Por Leandro do Carmo
Dia: 15 a 17/11/2024
Local: São José do Barreiro SP/Mambucaba RJ
Participantes: Leandro do Carmo, Simone d'Oliveira, Andréa Vivas, Alexandre Bibiani, Aline Vaz, Carla Rosa, Daniel Candiotto, Fabienne, Juliana, Juliana Silva, Maria Fernanda Patrício, Nerval Roedel, Silvana e Sérgio Molina
Histórico
O Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB) foi criado em
1971 com objetivo principal de proteger as últimas áreas de Mata Atlântica e
ecossistemas marinhos do litoral sul-fluminense. É a segunda maior Unidade de
Conservação Federal de Mata Atlântica, com 104 mil hectares, e abrange parte
dos municípios de Ubatuba, São José do Barreiro, Areias e Cunha, no estado de
São Paulo; e Paraty e Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro.
O PNSB faz parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e
a é unidade núcleo do Mosaico da Bocaina, um dos mais significativos
remanescentes brasileiros do bioma da Mata Atlântica, e que, juntamente com
outras unidades de conservação, compõe o Corredor Ecológico da Serra do Mar.
O grande diferencial do PNSB está em seu enorme gradiente
altitudinal que vai de áreas marinhas em Paraty/RJ, até os mais de 2.000m do
“Pico do Tira Chapéu”, no estado de São Paulo. A vegetação que acompanha este
gradiente envolve as Restingas, presentes nas áreas litorâneas; a exuberante
Floresta Ombrófila em diferentes formações conforme sua altitude; até chegar
aos Campos de Altitude nas áreas mais altas da serra. Sua grande extensão
permite a sobrevivência de animais de grande porte e ameaçados de extinção tais
como: mono-carvoeiro, sagüi-da-serra-escuro, bugio e felinos diversos. Estas
características resultam em uma imensa variedade de climas, paisagens,
cachoeiras e espécies que elevam o Parque Nacional da Serra da Bocaina ao grau
de extrema importância para a conservação da biodiversidade.
Trilha do Ouro – Caminho de Mambucaba
A região do Parque Nacional da Serra da Bocaina é cortada
por diversas trilhas que guardam remanescentes da história da interiorização do
país. Dentre essas trilhas, a que perfaz o Caminho de Mambucaba tem a sua
operacionalização turística consolidada há bastante tempo, o que a consagra
como a mais famosa das “Trilhas do Ouro” que cortam a Bocaina.
A travessia pode ser feita em três ou quatro dias de
caminhada acompanhando o Rio Mambucaba desde sua nascente em São José do
Barreiro, no estado de São Paulo, até desaguar na Baía da Ilha Grande, entre os
municípios de Angra dos Reis e Paraty, no estado do Rio de Janeiro. No seu
percurso é possível visualizar parte do calçamento histórico, belíssimas
paisagens e a biodiversidade da Mata Atlântica. Além disso, pode se aproveitar
diversas cachoeiras como a de Santo Izidro, a das Posses e a espetacular cachoeira
do Veado.
A trilha histórica contribui para a integração cultural da
Bacia do Rio Paraíba do Sul e da região do litoral sul-fluminense. Nos
municípios paulistas de Bananal, São José do Barreiro e Areias, por onde passam
o caminho dos tropeiros e a antiga estrada Rio-São Paulo, aflora a cultura
caipira e tropeira e se festeja a Folia de Reis. Na região litorânea, onde
Angra dos Reis é conhecida pela beleza das praias e ilhas e Paraty reconhecida
pelo seu conjunto histórico-cultural do período colonial, têm-se a influência
da cultura caiçara. Esse patrimônio ambiental, histórico e cultural situado
próximo a importantes centros urbanos dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro
e Minas Gerais aumenta ainda mais a importância do Parque Nacional da Serra da
Bocaina, no que tange à conservação e ao turismo. Dessa forma torna-se ainda
mais necessário manter e ampliar o seu grau de conservação.
O Caminho de Mambucaba - “Trilha do Ouro” é citado por
alguns historiadores como um dos “descaminhos” do ouro, rotas de contrabando,
fugindo às barreiras dos caminhos oficiais.
O “ciclo do ouro” ocorreu entre o final do século XVIII e
início do século XIX. Nesta época este caminho seria uma trilha indígena sem
nenhum tipo de calçamento e com movimento mínimo. Ao longo do século XIX,
quando ocorreu o apogeu do café no Vale do Paraíba, cresceu na via o transporte
de café até o porto de Mambucaba, e de mercadorias “Serra Acima”.
Por conta das inúmeras tropas de mulas que por ali
trafegaram carregadas de café, a estrada recebeu calçamento, pontes e
benfeitorias diversas, além da instalação de vendas e ranchos, para
abastecimento e descanso das tropas e dos tropeiros, e de um registro para
fiscalização e cobrança dos direitos devidos.
Originalmente a estrada partia de São José do Barreiro,
distrito de Areias até 1859, recebendo em seu percurso variantes de Bananal, e
de Campos de Cunha.
Do porto de Mambucaba o café era transportado para
embarcações até o porto do Rio de Janeiro. No retorno, as tropas de mulas
levavam mercadorias para suprir as necessidades das fazendas e das vilas
cafeeiras do interior.
O período de maior atividade desta rota ocorreu entre 1840 e
1864. Seu declínio começa na década de 1870 quando o café passa a ser
transportado pelos trens da Estrada de Ferro D. Pedro II e ramais
intermediários. O segundo e derradeiro golpe no movimento da estrada ocorre com
a abolição da escravidão em 1888, que reduziu de forma drástica e rápida a
produção de café do Vale do Paraíba. Sucumbiram a estrada assim como as vendas
e ranchos para pouso dos tropeiros que, com a interrupção do tráfego regular das
tropas de mulas subindo e descendo a serra, desapareceram. Declinaram também o
porto e a freguesia de Mambucaba, uma das mais importantes localidades
comerciais da Baía da Ilha Grande.
Vídeo da Trilha do Ouro
Relato
A logística para fazer essa travessia não é das mais fáceis
e eu tinha vontade fazer já fazia um tempo. Quando a Andréa e a Simone abriram
essa atividade no CNM, aproveitei para me inscrever e já tirar da minha lista
de pendências. Aproveitaríamos o final de semana prolongado com o feriado de 15
de novembro.
Para a logística, optamos por contratar uma van para nos
levar até São José do Barreiro e depois nos buscar em Mambucaba. Para os
pernoites, ficaríamos hospedados nas super modestas pousadas Barreirinhas e Zé
do Zico. Definida a logística era esperar o dia.
O tempo não estava bom. Havia chovido nos dias anteriores e
a previsão não era das melhores para o final de semana. Algumas pessoas
desistiram, mas ao final éramos 15 pessoas. Marcamos de sair lá da sede do CNM,
às 4h da manhã do dia 15, sexta-feira. Como havia tido reunião social no clube,
optei por dormir lá. Assim não precisaria acordar tão cedo. Ainda passamos num
posto na Praça da Bandeira, lá no Rio, para pegar parte do grupo. Era uma
atividade em conjunto entre o CNM e o CEB.
A viagem foi tranquila e chegamos por volta das 7h na
padaria que havíamos feito contato para tomarmos café da manhã. Depois de tudo
pronto pegamos a estrada que leva à portaria do Parque Nacional da Serra da
Bocaina. Foram 26 km, na qual fizemos em aproximadamente 1 h. A estrada estava
em boas condições. Já na portaria, preenchemos os termos e nos preparamos para
o início da caminhada.
Dia 1: Portaria do Parque x Pousada Barreirinhas
Depois de tudo pronto, foi hora de colocar a mochila nas
costas e iniciar a caminhada. Como não iria levar barraca, a mochila foi leve.
Era por volta das 9h 30 min quando iniciamos a caminhada. Seguimos por uma
estradinha e logo cruzamos um rio, passando por uma ponte, a primeira de muitas
ao longo desses 3 dias de caminhada. Estávamos paralelos ao rio Mambucaba. Aos
poucos fui aumentando o ritmo da caminhada, à medida que o corpo ia aquecendo.
Fomos num bom papo até chegar à primeira cachoeira do dia, a Cachoeira do Santo
Isidro.
A cachoeira do Santo Isidro é a que fica mais próxima da
portaria do parque, são aproximadamente 1,5 km de caminhada. Entramos no
caminho onde havia uma placa indicativa e logo chegamos ao topo da cachoeira,
dali começamos a descer. A cachoeira tem uns 50 metros e forma um grande poço
com fundo arenoso. Como o tempo estava bastante nublado e muito quente,
aproveitei para tomar um banho e garantir logo o mergulho, não sabia o que me
esperava pela frente. A temperatura da água estava bem agradável.
Depois do mergulho, era hora de voltar. Só que agora era
subida. De volta a estrada, continuamos nossa caminhada. Passamos por trechos
com bastante lama. Alguns carros passaram por nós, indo em direção a algumas
pousadas dentro do parque. Pegamos um atalho sinalizado pelo parque. Nesse
ponto já estávamos divididos em alguns pequenos grupos. Aproveitei para
conhecer a Cachoeira dos Mochileiros. Bem pequena, mas sempre vale a pena. A
descida é que não é muito boa. São trechos bem íngremes e escorregadios. C
De volta a caminhada, acabei encontrando novamente com
algumas pessoas do grupo que haviam passado direto pela Cachoeira dos
Mochileiros. Continuei andando sempre desviando das poças de lama. Existiam
vários trechos em recuperação, onde árvores exóticas estavam sendo retiradas
para dar lugar a mata nativa. Novamente na dianteira do grupo, veio uma placa
indicando a Cachoeira da Posse. Era uma entrada bem aberta e num largo,
deixamos as mochilas num canto se seguimos descendo novamente. Nesse ponto, há
um bom lugar para camping, mas é muito perto da portaria. Estávamos a apenas 8
km. Mais uma bela cachoeira. Dessa vez não mergulhei, mas na volta parei para
fazer um lanche.
Nesse ponto, nos reunimos novamente. Nossa ideia era parar
para juntar o grupo de tempo em tempo. Era hora de voltar a caminhar e resolvi
voltar antes do corpo esfriar totalmente. A Maria Fernanda me acompanhou nesse
trecho e andamos bem. Um pouco após a Cachoeira das Posses, passamos por uma
placa que indica um ponto de controle do parque. Mais à frente, entramos numa
área mais aberta e agradeci por estar nublado, porém, não tínhamos muita vista.
Não dá para ter tudo nessa vida.
Durante a caminhada, fomos encontrando diversos grupos e a
gente ainda se encontraria diversas vezes durante esses 3 dias. Foram nossos
amigos de trilha. Numa bifurcação, onde indicava Barreirinha e Pousada Vale do
Veado, fizemos mais uma parada rápida. Nesse ponto encontramos mais um grande
grupo, o último desse primeiro dia.
Seguimos e continuamos num trecho bem aberto. Pegamos algumas subidas e
em determinado ponto a Maria Fernanda me disse que era a última subida do dia,
mas ao final, ainda tinha mais. Ainda brincamos que toda subida na qual pegamos
era a última. Finalmente a última subida havia chegado.
Num determinado ponto, a chuva começou a apertar. Foi
necessário colocar a capa. Chegamos a uma placa, indicando Pousada
Barreirinhas. Ela saía da estradinha e o caminho era bem fechado. Mas
resolvemos seguir por ele. A descida foi meio ruim, estava bem molhado e
escorregadio. Mas logo avistamos uma casa ao fundo e foi fácil identificar que
era a pousada. Descemos um e voltamos para a estradinha que levava direto à
pousada.
Chegamos e entramos na varanda, onde fomos recebidos pelo
Sr. Tião. Ele nos orientou onde poderíamos deixar as coisas, sendo bem
objetivo. Estava bem cansado, havia caminhado num bom ritmo. Como a casa estava
vazia, aproveitei para tomar um banho. Aí sim consegui relaxar.
A chuva apertou e o Daniel chegou dando uma má notícia: O
Sérgio havia torcido o pé logo na saída da cachoeira das Posses, desmaiou e ele
estava lá sem condições de andar. Primeiro grande problema do dia. Logo em
seguida, chegou o Marcelo, confirmando a má notícia. Tínhamos um problema,
estávamos com uma pessoa, mais ou menos na metade do caminho sem conseguir
andar, segundo informações que havíamos recebido. Já tinha, aproximadamente, 1
hora que eu havia chegado na pousada.
A chuva apertou e por volta das 17h, a Andréa, Silvana,
Carla, Juliana e Alexandre. A situação não era nada animadora. A informação era
de que o Sérgio não tinha condições de andar. Por outro lado, ele estava
acompanhado de mais 4 pessoas, inclusive a Simone, guia do CNM. Com isso,
tentamos conversar com o Sr. Tião para buscá-lo de carro, mas ele disse que não
podia, pois precisava arrumar as coisas para os outros hóspedes. Enquanto isso,
outras pessoas foram chegando e a casa foi ficando cheia.
Eu não podia sair naquele momento para ajudar, pois ainda
não havia comido nada. A janta seria servida as 18h. A Carla ofereceu um pacote
de comida liofilizada, na qual aceitei. Minha ideia era comer e depois sair.
Uma das coisas que aprendi é que em um resgate, você não se deve colocar em
risco, se não, serão dois a serem resgatados. Sair sem ter comido nada, seria
um grande erro. Afinal de contas, até o ponto onde o Sérgio estava, seriam uns
9 km e voltar para a pousada ou seguir para a portaria, seriam mais uns 9 km,
depois de já ter andado 18 km no dia.
Assim que já estava quase pronto para sair, conseguiram
convencer o Sr. Tião em sair para buscar o Sérgio. Foi um alívio. Para
compensar, ajudamos na arrumação da janta. Em pouco tempo ele foi e voltou. Ele
os encontrou a aproximadamente 2 km da pousada. Depois de um tempo, o Sérgio
conseguiu andar com bastante dificuldade. Assim que chegou, vimos a situação
dele. Estava bem ruim, tremia bastante, já quase desenvolvendo uma hipotermia.
Falei para ele ir para o banho. O que deu um pouco de ânimo. Já mais aliviado,
jantei e aí pensei que fosse descansar.
Mas a vida é uma caixinha de surpresas, dizia Joseph
Climber... Logo após a janta, a Juliana começou a sentir uma falta de ar e seu
rosto começou a inchar. Estava desenvolvendo uma alergia a alguma coisa que
havia comido. Seu rosto inchou a ponto de não conseguir enxergar direito. Mais
um grande problema. Demos um anti-alérgico e esperamos um pouco até amenizar.
Aos poucos ela foi conseguindo respirar melhor, mas o rosto ainda estava muito
inchado. Tínhamos dois problemas agora.
Após uma conversa com o Sr. Tião, soubemos que ele iria
embora no dia seguinte e cobrou R$ 1.000,00 para levar os dois e mais um
acompanhante até São José do Barreiro. Se ele já iria embora, por que é que
mesmo assim ele cobrou por um socorro médico? São coisas difíceis de entender. Cada
um que faça sua avaliação.
Dia 2: Pousada Barreirinhas x Pousada Zé do Zico
Choveu a noite inteira. A noite não foi boa. Pensei muito no
que poderia ter acontecido. Ainda não havia passado por nada parecido, mas tudo
tem sua primeira vez. Levantei-me ainda bem cedo e fui à varanda. Condições
desanimadoras. Tomamos café e ficamos esperando a chuva dar uma trégua. O
Sérgio caminhava com dificuldade e Juliana ainda estava um pouco inchada, mas
conversava bem. A Carla acompanharia os dois de volta até São José do Barreiro.
Eles voltaram bem e ficamos sabendo dois dias depois que o Sérgio havia
quebrado o tornozelo e rompido o ligamento, tendo que operar. A Juliana foi
atendida em Rezende e passava bem.
Como a chuva não parava, resolvemos sair assim mesmo. A
caminhada continuava numa estradinha, agora um pouco pior que o trecho do
primeiro dia. Foi mesclando áreas abertas e mais fechadas. Aos poucos fui acostumando-me
com a caminhada num dia molhado e sem aquela vista. Inclusive, foi uma das
coisas que senti falta no primeiro dia. Passamos por uma casa à esquerda da
trilha, pegamos mais uma área de pasto e passamos pela Pousada e Camping da
Dona Palmira. Cruzamos uma porteira e seguimos subindo por um caminho que por
conta da chuva estava bem escorregadio. Optei por seguir pela margem, onde
havia um pouco da grama do pasto.
Passamos por alguns trechos de calçamento com bastante
cuidado, pois as pedras costumam escorregar bastante. Em alguns trechos foi bem
complicado. O barro vermelho molhado vira um sabão. Passamos na margem de um
pequeno lago e mais frente paramos na entrada da Fazenda Bananeira, onde
fizemos um lanche rápido. De volta a caminhada, passamos por duas casas um
pouco distante, mas não encontramos ninguém. Com um tempo nessas condições,
seria pouco provável encontrar alguém por ali, que não estivesse fazendo a Trilha
do Ouro.
A chuva foi diminuindo, mas o dia continuava bem instável.
Parece que o tempo passa mais rápido nessas condições. Chegamos á um córrego.
Estava com bastante água e seria necessário tirar a bota para passar. Havia uma
pinguela com dois troncos de árvore, mas que estavam em péssimas condições.
Achei melhor passar por ela do que tirar a bota. Eram dois troncos de espessura
diferentes e ainda estavam soltos. Balançava bastante, então foi preciso passar
com bastante cuidado. Só ao final que percebi que o arame que segurava um
tronco na qual servia de corrimão estava quase soltando. Bom que deu tudo
certo. Mas se também não desse, daria apenas um banho no azarado do dia.
Cruzamos por diversos grupos, uns conhecidos outros não. Em
algum momento todos se encontram, pois cada um vai pernoitando em locais
diferentes. Mais à frente, passamos por uma casa bem bonita. Sem sinal de
gente. Andamos bem e cruzamos uma porteira bem à beira de um grotão. Só era
possível ouvir o barulho forte do rio ao fundo. Descemos num trecho bem
escorregadio e logo chegamos a um descampado. Havia um senhor e uma criança
cuidando de uns cavalos. Um pouco depois, descobrimos que eles são os
responsáveis por levar os mantimentos de Mambucaba até o Zé do Zico. Ali era o
entroncamento para quem quisesse conhecer a Cachoeira dos Veados, talvez a mais
bonita da travessia, quiçá do Parque. Optei por deixar a cachoeira para mais
tarde e segui até o ponto onde faríamos nosso pernoite. Atravessamos a ponte
pênsil. Já na primeira passada, dei um leve escorregão. A madeira do piso
estava bem molhada e escorregava bastante. Segui com mais cuidado, pois o rio
estava cheio e a corrente era forte. Cair ali não estava nos planos.
Chegando ao Zé do Zico, foi hora de descansar um pouco.
Arrumei minhas coisas e dei uma volta para conhecer o local. A estrutura é boa
e há um gramado onde fica a área de camping. A casa é bem grande, mas simples.
Já tinha bastante gente e todos se organizaram. Para que ficássemos todos
juntos, me voluntariei em dormir num beliche na varanda. Aproveitamos para ir
conhecer à Cachoeira dos Veados. Chovia um pouco e estava tudo molhado pelo
caminho. Passamos por dois grandes pontos de acampamento e foi só chegar de
frente à cachoeira que podíamos sentir a sua força. Um forte deslocamento de
ar, unido ao barulho das águas, tornava a cena amedrontadora. Mas era
impossível não ficar hipnotizado pela beleza. Havia possibilidade de ir à parte
alta, mas como estava tudo molhado, achei melhor ficar por ali mesmo.
Voltando ao Zé do Zico, ficamos batendo um papo descontraído na fila do banho. Jantei logo em seguida. Em algum momento da noite, olhei para céu e vi algumas estrelas. Foi a esperança de que pudéssemos pegar um tempo bom no último dia de caminhada.
Dia 3: Pousada Zé do Zico x Ponte de Arame
Acordei cedo e a primeira coisa que fiz foi conferir o
tempo. Estava levemente encoberto, mas com cara de que iria abrir em breve.
Como havia dito anteriormente, dormi na varanda, mas foi ótimo, não tendo
nenhum problema. Tomei meu café da manhã e arrumei a mochila. Não me preocupei
muito com a organização, pois não teria que tirar mais nada de dentro dela. Dei
uma volta pelo local e fui até a margem do rio, onde percebi que já havia baixado
o nível.
Estávamos todos prontos. Tiramos a foto oficial de partida e
iniciamos a caminhada. Pelos relatos que havia lido, esse último dia seria mais
complicado pelas pedras do histórico calçamento. Devido as chuvas e a grande
umidade, o caminho fica muito escorregadio e tombo pode ser perigoso. Todo
cuidado era pouco. Passamos da entrada da ponte e seguimos paralelos ao rio
durante um bom tempo, inclusive, sendo nosso companheiro durante toda a
caminhada. Ora ele estava mais perto, ora mais longe, mas sempre lá.
Logo de cara, tive uma surpresa quando vi a cachoeira dos
Veados ao fundo, uma vista espetacular. Estávamos em meio a uma mata muito bem
preservada. Um verde exuberante. O dia
estava bem firme e foi a primeira vez que vi o céu azul. Mas tudo tem seu
preço. Era bem cedo e já estava calor. Corria água por todos os lados. Tinha
bastante lama e a umidade era forte.
Aos poucos fui tomando a dianteira da caminhada,
ultrapassando diversos grupos. Tinha que andar com bastante cuidado para não
escorregar. Muitas vezes era preciso usar a borda da trilha, pois tinha muita
lama, daquelas que afunda o pé por inteiro. Achei uma picada no meio do caminho
e pelo barulho da água, deveria dar em alguma cachoeira. Resolvi descer para
conferir. Era um trecho do rio bem largo, com uma pequena corredeira, mas um
grande refluxo. Não seria ali que tomaria meu banho. De volta a trilha,
continuei andando.
Até o momento, só havíamos pegado descida e seria assim até
ao final. Depois de andar bastante, havia chegado em um novo rio. Andei um
pouco e vi que ele se encontrava com o rio Mambucaba, na qual havíamos
acompanhado desde o início da caminhada. Andei um pouco para tentar encontrar o
ponto de passagem e percebi que mais acima havia um outro caminho, fui seguindo
e cheguei a uma ponte que estava em péssimas condições. Inclusive, havia muitos
galhos obstruindo a passagem. Eu não quis arriscar. Voltei até ao ponto do rio
e percebi que a trilha continuava na outra margem.
Ali, fiz a minha parada para reencontrar o pessoal que havia
ficado para trás. Aproveitei para lanchar e tomar um banho. A água estava numa
excelente temperatura e pude ainda pegar um sol. Depois de alguns minutos
passou aquele senhor com a criança que estava com os cavalos, quando havíamos
chegado ao Zé do Zico no dia anterior. Eles atravessaram o rio com uma
facilidade e velocidade que me impressionou. Aos poucos, o pessoal foi chegando
e todos aproveitaram para tomar banho também. Vi que alguns grupos optaram por
atravessar a ponte. Como ainda faltavam algumas pessoas, fui à frente para
tentar encontrar com o motorista da van já ao final da caminhada. Então segui
andando.
Atravessei o rio e subi um pequeno trecho, voltando à trilha
principal. O calor foi aumentando à medida que estávamos mais próximo ao nível do
mar. E era um calor sufocante. Mas tinha que continuar e faltava pouco. Andei
num bom ritmo e logo cheguei a tão esperada ponte de arame. Nesse ponto já não sabia
muito bem para onde ir, ficando na dúvida se teria que atravessar a ponte ou
seguir pela estrada a minha frente. Tinha um carro estacionado e veio uma van. Eu
todo bobo achei que tivesse chegado, mas quando fui falar com o motorista, era
para outro grupo. Andei um pouco mais para frente, mas resolvi voltar até a
ponte e esperar um pouco.
Esperei um pouquinho e algumas pessoas foram chegando.
Resolvemos andar, pois pela hora, o motorista já deveria ter chegado. Andamos
alguns minutos e ela estava lá, estacionada na entrada de um sítio. Fiquei mais
aliviado. Tinham algumas pessoas lá também e aproveitei para entrar. Consegui
comprar uma jarra de suco, que até agora não sei qual era o sabor, mas estava
fantástico. Com o grupo reunido, seguimos para o local onde faríamos nosso
almoço. Comemos e tomamos banho, nos preparando para nosso retorno.
Já com sinal de internet, tivemos a notícia de que a Juliana
havia sido medicada em Resende, no próprio sábado e que estava em casa, estava
tudo bem com ela. O Sérgio havia quebrado o tornozelo em dois lugares e ainda
rompeu o ligamento. Iria operar na segunda feira. Bom, como diz o ditado: “entre mortos e
feridos, salvaram-se todos”. Mais uma travessia para a conta.
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