que ele iria embora no dia seguinte e cobrou R$ 1.000,00 para levar os dois e mais um acompanhante até São José do Barreiro. Se ele já iria embora, por que é que mesmo assim ele cobrou por um socorro médico? São coisas difíceis de entender. Cada um que faça sua avaliação.

Dia 2: Pousada Barreirinhas x Pousada Zé do Zico

Choveu a noite inteira. A noite não foi boa. Pensei muito no que poderia ter acontecido. Ainda não havia passado por nada parecido, mas tudo tem sua primeira vez. Levantei-me ainda bem cedo e fui à varanda. Condições desanimadoras. Tomamos café e ficamos esperando a chuva dar uma trégua. O Sérgio caminhava com dificuldade e Juliana ainda estava um pouco inchada, mas conversava bem. A Carla acompanharia os dois de volta até São José do Barreiro. Eles voltaram bem e ficamos sabendo dois dias depois que o Sérgio havia quebrado o tornozelo e rompido o ligamento, tendo que operar. A Juliana foi atendida em Rezende e passava bem.

Como a chuva não parava, resolvemos sair assim mesmo. A caminhada continuava numa estradinha, agora um pouco pior que o trecho do primeiro dia. Foi mesclando áreas abertas e mais fechadas. Aos poucos fui acostumando-me com a caminhada num dia molhado e sem aquela vista. Inclusive, foi uma das coisas que senti falta no primeiro dia. Passamos por uma casa à esquerda da trilha, pegamos mais uma área de pasto e passamos pela Pousada e Camping da Dona Palmira. Cruzamos uma porteira e seguimos subindo por um caminho que por conta da chuva estava bem escorregadio. Optei por seguir pela margem, onde havia um pouco da grama do pasto.

Passamos por alguns trechos de calçamento com bastante cuidado, pois as pedras costumam escorregar bastante. Em alguns trechos foi bem complicado. O barro vermelho molhado vira um sabão. Passamos na margem de um pequeno lago e mais frente paramos na entrada da Fazenda Bananeira, onde fizemos um lanche rápido. De volta a caminhada, passamos por duas casas um pouco distante, mas não encontramos ninguém. Com um tempo nessas condições, seria pouco provável encontrar alguém por ali, que não estivesse fazendo a Trilha do Ouro.

A chuva foi diminuindo, mas o dia continuava bem instável. Parece que o tempo passa mais rápido nessas condições. Chegamos á um córrego. Estava com bastante água e seria necessário tirar a bota para passar. Havia uma pinguela com dois troncos de árvore, mas que estavam em péssimas condições. Achei melhor passar por ela do que tirar a bota. Eram dois troncos de espessura diferentes e ainda estavam soltos. Balançava bastante, então foi preciso passar com bastante cuidado. Só ao final que percebi que o arame que segurava um tronco na qual servia de corrimão estava quase soltando. Bom que deu tudo certo. Mas se também não desse, daria apenas um banho no azarado do dia.

Cruzamos por diversos grupos, uns conhecidos outros não. Em algum momento todos se encontram, pois cada um vai pernoitando em locais diferentes. Mais à frente, passamos por uma casa bem bonita. Sem sinal de gente. Andamos bem e cruzamos uma porteira bem à beira de um grotão. Só era possível ouvir o barulho forte do rio ao fundo. Descemos num trecho bem escorregadio e logo chegamos a um descampado. Havia um senhor e uma criança cuidando de uns cavalos. Um pouco depois, descobrimos que eles são os responsáveis por levar os mantimentos de Mambucaba até o Zé do Zico. Ali era o entroncamento para quem quisesse conhecer a Cachoeira dos Veados, talvez a mais bonita da travessia, quiçá do Parque. Optei por deixar a cachoeira para mais tarde e segui até o ponto onde faríamos nosso pernoite. Atravessamos a ponte pênsil. Já na primeira passada, dei um leve escorregão. A madeira do piso estava bem molhada e escorregava bastante. Segui com mais cuidado, pois o rio estava cheio e a corrente era forte. Cair ali não estava nos planos.

Chegando ao Zé do Zico, foi hora de descansar um pouco. Arrumei minhas coisas e dei uma volta para conhecer o local. A estrutura é boa e há um gramado onde fica a área de camping. A casa é bem grande, mas simples. Já tinha bastante gente e todos se organizaram. Para que ficássemos todos juntos, me voluntariei em dormir num beliche na varanda. Aproveitamos para ir conhecer à Cachoeira dos Veados. Chovia um pouco e estava tudo molhado pelo caminho. Passamos por dois grandes pontos de acampamento e foi só chegar de frente à cachoeira que podíamos sentir a sua força. Um forte deslocamento de ar, unido ao barulho das águas, tornava a cena amedrontadora. Mas era impossível não ficar hipnotizado pela beleza. Havia possibilidade de ir à parte alta, mas como estava tudo molhado, achei melhor ficar por ali mesmo.

Voltando ao Zé do Zico, ficamos batendo um papo descontraído na fila do banho. Jantei logo em seguida. Em algum momento da noite, olhei para céu e vi algumas estrelas. Foi a esperança de que pudéssemos pegar um tempo bom no último dia de caminhada.

Dia 3: Pousada Zé do Zico x Ponte de Arame

Acordei cedo e a primeira coisa que fiz foi conferir o tempo. Estava levemente encoberto, mas com cara de que iria abrir em breve. Como havia dito anteriormente, dormi na varanda, mas foi ótimo, não tendo nenhum problema. Tomei meu café da manhã e arrumei a mochila. Não me preocupei muito com a organização, pois não teria que tirar mais nada de dentro dela. Dei uma volta pelo local e fui até a margem do rio, onde percebi que já havia baixado o nível.

Estávamos todos prontos. Tiramos a foto oficial de partida e iniciamos a caminhada. Pelos relatos que havia lido, esse último dia seria mais complicado pelas pedras do histórico calçamento. Devido as chuvas e a grande umidade, o caminho fica muito escorregadio e tombo pode ser perigoso. Todo cuidado era pouco. Passamos da entrada da ponte e seguimos paralelos ao rio durante um bom tempo, inclusive, sendo nosso companheiro durante toda a caminhada. Ora ele estava mais perto, ora mais longe, mas sempre lá.

Logo de cara, tive uma surpresa quando vi a cachoeira dos Veados ao fundo, uma vista espetacular. Estávamos em meio a uma mata muito bem preservada. Um verde exuberante.  O dia estava bem firme e foi a primeira vez que vi o céu azul. Mas tudo tem seu preço. Era bem cedo e já estava calor. Corria água por todos os lados. Tinha bastante lama e a umidade era forte.

Aos poucos fui tomando a dianteira da caminhada, ultrapassando diversos grupos. Tinha que andar com bastante cuidado para não escorregar. Muitas vezes era preciso usar a borda da trilha, pois tinha muita lama, daquelas que afunda o pé por inteiro. Achei uma picada no meio do caminho e pelo barulho da água, deveria dar em alguma cachoeira. Resolvi descer para conferir. Era um trecho do rio bem largo, com uma pequena corredeira, mas um grande refluxo. Não seria ali que tomaria meu banho. De volta a trilha, continuei andando.

Até o momento, só havíamos pegado descida e seria assim até ao final. Depois de andar bastante, havia chegado em um novo rio. Andei um pouco e vi que ele se encontrava com o rio Mambucaba, na qual havíamos acompanhado desde o início da caminhada. Andei um pouco para tentar encontrar o ponto de passagem e percebi que mais acima havia um outro caminho, fui seguindo e cheguei a uma ponte que estava em péssimas condições. Inclusive, havia muitos galhos obstruindo a passagem. Eu não quis arriscar. Voltei até ao ponto do rio e percebi que a trilha continuava na outra margem.

Ali, fiz a minha parada para reencontrar o pessoal que havia ficado para trás. Aproveitei para lanchar e tomar um banho. A água estava numa excelente temperatura e pude ainda pegar um sol. Depois de alguns minutos passou aquele senhor com a criança que estava com os cavalos, quando havíamos chegado ao Zé do Zico no dia anterior. Eles atravessaram o rio com uma facilidade e velocidade que me impressionou. Aos poucos, o pessoal foi chegando e todos aproveitaram para tomar banho também. Vi que alguns grupos optaram por atravessar a ponte. Como ainda faltavam algumas pessoas, fui à frente para tentar encontrar com o motorista da van já ao final da caminhada. Então segui andando.

Atravessei o rio e subi um pequeno trecho, voltando à trilha principal. O calor foi aumentando à medida que estávamos mais próximo ao nível do mar. E era um calor sufocante. Mas tinha que continuar e faltava pouco. Andei num bom ritmo e logo cheguei a tão esperada ponte de arame. Nesse ponto já não sabia muito bem para onde ir, ficando na dúvida se teria que atravessar a ponte ou seguir pela estrada a minha frente.  Tinha um carro estacionado e veio uma van. Eu todo bobo achei que tivesse chegado, mas quando fui falar com o motorista, era para outro grupo. Andei um pouco mais para frente, mas resolvi voltar até a ponte e esperar um pouco.

Esperei um pouquinho e algumas pessoas foram chegando. Resolvemos andar, pois pela hora, o motorista já deveria ter chegado. Andamos alguns minutos e ela estava lá, estacionada na entrada de um sítio. Fiquei mais aliviado. Tinham algumas pessoas lá também e aproveitei para entrar. Consegui comprar uma jarra de suco, que até agora não sei qual era o sabor, mas estava fantástico. Com o grupo reunido, seguimos para o local onde faríamos nosso almoço. Comemos e tomamos banho, nos preparando para nosso retorno.

Já com sinal de internet, tivemos a notícia de que a Juliana havia sido medicada em Resende, no próprio sábado e que estava em casa, estava tudo bem com ela. O Sérgio havia quebrado o tornozelo em dois lugares e ainda rompeu o ligamento. Iria operar na segunda feira.  Bom, como diz o ditado: “entre mortos e feridos, salvaram-se todos”. Mais uma travessia para a conta.

Fotos dia 1
Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba



Fotos dia 2
Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba



Fotos dia 3

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba


Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba

Trilha do Ouro - Caminho de Mambucaba


quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Travessia Baependi x Aiuruoca

Por Leandro do Carmo

Travessia Baependi x Aiuruoca



Dia: 31/05/2024
Local: Baependi/Aiuruoca - MG
Participantes: Leandro do Carmo, Leandro Conrado, Amanda Leobino, Ricardo Barros, Simone D’Oliveira, Andrea Vivas, Márcio Mafra, Letícia Lopes, Vanesa Ogliari, Alexandre Bibiani, Carla Rosa, Silvana e Thiago

Vídeo completo da Travessia Baependi x Aiuruoca

Relato da Travessia Baependi x Aiuruoca

A travessia Baependi x Aiuruoca, também conhecida como a travessia da Serra do Papagaio, sempre este na minha lista, mas a logística para lá não é das mais fáceis, principalmente quando saímos de Niterói. Era preciso um feriado de 4 dias. Nossa ideia era ter feito a Travessia Rancho Caído + Ruy Braga, no Parque Nacional de Itatiaia, mas não conseguimos vagas para pernoite em todos os dias e aí, sugeri de fazermos a Baependi x Aiuruoca. Começou com uma ideia e ela foi tomando corpo, até que definimos a logística. Entre confirmações e ausências, fechamos em 13 pessoas, um número razoável.

Nos encontramos as 23h 30min na sede do Clube Niteroiense de Montanhismo. Optamos por viajar durante a noite e tomar café da manhã na Padaria Rezende, em Baependi. Foi uma viagem tranquila. Dormi a maior parte do tempo. A padaria foi uma ótima opção. Super bem arrumada. Já tinha um outro grupo lá. Sinal de que encontraríamos bastante gente pelo caminho. Inclusive, no feriado de Corpus Crhisti, é uma época em que há bastante procura pela travessia, principalmente pela quantidade de dias disponível e ser recomendada fazê-la com três pernoites. Essa logística, você vai ver mais adiante.

Tomamos café da manhã com tranquilidade e de lá partimos para uma longa viagem até o início da trilha, em Vargem da Lage, cerca de 50 km, que fizemos em quase 2h, visto que a maior parte era estrada de terra e van, bem pesada, teve que fazer devagar.

Dia 1 – Vargem da Lage x Abrigo Salvador

Distância: 11,7 km
Tempo: 5h 5min
Desnível Positivo: 1.011 m
Desnível Negativo: 428 m

Quando chegamos ao início da caminhada, já tinham duas vans e bastante gente se arrumando. Nos preparamos e nos despedimos do motorista, que nos encontraria quatro dias depois, lá no Vale do Matutu, no Camping Panorâmico. Iniciamos nossa caminhada. Estava uma manhã agradável e principal vista do dia, o Pico do Careta, também conhecida como Chapéu, estava encoberto. Seguimos por uma estradinha no meio de uma plantação de eucalipto até uma porteira. A estradinha deu lugar a um caminho mais estreito, enfim, começávamos a nossa jornada.



Passamos por uma placa que indicava o Pico do Careta e seguimos subindo. Mais acima, uma outra porteira e cruzamos uma área gramada bem aberta, até voltarmos, novamente para a trilha. Passamos por um ponto de água. Aos poucos, a vegetação foi ficando menos densa até que abriu totalmente. Aos poucos fui passando por diversos grupos e percebi que tinha mais gente do que havia visto lá embaixo. O tempo foi abrindo e as nuvens que encobriam o Careta, começaram a se dissipar. Do lado oposto, conseguia ver o quanto já havíamos subido e uma centena de morros apareciam no horizonte.



Eu, Thiago e Letícia fomos caminhando no mesmo ritmo e no ponto onde fazemos o ataque ao Careta, demos uma parada para reunir o grupo. Como começou a demorar um pouco, resolvemos fazer o cume e encontrá-los na descida. A Vanesa estava bem a frente e podíamos vê-la de longe. Subir sem mochila foi bem fácil. Rapidamente chegamos ao cume e ali tínhamos uma visão 360º de toda a região. Fizemos várias fotos e descemos para continuar a caminhada.  Pegamos nossas mochilas e combinamos com a Vanesa de nos encontrarmos novamente, mais a frente, onde os caminhos de juntávamos, próximo ao Cruzeiro.

De volta a trilha, encontramos nosso grupo novamente. Acabamos nos dividindo em dois grupos, mas isso acabou sendo bom e vocês virão o porquê mais à frente. A partir dali, combinamos que seguiríamos à frente e tentaríamos nos encontrar sempre que pudéssemos, caso não fosse possível, aguardaríamos no ponto de pernoite. Voltamos a andar e chegamos ao Cruzeiro, onde a Vanesa nos esperava. Fizemos uma foto e continuamos a caminhada. Descemos um pouco e contornamos uma formação rochosa, onde algumas pessoas descansavam.

Apesar do sobe e desce, fomos perdendo altura e já não encontrava mais ninguém pelo caminho. O sol firmou, mas não estava forte, deixando a caminhada bem agradável. Caminhávamos paralelos a linha de cumeada, contornando alguns morros. Depois de uma descida, antes de uma matinha, dei uma parada para juntar o grupo, já estávamos bem próximos do nosso ponto de chegada. Meu tracklog indicava passar por fora da mata, mas teria que subir um pouco. Havia um outro caminho bem marcado que seguia reto. Optei por ele e logo estávamos chegando no Rancho do Salvador, nosso ponto de pernoite. Tínhamos terminado a caminhada do primeiro dia.



É uma grande área de acampamento com uma estrutura de cabana com fogão a lenha, mas apesar de grande, a maioria dos locais era com pedra no chão e irregular. Com a quantidade de gente que estava pelo caminho, fomos nos arrumando e deixando alguns pontos para que nossos amigos armassem as barracas quando chegassem. Quando cheguei, já tinham algumas barracas montadas, mas eram de uma empresa de turismo, que colocam os carregadores para irem à frente.

Montei minha barraca próximo ao rio e fui tomar um banho na congelante água. Foi um mergulho para molhar e outro para completar e pronto. Assim que as pernas começaram a doer, já saí e sequei, aproveitando o sol para esquentar. Aos poucos todos foram chegando e se arrumando. Encontrei, por coincidência, alguns amigos de Niterói. Foi só o sol ir embora que o frio apertou. Era hora de colocar a roupa extra. Aproveitei para fazer a janta. Tinha muita gente, sendo o ponto de acampamento mais cheio na qual pegamos. O frio foi aumentou, sendo a senha para entrar na barraca e fechar o saco de dormir, dormindo ao som das águas do rio.

Fotos do Dia 1

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca


Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca







Dia 2 – Rancho Salvador x Camping após a Cachoeira do Charco

Distância: 8,6 km
Tempo:
Desnível Positivo: 450 m
Desnível Negativo: 462 m



Foi uma noite extremamente fria, talvez potencializada por estarmos em um vale e ao lado rio. Combinamos de sair bem cedo, meu receio era pegar os piores lugares nas áreas de acampamento. A caminhada hoje seria a mais curta da travessia, porém teríamos uma travessia de rio. Não sabia exatamente o que encontrar pela frente. Acordei antes das 5h e ainda estava escuro quando comecei esquentar água para o café da manhã. Comecei a arrumar as coisas e assim que começou a clarear, saí da barraca. Pense numa manhã gelada! Pois é... A maioria das barracas estavam com uma capa de gelo por cima. Dei uma volta pelo acampamento para tentar esquentar um pouco.

Só deu para desarmar a barraca com o sol aparecendo e mesmo assim, não foi fácil. Minha mão doía e com tudo molhado não adiantava colocar a luva. Com tudo pronto, eu, Leticia, Vanesa, Carla, Leandro e Amanda saímos para o segundo dia da caminhada. Com as primeiras passadas, o corpo já foi esquentando e foi questão de tempo ter que tirar o anorak.

Seguimos paralelos ao rio e aos poucos ele foi ficando para baixo até que podíamos ver uma grande cachoeira à nossa direita. Não tem coisa mais confortante do que sentir o sol esquentando o corpo. Vai dando um ânimo extra, mas logo tive que dar uma parada e tirar o anorak. Mais à frente, demos uma rápida parada para uma foto, num belo mirante. Continuamos andando e adiante um outro mirante, esse para a cachoeira da Juju. Uma bela queda d’água. Do alto, fiquei imaginando como faríamos para atravessar esse rio. Continuando a trilha, veio uma bifurcação e pegamos a saída para a direita, contornando um morro. Mais à frente, vi que os dois caminhos se encontravam. Pegamos uma descida forte até que chegamos ao rio. O trecho era bem fácil de atravessar, mas foi preciso tirar a bota. Aproveitamos para fazer um lanche e bater algumas fotos. O local era bem bonito.

Desse ponto, podia ver uma subida forte. Não teve jeito, começamos a subir lentamente. Aos poucos dividimos o nosso pequeno grupo novamente. Já no alto, começou a aparecer algumas bifurcações que geraram dúvida. Como estava com GPS, ficou mais fácil. Voltei para avisar ao Leandro que estava seguindo à frente. Comecei a fazer alguns tótens para indicar qual caminho ele deveria pegar. Em alguns pontos, conseguíamos ter contato visual, assim tinha certeza de que estavam no caminho certo.

A estratégia dos tótens foi dando certo, mas a certeza só veio lá na cachoeira do Charco. Antes disso, fui conversando com a Letícia, torcendo para que ele entendesse os sinais. Estávamos num bom ritmo e já fazia um calor considerável. Estava mais quente que o dia anterior. Estava tudo muito seco e por sorte entramos numa área com árvores maiores, o que refrescou um pouco. Assim que saímos dessa mata, um casal de Carcará ficou nos rodeando, como se estivessem nos vigiando. Começamos a descer por caminho com bastante erosão e passamos por uma cascavel morta. Parecia que havido sido morta há pouco tempo. Como que alguém pode fazer uma coisa dessa...

Depois de lamentar, continuamos descendo e cruzamos um córrego. Subimos e demos uma parada rápido num ponto confortável. De lá, conseguíamos ver o Leandro, Amanda e a Carla. Estavam seguindo bem os totens. Continuamos subindo, entrando novamente numa área abrigada do sol. Mais acima, uma bifurcação. O caminho da direita seguia pela linha de cumeada, contornando um vale. O da esquerda, mais fechado seguia descendo numa linha quase reta. Conferi o GPS e a marcação indicava “encurta o caminho”, não pensei duas vezes. Coloquei um totem novamente e começamos a descer.

Dava para ver uma pequena cabana bem ao fundo. Estávamos próximos da Cachoeira do Charco. Depois de uma descida bem íngreme, voltamos para trilha principal e mais alguns metros havíamos chegado na margem, onde deveríamos atravessar o rio. A cachoeira é bem bonita e com bastante volume de água. Tinham várias pessoas atravessando e optamos por fazer uma fila e fomos atravessando as mochilas, assim não teríamos o risco de molhar nada.

A água estava extremamente gelada e não foi fácil ficar ali com a água até o joelho esperando as mochilas. Conseguimos atravessar rapidamente e ficamos esperando os outros chegarem. Assim que eles apareceram no alto, tive a certeza de que os tótens estavam dando certo. O Leandro havia percebido e os seguiu, ganhando um grande trecho. Já na margem, optamos por fazer o mesmo trabalho de passar as mochilas. Aproveitei para dar um mergulho e até nadar em direção à queda d’água, mas foi só passar alguns segundos que os braços começaram a travar. Tratei de voltar logo!

Comi alguma coisa e me arrumei, procurando algum lugar para acampar, pois segundo nosso planejamento, acamparíamos no entorno. Porém, não encontrei nenhum lugar que comportasse todas as nossas barracas. Seguimos subindo e logo cruzamos um córrego com uma área que parecia um charco, mas estava bem seco e não foi um problema passar por ele. Ainda não via nenhum lugar para acampar. Continuamos andando e veio uma área aberta, mas não tinha nenhuma indicação. Cheguei a andar mais um pouco, mas já estava ficando preocupado com o grupo que vinha atrás. Já havíamos andado mais do que o programado para o dia. Como ninguém sabia que já havíamos passado tanto da Cachoeira do Charco, imaginei que se eles não nos vissem, continuariam a caminhada, confiando que eu acharia algum lugar para o pernoite.

Dei uma parada e logo veio um casal. Conversei com eles e eles me disseram que estávamos no caminho certo. Bom, pelo menos não saímos da trilha. Resolvi voltar até essa área mais aberta e olhando com calma, vi que era excelente para acampar. Estávamos mais ou menos na metade do caminho entre dois pontos de água. Montamos nossas barracas e descansamos um pouco. Resolvi voltar até último ponto de água na esperança de que encontrasse o pessoal. Decisão acertada e já próximo a água, todos estavam lá. Falei que o acampamento estava bem próximo e que era para eles pegarem água.

Dali, voltamos para o nosso ponto de pernoite e todos se arrumaram. Comentamos sobre o local indicado sobre o acampamento na Cachoeira do Charco e como pensei, eles seguiram andando quando não nos encontraram por lá. Havíamos encontrado um ótimo local para pernoitar. Estávamos sós. Comemos, conversamos e rimos bastante, num final de tarde maravilhoso. Mas foi só o sol baixar entre as montanhas que o frio chegou. Nem havia escurecido, mas foi hora de colocar as roupas extras. Comi algo e depois de mais um papo, fui para dentro da barraca organizar as coisas para o dia seguinte. De onde estávamos, conseguíamos ver alguns pontos de acampamento bem ao fundo, com lanternas aparecendo de vez em quando.

Decidimos dividir o grupo o novamente, e marcamos de sair às 6h. A estratégia de acordar cedo e chegar cedo estava dando certo.

Travessia Baependi x Aiuruoca
Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca


Dia 3 – Camping após a Cachoeira do Charco x Refúgio dos Pedros

Distância: 16,4 km (11,6 km se não contar os cumes opcionais)
Tempo:
Desnível Positivo: 940 m
Desnível Negativo: 543 m



Foi uma noite bem agradável, não chegou a fazer tanto frio quanto no primeiro dia. Eram 4h 30min quando o despertador tocou. Acordei e preparei um café para despertar. Dei uma organizada nas coisas e fui passando nas barracas de quem havia resolvido sair mais cedo. Desmontei a barraca e organizei a mochila. Às 6h em ponto, saímos eu, Letícia, Mafra, Leandro e Amanda. Pelo nosso roteiro, hoje seria o dia mais longo de caminhada, então, nada melhor do que começar cedo!

Ainda estava clareando quando começamos a andar. Havia um caminho que subia para o cume de um morro, onde tinha algumas pessoas acampando, mas pegamos o que contornava para a direita e logo começamos a descer. Cruzamos um córrego e aproveitei para captar água. Voltamos a subir, passamos por mais um ponto de água e logo cruzamos outro córrego novamente, esse bem menor que o anterior. Não encontramos o caminho de primeira, mas logo achamos a trilha correta e iniciamos uma subida longa. Mais acima, entramos numa estradinha fechada e passamos por dois excelentes pontos de acampamento. Não havíamos visto antes nos relatos que pegamos, mas teria sido uma ótima opção, visto que não caminhamos tanto no dia anterior. De qualquer forma, já estávamos ali e acabou que não fez tanta diferença assim. O trecho era bem bonito. Continuamos subindo e já no alto, passamos por uma bonita área de camping. Havia bastante gente por lá e fizemos uma parada rápida para comer algo. Ficamos conversando durante um tempo. O sol estava entre nuvens e ventava um pouco. O frio apertava e era hora de voltar a andar.

Seguimos nosso caminho em direção ao Refúgio dos Pedros por essa estradinha que agora estava bem mais aberta. Em alguns trechos era possível perceber que ainda era usada, visto que víamos o trilho das rodas. Pegamos uma suave descida, passando por algumas porteiras indicando área particular. Avançamos bem pelo fácil trecho, pois caminhar com piso regular e numa leve descida é ótimo. Passamos por algumas áreas bem abertas e entramos numa área com floresta densa. Nesse ponto, as árvores eram bem grandes. Ouvi barulho de água, mas ainda tinha o suficiente para a caminhada.

Saímos da mata e entramos em mais um descampado, onde demos uma parada próximo a uma placa com alguns avisos, inclusive uma indicando que o local tinha incidência de “felinos de grande porte”. Depois de fazermos algumas fotos, descobri que ali era o local conhecido como Santo Daime. Fiquei pensando sobre qual seria a origem do totem, mas só quando voltamos que pesquisar sobre o local. Pelo relato que li, ele está localizado na RPPN Serra do Papagaio – Matutu e não tem relação com o Santo Daime. Lá dizia que foi instalado na propriedade como parte do projeto de "Acupuntura da Terra". O totem é um trabalho de cunho esotérico do artista esloveno Marko Pogacnik. Ele instalou alguns desses pilares de pedra também em outros pontos da região, e tem peças instaladas inclusive em vários outros lugares do mundo.



De volta a caminhada, começamos a ganhar altura. Entramos novamente em uma mata e depois de uma subida forte, já no alto de um morro, fizemos uma parada para descansar. Dali, podíamos ver o caminha que já havíamos feito, bem como uma ampla vista. O dia continuava agradável e aproveitamos para fazer um lanche. Voltei a andar com um pouco mais de disposição e logo pegamos mais uma subida forte. Estávamos novamente numa densa floresta e mais acima, meu tracklog indicava a entrada para o Pico do Canjica, sendo um desvio de, aproximadamente, 1 km ida e volta.

Deixamos as mochilas na borda da trilha, bem visível para que o Leandro e a Amanda vissem quando estivessem passando. Achei que eles estivessem um pouco longe, mas eles chegaram em seguida e como ainda estávamos bem no começo, eles também nos acompanharam.  Foi uma subida rápida, porém um pouco confusa, pois a frequência no local é pouca. Mas a vista compensou, conseguimos chegar a um belo mirante. Está num dos pontos mais altos da travessia.

Faltava pouco para chegar ao nosso objetivo do dia. Descemos do Canjica com uma vista para dois cumes e fiquei com vontade de subir, mas não sabia como. Colocamos nossas pesadas mochilas nas costas e seguimos caminho. Saímos da mata e voltamos a caminhar num trecho aberto, até entrar num grande trecho de uma espécie de pântano. Procuramos o melhor caminhão para atravessá-lo, visto que não queria me molhar, já estávamos próximos do nosso destino. Achamos uma passagem e caminhamos mais alguns metros até chegar à entrada do Refúgio dos Pedros. Uma moça estava sentada ao lado do ponto de água e nos indicou o caminho a seguir.

Assim que chegamos, pudemos escolher com calma o melhor local para montar a barraca. Fiz sem pressa. O local é bem grande e com bastante espaço. Montei a barraca dentro de um cercado de pedras. Chegamos bem rápido e não senti dificuldades nesse dia que era para ser o mais difícil. Preparei meu almoço e fiz um café. Quando fui lavar as coisas, encontrei o restante do grupo chegando. Novamente, dei sorte em recebê-los e indiquei o caminho a pegar.

Descansei bem e aproveitei para subir o Pico do Tamanduá. Lá de cima, conseguia ver a cadeia de montanhas do Marins/Itaguaré, Serra Fina e até as Agulhas Negras. Fiquei na dúvida se estava vendo a Pedra Selada. De qualquer forma, uma vista fantástica. No cume do Tamanduá, tem uma excelente e bonita áreas de acampamento. Se já não tivesse montado minha barraca, valeria a pena subir e ficar ali. Na descida, ainda passei num cume secundário, subindo uma laje. Outra bela opção. Conversamos bastante e o final de dia foi super agradável. Alguns aproveitaram para ver o pôr-do-sol numa pedra próxima ao acampamento.

Assim como nos dias anteriores, foi só o sol se pôr, que o frio apareceu. Desci rápido até o acampamento, preparando um lanche reforçado. O dia seguinte era o último. Combinamos a mesma coisa do dia anterior, sair as 6h. Com tudo certo, foi entrar na barraca e dormir, ou melhor, tentar dormir. Essa seria a noite mais fria da travessia.

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca


Dia 4 – Refúgio dos Pedros x Camping Panorâmico

Distância: 13,7 km
Tempo:
Desnível Positivo: 458 m
Desnível Negativo: 1.422 m



Quando entrei na barraca para dormir, não sabia o que me esperava. Não era nem 20h quando já estava enrolado no saco de dormir. Acordei por volta das 22h com muito frio, mas não tinha muito o que fazer. Passei uma noite dura. As 4h 30min, tocou o despertador e acordei já esquentando água para tomar café, foi o que aqueceu um pouco. Aos poucos fui organizando as coisas dentro da barraca. Não me preocupei muito, pois era o último dia de caminhada e não precisaria mais pegar nada dentro da mochila.

Por volta das 5h, saí da barraca para avisar aos que iriam sair no primeiro grupo. Tomei mais um café quente e comecei a desmontar a barraca. Estava muito frio e minha mão doía ao ter que manusear o sobre teto quase congelado. Tudo pronto para a saída e as 6h em ponto, iniciamos nossa caminhada. Ainda estava escuro e começamos a andar com as lanternas ligadas.

Fui deixando o Refúgio dos Pedros com um sentimento de saudade, pensando em cada ponto na qual havia passado. O tempo vai passando e se a gente não aproveitar, fica para trás. Mas hoje ainda havia um longo caminho pela frente. Estava bastante frio e nem a caminhada foi suficiente para esquentar o corpo, era preciso que o sol aparecesse. Num trecho, fomos seguindo o caminho mais batido e só percebi que estávamos errados quando já havíamos andado um pedaço considerável. Voltamos e subimos uma formação rochosa para fazer algumas fotos.

De volta a trilha, andamos praticamente pela linha de cumeada, passando por diversas lajes, com pontos mais técnicos até agora, mas nada que complicasse a caminhada. Próximo a mais um cume, fizemos numa parada e aproveitamos para fazer um lanche. Pegamos uma descida e passamos por um trecho bem bonito até chegarmos à Pedra Quadrada, que de onde estávamos, não víamos nada de quadrada, mas daria fotos fantásticas. Todos aproveitaram a paisagem. Mais alguns minutos caminhando e chegamos ao grande local de acampamento, conhecido como “Base do Papagaio”. Valeu muito a pena a nossa logística, pois havia muita gente nesse local e acho que ficaria bem desconfortável ter que montar mais algumas barracas ali. Levando em conta que quase todas as barracas ainda estavam montadas, não fazia muito sentido ter esticado a nossa caminhada no dia anterior, teria sido um esforço grande.



Encontramos com algumas pessoas na qual havíamos passado durante toda a travessia, parece que todos se encontraram naquele ponto. Foi uma boa conversa. Deixamos nossas mochilas num canto e seguimos ao tão esperado cume do Pico do Papagaio que nem é o mais alto, mas é o que dá nome a Unidade de Conservação na qual cruzamos de ponta a ponta. Durante toda a travessia, ficávamos indagando se o cume ao fundo era o Papagaio, quando é que estaríamos vendo e etc. Como ninguém havia feito a travessia, estávamos com essa dúvida. Mas agora não tinha erro, ele estava próximo e era “logo ali”.

Pegamos a trilha e seguimos uma leve descida, passando por um ponto de água e após uma mata, na borda esquerda, mais um ponto de acampamento. Após esse trecho, entramos numa área de mata fechada com grandes árvores e foi só subida a partir daí. Pegamos trechos bem íngremes, mas sem mochila pesada, tudo ficou mais fácil. Estava bem molhado, apesar de não ter chovido. Mais acima, um bonito mirante e já podíamos ter uma noção do que encontraríamos lá em cima. Faltava pouco e em mais alguns minutos estávamos no cume! O tão esperado cume do Pico do Papagaio. A vista era fantástica. Enquanto estávamos lá, foi formando um tapete de nuvens que dava um toque espetacular.

Arrumei um cantinho abrigado para fazer um café e ficamos ali durante um bom tempo, apreciando o espetáculo da natureza. Esperamos um pouco e quando estávamos prontos para descer, chegou o resto grupo. Estávamos todos lá, e fizemos uma foto para celebrar aquele grande momento. Fizemos várias fotos e foi hora de pegar o caminho de volta. Começamos a descer e foi mais fácil para mim, não tenho problemas com descidas. De volta ao ponto de acampamento, onde ficaram nossas mochilas, nos preparamos para o último trecho de caminhada.

Como era a parte final, não me preocupei muito em ver quanto teríamos pela frente. Achei que fosse pouco, mas foram, aproximadamente, 6 km de descida. Pelo menos não teríamos mais subida. Desci num bom ritmo, pegando um trecho de mata fechada, até que chegamos a uma área bem aberta, onde existia uma placa com uma bifurcação. Pegamos o caminho da esquerda que termina no Camping Panorâmico, por sinal bem bonito. Mais abaixo, começamos a caminhar bem próximos da parede do Pico do Papagaio. Depois que saímos da mata fechada e começamos a caminhar num ponto onde havia uns arbustos de pequeno porte, a trilha ficou bem seca e com bastante poeira. Foi ficando bem monótona e resolvi apetar o passo e acabar logo. Já conseguíamos ver as casas bem ao fundo.

Cheguei a uma cerca, próximo a uma casa e fiquei na dúvida se deveria seguir reto. Cruzei a cerca e depois outra, andando mais um pouco. Resolvi parar e esperar o resto do grupo. Ali descansei bastante e refleti sobre tudo o que havia passado. Foram quatro dias intensos e a tive a sensação do dever cumprido. Tinha uma vista privilegiada do Papagaio. Passou um tempo razoável e já estava impaciente com a demora. Resolvi voltar para ver se tinha alguém chegando, encontrei com outra parte do grupo logo após a casa. O Ricardo subiu para avisar aos que vinham e eu continuei descendo. Segui a cerca da direita, num trecho bem confuso, até que avistei um local com vários carros estacionados. Segui até lá. Quando vi algumas pessoas sentadas, tive a certeza de que estava no caminho certo. Em poucos minutos estava tomando um merecido banho e organizando minhas coisas para o retorno.

Almoçamos no restaurante da Tia Iraci, em Aiuruoca. Uma comida excelente. De lá, iniciamos nosso retorno, chegando à sede do Clube Niteroiense de Montanhismo por volta das 0h. Pegamos 4 dias de tempo excelente, que foram fundamentais para que percorrêssemos os 50km de trilha da melhor maneira possível.