Já fazia um tempo que eu gostaria de conhecer alguma via na
Agulhinha da Gávea. Aproveitando o Curso Básico de Escalada do Clube
Niteroiense de Montanhismo, havia sugerido de fazer uma aula por lá. Com a
ideia aceita, organizamos para que ela fosse a última escalada do curso.
Com o tempo quente, optamos por sair bem cedo de Niterói e
assim terminar num horário confortável. Chegamos cedo em São Conrado e de lá
subimos a Estrada das Canoas, estacionando próximo ao Mirante das Canoas. Com
uma ótima área para estacionamento, esta era a melhor opção, visto que para
subir em direção ao estacionamento da Pedra Bonita, era preciso esperar as 8h.
Com todos juntos, seguimos subindo para pegar a trilha. Não
é muito óbvio, mas é fácil identificar a entrada. Após passar um trecho da
estrada com um elevado, tendo uma mureta à esquerda, segue subindo,
acompanhando um muro de pedra à direita. Numa curva para direita, a entrada
fica na calçada da esquerda, de quem sobe.
Entramos na trilha e chegamos rápidos até a base. Já tinham
algumas cordadas e dava para ver alguns escaladores de longe. Nos preparamos e
as cordadas foram dividias. Eu fiz cordada com a Camila. Acabou que todos
começaram pela Jorge de Castro. Ricardo emendaria na XV de Novembro, fazendo
algumas variantes.
Todos subiram e fomos a última cordada. A primeira cordada
segue bem fácil, subindo reto da base e entrando numas fendas, no estilo trepa
pedra. A via vai seguindo numa diagonal para direita, até chegar a um platô.
Montei a parada e dei segurança para a Camila que chegou rápido. Conseguia ver
uma sequência de grampos de uma variante, uma opção interessante. Mas como
estava ali pela primeira vez, optei por fazer a via completa.
Descemos andando até a base da segunda enfiada. O Ricardo e
o Michel seguiram por uma variante para emendar na XV de Novembro. O Daniel
seguiu pela via e fui logo em seguida. Comecei a subir, saindo para direita,
entrando no lance do “Rebola”. Já havia ouvido falar do lance, mas passei bem,
fazendo um contorno e entrando numa canaleta, fazendo uma diagonal longa para
cima. Deu um pouco de arrasto, apesar da costura longo que havia colocado.
Achei o trecho bem exposto e quando costurei, percebi que havia pulado um
grampo. Continuei subindo até parar num platô bem confortável. Até agora tudo
bem e pelo que já havia visto, não teríamos problemas para cima também.
A vista era fantástica. O sol estava ali, mas ainda não
incomodava. Percebi que estava com várias picadas de mosquito. Havia várias
marquinhas de sangue. O pouco tempo que ficamos lá na base, foi suficiente para
o estrago. Saí a terceira enfiada, fazendo uma caminhada com trepa pedras, até
parar num platô. A Camila chegou em seguida e me preparei para entrar no crux
da via.
Me preparei e avisei para ficar ligada na segurança. Protegi
a entrada com um camalot que o Michel havia emprestado. Levei, mas acabei nem
usando em lance nenhum para baixo. Posicionei bem o pé e entrei na fenda, num
lance de oposição e logo venci o lance, passando bem rápido. Mas acima, montei
a parada num grampo acima de um platô bem desconfortável. A Camila chegou em
seguida e de lá subiu andando pela trilha. Puxei a corda e enrolei como deu.
O trecho de caminhada começa bem íngreme e escorregadio, por
conta da terra solta. Porém foi curto e logo estávamos no cume. Não tínhamos
vista. O cume é bem fechado. Aos poucos, todos foram chegando e calmamente fui
arrumando o material para a descida. Aproveitei para fazer um lanche e beber
uma água.
Já pegando o caminho de volta, pude, enfim, apreciar uma
vista fantástica. Agora sim, tinha a sensação de fazer cume. Começamos a descer
e ainda paramos para uma bela foto do grupo, com uma visão para a Pedra da
Gávea. Seguimos o caminho de volta, chegando ao estacionamento antes da rampa
de Vôo da Pedra Bonita. Paramos num local bem agradável e aproveitamos para
comprar um lanche e um café. Dali seguimos descendo até o carro, onde
comemoramos a grande escalada que fizemos. Um dia bem bonito.
Via Bohemia Gelada/Chaminé Pão-de-Açúcar – CBE 2024
Dia: 07/04/2024
Local: Urca – Rio de Janeiro - RJ
Participantes: Leandro do Carmo, Alberto Porto e Silva Ptizer
Relato
Essa foi a aula de escalada longa do Curso Básico de
Escalada do CNM. Optamos por voltar a escalar no Pão-de-Açúcar por representar
um ícone da escalada brasileira e além de poder fazer cume numa via bem bonita,
uma grande aventura. Saímos cedo de Niterói com o intuito de aliviar o calor
que vinha fazendo e conseguir estacionar com tranquilidade na Urca. Já no
início da Pista Cláudio Coutinho, nos reunimos e de lá seguimos andando até
entrar na trilha. Dali, subimos até a base da Escadinha de Jacó, pois a trilha
principal está interditada, devido a um desmoronamento.
Nos equipamos e subimos, seguindo até a base das vias. Repassamos
alguns procedimentos e subi para a primeira enfiada. Fui subindo em direção a
uma cristaleira em lances bem fáceis até chegar a um ponto onde resolvi montar
a parada. Tive que ir sincronizando com a outra cordada para conseguirmos parar
em locais confortáveis e um não atrapalhar o outro.
Da nossa primeira parada, subimos até a próxima, passando
pelo grande buraco. Há tempos que prefiro passar pela lateral direita dele,
evitando passar por dentro. Passei rápido e logo estávamos na segunda parada. A
vista impressionava, estava quente, mas pela hora ainda estava tranquilo.
Vários barcos cruzando a entrada da Baía de Guanabara. Conseguíamos acompanhar
as cordadas que estavam na Heniken.
Já estava há um tempo sem escalar, mas subi bem tranquilo. A
via ajudava também. Fazer uma via fácil depois de um tempo sem escalar, dá um
pouco mais de segurança. Saí para a terceira enfiada e passei por um trecho bem
bonito, várias linhas, como se fossem rasgos na rocha. Montei a parada um pouco
para a direita, em um dos grampos da Chaminé Pão-de-Açúcar. A Silvana e o
Alberto chegaram logo em seguida.
Era hora de sair para enfiada mais bonita da via. Nesse
ponto emendamos na Chaminé Pão-de-Açúcar, até pegar a trilha do Costão. Assim
que estava saindo para a quarta enfiada, ouvi um barulho de alguém caindo, com
certeza teve uma queda. Parecia em alguma cordada da Heniken. Fiquei olhando,
mas como ninguém disse nada, segui escalando. Desviei para a esquerda e longo
entrei no trecho vertical. Optei por não costurar uma proteção que fica mais a
direita, tendo que dominar uma fenda. Dá um arrasto grande. Porém, o lance fica
mais exposto. Mas a quantidade e qualidade de agarras compensa.
Subi com cuidado. Com mãos e pés sempre bem posicionados,
fui ganhando altura, até conseguir costurar um grampo, dando mais segurança.
Havia passado o pior. Dali para cima, era mais fácil. Entrei na grande
canaleta, subindo um pouco mais e resolvi montar a parada onde fosse melhor
acompanhar os participante. Não tinha contato visual, mas foi possível gritar
para a Silvana e o Alberto, que responderam em seguida, subindo rápidos até a
parada.
Dali, já dava para ver o final da via. Faltavam poucos
metros para o platô. Na hora que o sol apertou, já estávamos nos aproximando do
fim da escalada. Escalei metros finais, dando segurança no platô. Trecho curto
onde as vias se encontram, sendo também final para Heniken. Logo em seguida, as
outras cordadas começaram a chegar e foi que descobri que o barulho havia sido
uma queda do Daniel, mas foi tudo bem, só um pequeno ralado.
Faltava apenas uma cordada, que demorou um pouco devido ao
calor. Esperamos no final do trecho de escalada da Trilha do Costão, onde
estava uma sombra agradável. Com todos reunidos, seguimos subindo até pararmos
para uma foto do grupo na Pedra Filosofal. Mais um pouco de caminhada,
estávamos no cume do Pão-de-Açúcar. Agora podia de dizer que a escalada havia
acabado. Uma grande escalada num dia maravilhoso.
Dia: 20/02/2022 Local: Baía de Guanabara Participantes: Leandro do Carmo
Tempo total: 2h 47min Distância: 16,2 km Velocidade média: 6,1 km/h Velocidade máxima: 12,1 km/h
Trajeto: Naval x Praia das Flexas x Boa Viagem x UFF x Fortaleza de Santa Cruz x Morcego x Naval
Relato
Sempre gostei do mar. Mergulho há anos e sempre estou
remando de SUP. Mas agora resolvi que buscar outros rumos. Há algum tempo que
venho pesquisando sobre expedições de caiaques e remadas mais longas, coisas do
tipo: “dar a volta na Ilha Grande”. Mas acho que agora chegou a
hora. Passei alguns meses pesquisando sobre a compra de um caiaque oceânico na
qual pudesse levar o equipamento necessário para passar alguns dias parando de
praia em praia. Meu medo era comprar um que não fosse tão bom. A inexperiência
as vezes cobra seu preço. Em uma pesquisa, achei um anúncio e pelo preço,
valeria a pena arriscar. Fui à Campo Grande buscá-lo. E hoje era dia de
testá-lo na água!
Colocar em cima do carro não é fácil. É um caiaque de 6
metros. Dependo de uma pessoa para me ajudar e estar lá disponível para colocar
na água e voltar com ele para o carro no retorno. Aproveitei que meu irmão iria
remar nesse dia e fomos para o canto da praia de Charitas, ao lado do Clube
Naval. O dia estava bom, sem vento. Como era a primeira vez remando num caiaque
oceânico. Saí da praia e nas primeiras remadas percebi o quanto ele rende na
água. Muito mais que os caiaques pequenos na qual estava acostumado.
Fui em direção à Icaraí. Não tinha muito definido o trajeto
na qual iria fazer. Fui decidindo na hora, à medida que remava. Enquanto me
sentisse confortável, iria avançando. Cruzei toda a praia de Icaraí, passando
pelo MAC. Dei uma parada rápida na praia da Boa Viagem, aproveitando para beber
uma água. Me impressionei como tem um bom rendimento. Isso me animou. Resolvi
ir até o Gragoatá, próximo a UFF. Arrastei o caiaque pela pequena faixa de
areia da praia e coloquei-o na água novamente. O fundo nesse trecho é de pedras
e tomei cuidado para não arrastar o fundo. Pelo lado da ilha da Boa Viagem,
estavam formando algumas ondas que podiam dificultar a remada, então resolvi
passar pelo outro lado. Aproveitei o intervalo entre as ondas e entrei no
caiaque, começando a remar.
Segui paralelo a litorânea, mas não tão próximo, pois tinha
que prestar atenção nas linhas arremessadas dos pescadores. Me afastei um
pouco. Já na altura do Forte São Domingos de Gragoatá, percebi um aumento do
vento, mas quando me afastei, percebi que deveria ser por conta da sua posição,
adentrando ao mar e fazendo uma espécie de barreira, dividindo aquele trecho.
Passei por um antigo campo de futebol, bem ao lado da praia do Gragoatá e
lembrei do tempo em que ali jogava futebol. Foram várias manhãs de domingo,
bons tempos. O campo estava desativado, cercado por tapumes. Hoje, sofre com
uma disputa judicial sobre a posse do local. E quem perde somos nós.
Passei por um pequeno barco de pescadores e já podia ver o
Campus da Universidade Federal Fluminense bem de perto, também lembrando da
minha época de faculdade. Não estudava ali, o Campus de Administração era no
Valonguinho, mas frequentei muito a biblioteca, prédio localizado bem próximo
ao mar. Que nostalgia! Assim que contornei o Campus do Gragoatá, pude o Centro
de Niterói e estação das Barcas. Resolvi voltar dali.
Durante a volta, já fui pensando em qual caminho poderia
fazer. Resolvi seguir rumo a Fortaleza de Santa Cruz. Dali segui remando.
Cruzei a litorânea e aos poucos fui deixando a Ilha da Boa Viagem para trás.
Aos poucos fui ficando distante de tudo e lentamente a Fortaleza de Santa ia aumentando
de tamanho. Não tinha companhia, além de algumas aves que cruzavam o caminho.
Mais alguns minutos e havia chegado bem próximo à Fortaleza, dali, mudei o rumo
e segui para a praia de Eva, onde fiz uma parada rápida. Na água novamente,
contornei o Morro do Morcego, voltando novamente para o Naval, onde encontrei
novamente meu irmão. Ele havia acabado de chegar.
Para uma primeira vez, achei uma experiência fantástica.
Fiquei muito animado com rendimento e das possibilidades que podem se abrir!
Missão cumprida e já pensando nas próximas.
Local:Urca Participantes:Leandro do Carmo e Clube Carioca de Canoagem
Tempo total: 3h
Distância: 12,1 km
Velocidade média: 4,6 km/h
Velocidade máxima: 14 km/h
Trajeto: Praia da Urca x Ilha de Cotunduba x Praia da Urca
Relato
Voltando à Urca e ao Clube Carioca de Canoagem, ainda como a
segunda etapa do curso de iniciação à Canoagem Oceânica. Consegui marcar uma
remada no sábado. Cheguei cedo à Urca. Conseguir estacionar por lá já é uma
aventura, mesmo chegando cedo. Consegui deixar o carro bem longe, numa rua sem
saída. Dei uma caminhada e fui direto à sede do CCC. Como cheguei bem cedo,
ainda fiquei esperando um pouco. Aos poucos, algumas pessoas foram chegando.
Ofereci ajuda para ir colocando os caiaques na areia, como
uma forma de ir conhecendo as pessoas de lá. Alinhamos todos os caiaques
próximos a água e fizemos os ajustes finais. O sol batia forte. Coloquei um
boné e passei protetor solar, além de estar com uma camisa de manga comprida e
proteção UV. Entre algumas conversas, o pessoal acabou decidindo remar até a
Ilha Cotunduba. Eu, fiquei na minha. Qualquer lugar estaria ótimo. Com todos na
água, iniciamos a remada.
Hoje, estava bem diferente da última vez. O mar bem calmo e
sem vento. Remamos entre as embarcações fundeadas e logo estávamos próximo a
praia do Forte São João. Continuamos remando até chegar a ponto do Morro Cara
de Cão. Ali pude ver os paredões do Forte São João bem de perto, uma novidade
para mim. O Forte da Laje estava bem mais em frente e a Fortaleza de Santa
Cruz, bem ao fundo, do outro lado da Baía de Guanabara. Me afastei um pouco dos
costões, com medo de ser surpreendido por alguma onda. Não queria pagar esse
mico logo na minha primeira remada.
A remada estava bem agradável, mar calmo e quase sem vento.
Passamos pela praia de fora e podia ver a face nordeste do Pão-de-Açúcar. Já estive
várias vezes escalando o Pão-de-Açúcar, mas vê-lo por esse ângulo é algo bem
diferente e fantástico. Seu paredão de gnaisse impressiona! Assim que
alcançamos a parte mais extrema do Pão-de-Açúcar, a Ilha Cotunduba aparecia
mais destacada na paisagem.
Aos poucos, fomos nos aproximando. Já conseguia ver a Praia
Vermelha. Nesse ponto, conseguia ver as bóias de balizamento do canal. Aí que
me dei conta que estávamos na rota de grandes embarcações. Dei uma olhada ao
redor e nenhum sinal. Somente pequenas embarcações. Já bem próximos
à Cotunduba, nos dirigimos à noroeste da ilha. Ali há uma enseada formada por
uma extensão da ilha, deixando um local bem abrigado e ótimo para um mergulho.
Tinham alguns pescadores na ilha. Ficamos ali durante um
tempo. Aproveitei para beber uma água e fazer algumas fotos do local. Tínhamos
uma vista bem bonita do morro do Leme e da praia de Copacabana. Deu para dar
uma boa descansada e me preparar para a volta. Depois de um tempo ali,
começamos a remar novamente. Contornamos a ilha pela ponta oposta a que
chegamos, passando por fora. A volta foi bem rápida e cruzamos por mais
embarcações de turismo, um cuidado extra para quem rema na região.
Passamos novamente pelo Pão-de-Açúcar, Praia de Fora, Morro
Cara de Cão, até entrar, novamente, na enseada, em direção à Praia da Urca. Uma
ótima remada, num astral fantástico. Uma pena que a distância dificulte iniciar
a remada ali pela Urca, mas quem sabe nos encontramos novamente pelas águas da
Baía de Guanabara...
Data: 29/05/2021 Local: Pão de Açúcar Participantes: Leandro do Carmo, Luis Avelar e Blanco P.
Blanco
Vídeo
Essa escalada fazia parte do nosso treino para escalar a Chaminé Cachoeiro, no Pico do Itabira. Na semana anterior, o Blanco e o Luis haviam feito a Chaminé Stop, mas eu não pude ir. Combinamos de chegar á Praia Vermelha, por volta das 8:30. Eu cheguei mais cedo, com o intuito de arrumar uma vaga para estacionar, mas não foi nada fácil. Acabei deixando o carro lá perto da mureta... Um pouco longe... Aproveitei para tomar um café da manhã e de lá, fui para o nosso ponto de encontro.
O Luis chegou em seguida e depois o Blanco. Com tudo pronto, seguimos para a Pista Cláudio Coutinho. Dali, caminhamos até a base. Optamos por fazer a primeira enfiada da Lagartão. A via Lagartão já foi considerada um das vias mais difíceis do Brasil e sua conquista foi muito arrojada. Já na base, nos arrumamos e o Blanco seguiu guiando num trecho mais exposto e com proteções móveis. Em alguns lances foi bem devagar... De baixo, já imaginava o que viria pela frente!
Depois de um tempo, o Blanco chegou à parada e foi minha vez de subir. A saída foi bem tranquila e logo entrei na primeira fenda de meio corpo, bem apertada. Há algumas agarras que ajudam na progressão. Um pouco mais acima, outro sistema de fendas grandes, meio que entalamento de corpo. Passado os pontos apertados, cheguei a um platô, achando que estava tranquilo... Dali, segui por uma pequena passagem mais horizontal para a direita, onde fiz um lance bem delicado, numa saída negativa. As agarras são bem sólidas, mas é um lance de força e técnica, bem aéreo. Com corda de cima, foi tranquilo. Passado o trecho, já conseguia ver o Blanco na parada. E dali até ele, foi bem tranquilo.
O Luis veio logo em seguida e na parada, aproveitamos para tomar uma água e o Blanco escalou mais uns 10 metros até o ponto onde faríamos o rapel até a Gallotti. Iniciamos o rapel que é meio rapel, meio escalada... Não é muito confortável, mas chegamos lá, estávamos entre a P2 e a P3 da Gallotti. Dali seguimos subindo com o Luis guiando. Subi por uma chaminé bem suja e alguns blocos encaixados bem bonitos, me lembrando o filme 127 horas... Alguns lances foram bem apertados. Uma grande aventura...
Escalamos tranquilos até a P5 da via. Estávamos próximos da Oposição da Meia Lua. O Luis saiu para guiar e passou um veneno na virada. Seguiu escalando e aí começaram os problemas. Quando ele saiu do nosso campo de visão, a corda não subia mais. Estava parada. Passamos um longo tempo esperando, pois ele poderia estar num lance mais delicado, mas nada... Resolvi ligar e ele me disse que a corda estava presa e não conseguia puxar e que estava numa posição ruim. Depois de alguns minutos, liguei novamente e ele havia prendido a corda. Então montei a segurança com o pedaço de corda que tínhamos e o Blanco saiu guiar o trecho e tentar liberar a corda para o Luis puxar.
Com isso, o tempo foi passando e a escalada que era para ser tranquila e terminar durante o dia foi ficando no limite. Quando o Blanco chegou à chapeleta após o lance da Meia Lua, eu subi. Cheguei mais acima e no lance de domínio para chegar à chapa, entrei de mal jeito e apoiei a costela meio de lado. Estava em um bico de pedra e o peso do corpo foi esmagando. Na hora, a dor foi grande, mas tinha que continuar. Na chapeleta, o Blanco subiu e aí descobrimos o porquê da corda estar presa: ela estava por cima de um degrau, fazendo um “L”. Não iria correr nunca naquela posição. Liberada a corda, o Luis montou a parada num bico de pedra e dali seguimos subindo.
Quando cheguei à parada, senti que não estava nada bem. Mas a maior preocupação era outra: terminar a escalada com luz do dia. Antes de chegarmos ali, até cogitamos descer por conta do horário, mas também não seria nada fácil. Cometemos um erro gravíssimo: só tínhamos uma lanterna! Ou era subir rápido, ou escalar a noite... Nossa opção foi subir rápido, claro!
Depois de beber um água e comer alguma coisa, o Blanco saiu guiando. Na parada, fui logo em seguida. A chaminé já começa apertada e não é simples. Iniciei um pouco mais para dentro e depois fui saindo, passei pela chapeleta e segui tocando para a direita, numa diagonal, até chegar numa espécie de banco confortável. Dali, já via o Blanco na parada. Faltava pouco!!!!!
O Luis veio em seguida e pedi para ele parar um pouco mais abaixo. Guiei esse último trecho e passar da parede para a entrada foi um lance bem exposto. Dominei um degrau, até alcançar uma pequena árvore na esquerda. As pessoas maiores talvez tenham mais facilidade. Dali, subi pela trilha até onde achei um local mais confortável para dar segue ao Blanco, que veio logo em seguida. Foi chegar, dar uma arrumada na corda e a noite foi chegando. Em cima do laço!
O Blanco passou por mim foi direto para cima. O Luis veio depois e quando ele chegou onde estava, recolhi o que sobrou de corda e subi também. Tudo resolvido! Arrumamos a corda já completamente no escuro e com ajuda da luz do celular. Subimos mais um pouco até chegar á trilha e poucos metros depois, já estávamos no cume do Pão de Açúcar. Descemos de bondinho e paramos no Árabe para lanchar. Foi uma escalada em tanto. Uma escalada de aventura. Um excelente treino para o Itabira... Mal sabia que a minha costela daria trabalho...
O mistério da múmia da Gallotti, que intriga estudiosos
quase 70 anos após ser achada no Pão de Açúcar
O mistério teve início na manhã de 19 de setembro de 1949.
Lá pelas sete da manhã, cinco amigos - Antônio Marcos de Oliveira, Laércio
Martins, Patrick White, Ricardo Menescal e Tadeusz Hollup - se encontram na
Praça General Tibúrcio, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, para escalar o Pão
de Açúcar.
Não era uma escalada como outra qualquer. Em vez de
simplesmente subir o paredão de 396 metros de altura por uma das três vias de
acesso já desbravadas, os montanhistas, membros do Clube Excursionista Carioca
(CEC), decidiram explorar uma quarta trilha, ainda mais perigosa e arrojada que
as anteriores.
"Durante anos, foi considerada a mais difícil escalada
do montanhismo brasileiro."
Ainda na clareira que dá acesso ao paredão, Hollup, então
com 19 anos, começou a desconfiar de que algo estava errado quando viu um
sapato de mulher, deteriorado pelo tempo, em plena Mata Atlântica.
"Será que, daqui a pouco, vamos encontrar a dona do
sapato?", perguntou ele, em tom de brincadeira.
"Mesmo assim, não dei muita importância. Joguei o
sapato fora e continuamos a subir", explicou em sua última entrevista,
dada ao programa Esporte Espetacular, da TV Globo, em 22 de outubro de 2017.
Tadeusz Hollup, o último dos desbravadores da chaminé
Gallotti, morreu no dia 27 de agosto de 2018, aos 88 anos.
Havia um cadáver no meio da escalada
Alguns metros acima, Oliveira, o caçula do grupo, com 18
anos, já desbravava a encosta do morro. Dali a pouco, por volta das 11h30, se
deparou com um cadáver, preso pela garganta, numa fenda estreita da rocha,
apelidada de "chaminé" pelos alpinistas.
Ao contrário do que se poderia imaginar, o defunto não
estava em estado de putrefação e, sim, "mumificado".
"Quando o vento bateu mais forte, o cabelo dele, que
era enorme, pousou no meu ombro. Foi aí que vi que era uma pessoa. Fiquei
apavorado!", relatou Oliveira no documentário Cinquentona Gallotti (2004),
escrito e dirigido por Priscilla Botto e Paulo de Barros.
Na mesma hora, berrou para os amigos: "Ó, tem uma
pessoa morta aqui!".
Hollup e Menescal caíram na gargalhada. "Que história é
essa?", quis saber Hollup, aos risos.
"Achou a dona do sapato?", fez graça Menescal. Os
dois levaram na brincadeira. Mas Oliveira, não. Quando chegaram ao local,
tomaram um susto daqueles. A coisa era séria mesmo.
Diante da "descoberta" macabra, os amigos
resolveram suspender a escalada e avisar a polícia. A tão sonhada conquista da
chaminé Gallotti - proeza alcançada só cinco anos depois, em 1954 - teria que
ficar para outro dia.
A "descoberta" da múmia virou notícia em todos os
jornais. Para espanto geral, o laudo, assinado pelo médico-legista José Seve
Neto, desfez o mal-entendido: o cadáver não era de mulher, como imaginado
inicialmente por causa da vasta cabeleira, mas de um homem.Na manhã seguinte, os cinco voltaram à Urca, acompanhados de
policiais, repórteres e legistas. Munidos de grampos, martelos e brocas,
desceram o corpo da "múmia" até a clareira, onde estavam os
bombeiros. Naquela época, os escaladores usavam cordas de sisal e coturnos com
tachas. Tudo muito rudimentar para os padrões atuais.
Segundo a nota publicada na edição do dia 20 de setembro de
1949, do jornal O Globo, os restos mortais pertenciam a "indivíduo de cor
branca, com 35 anos presumíveis, de 'compleixão' (sic) franzina e com 1,60 m de
altura".
Ainda de acordo com o laudo, o defunto, que vestia um suéter
e uma camisa sem mangas de algodão, não apresentava sinais de fratura, nem
vestígio de bala ou facada. E o pior: não trazia documentos.
"Os legistas concluíram que o cadáver estava lá havia
uns seis meses, pelo menos", relata Oliveira.
"Foi mumificado devido à maresia."
O químico Emiliano Chemello, da Universidade de Caxias do
Sul (UCS), explica que a maresia pode ter ajudado, sim, na mumificação do
cadáver. Isso porque o sal presente nela absorve a água, retardando processo de
decomposição do corpo.
"Os antigos egípcios usavam um minério chamado natrão,
rico em carbonato de sódio. Eles empacotavam o natrão, em pequenas bolsas,
dentro do corpo da múmia, além de jogarem um punhado do minério sobre o
cadáver. Quarenta dias depois, o defunto estava encolhido e duro", diz.
Que fim levou a 'múmia' carioca?
Apesar de toda a repercussão nos jornais da época, nenhum
amigo, parente ou familiar apareceu no Instituto Médico Legal (IML) para
reconhecer o corpo. De quem era o cadáver encontrado na chaminé Gallotti?
Ninguém sabe. A identidade da "múmia", sete décadas depois, continua
ignorada.
Mas essa é apenas uma das muitas perguntas sem resposta.
Outra: como foi parar lá? Há várias hipóteses: de suicídio a assassinato. Para
o extinto jornal A Noite, um dos muitos a cobrir o caso, os restos mortais
pertenciam a um mendigo que teria se jogado morro abaixo.
Rodolfo Campos, roteirista e diretor do curta A Múmia
da Gallotti (2009), tem outra versão: "Por ser um homem vestido de
mulher e ter os cabelos compridos, suspeito que fosse um travesti que, talvez,
estivesse fugindo de alguém ou tentando se esconder na mata. Mas é impossível
afirmar com certeza".
Será que, no fim das contas, o mistério da "múmia"
carioca esconde um caso de transfobia?
Há quem sustente, ainda, a tese de que o corpo seria de
algum morador de uma favela próxima, localizada entre o Morro da Urca e o Pão
de Açúcar.
O historiador Milton Teixeira, da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ), rebate essa teoria. Ele explica que, naquele local, há
uma caverna e que, nos anos 1940, morou ali um português que vivia da pesca e
da venda de artesanato. Nos anos 1960, o tal eremita ganhou a companhia de um
casal de retirantes cearenses.
"Em 1968, os militares ordenaram a saída dos três e
hoje, na caverna, vivem apenas morcegos", arremata o historiador.
Outra pergunta intrigante: que fim levou a "múmia"
do Pão de Açúcar? Tudo indica que, a exemplo das peças egípcias que faziam
parte do acervo de 20 milhões de itens do Museu Nacional, teve destino trágico.
A diferença é que, em vez de ter sido consumida pelas chamas de um incêndio,
teria sido sepultada como indigente por falta de documentação e reconhecimento
familiar.