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sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Escalada em Maricá: Pedra de Itaocaia

 Por Leandro do Carmo

Escalada em Maricá: Pedra de Itaocaia

Localizada no distrito de Itaipuaçu, no município de Maricá, a Pedra de Itaocaia se destacana paisagem local, tanto para quem está na praia de Itaipuaçu ou Alto Mourão, quanto para quem passa pela RJ 106, na altura de Inoã. Possui aproximadamente 389 metros de altura e de cada ponto que a vemos, possui um formato.

Escalada em Maricá: Pedra de Itaocaia
Visão da Face Sudeste




Escalada em Maricá: Pedra de Itaocaia
Vista da Fazenda Itaocaia


Escalada em Maricá: Pedra de Itaocaia
Vista da Serra do Calaboca


Vista do Alto Mourão











A primeira via conquistada nessa montanha foi a Paredão Galo Velho, uma conquista de 1981. Ficou durante anos sem conquista. Alguns projetos se iniciaram, mas nenhum avançou. Em 2020, em plena pandemia, Erick Okamura e o Blanco P. Blanco conquistaram uma via face noroeste, voltada para a Fazenda Itaocaia. Em 2021, foi finalizada a via "O dia em que a Terra parou", liderada por Cauê e Alexandre Langer e amigos, na face sudeste, mesma face da Galo Velho. Quase que simultaneamente, Juratan Câmara iniciou a conquista da via Rosângela Gelly, junto com Leandro do Carmo, Michel Cipolatti e Luis Avelar. A partir daí o setor ganhou mais vias se consolidando com vias exigentes e longas, numa parede sólida e bem bonita.

Localização:

Vias da Face Sudeste da Pedra de Itaocaia


A face sudeste da Pedra de Itaocaia tem atualmente 8 vias de escalada, sendo a via mais antiga a Via Galo Velho e as demais conquistadas entre 2020 e 2022. As vias têm dificuldades variadas entre 3° e 7° e podem ter até 500 m de extensão até o cume.

Há sombra nas vias dessa face no período da tarde, principalmente nas vias mais verticais, como a Moinho de Sonhos e Desequilíbrio Emocional, onde já costuma ter sombra a partir de 13h.

As vias são protegidas majoritariamente por grampos e chapeletas rapeláveis PinGo e Dupla da Bonier. Algumas vias podem ter trechos onde a proteção pode ser melhorada com peças moveis, como no caso do começo normal da Via Sujo, Cansado e Todo Suado. Já para o começo da Sujo, Cansado e Todo Suado pelo diedro vertical, a primeira enfiada da Paredão Itaocaia e alguns lances da Paredão Batismo de Sangue é recomendado carregar um jogo de móveis. Um jogo de camalots do #0.4 ao #3 ou equivalente já é suficiente para a maior parte dos casos.

Visão geral das vias

Croqui Pedra de Itaocaia













Acesso:

Para acessar ao início da trilha de acesso, siga pela Av, Carlos Mariguella, até a loja de material de construção "Pé da Pedra Material de Construção". 

https://maps.app.goo.gl/TnFMvNJwuJ1GBtVB7- Pé da Pedra Material de Construção

Trilha de Acesso




Descrição detalhada do acesso detalhado para a base das vias:

Ao lado da loja de material de construção, há um terreno baldio e uma construção inacabada. Entre por ela e siga até o final da parte mais aberta dos fundos do terreno, passando por um bambuzal e, chegando à vegetação, seguir para a esquerda até atravessar um córrego seco (caminho de descida da água da chuva) próximo a um bloco que fica no outro lado. Seguir pela trilha, que sobe em direção à montanha, mas caindo para a esquerda em direção à algumas bananeiras. Logo após as primeiras bananeiras a trilha volta para a direita até encontrar novamente o córrego seco em um ponto onde há um grande bloco dentro dele. Seguir subindo pelo córrego até a pedra.

Margeando a pedra pelo lado direito há alguns projetos antigos abandonados o no final da subida é possível acessar a Via Galo Velho (4°). Não há relatos de repetição recente desta via, porém os grampos visíveis da base parecem estar em bom estado.

Já margeando a pedra pelo lado esquerdo é possível encontrar primeiramente a Paredão Desequilíbrio Emocional (5° VI A1 E2 D3 350m), que é identificada pela sequência de chapeletas por cima de um arco saindo do chão e formando um teto a cerca de 5 m de altura.

A Via O Dia em que a Terra Parou fica cerca de 50 m para esquerda, antes de um bambuzal.

Para a Paredão Moinho de Sonhos (7° VIIb E2 D3 350m), contornar o bambuzal por fora, passando por um trecho um pouco mais fechado e depois de uma rápida subida, chega em outra parte mais aberta onde a pedra vai ficando mais positiva no começo (um rampão) e depois de alguns metros volta a ficar vertical. Contornando o rampão por baixo, no final do lado esquerdo dele, é possível avistar os grampos da Paredão Moinho de Sonhos na parte mais vertical. Uma das vias mais bonitas da montanha.

Para chegar na Paredão Batismo de Sangue (5° VIIa/A0 E3 D3 385m), seguir mais junto à pedra, passar por um muro baixo construído até encostar na montanha e descer. No final desta descida tem uma fenda rasa na pedra saindo do chão em uma parte positiva junto de uma árvore. Bem alto do lado direito da fenda é possível encontrar a primeira proteção da via. Olhando para a montanha pode-se avistar de longe o sistema de fendas e chaminés por onde ela passa.

Para chegar na Via Sujo, Cansado e Todo Suado (4° VI E2 D3 385m), seguir mais agora afastando um pouco da rocha e passando por alguns blocos e seguir na trilha. Caso esta parte esteja fechada é possível seguir bem junto a pedra passando pela vegetação até encontrar a trilha novamente em uma bifurcação.

Nesta bifurcação é possível seguir para a direita continuando bem junto a pedra e fazendo um trepa-mato de cerca de 50 m até um diedro vertical com vários buracos. Este é o começo em móvel (VIsup E3) da primeira enfiada da Via Sujo, Cansado e Todo Suado. Para chegar no outro começo da via, mais fácil e com proteções fixas, seguir em frente na bifurcação passando por uns blocos até chegar em algumas bananeiras, voltando a ficar junto da rocha. Este começo é facilmente identificado por uma fenda frontal mais profunda que a da Batismo de Sangue. A primeira proteção fixa fica depois dessa fendo quando é necessário contornar uma parte com vegetação pelo lado direito.

Para chegar na base da Paredão Itaocaia (4° Vsup E2/E3 D3 550m) é só seguir alguns metros e depois subir em um platô de vegetação. Esta via também tem dois inícios, um por um sistema de fendas frontais no lado esquerdo e outro por baixo de um diedro mais à esquerda, ambos em móvel.

Para acessar a Via Rosângela Gelly (3° IV E2 D3 +380m), basta seguir mais pela trilha até encontrar uma grande laca apoiada na pedra no meio do caminho. A base fica acima desta laca.


Vias de Escalada da Face Sudeste da Pedra de Itaocaia

Rosângela Gelly - 3° IV E2 D2 380m ------ + Relato da Conquista / Croqui

Via mais acessível da montanha. São várias enfiadas de III com alguns lances de IV. Para alcançar o cume é necessário continuar pelo final da Paredão Itaocaia. A base da via fica acima de uma grande laca apoiada na pedra no final da trilha. 






Paredão Itaocaia - 4° V+ E2/E3 D3 550m ------ + Croqui

A primeira enfiada desta via é muito bonita e toda em móvel, podendo ser feita por um sistema de fendas frontais (IV) ou por um diedro na esquerda (V). As outras enfiadas são protegidas em chapeletas. A base da via fica alguns metros depois da Via Sujo, Cansado e Todo Suado em um platô mais alto.

 Um início muito interessante para quem quer escalar um pouco mais em móvel é começar pela Sujo, Cansado e Todo Suado, mas ao invés de contornar a vegetação no final da primeira fenda pela direita em direção à primeira proteção, contornar pela esquerda para passar pela base da Paredão Itaocaia e seguir normalmente até a P1. 

A saída da Paredão Itaocaia para o cume é a mais fácil de todas, tendo menos lances de trepa mato e uma trilha mais aberta.


Sujo, Suado e Todo Cansado - 4° VI E2 D3 385m ------ + Croqui

É a última via conquistada no setor. Esta via foi idealizada por conta do belo diedro vertical, com diversos buracos e agarras, que hoje é uma das alternativas para o começo da via. Este início é protegido em móvel e está graduado em VIsup com exposição E3. Também é possível fazer um começo mais fácil (IV) mais à esquerda, com proteções fixas e alguns móveis opcionais. O lance do diedro é recheado em agarras, batentes e buracos. Já a entrada pela esquerda começa passando por uma sequência de duas fendas frontais e lances em agarras e aderência até a primeira parada. Após a união das duas entradas há lances técnicos e verticais com muitos buracos, agarras e aderência, passando também por grandes buracos em que se pode entrar para descansar. A partir da segunda parada a via segue em lances de até IV em diagonal para a direita até chegar na Paredão Batismo de Sangue. Daí é possível fazer a saída para a Moinho de Sonhos ou seguir no final da Batismo de Sangue, que é mais trabalhoso.


Batismo de Sangue - 5° VIIa E3 D3 385m ----- + Croqui

Via mais exigente psicologicamente para guiar nesta face da montanha. As proteções são mais espaçadas e tem um misto de proteções fixas e móveis. Passa por um sistema de fendas rasas no começo até chegar ao crux, na segunda enfiada. Este lance está graduado em VIIa, porém pode ser feito em artificial. De todo modo, é bom estar escalando bem VI nestas técnicas para guiar a via. Depois do crux segue por duas chaminés bem curtas. A primeira é mais difícil e parece um meio termo entre uma chaminé e um diedro cego, pois é aberta para fora em “V”. A segunda é mais fácil e pode ser contornada por fora. A via passa por alguns buracos e fendas grandes e depois segue por lances mais exigentes de agarras pequenas e aderência por uma enfiada e meia até um grande buraco onde é uma das paradas. A via segue ficando progressivamente mais fácil. A saída para o cume mais fácil é saindo para a direita em uma das enfiadas contornando uma área com bastante vegetação por cima até encontrar a parada da Paredão Moinho de Sonhos que fica na altura dos cabos de aço da parte principal da contenção. Outra saída é continuar seguindo subindo e caindo para esquerda no costão de pedra, buscando encontrar as paradas a cada 60m e algumas proteções fixas intermediárias até chegar à vegetação. Depois ainda há uma enfiada com um misto de trepa mato e rocha até chegar um uma parte mais positiva com vegetação cobrindo toda a pedra. A partir deste ponto é possível desequipar e seguir para o cume, buscando encontrar a trilha da saída da Paredão Itaocaia ou seguir na direção do cume improvisando.


Moinho de Sonhos - 7° VIIb E2 D3 350m ------+ Croqui

A Paredão Moinho de Sonhos é uma das vias mais bonitas e exigentes da montanha. Começa com um rampão positivo por alguns metros até chegar à parede vertical. Neste trecho há bonitos lances com batentes, agarras grandes, lacas e alguns metros com diversos cristais de quartzo usados como regletes. Este último trecho está graduado em VIIa. Faz uma horizontal de cerca de 6m e sobe mais um lance exigente com pockets e regletes antes da parada. A segunda enfiada começa com outro lance entre VIsup e VIIa para a direita com uma agarra muito boa para a mão esquerda, mas pés muito pequenos, tendo que se esticar e fazer uma transição bem técnica para alcançar um veio de cristas no lado direito. Depois deve seguir na horizontal usando o veio de cristais como pés até a segunda parada. A terceira enfiada é a mais exigente da via, sendo graduada em VIIb. É um trecho longo e vertical em agarras pequenas, necessitando de uma boa leitura. A próxima enfiada começa tendo que vencer um teto com boas agarras pelo lado esquerdo e depois seguindo por mais trechos ainda exigentes em regletes pequenos, porém em uma parede menos vertical, diminuindo um pouco a dificuldade. A via segue desta forma até a P5, que fica em um platô bem confortável. Na enfiada seguinte ainda há um lance de aderência mais técnico, porém na maior parte com lances fáceis. Da sexta parada é visto bem de frente a grande contenção construída nos anos 2000. A via contorna a tela que fica abaixo e a esquerda da grande grade de contenção e segue por um costão até perto da altura de cabos de aço que segura a grade principal da contenção. Deste ponto segue na direção dos cabos de aço, passando por cima deles, e contornando a vegetação pelo lado direito e voltando um pouco para a esquerda até subir em um bloco onde há a última proteção da via. A partir deste ponto sobe pela vegetação em um trepa-mato que vai até o cume. Logo depois de entrar na vegetação o melhor é desequipar e seguir esse final já de tênis.


O Dia em Que a Terra Parou - 5° A1(VIIIc) E2 D2


Via Desequilíbrio Emocional - 5° VI A1 E2 D3 ------- + Croqui

 A via começa em um conjunto de dois arcos que saem do cão e formam 2 tetos há cerca de 5-10 m de altura. As proteções começam por cima do primeiro arco e devem ser usadas para artificializar o trecho até acima do segundo teto e entrar em um grande veio de cristais vertical. Este veio de cristais é a parte mais bonita da via. São cerca de 15 m em um veio de cristais vertical de cerca de 1m de largura com muitas agarras grandes. Esse trecho não passa de IV, porém é muito satisfatório de ser escalado.

 Após este veio a via passa por um buraco onde devesse passar pelo lado esquerdo usando um grande batente e algumas boas agarras. Depois continua em uma parede ainda bem vertical com agarras variadas por mais 30m (Vsup), passando no final por um lance de VI com movimentos semelhantes a um boulder logo antes da parada. A via segue depois mais positiva em agarras pequenas, alguns trechos mais verticais bem bonitos e depois um costão de III. No costão passa pelo lado direito da grande contenção construída ali depois do desprendimento de um bloco do topo nos anos 2000. A via passa por um trecho de vegetação e depois segue mais 1 enfiada e meia e um longo trecho de subida pela vegetação até o cume, já desequipado.


Não identificada


Não identificada


Paredão Galo Velho ------+ Croqui

Primeira via dessa montanha, conquistada no início da década de 80. Não confundir com os projetos abandonados que ficam antes desta via na subida logo após começar a contornar a montanha pela direita.






quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Via Paredão Atlântico - Alto Mourão

Por Leandro do Carmo

Via Paredão Atlântico

Dia: 01/05/2023
Local: Alto Mourão / Maricá
Participantes: Leandro do Carmo, Gabriel e Marcos Lima “Velhinho”



Relato

A via “Paredão Atlântico” é uma daquelas vias lendárias que sei que existe, mas nunca fiz. Quando comecei a escalar, sempre ouvi falar dessa via, mas não tinha muita informação efetiva sobre ela. A única coisa que sabia era que seguia pela “tromba do elefante”. Para quem não conhece o Alto Mourão, ele também é conhecido como “Pedra do Elefante”, pois olhando de Itaipuaçú, ela tem o formato de um elefante. Com certeza ela teria uma vista fantástica. Foi uma conquista do final da década de 70 e cheguei até a conhecer algumas pessoas que a repetiram nessa época. Em uma caminhada que fiz, descobri que a partir do cume, dava para seguir descendo por um caminho. Fui seguindo e descobri alguns grampos. Provavelmente era da via. O tempo foi passando e sempre ouvia alguma história sobre ela, até que soube que havia sido feita uma reforma. Era a notícia que eu precisava sobre a via. Ela realmente existia e podia ser feita.

Depois de muito marcar e desmarcar, numa conversa com o Velhinho no Clube Niteroiense de Montanhismo, perguntei se ele gostaria de fazer a Paredão Atlântico. O Gabriel, ouviu e disse que morava lá no condomínio que dá acesso. Inclusive, esse era o maior problema para repetição: o acesso. Tinha resolvido todos os problemas. Agora era, combinar o horário, arrumar o equipamento e seguir para a via. Combinamos bem cedo, pois o sol começa a bater cedo. A ideia era acabar a via na hora que ele chegasse com força.

Chegamos cedo ao condomínio e o Gabriel veio nos encontrar na portaria. Estacionamos o carro e seguimos caminhando. Passamos num mirante e de lá, pegamos uma precária escada de madeira, até entrar numa trilha e seguir até o costão, já na beira da água. Dali, seguimos paralelos ao mar, até chegar numa rampa, que dá acesso à base da via. Como não sabia exatamente onde era o início, seguimos subindo até um platô de vegetação, onde tinha uma pequena fenda. Ali nos arrumamos para iniciar a escalada. O Velhinho até subiu um pouco mais, indo até o primeiro grampo, mas voltou até onde estávamos.

Fizemos as duas primeiras cordadas em simultâneo. Fizemos uma parada logo acima de um outro platô. Dali, saí para terceira. Começo tranquilo, até chegar a um trecho mais vertical. Subi e segui em direção ao grande diedro. Continuei subindo, agora paralelo ao diedro até um pouco mais acima, onde montei a terceira parada. A vista impressionava. Achava que seria bonita e até o momento estou confirmando minha impressão. As condições do dia também ajudavam. Céu azul, uma leve brisa e um sol não muito forte, características do outono.



O Velhinho saiu para guiar a próxima. Subiu e costurou um grampo, e seguiu para a esquerda, passando ao final do grande diedro. Nesse ponto, ele fecha e dá para fazer uma passagem em livre. O Velhinho costurou um grampo logo na subida e seguiu subindo. A partir daí já não conseguíamos ter contato visual. Só ouvia o Velhinho gritar: “Não tô vendo o grampo”. Seria assim até o final da via. Mais acima, o Velhinho conseguiu chegar à parada e o Gabriel subiu em seguida. Fui logo após, procurando o grampo que ele não viu. Consegui achá-lo meio escondido. Como a grampeação é longa, nem sempre as proteções estão no caminho que a gente considera óbvio.

Já na quarta parada, paramos para algumas fotos e enquanto eu esboçava um croqui, o Velhinho aproveitou para seguir. Havia um caminho mais aberto, e ele subiu em direção a uma laca, mas não achava nada. Já tinha esticado bastante corda até que ele resolveu seguir para a direita, único caminho a seguir naquele momento, porém o mais sujo. Decisão acertada, o grampo estava lá. Ele montou a parada e o Gabriel subiu. Segui logo após, procurando o grampo. Bem mais para a direita, entre uma vegetação, lá estava. Já na quinta parada, foi minha vez de subir.

Subi um lance levemente mais vertical e achei um grampo mais para a esquerda. Dali fui subindo e um pouco mais acima, uns 40 metros após a parada, mais um grampo. Segui escalando e a frente uma vegetação que dividia o caminho em dois. Procurei por ambos os lados e não vi nenhuma proteção. Escolhi o caminho da direita e subi até esticar a corda. A próxima proteção estava há uns 5 metros acima. Não chegaria lá. Pedi para o Gabriel subir e escalamos em simultâneo até que eu conseguisse atingir o grampo. A medida que ele foi subindo, pedi que ele parasse no grampo abaixo. O Velhinho foi até lá também. Assim que ele chegou, seguiu guiando, passando por mim, até a próxima parada.

Subimos até ele e segui para mais uma.  A parede foi perdendo inclinação e foi ficando bem mais fácil localizar as proteções. Nesse ponto, já estávamos próximos a borda direita da tromba. A vista para baixo impressionava. Subi até mais uma proteção, onde montei mais uma parada. O Gabriel e o Velhinho vieram em seguida. Pelos nossos cálculos, faltava apenas mais uma cordada, o restante, seria uma caminhada. Já no final, paramos para um descanso e arrumamos as coisas. Faltava ainda uma parte da subida e a trilha de volta. Aí que lembramos que tínhamos que voltar até o Recanto... Iria ser demorado!

O Velhinho e o Gabriel subiram na frente. Aproveitei para filmá-los com o drone. Fui logo em seguida. Quando estava um pouco mais acima, lembrei da corda. Desci para pegá-la e ela não estava lá. Com certeza, o Gabriel a levou. Voltei novamente a subida e depois de um tempo, estava no cume. Paramos rápido para mais uma foto e seguimos descendo. No meio do caminho, o Gabriel deu a boa notícia de que tinha arrumado uma carona do Mirante da Serrinha até o Recanto.  Que sorte, assim não precisaríamos descer andando!

Uma via fantástica, com um visual alucinante. Enfim, conseguir fazer a Paredão Atlântico.






















 

sábado, 28 de janeiro de 2023

Conquista da Via Paredão Inoã - Pedra de Inoã - Maricá

 Por Leandro do Carmo

Conquista da Via Paredão Inoã, Pedra de Inoã - Maricá



Vídeo de uma das investidas da Paredão Inoã


Croqui da via Paredão Inoã

Croqui da via Paredão Inoâ

Relato da Conquista da via Paredão Inoã, por Michel Cipolatti

Conquistar uma via no Monumento Natural Pedra de Inoã tem as suas dificuldades e recompensas. Por ter suas paredes irregulares, com muitas fendas, diedros, platôs, trechos negativos e muita vegetação, é difícil escolher uma linha. E foi durante a conquista da via Bernardo Collares Arantes, em meados de 2020, que surgiu o desafio de tentar conquistar uma via que atravessasse a maior extensão da parede voltada para Inoã, aquela que damos "de cara" quando chegamos em Maricá descendo a serrinha pela RJ vindo de Niterói.

Primeira dificuldade encontrada: não há trilha para a base! Foram três investidas de abertura de trilha, em junho de 2020, para se chegar na base, bem bonita por sinal.Só nesta etapa já temos muita história pra contar: espinhos, mosquitos, cobras, queda de bloco com pé preso... Se eu pudesse dar nome a esta trilha,a chamaria de “Trilha do Cipó”.

Ainda em junho, fomos eu, Michel Cipolatti, com Juratan Câmara e ZoéCaveari na primeira investida de parede. Conquistamos cerca de 90 metros de via, que variam entre 3° e 4° graus. Foram instaladas sete chapeletas Pingo e utilizadas três proteções móveis, já no 2° esticão.

No mês seguinte, conquistamos mais 60 metros de via, com a instalação de quatro chapeletas e um móvel, passando por uma barriga que sugerimos ser um 5° grau.

Na terceira investida, já em outubro de 2020, conquistamos mais cerca de 60 metros de via passando por um diedro com boas colocações de proteções móveis. Foram instaladas três chapeletas na ascensão e mais uma durante o rapel para reduzir a exposição de um lance que ficou "meio perrengue".

Neste trecho, a via se aproxima de uma “florestinha”,que fica no alto da parede, e ao redor, é repleta de bromélias. Na investida de novembro, com mais 60 metros de via e alguns lances em aderência, chegamos na misteriosa florestinha. Ela fica a cerca de 270 metros da base e tem árvores de grande porte. Impressionante!!!

Para acessar a primeiraárvore, que serve de ancoragem e ponto de rapel até a parada dupla (foto 4), foi necessário aprimorar a técnica de "transposição de bromélias", tentando não machucar a planta e não molhar os pés. Tentamos ao máximo contornar a vegetação, mas chegou uma hora que não conseguimos mais.

O ano de 2020 se foi e o projeto ficou adormecido por mais de um ano. Durante uma conversa com Leandro do Carmo e Luiz Avellar, numa reunião social no CNM, decidimos dar andamento à conquista. Quando contei a história do que já estava conquistado, eles caíram na armadilha.kkkk

Combinamos de ir no dia 16 de janeiro de 2022. Isso mesmo, no verão! Escalamos o trecho conquistado e chegamos naflorestinha exaustos. O objetivo era explorar em busca de uma nova base para dar sequência à via, que ganhou uma trilha no meio da parede. Não é só bater grampo que dá trabalho não. Abrir trilha também tem suas dificuldades: escolher o caminho, levando em conta a direção desejada e os obstáculos pela frente, como espinhos e cipós. Sem contar os marimbondos que nos atacaram.

Foi o maior perrengue. Para cima tem um grande buraco, com um teto que se vê da estrada, parecendo um olho. Tentei pela direita, mas achamos uma base de uma linha aparentemente muito difícil de conquistar em livre. Luis decidiu tentar pela esquerda e encontrou outra base, numa linha menos vertical. Batemos duas chapeletas até chegar em uma barriga e as forças acabaram. Rapel.

Tentamos combinar a próxima investida, mas perdemos algumas datas por causa das chuvas ou por outros compromissos, então tentei uma investida em solitário. Chegando mais uma vez na florestinha exausto, e dessa vez com câimbras, bati apenas uma chapeleta e a barriga estava muito difícil, o que causou a impressão de não ser uma boa linha, além de haver muita vegetação logo acima.Cheguei também à conclusão de que não dava para ir sozinho.

Combinamos eu e o Luis uma investida no dia 11 de dezembro de 2022. Entramos na trilha às 5:30, subimos na intenção de terminar a via e descer por trilha.

Escalamos rápido e às 9:15 já estávamos na florestinha, possível P6. Mais uma vez, ficamos incomodados com a base encontrada naquela investida, e resolvemos explorar mais para a esquerda. Fomos por caminhos diferentes e chegamos juntos a uma outra base, desta vez na direção do “blocão” do Mirante que tem no cume. Perfeito! Era a minha intenção terminar a via lá, por já ter trilha de descida e por desconfiar de que encontraríamos uma chaminé, o que deixaria a via mais “completa”.

Abandonamos então as três últimas chapeletas e partimos para essa nova linha. Parecia ser fácil, mas deu trabalho, com muito regletinho e sem descanso. Sugerimos outro quinto grau pela sequência. Batidas quatro chapeletas, a via vai um pouco mais para a esquerda e vai ficando mais fácil até chegar noblocão após passar por mais bromélias. Que lugar lindo! Sombra, um banquinho de pedra e uma caverninha. Perfeito para o descanso e para apreciar a paisagem. Já foram 50 metros de via conquistados nesta data. Para cima um grande negativo. Então, ao contornar pela esquerda, mais uma surpresa: uma fenda maravilhosa para ser escalada “em chaminé”.

A chaminé assusta, por ter blocos entalados que podem cair. Recomenda-se o participante fazer a segurança de fora da chaminé, preso em uma árvore, enquanto o guia avança por dentro da chaminé por cerca de 20 metros, com duas colocações de móveis, até encontrar uma boa saída, parecendo uma janela. A chaminé continua, mais estreita, mas a janela foi mais convidativa, onde preferi sair e instalar a última parada dupla da via.

Durante a subida, o Luis derrubou alguns blocos que estavam entalados na chaminé mas estavam soltos. Só não contava que ia soltar um monte de terra junto e ele ficou “empanado” de sujeira. A partir dali,a via vira uma escalaminhada de uns 50 metros com algumas bromélias no caminho até chegar no mirante. Chegamos no cume às 15 horas, exaustos e quase sem água, mas com o alívio de termos conseguido completar o desafio.

Descemos pela trilha, que é bem íngreme, leva cerca de 1 hora e meia descendo, e termina na estrada, porém, do outro lado da montanha. O resultado é uma nova via com uma grande diversidade de técnicas, como a escalada em agarras, em aderência, chaminé e o uso de equipamentos móveis. Fica, agora,a recompensa de entregar aos escaladores, no dia 11 de dezembro de 2022, mais uma bela e exigente via, toda conquistada em livre, e digna de receber o nome de "Paredão Inoã".

Juratan Câmara na trilha


Zoé Caveari escalando, vista da terceira parada dupla


Michel Cipolatti, Leandro do Carmo e Luis Avellar na “florestinha”



Luis Avellar escalando


Michel Cipolatti conquistando a chaminé


Michel Cipolatti e Luis Avellar no final da via




quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Conquista da Via Bernardo Collares Arantes

Por Leandro do Carmo


Vídeo da Via Bernardo Collares Arantes


Relato da Conquista da Via Bernardo Collares Arantes, por Michel Cipolatti

Há alguns anos eu carregava duas vontades que nunca havia colocado em prática: conquistar uma via e dar o nome em homenagem ao Bernardo, e; saber se alguém já tinha conquistado alguma via naquela aresta que me chamava atenção toda vez que eu passava pela estrada em Inoã.

E foi escalando a CEB 60 com a Hélida, sempre muito motivada para escalar, no dia 22 de fevereiro de 2020, que ao contar essa história eu escuto: “Bora chegar na base amanhã!”. E fomos no dia seguinte mesmo.

Depois de muita subida abrindo trilha e muitos espinhos, chegamos na base da aresta, e para nossa surpresa, não tinha nenhuma via! Começou então a conquista, sem nenhum projeto ou preparação. Começamos do zero. Compra de chapeletas… Juratan entrou para reforçar o time com a sua experiência… contato com a prefeitura, pois o local é uma Unidade de Conservação… equipamentos móveis e furadeira emprestados… parabolts do Miguel Monteza… e tudo pronto.

No sábado, dia 7 de março, conseguimos iniciar a escalada (desculpa pai, por não ter conseguido te dar um abraço no dia do seu aniversário). A idéia foi, desde o início, conquistar uma via limpa explorando ao máximo as proteções móveis, economizando nos furos e evitando a vegetação.

Mais uma vez, para a nossa surpresa, a parede se mostrou muito generosa, oferecendo boas agarras e muitas fendas. A via já começa com uma fenda, com boas proteções móveis. Lembro de ter chegado no primeiro platô, aos 10m de via, e o Juratan dizer: “Cabe uma chapeleta aí, hein!” Mas eu estava com um móvel perto do pé e “toquei para cima”. A primeira proteção fixa fica a 13m da base, e neste dia foram conquistados 30m de via, passando por um lance talvez de 5° grau, após a segunda chapeleta.

Uma semana depois voltamos para mais uma investida. Saindo do P1, encontramos uma sequência de pequenas fendas boas para colocação de móveis. Foram instaladas mais duas chapeletas até o P2. Mais uma vez, tocando para cima, mas desta vez com a Hélida fazendo a segue, que ficou orando kkk.

O traçado encontrado e indicado pela parede alterna entre sair da aresta para aproveitar as fendas existentes e voltar para a aresta para aproveitar o visual do diedro, com a vista para suas paredes negativas em toda sua extensão. E que visual! A cada investida a parede superava nossas expectativas.

Entraram para o time o Sérgio Magalhães, que foi em todas as demais investidas com sua raça, e o Bruno Moretto, que fez imagens incríveis com o drone. Na terceira investida foram conquistados mais 30m de via. Terceiro esticão todo em proteções móveis. Optamos por fazer esticões curtos, para não perdermos a comunicação entre guia e participante, e que coincidem com as duplas de rapel com uma corda de 60m.

Definido o P3 e… Perrengue!!! Ao tentar puxar a mochila com a furadeira, a mesma agarrou em um arbusto e não subia de jeito nenhum. Achei que fosse arrebentar a retinida de tanto puxar do platozinho do P3. Não soltava por nada! A solução foi descer a mochila de volta até o Magalhães, que soltou a retinida para eu poder recolher, e consegui jogar de volta em uma linha reta com a chave 14 de peso. Deu certo!

Passados mais cinco dias e estávamos nós de volta à parede para conquistar um dos lances mais bonitos da via: o lance da aresta! Logo após o P3, com ajuda do Magalhães que apontou um possível traçado passando pela aresta (enquanto eu estava buscando um caminho com muita vegetação) consegui vencer um trecho que alterna entre agarras e aresta, com a utilização de dois móveis. Porém, o lance ficou um pouco exposto demais e não é facil (eu não ia querer guiar aquele lance de novo rs) a ponto de colocamos uma chapeleta intermediária para reduzir o risco. Mais 30m de via e definido o P4.

A última investida antes de interrompermos por causa da pandemia foi a mais produtiva, com ascensão de 60m. O quinto esticão não apresenta grandes dificuldades e é protegido todo por móveis. Em seguida vem uma horizontal para a esquerda, que passa por cima do “grande negativo”. O final da horizontal também ganhou uma chapeleta na última investida para diminuir o grau de exposição. A chegada ao P6, talvez o crux da via, tem proteção fixa e boas colocações móveis.

Passados alguns meses sem voltarmos na via, decidimos terminar a conquista. O dia escolhido em que estávamos disponíveis eu e Sérgio Magalhães, e que não choveu, foi o dia 20 de dezembro de 2020. Marcamos 5 horas da manhã no início da trilha para não pegarmos muito sol, tendo em vista que a via fica voltada para o noroeste e pega sol à tarde. O objetivo era recolher as 3 cordas fixadas na parede, instalar as duas citadas chapeletas para reduzir o risco (pintadas de amarelo para diferenciar) e conquistar o trecho final, do P6 para cima, para acessar o mirante e descermos por trilha. Chama atenção a presença de blocos soltos a partir do P6. Sendo assim, quem optar pela descida por trilha deve escalar a chegada ao cume com bastante cautela, também em móvel.

A descida, conforme indicado no croqui, pode ser feita por rapel a partir do P6 com uma corda de 60m (todas as paradas são em chapeleta dupla) sendo o primeiro rapel em diagonal, ou por trilha a partir do mirante (cume). Não há proteção fixa no cume, para evitar que pessoas inexperientes montem rapel. A segurança do participante pode ser feita em arbustos ou palmeiras confiáveis.

Ao todo, a via tem cerca de 200m, foram instaladas 12 chapeletas durante a conquista (mais seis duplas), duas intermediárias para reduzir a exposição, e foram utilizadas 21 colocações de móveis.

Agradeço muito aos demais conquistadores, Magalhães, Juratan e Hélida, por me permitirem a realização deste trabalho, que acredito ser o maior feito da minha vida (depois dos meus filhos). Sem o apoio e a participação de vocês não seria possível. Não medimos esforços durante a conquista, pegamos sol, sentimos sede, muitas dores musculares, mas como disse o Juratan, a dedicação e o espírito de montanhista sempre prevaleceu. Conseguimos superar esse desafio. Ainda segundo o Jura, que conhece praticamente todas as vias da região, “é a mais bela conquista de Niterói e Maricá”. Eu não discordo. A parede é realmente impressionante pela sua formação e pelo visual.

Fico muito honrado em poder contribuir para o esporte, oferecendo mais uma opção de escalada com um requinte de adrenalina. Ainda, em conseguir homenagear meu amigo Bernardo, um grande escalador que deu sua vida para as montanhas, e que tanto contribuiu para o desenvolvimento do esporte, com suas conquistas, com a intensa participação na FEMERJ e nos Clubes, com a sua contagiante paixão pelas montanhas que certamente influenciou e ainda influencia muitos escaladores. Esta homenagem ainda é pouco para a grandeza do Bernardo e para o que ele representa para o montanhismo.

Fico com o sentimento de missão cumprida. Valeu cada momento de dificuldade e superação, cada esforço e dor sentida, cada minuto de desânimo, cada gota de suor deixada na montanha, pois “As Montanhas são uma espécie de Reino Mágico, onde por meio de algum encantamento, eu me sinto a pessoa mais feliz do mundo”. Bernardo Collares Arantes. Obrigado meu amigo!


Croqui da via - Download



quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Conquista da Via Paredão Rosângela Gelly - 3º IV E2 D2 380m

Por Leandro do Carmo

Conquista da via Paredão Rosângela Gelly

Via Paredão Rosângela Gelly3º IV E2 D2 380m
Conquistadores:
Juratan Câmara, Hélida Rodrigues, Leandro do Carmo, Michel Cipolatti e Luis Avelar
Ano:
2021
Local:
Pedra de Itaocaia - Face Sudeste


Linha aproximada da via Paredão Rosângela Gelly (amarelo) com a Paredão Itaocaia (vermelho) à sua direita:


Dicas

A via é bem bonita e qualidade da rocha ajuda bastante. Boas agarras e lances variados. A via segue bem protegida e é possível rapelar de qualquer ponto da via com uma corda de 60 metros.

Descrição das cordadas:

A via começa tranquila e com lances mais fáceis. Agarras sólidas. Depois a via ganha um pouco mais de inclinação. Passa por uma sequencia de cristais e vem o primeiro crux, numa saída bonita de um buraco raso para a direita. Continua com lances bem bonitos e mais delicados. A partir da P4, a via perde inclinação e vai ficando mais fácil e um pouco mais suja. As proteções mais espaçadas. Já é possível ver de longe algumas proteções da Paredão Itaocaia. 

Bate sombra na parte da tarde.

Acesso


OBS: Por ser uma via recente que ainda não tem muita repetição, o traçado da trilha pode não estar muito bem definido, mas siga sempre paralelo a rocha.

Para acessar a via, deve-se entrar num terreno vazio, entre a loja de material de construção Pé da Pedra e uma loja de Colchões, onde há uma construção abandonada. Siga pelo lado direito dessa construção e vá andado. Depois que passar um bambuzal, deve-se cruzar uma talvegue em direção a umas bananeiras. Siga subindo em direção à pedra. Chegando nela, siga paralelo para a esquerda até encontrar a base da via.



Vídeo da 5º Investida


Relato por Juratan Câmara

Há algum tempo eu estava escalando com a Hélida Rodrigues, a quem conhecera recentemente. Ela escalava muito bem e como ama o esporte, pensava sempre em evoluir tecnicamente mais e mais. Foi aí que conversando com ela veio a ideia de fazermos uma conquista, pois não existe nada melhor para se evoluir nas escaladas. Conquistar tem toda uma técnica única, é desbravar o desconhecido, aumentar o controle emocional e desenvolver uma visão até antes normal. A leitura de um futuro lance pode levar a uma ótima conquista ou a uma daquelas que ninguém gosta de ir ou quando vai não volta mais. O conquistador não pode pensar em si, tem que lembrar que é mais uma via para o esporte, pelo menos é a minha visão. E foi com esse impulso que a Hélida conquistou os primeiros lances muito bem, com segurança e uma calma de veterana, cometeu pequenos erros normais a quem começa, mas ficou muito acima da média dos iniciantes...

Escolhemos uma linha mais limpa possível, inclinação razoável e com boas paradas. Neste dia, estava muito quente e descemos depois de algumas chapeletas fixadas na parede. Fiquei pensando depois que nome daria a via e em nossa segunda investida falei que gostaria de homenagear uma pessoa que sempre fez algo pelo esporte, Rosângela Gelly, talvez Hélida tivesse um outro nome, mas não fez resistência a minha proposta.

Depois de irmos duas vezes, convidei o Michel Cipolatti para nos ajudar, visto que já sabia o tamanho da parede que iríamos encarar. Ao mesmo tempo, chamamos o Leandro do Carmo e o Luiz Avellar, excelentes escaladores do Clube Niteroiense de Montanhismo. Na terceira investida, tivemos que abrir uma outra trilha, bem mais longa, vindo lá da direita, visto que o proprietário da casa por onde passávamos não mais permitiu nossa entrada, neste dia estava um calor absurdo e Cipolatti e Leandro abriram a caminhada cortando todo o mato pelo caminho, os dois ficaram tão cansados que não tiveram forças pra mais nada, eu fiquei pelo meio do caminho vendo Luís.

Ficamos um tempo sem voltar lá, porque o sol andava muito forte, quando retornamos dividimos o grupo, Cipolatti e Leandro subiram para conquistar, eu, Hélida e Luís fomos intermediando os lances longos. Nossa preocupação sempre foi deixar a via bem protegida, e assim fizemos. Cipolatti e Leandro voavam na pedra e avançaram bastante e quase terminaram a conquista.

Por fim Cipolatti e Leandro foram na última investida, colocaram as paradas duplas que faltavam, fizeram as anotações das distâncias dos lances e encerraram mais uma via linda, bem protegida, boas paradas, visual lindo. Comunicamos, oficialmente a homenageada que sua via estava concluída, uma justa homenagem a quem sempre trabalhou para o montanhismo, sempre deu palestras sobre riscos, fez lives, convidando várias pessoas nos mais diferentes assuntos ligados ao esporte e ainda é a autora do livro “Isto Não é Coisa de Menina”. Para quem gosta de uma boa via, aconselho que vá conhecer o paredão Rosângela Gelly

Relato por Leandro do Carmo

Sempre achei que aquela face da Pedra de Itaocaia tinha potencial de novas vias. Eu e o Ary já havíamos olhado, mas nunca houve oportunidade de irmos lá. Mas o destino fez com que começasse uma via ali. Já estava há um tempo conversando com o Juratan sobre conquistas, mas ainda não havíamos tido a oportunidade de conquistarmos uma via. Quando recebi o convite para poder continuar com ele e a Hélida, uma via na Pedra de Itaocaia, não pensei duas vezes. Além mim, o Luiz e o Michel também foram.

O Juratan e a Hélida já haviam ido lá duas vezes. Marcamos cedo a terceira investida e seguimos para Itaipuaçú. Chamamos o caseiro que nos autorizou a entrar. Enfrentamos um forte matagal até chegar à base da via. O calor estava forte. Dali, subimos o trecho que já estava protegido e seguimos mais para cima. O Michel conquistou os primeiros metros e acabei finalizando o dia com um lance bem bacana, acho que o mais difícil até ali. O calor estava forte e resolvemos ir embora, afinal de contas ainda tinha um mato pela frente... Na descida, o dono da casa apareceu e reclamou que estávamos indo lá várias vezes e dificultou a nossa entrada para as próximas investidas. Ainda precisaríamos de algumas.

Ao mesmo tempo em que estávamos nessa conquista, o Cauê Zago dava continuidade a uma via, mas o acesso era bem mais para frente. Aí, surgiu a ideia de acessarmos pelo mesmo caminho dele e seguir paralelo a rocha até chegarmos a base da via. E assim marcamos a quarta investida. Entramos ao lado de uma loja de material de construção, num terreno onde tem uma construção abandonada. Dali, seguimos até a rocha e passamos pela via do Cauê e continuamos paralelos a rocha, abrindo caminho e deixando preparado para futuras investidas. Ao longo caminho, pudemos observar diversas linhas e o grande potencial que a parede tem. Fomos metro a metro até, finalmente, que chegamos exaustos à base da via. O calor estava tão forte e estava tão cansado, que nem deu para pensar em conquistar. Mas pelo menos havíamos conseguido uma alternativa viável para acessar a base. Ao final, encontramos o Cauê Zago e o Alexandre Langer na padaria, onde paramos para tomar uma cerveja gelada e conversar um pouco sobre as conquistas.

Na quinta investida foi mais fácil. O caminho já estava pronto. Chegamos bem mais rápido a base da via e avançamos bem na conquista. A rocha era de boa qualidade e foi facilitando bem a subida. Se não me engano, ainda voltamos lá pelo menos umas duas vezes até que encontramos a via Paredão Itaocaia num trecho da rocha. Aí, tínhamos duas opções: ou parávamos ali, ou continuávamos mais para a esquerda. Como avaliamos que ficaria um mais do mesmo, optamos por encerrar a via ali mesmo. Já estávamos com aproximadamente 380 metros de via. Os melhores lances já haviam passado. Intermediamos alguns lances mais expostos e demos por encerrada a conquista. O Juratan havia sugerido homenagear a Rosângela Gelly, uma acertada decisão. E assim ficou batizada a via...


Fotos de algumas das diversas investidas

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia

Via Paredão Rosângela Gelly - Pedra de Itaocaia