Via Leste - Pico Maior - Parque Estadual dos Três Picos
Local: Três Picos
Dia: 25/07/2019
Participantes: Leandro do Carmo e Blanco P. Blanco
Vídeo da escalada na via Face Leste do Pico Maior
Relato da escalada na via Face Leste – Pico Maior
A via Leste, localizada no Pico Maior, no interior do Parque
Estadual doa Três Picos, é uma das escaladas clássicas do Brasil. Com cerca de
700 metros, a via possui lances variados, expostos, chaminés, artificiais e
tudo que uma grande escalada pode proporcionar. Não é a toa que é uma dos
garndes desejos doa escaladores. E para mim, não seria diferente...
Havia tempo em que me sentia preparado para escalar essa
via. Não é uma via das mais complexas, mas tem que estar escalando bem, ter um
bom psicológico e ainda cumprir bem logistica, principalmente na questão do
horário. Tinha certeza de que já havia amadurecido bem para cumprir esse
desafio.
Sempre conversava com o Blanco sobre escalar o Pico Maior.
Já era certo que faríamos, faltava apenas decidir quando... Em junho de 2019,
surgiu a possibilidade de fazermos a escalada em julho, mais precisamente no
dia 25, aniversário do Blanco. Mas para escalar dia 25, teria que chegar um dia
antes e ir um dia depois, pelo menos... Consegui programar minhas férias para
esse mesmo período. Com tudo programado antecipadamente, era torcer para o
tempo ajudar...
Os dias foram passando e a ansiedade aumentava. Vi alguns
vídeos, li alguns relatos e sempre que dava uma folga, consultava o croqui do
Guia de Escalada da Região de Três Picos. Nossa ideia era ficar acampado no
Vale dos Deuses, assim estaríamos mais perto das escaladas. Mas algumas
semanas antes recebemos a notícia de que a área de camping do parque ficaria
fechada para obras... Tínhamos que procurar o plano B. As opções eram muitas,
mas acabamos ficando na Pousada dos Paula.
O Blanco chegou antes e escalou no Capacete com o Alexandre.
Eu cheguei somente no dia 24, quarta-feira. À noite, conversamos um pouco sobre
a via e separamos o equipamento. O Alexandre acabou desistindo de ir e foi
embora, aproveitando a carona do João do Carmo, que também estava lá na
pousada. Arrumei todo equipamento na mochila, incluindo uma corda extra para o
rappel. Ficou bem pesada, mas não tinha muito jeito... Combinamos de sair as 5:30
da manhã. Nossa ideia era começar bem cedo, para termos tempo de fazer cume com
tranquilidade e terminar o rappel ainda durante o dia.
Na quinta-feira, levantamos e como programado, saímos em
direção ao nosso objetivo. Estacionamos o carro ao lado da última porteira e de
lá seguimos até a base. Nem eu, nem o Blanco já havíamos ido até a base da via.
Mas sabíamos onde era o acesso. Fomos à trilha em direção ao Pico Médio e Menor
e entramos no local onde tem uma placa indicando a direção para a via Leste.
Andamos mais um pouco. Ainda pegamos um caminho errado e tivemos que voltar,
mas nada que nos fizesse perder muito tempo.
Enfim havíamos chegado à base da via. Era 7:40h da manhã. Ela
está bem aberta, com muita pedra em volta. Há um tempo houve um desplacamento
que ocasionou esse acúmulo de pedras na base. Não sei como era antes, mas
deixou a base bem aberta e confortável. Dali, já conseguíamos ver boa parte da
face onde está a via. Nos arrumamos, organizamos o equipamento e estava tudo
pronto. O Blanco saiu guiando. A ideia era escalar em simultâneo e nossa
programação era ir até a quinta parada. Quando havia esticado uns 50 metros de
corda, eu saí para a escalada.
Fui subindo e logo passei da pequena placa em homenagem a
conquista da via. Dali vai subindo numa escalada constante e com poucas
proteções. Aos poucos fui me acostumando com o ritmo da via. Boas agarras e
ótima qualidade da rocha. Até a quinta parada, foram 16 costuras e levamos
cerca de 55 minutos. O platô é bem confortável. A vista dali já surpreendia. O
dia estava fantástico. O azul do céu cada vez mais forte. Não tinham nuvens nem
vento. Na quinta parada, uma breve pausa para água e continuamos a escalda.
Como a distância das proteções são mais longas, acaba tendo
mais liberdade nos esticões, ficando o mais natural possível...
Partimos para mais um trecho. Nossa ideia era ir até a
primeira chaminé, na P8. O Blanco seguiu na dianteira e quando já tinha um tanto
de corda considerável, comecei a subir. Mantivemos nossa estratégia de escalar
à francesa. A mochila pesada começou a cobrar seu preço. Dei uma ajustada nela
e segui subindo. Passei por alguns lances um pouco mais difíceis até que
cheguei numa pequena subida com bastante vegetação. Dali, segui caminhando até
me juntar ao Blanco, já no início da primeira chaminé. Ele ficou mais em cima,
assim conseguíamos ficar mais confortáveis.
Mais uma pequena pausa. A partir daí, começaríamos a escalar
dando segurança. Ganhamos bastante tempo. Fizemos as 8 enfiadas em exatas 2
horas. Faltavam 8! O Blanco novamente subiu à frente, guiando a chaminé. Subi
em seguida. Agora eu sentia a mochila pesando. A chaminé até que é razoável.
Cheguei rápido no alto e passei para o outro lado. Dei uma pequena parada no
grampo que está fora e na hora de sair, a mochila ficava puxando pra fora na
hora que eu ameaçava fazer o lance. Não teve jeito. Tinha que passá-la para o
Blanco para conseguir fazer o lance. Desci até o grampo de baixo, tirei a
costura. Estiquei a corda e coloquei uma costura e deixei a mochila correr até onde
ele estava. Não foi muito fácil, mas era o que tinha que fazer. Assim que o
Blanco pegou a mochila, consegui fazer o lance bem rápido.
Na parada resolvemos tirar a corda da mochila para aliviar o
peso. Continuar com ela seria muito desgastante. Falamos no rádio com o pessoal
que havia ficado na pousada. Estávamos na P9. Como não estávamos mais escalando
à francesa, a tendência seria demorar mais um pouco. Mas, havíamos subido bem
rápido até aqui, tínhamos tempo de sobra. O Blanco subiu e saí em seguida. O
lance é bem vertical, mas com boas agarras. Aliás, é assim durante toda a via.
Mais acima, um lance mais delicado e logo estava na P10. Dali, seguimos direto
para P11, onde paramos num pequeno platô, fazendo uma parada mais confortável. De
tempo em tempo, mandávamos informações, via rádio, para o pessoal da pousada que
nos acompanhava.
Seguimos em direção à segunda chaminé. Passamos pela grande
canaleta, até entrar na chaminé, ela é até mais difícil que a outra, fazendo a
P12 antes do artificial. Havíamos feito 12 enfiadas. Era aproximadamente 12h. O
tempo continuava perfeito. Nem sinal de piora. Estávamos escalando num bom ritmo. Uma pequena
pausa para uma água. O sol não chegava aonde estávamos. Era o suficiente para o
frio chegar. Rapidamente tocamos pra cima!
O artificial é bem tranquilo e as proteções estão bem
próximas, facilitando bastante. Sincronizamos bem os movimentos e lo o Blanco
estava na P13. Subi também sem problemas e bem rápido. Faltava pouco. Paramos
num platô bem confortável e com um visual fantástico. Mais uma água e uma
descansada rápida para pegar o próximo artificial. O Blanco saiu na frente e logo chegou à P14. Saí em
seguida. Mais um artificial tranquilo e com as proteções bem próximas. Desse
ponto, já emendamos logo e num esticão, estávamos na última parada antes do
cume. A alegria tomou conta. Estava a
poucos metros de completar a Face Leste.
Mais uma rápida parada, agora para ajustar tudo e chegar
triunfando ao cume. Acima da parada, um lance num degrauzinho era o último desafio.
Dali para o cume foi só caminhar... Enfim havíamos chegado. Era 14:40h, 7 horas
de escalada. A alegria tomou conta. Era cume! Entramos em contato com o pessoal
da pousada novamente. Cantamos parabéns para o Blanco, com direito a bolo e
tudo. A velinha ficou para a próxima... Assinamos o livro de cume e demos uma
boa rodada pelo local. Ficamos ainda um tempo no lado oposto ao que chegamos. A
vista para o Vake dos Frades era fantástica. Ainda estava cedo e tínhamos
bastante tempo. Daria para fazer tudo com bastante calma.
Voltamos e arrumamos o material para iniciarmos o retorno.
Não é tão simples achar o rapel e isso é o maior dos problemas de quem chega
tarde ao cume e não conhece... Não são poucos os casos de ter que passar a
noite ali, esperando o dia seguinte... Tínhamos algumas referências e como o
tempo estava bem aberto e tínhamos bastante tempo, estávamos mais tranquilos.
Avistamos dois totens e dali, começamos a descer em direção ao Capacete. Foram
alguns lances estranhos, mas era o caminho óbvio a fazer. O Blanco avistou uma
marcação bem abaixo e foi em direção. Havia achado a parada dupla. Pelas
características, estávamos no início do rapel pela via Cidade dos Ventos. Nesse
ponto, faríamos um rapel curto até a próxima dupla de grampos. Emendamos a
corda e iniciamos o rapel.
O primeiro foi tranquilo e rápido. Iniciamos o segundo e foi
onde erramos. Fomos bem para a direita, no momento em deveríamos ter ido reto.
Acabamos indo para a via Abra Cadabra. Quando comecei a rapelar, vi uma dupla
bem embaixo, mas aí já era tarde... Deu um pouco mais de trabalho, mas
rapelamos sem maiores contra tempos. Chegamos à base da via. Já estávamos
quase! O dia continuava agradável. A temperatura estava ótima para o local. O
por do sol foi fantástico, deixando a paisagem na cor dourada. Da base, pegamos
uma pequena trilha do caminho da Via Sylvio Mendes e fizemos o último rapel.
Foi hora de relaxar completamente. Dali até a pousada era
apenas caminhar. Bebi uma água e fiz um lanche com calma. Organizei todo o equipamento
na mochila. Foi praticamente fechar a mochila para a noite cair com força. Acendi
a lanterna. Iniciamos a caminhada de volta com a sensação de dever cumprido.
Caminhamos durante um tempo até chegar ao carro. De lá, seguimos até a pousada,
onde fomos recebidos com muita festa! Um dia espetacular, que ficará marcado...