terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Expedição Bolívia 2024 - Salar de Uyuni e região de Tomave

Por Leandro do Carmo

Data: 24 e 25/08/2024
Local: Uyuni
Participantes: Leandro do Carmo e Dâmaris Pordeus




Vídeo dos dois dias, conhecendo o Salar de Uyuni

Dia 24/08/2024 - Salar de Uyuni

A viagem foi bem tranquila. Dormi quase a noite inteira e só acordei algumas vezes com um pouco de frio nas pernas, mas dormia logo em seguida. Assim que abri a cortina da janela, percebi o motivo do meu frio, havia formado uma fina camada de gelo por dentro do vidro. Fiquei imaginando o quanto frio deveria estar lá fora. O ônibus estacionou no terminal de rodoviário. Uyuni é uma pequena cidade localizada no sudoeste da Bolívia, famosa por ser a porta de entrada para o maior deserto de sal do mundo, o Salar de Uyuni.

Já na saída tinha uma pessoa nos esperando. Estava muito frio e fomos andando até o local onde tomamos um excelente café da manhã, chamado de Breakfast Nonis. Local muito bem arrumado e aconchegante. Ali, comemos e aguardamos a chegada da pessoa responsável pela agência de viagens.

Seguimos até a agência Red Lagoon Travel, onde nos foi passado o roteiro na qual iríamos fazer. Marcamos o horário de encontro e aproveitamos para dar uma volta pela cidade. A cidade é bem pequena e parece que tudo vive em torno do turismo do Salar de Uyuni. O ar é muito seco e poucas ruas são asfaltadas. As que são, tem muita poeira. Passamos por uns locais bem bonitos. Foi dando a hora e retornamos até a agência e aguardamos o carro que nos levaria para o passeio. Demorou um pouco, mas seguimos para o nosso primeiro destino: o Cemitério de Trens.



O Cemitério de Trens de Uyuni é uma atração bem curiosa da região. Fica localizado nos arredores da cidade de Uyuny. O local abriga dezenas de locomotivas e vagões abandonados que datam do final do século XIX e início do século XX. O cemitério surgiu devido ao colapso da indústria mineira na Bolívia nos anos 1940. Antes disso, Uyuni era um importante centro de transporte ferroviário, com trens importados da Grã-Bretanha usados para transportar minerais como estanho, prata e ouro. Com o declínio da mineração, muitos trens foram abandonados e deixados para enferrujar no deserto.

Olhando de longe chega a impressionar. Tinha bastante gente no local, todos procurando o melhor ângulo para fotografar e comigo não foi diferente. Subi em uma das locomotivas e pude observar o trilho que seguia numa linha reta a perder de vista. Fizemos bastante fotos ali. Já havia dado a hora de ir embora, mas ao lado das locomotivas e vagões abandonados, tem algumas esculturas feitas a partir das sucatas dos trens. Não queria perder a oportunidade de tirar algumas fotos.

Continuamos nosso passeio e pegamos a estrada em direção à Colchani, porta de entrada para o Salar de Uyuni. Foram cerca de 30 minutos. Do carro podíamos ter uma noção do que nos esperava. A vista já era fantástica. O que impressionava é que não havia uma única árvore. Estacionamos num local onde tinham muitos carros e várias pequenas lojinhas de artesanato. A rua era de chão e tinha muita poeira. Visitamos um local que mostrava um pouco do processo de extração e preparação do sal, além da fabricação de tijolos, muito usados nas construções locais. Curioso que, aproximadamente, 15 cm da camada superior de sal, existe uma camada bem mais dura e é daí que se tiram pedaços, que são cortados em formatos de blocos.

Até aí tudo bem, mas eu queria mesmo era entrar naquele mar branco de sal. E foi para lá que nós seguimos. O carro passou por algumas ruas e em poucos minutos estávamos com o carro em cima do sal. Andamos por cerca de 15 km até o local conhecido como Praça das Bandeiras, que fica ao lado do Hotel de Sal Playa Blanca. Foi construído na década de 1990 inteiramente com blocos de sal, extraídos do próprio Salar. No entanto, foi desativado e transformado em um museu e ponto onde é servido o almoço.

O local é bem diferente e fizemos nosso almoço em uma mesa feita completamente de sal. A comida estava ótima e ficamos ali durante um tempo de descansando, período em que aproveitei para dar uma volta no entorno.

Depois do descanso, seguimos para a Isla de Incahuashi. Foram cerca de 60 km de linha reta pelo deserto de sal. Olhando pela janela, perdia a noção da distância e os carros que passavam ao fundo pareciam de brinquedo. Ao fundo, o branco se misturava ao azul do céu, num cenário fantástico.

A Isla de Incahuasi, também conhecida como “Casa do Inca” em Quechua, é uma formação geológica única localizada no coração do Salar de Uyuni. Esta ilha rochosa e montanhosa é o topo dos restos de um antigo vulcão que foi submerso quando a área fazia parte de um gigantesco lago pré-histórico, há cerca de 40.000 anos. A ilha é famosa por seus cactos gigantes, que podem crescer até 10 metros de altura e têm centenas de anos. A paisagem é coberta por esses cactos nativos, criando um contraste impressionante com o mar branco de sal ao redor.



Assim que chegamos pagamos as entradas e aproveitei para ir ao banheiro e de lá, fizemos uma caminhada até o topo da ilha. Os cactos impressionavam pelo tamanho. À medida que ia subindo, tinha uma vista mais ampla. Estava rodeado de um branco fantástico. Estávamos ao centro do maior deserto de sal do mundo.

O Salar de Uyuni tem uma história fascinante que remonta a milhares de anos. Este vasto deserto de sal foi formado pela transformação de vários lagos pré-históricos. Cerca de 40.000 anos atrás, a área fazia parte de um gigantesco lago chamado Lago Minchin. Com o tempo, esse lago evaporou, deixando para trás os atuais lagos Poopó e Uru Uru, além dos desertos salgados de Coipasa e Uyuni.

O Salar de Uyuni cobre uma área de aproximadamente 10.582 quilômetros quadrados e está situado a uma altitude de cerca de 3.656 metros acima do nível do mar. A crosta de sal que cobre o salar tem uma espessura de alguns metros e é extremamente plana, com variações de altitude de menos de um metro em toda a sua extensão.

Depois de caminhar bastante pela Isla Incahuashi, retornamos e seguimos para um ponto onde existe uma fina camada de água, local perfeito para fotos, fazendo diversos efeitos de reflexo. Ficamos ali até o pôr-do-sol, por sinal fantástico. Dali seguimos para o hotel. Não lembro de ter visto o nome, mas a fachada era bem simples, assim como tudo em Colchani. Assim que entramos, vi que estava em obra, mas a parte dos quartos estavam bem arrumada. As paredes eram de tijolos de sal, com algumas esculturas. Bem bonito. Fui rápido para tomar um banho, mas a porta estava fechada. Aí, descobri que para usar o banheiro do quarto, era preciso pagar mais 100 Bolivianos. Um absurdo. Fui para o banheiro coletivo mesmo.



De banho tomado e já relaxado, segui para o local da janta que foi servida após a sopa tradicional de entrada. Aí foi descansar e organizar tudo para o dia seguinte...

25/08/2024 - Região de Tomave

Dormi bem, mas estava muito seco. Minha garganta e meu nariz estavam ardendo um pouco. Pela primeira vez acordava sem dor de cabeça. Levantei e quando fui escovar os dentes percebi que não saía água. Fui para o outro banheiro e na volta vi que tinha algo estranho, quando passei a mão embaixo da torneira, percebi que tinha gelo. No quarto, nem percebi o quanto estava frio lá fora. Havia um aquecedor portátil que duvidei que daria conta.

Fomos tomar café da manhã. Era simples, mas gostoso. O ambiente era muito agradável. A sala na qual fazíamos as refeições era toda feita de tijolos de sal, assim com as mesas e as cadeiras. Havia algumas esculturas na parede que também eram feitas de sal. Tomei café sem pressa, era cedo ainda e podíamos fazer tudo com bastante calma. Assim como na manhã anterior em Uyuni, não sabíamos que horas passariam aqui para o passeio do dia. Após o café, aproveitei para dar uma volta na rua em frente ao hotel. Parecia aquelas cidades abandonadas de filmes do Velho Oeste americano.

Por volta das 9 horas, o carro que nos levaria para o passeio do dia chegou e voltamos para Uyuni para pegar mais 4 pessoas, um casal colombiano e um, brasileiro. De lá, seguimos para Tomave, nosso destino do dia. Tomave é um município localizado na Província de Quijarro, no Departamento de Potosí. Historicamente, Tomave desempenhou um papel significativo durante a Guerra do Pacífico em 1879, servindo como sede da Quinta Divisão do Exército Boliviano.

Pegamos a estrada e começamos a subir. Em pouco tempo, já podíamos ver ao fundo a imensidão branca do Salar de Uyuni. Do alto é que temos noção do tamanho. Quase não passava carro na estrada e raramente havia alguma construção. Quando tinha, era bem pequena e não havia sinal de que era habitada. Foram aproximadamente 55 km de estrada, até que entramos numa estrada de terra. Paramos um pouco mais a frente. Tinha uma lagoa que estava seca e uma pequena trilha que subia um morro. Como não me interessou muito, resolvi ficar ali mesmo.



Seguimos viagem e paramos novamente em frente a uma formação rochosa bem interessante. Essa resolvi subir um pouco e fui até o alto de uma pedra, onde tinha uma vista bem bonita. Continuamos na estrada de terra e seguimos para Tomave. Estacionamos na Praça Central do pequeno vilarejo, quase em frente à Igreja de San Miguel de Tomave. Sua construção de arquitetura barroca mestiza foi iniciada em 1699 e levou cerca de 90 anos para ser concluída. A Igreja é bem bonita e fiquei pensando sobre o tempo na qual foi construída. Olhando em volta, não existe nada, além de montanhas.

Aproveitamos para dar uma volta pelas ruas e percebi várias casas fechadas, algumas com estilo de construção bem antiga. Ninguém na rua ou nas casas, a exceção de uma, na qual ouvia-se da rua uma cantoria religiosa. Na volta, aproveitamos para almoçar. Descansamos um pouco e seguimos com o passeio, passando por uma laguna que estava com pouca água. Vimos alguns poucos flamingos voando. Durante o verão, é que eles aparecem em maior número. Demos uma volta pelas lagoas e fomos para as águas termais.



Chegamos a algumas piscinas de águas bem quentes. Foi bem relaxante o banho, a água estava numa temperatura excelente. Depois do banho fui até o local onde a água nasce e ela é extremamente quente. Tive que conferir. Se não bastasse a placa informando para ter cuidado com a água, queimei a ponta do dedo com a minha curiosidade!

A volta foi longa, pois voltamos direto e sem paradas. Foram aproximadamente 128 km até Uyuni. Passamos na agência Red Lagoon para pegar nossas mochilas. Arrumamos tudo com calma e descobrimos um local para tomar banho, era o Residencial La Cabaña Hostel. Tomei um banho bem quente e foi muita sorte achar esse local. Pagamos 15 bolivianos. Enquanto esperava na recepção, chegou um grupo de brasileiros que pediram um quarto pois queriam tomar banho. Falei que tinha essa opção de banho avulso e eles adoraram, economizaram uma grana!

Após banho, fomos procurar uma pizzaria e achamos uma que era um ambiente bem bacana, mas só aceitavam dinheiro. Até tinha o valor, mas ficaria sem nada na carteira. Optamos por procurar outra. Achamos uma próxima, onde comemos. Não foi das melhores, mas valeu a pena. Quando vimos a hora, estávamos bem próximos do horário de saída. Não estávamos atrasados, mas seguimos num passo mais acelerado. Ficamos distraídos e quase nos atrasamos. Entramos no ônibus e seguimos viagem de volta à La Paz.

Esses dois dias foram fantásticos. Conhecer o Salar de Uyuni estava na minha lista, mas não imaginava que seria dessa vez que iria caminhar naquela imensidão de sal. Estava doido para ver as fotos, mas a história das fotos vai ficar para o próximo relato.
















quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Expedição Bolívia 2024 - Jogo do Flamengo e dia Livre em La Paz

Por Leandro do Carmo

Data: 22 e 23/08/2024
Local: La Paz
Participantes: Leandro do Carmo, Marcos Lima, Rafael Pereira, Ricardo Bemvindo, Daniel Candioto e  Leandro Conrado.



Dia 22/08/2024 - Jogo do Flamengo

Como de costume, mas uma noite difícil. Dormi pensando sobre a minha decisão de não ir para o Huayna Potosí. Sempre ficará a dúvida se eu conseguiria ou não. Mas lá no fundo algo me dizia que estava correto. Uma coisa que sempre digo para os meus alunos: Na montanha não existe derrota. Ela sempre estará lá para uma próxima tentativa! É como dar um passo atrás hoje para dar dois, lá na frente.

Acordei meio pesado. Tomei café e aproveitamos o dia livre na programação para passear em La Paz e fazer compras. Andamos bem nesse dia. Mas não estávamos completos, a Dâmaris precisou ir ao Hospital para fazer uma cirurgia no lábio, com isso, ela também não iria para o Huayna Potosí. Aproveitamos para ir à @jiwaki, pois quem iria para o Huayna precisava conferir o equipamento. Aproveitei para ver o que dava para fazer, visto que eu não iria mais.

Conversando, decidi que iria para o Salar de Uyuni, o local estava na minha. Deixei avisado que talvez a Dâmaris também fosse e acertaríamos a parte dela no dia seguinte. Comprei algumas coisas e almoçamos num excelente restaurante bem próximo, de nome La Vizcacha.

Durante nossa caminhada pelo local conhecido como “Mercado de las Brujas”, encontramos diversas pessoas com a camisa do Flamengo. Hoje era o dia na qual o Flamengo faria o segundo jogo das oitavas de final contra o Bolivar. Quando fechamos a data da viagem e compramos as passagens, não tínhamos ideia de que haveria esse jogo, foi muita sorte nossa. Já no final da tarde, seguimos para casa para descansar um pouco, antes de seguir para o estádio.

Além de termos dado sorte de o jogo ser na semana na qual estávamos em La Paz, o Estádio Ernandes Siles ficava próximo de onde estávamos hospedados. Fomos andando até. Confesso que fiquei meio apreensivo, pois não sabia como era o ambiente em dias de jogo. Foi tudo tranquilo e logo estávamos na entrada do setor de visitantes, que na verdade era em comum com um setor da torcida local.

Chegamos rápidos até o estádio. Pegamos uma fila, mas até que ela andou bem. Subir as escadas para a arquibancada cansou um pouco, imagina correr lá dentro do campo? O estádio estava bem cheio e a torcida do Bolivar fazia uma bonita festa. Altitude não é fácil e senti na pele. Imagina para os jogadores? O jogo foi difícil e ao final, perdemos de 1 x 0, mas conseguimos nos classificar, visto que havíamos feito dois gols no Maracanã.

Voltamos andando sem problemas e logo estávamos de volta ao apartamento. Quem iria sair cedo no dia seguinte, fez os últimos ajustes. Eu segui descansando, minha saída para o Salar de Uyuni era só as 21 horas.

Dia 23/08/2024 - La Paz 

Acordei com uma dor de cabeça leve. Enquanto tomava café, fui acompanhando a movimentação de quem iria ao Huayna Potosí, bateu um sentimento estranho, mas sabia que a minha decisão foi acertada. Todos saíram e aproveitei para ir ao hospital onde a Dâmaris estava internada, ela teria alta hoje de manhã. Chegando ao hospital, por sinal muito bem arrumado, fui até ao quarto onde ela estava. Ela estava bem e me disse que teria alta agora na parte da manhã.

Foi tudo bem rápido no hospital e a Dâmaris estava muito bem. Voltamos para o apartamento e de lá seguimos até a @jiwaki, onde ela também acertou a ida ao Salar de Uyuni. Viajaríamos as 21h. Aproveitamos para almoçar no La Vizcacha novamente. Dali, a Dâmaris precisou ir ao dentista e eu fui para o apartamento.

Arrumei minhas coisas e descansei um pouco. A Dâmaris chegou um pouco mais tarde e por volta das 19 h 30 min seguimos para a rodoviária. Tentei chamar um UBER, mas não tinha nenhum disponível, aí resolvemos ir para uma esquina próxima e pegar um táxi. O carro era bem velho, em alguns momentos achei que não fosse conseguir subir as inúmeras ladeiras do caminho. Mas conseguimos chegar.

O terminal tem uma boa estrutura, mas era um barulho grande. As empresas colocam pessoas para ficarem gritando e oferecendo viagens para diversos locais. A todo momento éramos abordados por alguém. Demos uma volta para conhecer melhor o terminal e nos sentamos numa cadeira no mezanino. Dali fiquei observando o caos que estava ali embaixo. Foi dando a hora e descemos para a plataforma, onde entramos numa pequena fila que logo andou. Guardamos nossas bagagens e cada um seguiu para seu assento. A viagem seria longa, cerca de 9 horas até Uyuni. Eu nem havia visto, mas o ônibus era um semileito, o que tornou a viagem bem confortável.

Aí foi deitar e descansar...









quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Expedição Bolívia 2024 - Vale do Condoriri

Por Leandro do Carmo

Data: 20 a 21/08/2024
Local: La Paz
Participantes: Leandro do Carmo, Marcos Lima, Dâmaris Pordeus, Rafael Pereira, Ricardo Bemvindo, Daniel Candioto, Leandro Conrado e Jorge Pereira.





Vídeo do Trekking ao Vale do Condoriri

Relato do Trekking ao Vale do Condoriri

Passei uma péssima noite. Minha saturação de oxigênio continuava baixa. Não passava de 80%. Minha aclimatação estava lenta e até o momento era como se não evoluía. Mas precisava manter a programação e torcer para que tudo desse certo.

Como programado, a van chegou no horário e de lá, seguimos até próximo à Jiwaki, agência que contratamos para operar a logística. Aguardamos carregarem os equipamentos. Foram com a gente os dois guias e o cozinheiro. A viagem foi bem tranquila, levamos cerca de 2h. No caminho paramos num local para comprar algumas coisas. Acabou que não peguei o nome do local, mas era bem pobre e me impressionou bastante. As pessoas vendendo comida numa péssima condição de higiene. Compramos água e continuamos a viagem.

A quantidade de casas foi diminuindo e logo entramos numa área desabitada. Muita poeira, como de costume. Fizemos uma parada rápida em um trecho da estrada e de lá conseguíamos ver parte da Cordilheira Real. Paisagem fantástica. Estávamos indo em direção ao vilarejo de Tuni, na qual alçamos algum tempo depois. Tuni é um pequeno vilarejo e serve como ponto de partida para o trekking no Vale do Condoriri.

Vale do Condoriri


Estávamos no fundo de um vale, numa planície que era cortada por um rio, que é formado pelo desgelo. Ali, fizemos o pagamento da taxa de entrada, que nos custou 20 bolivianos. Arrumamos tudo e nos preparamos para a nossa caminhada até o refúgio, a beira do lago Chiar Khota. Podia ver o caminho que faríamos bem ao fundo. Estávamos a cerca de 4.500 metros e subiríamos ainda um bom pedaço. Os maiores cumes estavam encobertos por nuvens, mas já podíamos ver o branco do gelo, contrastando com o azul do céu em alguns pontos.

Sentia um pouco a altitude, assim como em todos os dias até aqui. Bebi um pouco de água, mais para aliviar o peso da mochila, do que por conta da sede. O Guia ainda perguntou se tínhamos alguma coisa para carregar, mas optei por levar tudo. Iniciamos nossa caminhada. Era por volta das 12h 30min. Estava bastante frio e isso incomodava. Era um frio seco e havia bastante poeira e isso dificultava mais ainda. Respirar já era um grande esforço.

A descida na Estrada da Morte de Bike teve esforço, mas não foi tanto. A subida até Chacaltaya foi mais alta, mas caminhamos pouco. Hoje, apesar de estarmos mais baixo, teríamos um trecho maior caminhado e esse era o maior desafio. Até o Refúgio seriam 2,5 km e, contando a caminhada ao glaciar, foram mais 5 km, totalizando 7,5 km no dia, atingindo 4.860 metros no ponto mais alto.

Era hora de andar. Deixamos o vilarejo para trás e subimos um pequeno trecho, cruzando o rio por um caminho de pedras. Fomos ganhando altura e do alto podíamos ver a Laguna Khauan Khota. O leito da trilha tinha muita pedra solta, característica de todo o local. Continuávamos caminhando no fundo vale, mas agora estávamos mais alto.



De longe já conseguia ver algumas construções e em pouco tempo havíamos chegado ao Refúgio. Havia outros no entorno. Deixamos as coisas no Refúgio, fizemos um lanche e aproveitamos para dar uma volta no entorno. Difícil até de descrever. Estávamos aos pés de diversos cumes, de frente para a Laguna Chiar Khota, um local mágico. Ao fundo podíamos ver os cumes com gelo, entre ele o Condoriri. O nome “Condoriri” vem do aimará e significa “Cabeça de Condor”. A montanha tem essa denominação porque, vista de longe, sua forma lembra um condor com as asas abertas

Depois de um tempo descansando, seguimos para mais uma caminhada. Sem a mochila pesada, deu para caminhar melhor, mas aos poucos, com o aumento da altitude, também foi ficando difícil. Contornamos o lago e subimos um trecho íngreme, até que fomos nos aproximando da faixa de gelo. Já bem perto, pude perceber que era como se fosse uma gruta. O gelo fazia uma espécie de teto e pudemos entrar e ficar abrigado.

A cor meio azulada do gelo no teto dava um tom especial ao local. Impressionante a formação. Tinha a impressão de que tudo poderia desabar a qualquer momento e depois da foto que fizemos juntos, saí logo dali e fiquei observando mais de longe. Olhando para cima, fiquei hipnotizado pelo tamanho do glaciar. E olha que ele não é um dos maiores. De qualquer forma, era um espetáculo à parte.



Voltei andando devagar, agora olhando a lagoa por um outro ângulo. Dali, podíamos ver os outros refúgios, uma vista de tirar o fôlego. Segui andando, agora já contornando novamente a lagoa. Em pouco tempo já estávamos de volta ao refúgio. Entramos para poder nos aquecer um pouco. Minha dor de cabeça aumentou, incomodando bastante. Foi servido uma sopa de entrada e logo em seguida a janta.

Estava bastante frio lá fora, então o jeito era ficar dentro do abrigo. Iríamos dormir ali no salão. As condições não eram as melhores, mas com certeza era melhor do que armar uma barraca lá fora. E falando em “lá fora”, vale deixar o registro de como eram os banheiros. Ficavam um pouco distante dos abrigos e ter que sair a noite, era um sofrimento. Sem contar que não tinha porta e para chegar à segunda “casinha”, tínhamos que passar pela primeira.

Depois do jantar, ficamos conversando durante um tempo e minha dor de cabeça foi aumentando. Chegou uma hora que que não conseguia mais ficar deitado. Para se ter uma ideia de como estava ruim, quando eu colocava a mão na cabeça, sentia o sangue ficar pulsando. Aí eu me levantei e fiquei sentado à mesa. Passei a noite acordado. Acho que foi a pior noite da minha vida. Nessa situação, já sabia que seria difícil para mim subir o Huyana Potosí, mas ainda tinha uma esperança.

Na manhã do dia seguinte, estava detonado. Tomamos café e o pessoal saiu para fazer o Pico Áustria. Eu optei por não subir. Acho que poderia piorar a situação. Fiquei ali em volta da lagoa, pensando em um monte de coisas. Vendo os pontinhos se mexendo bem no alto da montanha e sentindo o sol aquecer meu corpo, tomei a decisão de que não iria ao Huayna Potosí. Pensei também sobre as diversas opções que tínhamos para aclimatar, mas definitivamente não tinha certeza de muita coisa.

Aproveitei para fazer algumas fotos, pois o local era fantástico. Conversei com algumas pessoas que passavam pelo local, alguns indo em direção ao Pico Áustria e outros, somente caminhando até a laguna. Já se aproximando da hora do almoço, os primeiros começaram a retornar. Fui recepcionando cada uma e dando os parabéns pela conquista.

Com todos de volta, almoçamos e começamos a preparar as coisas para o nosso retorno. Peguei a mochila e fui me despedindo. O local é bem bonito, mas já estava na hora de descer. Peguei o caminho de volta. Impressionante, mas fui vendo coisas que não havia percebido no dia anterior. Passamos por várias lhamas que estavam pastando próximos ao caminho e paramos para fazer algumas fotos.

De longe, já conseguíamos ver o nosso destino. Algumas vans esperavam próximas e pela distância, não conseguia identificar qual seria a nossa. Mais alguns minutos e chegávamos. Arrumamos tudo e entramos na van, fazendo uma viagem bem tranquila até La Paz. Chegando ao apartamento, fui verificar minha saturação de oxigênio e ela estava em 79%. Agora era tentar descansar. Amanhã temos o dia livre e a noite, iremos assistir ao jogo do Flamengo contra o Bolivar, pelas oitavas de final da Copa Libertadores.


Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri


Vale do Condoriri

Vale do Condoriri

Vale do Condoriri


Vale do Condoriri

Vale do Condoriri


 

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Expedição Bolívia 2024 - Chacaltaya

Por Leandro do Carmo

Data: 16 a 27/08/2024
Local: La Paz
Participantes: Leandro do Carmo, Marcos Lima, Dâmaris Pordeus, Rafael Pereira, Ricardo Bemvindo, Daniel Candioto, Leandro Conrado e Jorge Pereira.

Chacaltaya


Curiosidades sobre Chacaltaya

Chacaltaya é uma montanha localizada na Cordilheira dos Andes, na Bolívia, com uma altitude de 5.435 metros acima do nível do mar. Administrativamente, está no município de La Paz, na província de Pedro Domingo Murillo. A montanha fica a cerca de 30 quilômetros da cidade de La Paz.

A geleira de Chacaltaya, que existiu por cerca de 18 mil anos, desapareceu completamente em 2009, devido ao aquecimento global. Isso teve um grande impacto na estação de esqui, que foi desativada em 2002. A estação de ski era a mais alta do mundo. O local ainda é um destino popular para turistas, oferecendo vistas impressionantes das cidades de La Paz e El Alto, além de outros picos nevados, como o Huayna Potosí.

Chacaltaya é conhecida não apenas por sua beleza natural, mas também por seu papel na ciência. Em 1947, o físico brasileiro César Lattes ajudou a construir um observatório de raios cósmicos na montanha. Esse observatório foi crucial para estudos sobre partículas subatômicas.

Vídeo do Trekking à Chacaltaya

Relato do Trekking à Chacaltaya

Contratamos uma van para nos levar até o ponto onde inicia a caminhada para Chacaltaya. A van chegou no horário combinado e seguimos viagem. Saímos da área central de La Paz e aos poucos a quantidade de casas foi diminuindo. Fizemos uma parada em um local para comprar água. O local era bem pobre e com casas bem simples. Como de costume, não havia árvores. Tudo era marrom e com bastante poeira. Ao fundo podíamos ver um grande lago e fomos nos afastando dele, até que a estrada foi diminuindo, marcando o início de uma forte subida.

O trecho foi ficando bem estreito e por vezes era difícil acreditar que o carro passaria. Havia muitas pedras e lá de baixo, podíamos ver algumas construções bem ao alto. Bem provável que estávamos chegando. Depois de muitas curvas, consegui reconhecer o local pelas fotos que havia visto. E depois de cerca de 1 hora desde a saída de La Paz, havíamos chegado.

Chacaltaya


Saímos da van e foi só dar uma caminhada em volta que o cansaço já deu seu cartão de visitas. Aproveitei para fazer algumas fotos. A vista impressionava. Apesar de já termos tido contato com esse tipo de paisagem no dia da “Estrada da Morte”, hoje era diferente. Estávamos prontos para a primeira caminhada acima dos 5.000 metros.

A caminhada é bem curta, cerca de 2 km ida e volta, mas o que pesa aí é a altitude. Iniciamos a subida a 5.200 metros e chegamos a 5.435 m. São 335 metros a mais do que eu havia feito no Peru. Começamos a subir, cada um no seu ritmo. Nem sinal de gelo. Havia apenas um pequeno ponto, cerca de 50 cm. Só de pensar que no local já existiu uma estação de ski.

Subi devagar, porém num ritmo constante. A respiração estava pesada. Era uma sensação de cansaço permanente, difícil de explicar. Mas segui subindo até que atingi o primeiro cume, a 5.400 metros. Parei para fazer algumas fotos e percebi que havia um outro cume mais à frente. Este fica ocultado por esse primeiro.

Chacaltaya


Desci um trecho e segui para o outro cume. A caminhada foi mais curta que a inicial e logo cheguei. Estava bem cansado e não foi fácil chegar ali. Tinha uma pedra com a inscrição de 5.435 metros. Levantei e tirei uma foto. Queria deixar o registro. Foi o ponto mais alto que já havia chegado. Aos poucos todos foram chegando, cada um no seu ritmo. A vista do topo de Chacaltaya é espetacular. De lá, você pode ver as cidades de La Paz e El Alto, além de outros picos nevados, como o Huayna Potosí.

 Iniciei a descida e para baixo foi mais fácil. Não havia o esforço da subida e percorri cerca de 1 km bem rápido. Estava frio, mas não se comparava com o momento na qual havíamos chegado. Ainda dei uma volta no entorno das antigas construções e de lá pegamos a van para nos levar de volta. A descida foi mais assustadora que a subida, pois já sabia o caminho na qual teríamos que fazer. Mas devagar vencemos as inúmeras curvas apertadas da estrada.

De lá seguimos para o Vale de la Luna. Estava tão cansado, que optei por ficar dormindo na van. Após a rápida visita, voltamos para o apartamento, onde nos preparamos para o dia seguinte: Vale do Condoriri.

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya

Chacaltaya