Por Leandro do Carmo
Data: 24 e 25/08/2024
Local: Uyuni
Participantes: Leandro do Carmo e Dâmaris Pordeus
Vídeo dos dois dias, conhecendo o Salar de Uyuni
Dia 24/08/2024 - Salar de Uyuni
A viagem foi bem tranquila. Dormi quase a noite inteira e só acordei algumas vezes com um pouco de frio nas pernas, mas dormia logo em seguida. Assim que abri a cortina da janela, percebi o motivo do meu frio, havia formado uma fina camada de gelo por dentro do vidro. Fiquei imaginando o quanto frio deveria estar lá fora. O ônibus estacionou no terminal de rodoviário. Uyuni é uma pequena cidade localizada no sudoeste da Bolívia, famosa por ser a porta de entrada para o maior deserto de sal do mundo, o Salar de Uyuni.
Já na saída tinha uma pessoa nos esperando. Estava muito
frio e fomos andando até o local onde tomamos um excelente café da manhã,
chamado de Breakfast Nonis. Local muito bem arrumado e aconchegante. Ali,
comemos e aguardamos a chegada da pessoa responsável pela agência de viagens.
Seguimos até a agência Red Lagoon Travel, onde nos foi
passado o roteiro na qual iríamos fazer. Marcamos o horário de encontro e
aproveitamos para dar uma volta pela cidade. A cidade é bem pequena e parece
que tudo vive em torno do turismo do Salar de Uyuni. O ar é muito seco e poucas
ruas são asfaltadas. As que são, tem muita poeira. Passamos por uns locais bem
bonitos. Foi dando a hora e retornamos até a agência e aguardamos o carro que
nos levaria para o passeio. Demorou um pouco, mas seguimos para o nosso
primeiro destino: o Cemitério de Trens.
O Cemitério de Trens de Uyuni é uma atração bem curiosa da
região. Fica localizado nos arredores da cidade de Uyuny. O local abriga
dezenas de locomotivas e vagões abandonados que datam do final do século XIX e
início do século XX. O cemitério surgiu devido ao colapso da indústria mineira
na Bolívia nos anos 1940. Antes disso, Uyuni era um importante centro de
transporte ferroviário, com trens importados da Grã-Bretanha usados para
transportar minerais como estanho, prata e ouro. Com o declínio da mineração,
muitos trens foram abandonados e deixados para enferrujar no deserto.
Olhando de longe chega a impressionar. Tinha bastante gente
no local, todos procurando o melhor ângulo para fotografar e comigo não foi
diferente. Subi em uma das locomotivas e pude observar o trilho que seguia numa
linha reta a perder de vista. Fizemos bastante fotos ali. Já havia dado a hora
de ir embora, mas ao lado das locomotivas e vagões abandonados, tem algumas
esculturas feitas a partir das sucatas dos trens. Não queria perder a
oportunidade de tirar algumas fotos.
Continuamos nosso passeio e pegamos a estrada em direção à
Colchani, porta de entrada para o Salar de Uyuni. Foram cerca de 30 minutos. Do
carro podíamos ter uma noção do que nos esperava. A vista já era fantástica. O
que impressionava é que não havia uma única árvore. Estacionamos num local onde
tinham muitos carros e várias pequenas lojinhas de artesanato. A rua era de
chão e tinha muita poeira. Visitamos um local que mostrava um pouco do processo
de extração e preparação do sal, além da fabricação de tijolos, muito usados
nas construções locais. Curioso que, aproximadamente, 15 cm da camada superior
de sal, existe uma camada bem mais dura e é daí que se tiram pedaços, que são
cortados em formatos de blocos.
Até aí tudo bem, mas eu queria mesmo era entrar naquele mar
branco de sal. E foi para lá que nós seguimos. O carro passou por algumas ruas
e em poucos minutos estávamos com o carro em cima do sal. Andamos por cerca de
15 km até o local conhecido como Praça das Bandeiras, que fica ao lado do Hotel
de Sal Playa Blanca. Foi construído na década de 1990 inteiramente com blocos
de sal, extraídos do próprio Salar. No entanto, foi desativado e transformado
em um museu e ponto onde é servido o almoço.
O local é bem diferente e fizemos nosso almoço em uma mesa
feita completamente de sal. A comida estava ótima e ficamos ali durante um
tempo de descansando, período em que aproveitei para dar uma volta no entorno.
Depois do descanso, seguimos para a Isla de Incahuashi.
Foram cerca de 60 km de linha reta pelo deserto de sal. Olhando pela janela,
perdia a noção da distância e os carros que passavam ao fundo pareciam de
brinquedo. Ao fundo, o branco se misturava ao azul do céu, num cenário
fantástico.
A Isla de Incahuasi, também conhecida como “Casa do
Inca” em Quechua, é uma formação geológica única localizada no coração do Salar
de Uyuni. Esta ilha rochosa e montanhosa é o topo dos restos de um antigo
vulcão que foi submerso quando a área fazia parte de um gigantesco lago
pré-histórico, há cerca de 40.000 anos. A ilha é famosa por seus cactos
gigantes, que podem crescer até 10 metros de altura e têm centenas de anos.
A paisagem é coberta por esses cactos nativos, criando um contraste
impressionante com o mar branco de sal ao redor.
Assim que chegamos pagamos as entradas e aproveitei para ir
ao banheiro e de lá, fizemos uma caminhada até o topo da ilha. Os cactos
impressionavam pelo tamanho. À medida que ia subindo, tinha uma vista mais
ampla. Estava rodeado de um branco fantástico. Estávamos ao centro do maior
deserto de sal do mundo.
O Salar de Uyuni tem uma história fascinante que remonta a
milhares de anos. Este vasto deserto de sal foi formado pela transformação de
vários lagos pré-históricos. Cerca de 40.000 anos atrás, a área fazia parte de
um gigantesco lago chamado Lago Minchin. Com o tempo, esse lago evaporou,
deixando para trás os atuais lagos Poopó e Uru Uru, além dos desertos salgados
de Coipasa e Uyuni.
O Salar de Uyuni cobre uma área de aproximadamente 10.582 quilômetros quadrados e está situado a uma altitude de cerca de 3.656 metros acima do nível do mar. A crosta de sal que cobre o salar tem uma espessura de alguns metros e é extremamente plana, com variações de altitude de menos de um metro em toda a sua extensão.
Depois de caminhar bastante pela Isla Incahuashi, retornamos
e seguimos para um ponto onde existe uma fina camada de água, local perfeito
para fotos, fazendo diversos efeitos de reflexo. Ficamos ali até o pôr-do-sol,
por sinal fantástico. Dali seguimos para o hotel. Não lembro de ter visto o
nome, mas a fachada era bem simples, assim como tudo em Colchani. Assim que
entramos, vi que estava em obra, mas a parte dos quartos estavam bem arrumada.
As paredes eram de tijolos de sal, com algumas esculturas. Bem bonito. Fui
rápido para tomar um banho, mas a porta estava fechada. Aí, descobri que para
usar o banheiro do quarto, era preciso pagar mais 100 Bolivianos. Um absurdo.
Fui para o banheiro coletivo mesmo.
De banho tomado e já relaxado, segui para o local da janta
que foi servida após a sopa tradicional de entrada. Aí foi descansar e
organizar tudo para o dia seguinte...
25/08/2024 - Região de Tomave
Dormi bem, mas estava muito seco. Minha garganta e meu nariz
estavam ardendo um pouco. Pela primeira vez acordava sem dor de cabeça.
Levantei e quando fui escovar os dentes percebi que não saía água. Fui para o
outro banheiro e na volta vi que tinha algo estranho, quando passei a mão
embaixo da torneira, percebi que tinha gelo. No quarto, nem percebi o quanto
estava frio lá fora. Havia um aquecedor portátil que duvidei que daria conta.
Fomos tomar café da manhã. Era simples, mas gostoso. O
ambiente era muito agradável. A sala na qual fazíamos as refeições era toda
feita de tijolos de sal, assim com as mesas e as cadeiras. Havia algumas
esculturas na parede que também eram feitas de sal. Tomei café sem pressa, era
cedo ainda e podíamos fazer tudo com bastante calma. Assim como na manhã
anterior em Uyuni, não sabíamos que horas passariam aqui para o passeio do dia.
Após o café, aproveitei para dar uma volta na rua em frente ao hotel. Parecia
aquelas cidades abandonadas de filmes do Velho Oeste americano.
Por volta das 9 horas, o carro que nos levaria para o
passeio do dia chegou e voltamos para Uyuni para pegar mais 4 pessoas, um casal
colombiano e um, brasileiro. De lá, seguimos para Tomave, nosso destino do dia.
Tomave é um município localizado na Província de Quijarro, no Departamento de
Potosí. Historicamente, Tomave desempenhou um papel significativo durante a
Guerra do Pacífico em 1879, servindo como sede da Quinta Divisão do Exército
Boliviano.
Pegamos a estrada e começamos a subir. Em pouco tempo, já podíamos ver ao fundo a imensidão branca do Salar de Uyuni. Do alto é que temos noção do tamanho. Quase não passava carro na estrada e raramente havia alguma construção. Quando tinha, era bem pequena e não havia sinal de que era habitada. Foram aproximadamente 55 km de estrada, até que entramos numa estrada de terra. Paramos um pouco mais a frente. Tinha uma lagoa que estava seca e uma pequena trilha que subia um morro. Como não me interessou muito, resolvi ficar ali mesmo.
Seguimos viagem e paramos novamente em frente a uma formação
rochosa bem interessante. Essa resolvi subir um pouco e fui até o alto de uma
pedra, onde tinha uma vista bem bonita. Continuamos na estrada de terra e
seguimos para Tomave. Estacionamos na Praça Central do pequeno vilarejo, quase
em frente à Igreja de San Miguel de Tomave. Sua construção de arquitetura
barroca mestiza foi iniciada em 1699 e levou cerca de 90 anos para ser
concluída. A Igreja é bem bonita e fiquei pensando sobre o tempo na qual foi
construída. Olhando em volta, não existe nada, além de montanhas.
Aproveitamos para dar uma volta pelas ruas e percebi várias
casas fechadas, algumas com estilo de construção bem antiga. Ninguém na rua ou
nas casas, a exceção de uma, na qual ouvia-se da rua uma cantoria religiosa. Na
volta, aproveitamos para almoçar. Descansamos um pouco e seguimos com o
passeio, passando por uma laguna que estava com pouca água. Vimos alguns poucos
flamingos voando. Durante o verão, é que eles aparecem em maior número. Demos
uma volta pelas lagoas e fomos para as águas termais.
Chegamos a algumas piscinas de águas bem quentes. Foi bem
relaxante o banho, a água estava numa temperatura excelente. Depois do banho
fui até o local onde a água nasce e ela é extremamente quente. Tive que
conferir. Se não bastasse a placa informando para ter cuidado com a água,
queimei a ponta do dedo com a minha curiosidade!
A volta foi longa, pois voltamos direto e sem paradas. Foram
aproximadamente 128 km até Uyuni. Passamos na agência Red Lagoon para pegar
nossas mochilas. Arrumamos tudo com calma e descobrimos um local para tomar
banho, era o Residencial La Cabaña Hostel. Tomei um banho bem quente e foi
muita sorte achar esse local. Pagamos 15 bolivianos. Enquanto esperava na
recepção, chegou um grupo de brasileiros que pediram um quarto pois queriam
tomar banho. Falei que tinha essa opção de banho avulso e eles adoraram, economizaram
uma grana!
Após banho, fomos procurar uma pizzaria e achamos uma que
era um ambiente bem bacana, mas só aceitavam dinheiro. Até tinha o valor, mas
ficaria sem nada na carteira. Optamos por procurar outra. Achamos uma próxima,
onde comemos. Não foi das melhores, mas valeu a pena. Quando vimos a hora,
estávamos bem próximos do horário de saída. Não estávamos atrasados, mas
seguimos num passo mais acelerado. Ficamos distraídos e quase nos atrasamos.
Entramos no ônibus e seguimos viagem de volta à La Paz.
Esses dois dias foram fantásticos. Conhecer o Salar de Uyuni
estava na minha lista, mas não imaginava que seria dessa vez que iria caminhar
naquela imensidão de sal. Estava doido para ver as fotos, mas a história das
fotos vai ficar para o próximo relato.