sábado, 25 de julho de 2015

4 Dias na Dura Travessia da Serra Fina

Por Leandro do Carmo

4 Dias na Dura Travessia da Serra Fina

Data: 04 a 07/06/2015
Local: Serra Fina
Participantes: Leandro do Carmo, Michael Patrick, Paulo Guerra, Felipe Lima, Ary Carlos, Vinícius Araújo, Patrícia Gregory e Andréa Vivas.

A Serra Fina, que faz parte da Serra da Mantiqueira, é um conjunto de montanhas, com muitos picos de acima de 2.000 metros de altitude. Está localizada na divisa de três estados: Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, entre o Parque Nacional de Itatiaia e o maciço Itaguaré-Marins.

O montanhismo da região nasceu no Maciço do Itatiaia, de onde veio a ser criado o primeiro Parque Nacional do Brasil, o Parque Nacional do Itatiaia. Sua fundação, data de junho de 1937. Mas foi bem mais tarde, em julho de 1955, que o cume da Pedra da Mina foi conquistado, a partir do bairro rural de Paiolinho, em Passa Quatro-MG. Por muito tempo, o Pico das Agulhas Negras foi tido como o 4º ponto mais alto do país, porém, de acordo com o anuário estatístico do IBGE – 2011, oriundo do projeto Pontos Culminante, a Pedra da Mina, agora figura como o 4º, tendo 2.798 m, 7 metros a mais que o Pico das Agulhas Negras.

Somente nos anos 80, que a interligação das cristas das serras nos arredores da Pedra da Mina foi realizada, dando origem à Travessia da Serra Fina. Rapidamente tornou-se destaque do montanhismo no Brasil. De nível pesado, possui um dos maiores desníveis topográficos do território brasileiro (acima de 2.000m). Esta travessia é considerada uma das mais exigentes, belas e impressionantes do País. Além da Pedra da Mina, há outros picos altos que formam esta serra, tendo como os principais: o Capim Amarelo com 2.491m e o Três Estados com 2.656m.





Dicas para a Serra Fina

A primeira dica que dou é que NÃO CONTRATEM O SR. EDINHO PARA O RESGATE. Ele deixou vários grupos na mão, inclusive o nosso e não cumpriu o horário para levar e muito menos o de buscar. Se quiserem arriscar...

Se não estiver muito bem condicionado fisicamente, nem pense em fazer. A travessia é forte e há grandes desníveis durante todo o percurso.

Pontos de água utilizados:

1º dia – No início, no local conhecido Toca do Lobo, porém mais acima, no Quartzito, tem um, o que faz economizar peso no trecho inicial;

2º dia – Cachoeira Vermelha, mas o melhor ponto é onde cruza o Rio Claro para ir à base da Pedra da Mina; ouvi dizer que tem água logo após o Maracanã, o ponto de acampamento, numa saída à esquerda, mas não fui lá conferir; achamos água um pouco abaixo do cume da Pedra da Mina, no local onde acampamos, mas não posso confirmar se tem sempre, foi a melhor água da travessia;

3º dia – Rio Verde, no Vale do Ruah, com 1h30min de caminhada;

4º dia – No final da travessia.

Pontos de acampamento utilizados:

1ª noite –  Cume do Capim Amarelo (Outros pontos: no meio da subida do Capim Amarelo; Após o cume, existem pequenos pontos ao longo da trilha; no Maracanã, 1h30min depois do cume;

2ª noite – Após o cume da Pedra da Mina (Outros pontos: antes da subida da Pedra da Mina; no cume e arredores da Pedra da Mina; no começo do Vale do Ruah; vários pontos entre a Mina e os Três Estados)

3ª noite - Base da subida do Pico dos Três Estados, em um bambuzal (há local de acampamento no cume dos Três Estados, mas se estiver cheio terá que descer; existem alguns pontos após o cume)

Vídeo



Relato

Tínhamos programado de fazer a travessia da Serra Fina a quase 1 ano. E devido a quantidade de dias, 4 no total, só daria para fazer no feriado de Corpus Christi. Por ser muito pesada e técnica, não queríamos um grupo muito grande. Resolvemos fechar nosso grupo em 8 pessoas. Com o grupo definido, começamos a organizar a logística. Eram muitas as opções, mas resolvemos sair de Niterói, em direção à Passa Quatro, na quarta feira à noite e combinamos de dormir na casa do Sr. Edinho (responsável por nos levar ao começo e fazer o nosso resgate ao final da trilha), assim poderíamos acordar bem cedo e seguir para o começo da travessia.

Chegamos à Passa Quatro por volta das 22:00 e encontramos, por sorte, o Sr. Edinho em um posto de gasolina. Fomos até a casa dele e já começamos a perceber o quanto o Sr. Edinho é enrolado. Não parava de chegar gente e ele já havia dado algumas viagens, levando vários grupos. Até aí tudo bem, pois só sairíamos de manhã cedo. Marcamos às 7 horas. Queríamos começar com o dia claro para poder apreciar a bela vista.

1º Dia – Da Toca do Lobo ao Cume do Capim Amarelo


Acordamos cedo conforme programado e para nossa surpresa já tinha um grupo na caminhonete do Edinho pronto para sair e ficamos por último, mesmo tendo combinado com antecedência. Acho que o Sr. Edinho não tem noção da responsabilidade que tem. Quando combinamos um horário, é por que fizemos uma programação em cima disso e um atraso de 2 horas, pode comprometer bastante o dia. Com todos esses problemas, acabamos entrando na trilha às 10 horas da manhã. Acho que fomos o último grupo a começar a travessia.

Chegamos a uma propriedade que fica logo após o Refúgio Serra Fina e dali, seguimos uma péssima estradinha até a Toca do Lobo, que é uma pequena gruta à esquerda, à margem de um córrego. Ali tínhamos a informação de que seria o ponto de coleta de água do dia, depois dali, só um pouco antes da base da Pedra da Mina, no segundo dia (Tem água mais acima, no Quartzito). Cada um foi enchendo suas garrafas e eu optei por levar 3 litros e o Ary teve que levar 1L para mim, pois havia esquecido sua garrafa. Aproveitei para beber quase 1L d’água, assim garantiria menos consumo nesse primeiro dia. Minha mochila pesava algo em torno dos 16 Kg.

Com a mochila nas costas, cruzamos o córrego e iniciamos a subida. Já começa forte! Mas descansado e inteiro, não tive problemas. Aos poucos fomos vencendo a subida até que passamos para uma vegetação bem rasteira, ficando totalmente expostos ao sol. Ali já era possível ver o cume do Capim Amarelo enganosamente próximo... A trilha sempre bem marcada, não apresentava dificuldades. A medida que subíamos, víamos que precisávamos subir mais... E com aproximadamente 1 hora de caminhada, comecei a ouvir um barulho de água correndo e mais acima deu para ver um quedinha d’água, bem a direita. Esse deveria ter sido nosso ponto de coleta de água, assim não precisaríamos ter feito todo essa caminho com um peso desnecessário.

Seguimos subindo e a vista começou a surpreender. E olha que ainda estávamos longe de concluir o dia... No alto de um morro demos uma pausa e pudemos observar o caminho pela crista por onde passamos e o caminho que ainda teríamos que percorrer. Tivemos uma descida pela crista,  o clássico caminho da Serra Fina, até que começamos a forte subida do Capim Amarelo. É um trecho bem íngreme com alguns lances de trepa pedra, vários caminhos com bambuzinhos que teimavam em agarrar na mochila e grandes tufos de capim, que nos acompanhariam durante toda a travessia.

Nesse trecho de subida, tivemos nossa primeira de muitas investidas por entre esses tufos de capim, que formam verdadeiros labirintos por entre a vegetação. Subimos num ritmo forte e passamos vários grupos a nossa frente. Nossa preocupação era de que o cume estivesse cheio e que não houvesse mais lugar para acampar. Muitos optam por passar o cume do Capim Amarelo e acampar no Maracanã ou em algum ponto pelo caminho. Paramos num pequeno descampado, onde fizemos nossa última parada antes do trecho final da subida. Partimos para o ataque final. Uma subida íngreme, molhada, escorregadia e em alguns pontos expostas. Existiam algumas cordinhas que ajudavam a ascensão. Os bambuzinhos teimavam em nos segurar e aos poucos vencemos os metros finais e chegamos ao cume do Capim Amarelo.

O dia estava ótimo: firme e sem vento. E isso nos ajudou bastante. Havíamos chegado eu, Felipe, Paulo e o Michael. O cume é bem pequeno e coberto por esses tufos de capim. Como tinha bastante gente por lá, dei logo uma andada em volta e não vi nenhum lugar aberto para acampar. Rapidamente, marquei três pontos onde haveria possibilidade de armar as barracas. Peguei meu canivete e abri uma pequena clareira, onde eu e o Paulo armamos nossa barraca. Mais para o lado, o Felipe e Michael, armaram a deles e deixamos um espaço razoável para a barraca da Andréa e Patrícia. Precisávamos de mais um local. Forçando a barra, achei um lugar para o Vinícius e o Ary, onde eles montaram a barraca deles. Pronto! Estávamos todos mais ou menos instalados. Preparamos nosso almoço/janta e ficamos ali contemplando o por do sol maravilhoso. Mas o dia ainda não havia acabado... Estávamos em semana de lua cheia e quando ela apareceu... Deu seu espetáculo! Aos poucos, todos nos recolhemos e tomados pelo cansaço dormimos... O dia seguinte também seria longo...

2º Dia – Do Capim Amarelo à Pedra da Mina

Acordamos cedo, preparei meu café da manhã e pude contemplar um nascer do sol fantástico. O espetáculo das montanhas sendo atingidas pelos primeiros raios de sol, davam a sensação de que elas pegaria fogo. Foi difícil me concentrar em outra coisa, mas precisava continuar. Começamos a nos arrumar para descer. Tinha 1 litro de água para chegar até a Cachoeira Vermelha, próximo ponto de coleta. Atravessamos o cume do Capim Amarelo, pois a descida é pelo lado oposto ao que se chega.

Fomos descendo e um pouco mais abaixo, passamos por alguns pequenos pontos de acampamento. Em pouco tempo já estávamos no fundo do vale. Olhando para o Capim Amarelo, vi o quanto havíamos descido. Cruzamos um trecho de capim alto no fundo do vale, subimos um pequeno lance e novamente entre capins cortamos em diagonal o morrote seguinte. A trilha bem marcada e até sinalizada com fitas e totens, nos levou até o trecho de mata rala que separa a base do Capim Amarelo da crista em direção ao Melano. Com cerca de 1h 30min, chegamos ao local conhecido como Maracanã. Uma ampla área que daria para abrigar umas 20 barracas. Mais a frente, conversando com outras pessoas, fiquei sabendo que existe um ponto de água bem próximo. Seria seguir a trilha a após o Maracanã e dobrar a esquerda na primeira bifurcação. Daí, precisaria descer uns 15 min. Não dá para confirmar, pois não cheguei até lá. A essa altura, estávamos divididos em dois grupos. Nos encontrávamos em pontos pré determinados e o nosso próximo, seria na Cachoeira Vermelha. Seguimos subindo e descendo sempre com um visual fantástico. Do alto de um morro, avistei uma pedra no fundo do vale com uma coloração avermelhada e não tive dúvida, era o nosso ponto de referência, era a Cachoeira Vermelha.

O sol estava no alto, era cerca de 13:00 horas. Já estávamos na trilha desde as 9:00 horas. Como teríamos que parte do outro grupo, resolvemos fazer o almoço ali. Tínhamos água a vontade para lavar as panelas. Essa parada foi fundamental. Foi o dia em que eu melhor me alimentei. E ainda bem, pois a noite que passaríamos... Estávamos eu, Michael, Paulo e o Felipe. Um pouco depois chegou o Vinícius. Como já havíamos almoçado, dei a ideia de que um grupo fosse à frente e já montasse o nosso acampamento e deixasse reservados dois lugares para as outras barracas. Outra decisão acertada! Quando a Andréa, Patrícia e Ary chegaram, avisei que o pessoal já havia ido para a Pedra da Mina e que eles fizessem ali o almoço, assim poderíamos subir com menos água, consequentemente, mais leves. A essa altura, qualquer quilo, faz a diferença.

Para os mais corajosos, dá até para tomar um banho. Eu nem me arrisquei. Até para lavar a panela a mão doía, de tão gelada que a água estava. Aquele vale é um local fantástico, algo intocado, assim como toda a travessia. A nossa frente tinha a pedra da Tartaruga e mais ao lado dava para ver algumas pessoas subindo a Pedra da Mina. Já era hora e começamos a caminhar. Havíamos pegado água ali nesse ponto, mas poderíamos ter esperado mais a frente, onde cruzamos o rio novamente. A água naquele ponto é bem mais clara, pois ela ainda não passou pelo charco. Na próxima... Seguimos o caminho até que iniciamos a subida da Mina. Subidinha forte! O tempo começava a fechar. O vento aumentava, mas por sorte não eram nuvens de chuva.

Quando chegamos próximos de um grande totem, já quase no cume, o Felipe e o Michael nos esperavam para indicar-nos o local das nossas barracas. Como o Ary e Patrícia ainda não haviam chegado, resolvi parar para assinar o livro de cume junto com a Andréa e aproveitei para bater algumas fotos. O tempo fechou de vez e o vento estava muito forte. Algumas barracas estavam abrigadas e outras nem tanto. Tentei achar onde estavam as nossas, mas a falta de visibilidade me fez voltar. Quando retornei, encontrei o Felipe, Ary e Patrícia. Aí sim, pude seguir. Acho que sozinho, sem referência, sem visibilidade, não iria achar nunca. O local era ótimo, bem mais abrigado do vento do que no cume. Com o tempo aberto, é fácil achar, mas a noite e fechado... Assim que passar pelo livro de cume, deve seguir reto se orientando pelos totens. Mais a frente quando começa a descer levemente, siga os totens da esquerda, pois para a direita você vai para o Vale do Ruah.

A barraca já estava montada. Fiquei imaginando achar um lugar e montar nessas condições... Troquei de roupa e ainda fiquei um pouco dentro da barraca para me aquecer mais. Depois do acampamento montado, aproveitamos para ir até ao cume, na esperança do tempo abrir. Mas não demos sorte. O vento aumentou consideravelmente e já estava ficando complicado ficar ali em pé. Resolvemos voltar e no caminho passamos por três caras tentando montar uma barraca numa laje inclinada e totalmente exposta ao vento, acabei voltando e falando do local onde havíamos montado as nossas barracas. Eles na hora aceitaram e nos seguiram. Como a visibilidade piorou, demoramos um pouco até acharmos o caminho. Fui e voltei algumas vezes, até que vi um totem, depois outro... Pronto, já tinha me achado! Eles já estavam tão cansados que montaram a barraca no primeiro local que acharam. Entrei na barraca e fui descansar, o dia seguinte prometia... A noite foi tensa. O vento mudou de direção e começou a sacudir a barraca a cada rajada. Havia colocado pedras na lateral da barraca, o que foi o suficiente para estabilizar a cobertura e impedir que o vento entrasse por baixo. Uma noite mal dormida!

3º Dia – Da Pedra da Mina à base do Pico dos Três Estados

O dia amanheceu péssimo: a visibilidade estava reduzida a poucos metros; o vento continuava forte; o frio havia aumentado. Não tinha jeito, não ia melhorar tão cedo. Era hora de sair de dentro do saco de dormir e começar a arrumar as coisas. Levantei e fui ver se todo mundo já estava acordado. Havíamos programado de não sairmos muito tarde. Aos poucos todos foram se arrumando e começamos nossa caminhada. A descida foi coisa de cinema. Achar o caminho foi complicado e tivemos a orientação de um grupo que estava desarmando o acampamento. Começamos a descida que era razoavelmente íngreme. Estava tudo molhado e todo cuidado era pouco. Paulo e Vinícius seguiram na frente, eu e a Patrícia no meio e resto do pessoal veio atrás. Na verdade, foi a última vez que vimos o Paulo nesse dia, pois ele pegou a dianteira e só fomos encontrá-lo novamente, na manhã do quarto dia. Descemos com muita cautela até o começo do Vale do Ruah, mas antes, haviam alguns totens que indicavam um caminho para o alto de morro, à direita, mas no nosso caso, deveríamos seguir descendo.

Chegamos ao Vale do Ruah e não tínhamos nenhuma referência visual. Havia um grupo logo no começo e cheguei a chamar pelo Paulo e nem sinal dele. Acabamos nos juntando a outros grupos e fomos caminhando pelos grandes labirintos encharcados. Acho que pela falta de chuva, não achei tão complicado cruzar o Vale do Ruah. Cheguei a ler alguns relatos que podia afundar até a cintura... Que era fácil se perder... O capim pode chegar a 2 metros de altura... Mas pegamos a referência de chegar ao rio e segui-lo com ele a nossa esquerda. E não deu outra. Rapidamente cruzamos a passagem entre dois morros, justamente onde o rio passa, formando um pequeno vale. Seguimos andando e na primeira cachoeira, fizemos nossa parada para coletar água, nosso último ponto até o final da travessia. Com a tática, que vinha dando certo, bebi quase 1L de água com isotônico, assim conseguia ficar mais tempo sem me hidratar, levando menos água e, consequentemente, menos peso. Com os reservatórios de água cheios, seguimos pelo vale entre os dois morros e após cruzar o da direita, avistamos um mais a frente. Vi um totem bem no alto, numa diagonal e fomos procurando o caminho em meio aos labirintos de tufos de capim. Com olhos de águia, via uma fita amarela em um pequeno arbusto, na qual indicava o caminho certo. Segui e logo estava ao lado do totem que havia visto lá de baixo. Achado o caminho, fizemos uma pequena pausa, pois vencer esse trecho, abrindo caminho pelo capim, foi bastante cansativo.

Subimos e chegamos a um ponto de acampamento, fazendo mais uma pequena pausa. Começamos a caminhar no sobe e desce das montanhas, sempre com os bambuzinhos nos prendendo. Passamos por um ponto onde se o tempo tivesse aberto, acredito que seria espetacular! Caminhávamos, para variar, numa crista, mas bem na beira de um penhasco. Às vezes o tempo ameaçava abrir e conseguíamos ver a silhueta das montanhas em volta, mas logo voltava a fechar. A nossa esquerda, estava o Pico dos Três Estados. Passamos por mais um pequeno ponto de camping, e seguimos reto até ao final da linha. Tivemos que voltar e começar a descer, até que conseguimos avistar os totens. Já tinha gente lá em baixo, pois ouvíamos barulho de bambu sendo cortado. Seguimos o caminho a passamos por um grupo acampando. Todos os bons lugares do bambuzal já estavam ocupados. Continuamos andando e vimos um lugar que daria para montar algumas barracas. Ficamos por ali mesmo. Demos uma caprichada no local e ficou perfeito para 4 barracas. Já havíamos decido ficar ali. O nosso medo era subir o Pico dos Três Estados e não conseguir local para ficar e ter que continuar a caminhada. Quem tiver disposição que encare! Nós já estávamos esgotados. Seria muito mais tranquilo fazer a janta ali e já consumir um pouco do peso carregado, principalmente da água. Afinal de contas a próxima subida seria forte, com aproximadamente 1h20min, conforme o mapa que tínhamos.

A essa altura, nem sinal do Paulo. Como ele estava colado num grupo que saiu junto conosco, provavelmente já estaria no cume, pois pelo caminho, não havíamos visto ninguém, nem de longe. O problema é que eu estava dividindo a barraca que estava com ele e eu estava carregando o seu isolante. O local onde estávamos era bem abrigado, dentro da floresta. Não pegamos vento, apesar de ouvi-lo bem forte. Preparamos nossa comida e combinamos de acordar mais cedo que nos dias anteriores, às 5 da manhã. Sabíamos que tínhamos, pelo menos 1 hora a mais de subida. Aproveitei e me recolhi mais cedo que nos outros dias, afinal de contas, essa seria a nossa terceira noite e queria estar inteiro para dia seguinte, o derradeiro!

4º Dia – Base dos Três Estados à BR 354

Acordamos cedo e apesar do barulho do vento durante toda a noite, vi que o tempo estava completamente diferente do dia anterior. Estava bem aberto. Por entre as árvores dava para ver a silhueta do nascer do sol. Fiquei imaginando como seria lá de cima... Bom, precisávamos adiantar e começar logo o dia. Fui verificar se todos já tinham acordado e voltei para preparar meu café da manhã e arrumar a mochila. Juro que pensei em abandonar algum material para diminuir o peso... Mas coloquei tudo dentro e não me preocupei em organizar as coisas, não precisaria pegar mais nada dentro dela.

Iniciamos nossa jornada final por volta das 6h30min. Novamente uma subida forte. Se já estava assim no começo, imaginei como seria se tivéssemos feito no final do dia anterior. Mais uma decisão acertada! Com o tempo limpo, conseguíamos ver o nosso objetivo e tudo o que havíamos feito. O visual era fantástico, muito diferente do dia anterior, onde tudo ficava resumido ao branco das nuvens... Isso deu um ânimo a mais, principalmente pelo sol que aquecia o corpo, dando até para tirar o anorak e caminhar somente com a segunda pele. E dá-lhe subida! A previsão era de 1h20min. Mas eu e o Vinícius fizemos em 45min. No cume, por sinal lotado, encontramos o Paulo, que passou um perrengue dormindo sem o isolante. Pela quantidade de gente que estava ali no cume, agradeci a Deus novamente por termos tomado a decisão de acamparmos antes da subida, pois com certeza não acharíamos local para dormir e teríamos que andar bastante até encontrar algum ponto. Aproveitamos para bater fotos no marco que divide os três estados. Dali dava para ver o que faltava... A grande subida do Alto dos Ivos. Só que antes de chegar ao Alto dos Ivos, ainda tínhamos um grande caminho a percorrer.

Começamos a descer o Pico dos Três Estados. Uma descida forte, como de costume. Passamos por alguns pequenos pontos de acampamento. Vimos vários grupos em vários pontos da trilha. Acho que todos se concentraram por aqui. Hoje dava para ver a quantidade de gente que estava na travessia. O dia continuava perfeito. Descemos e subimos e descemos novamente... De longe vi um grupo em uma parte bem exposta e falei: “O caminho não pode ser por ali!” O Vinícius respondeu: “Não pode ou você não quer?” Respondi: “Os dois, é claro!!!!” Passamos por um grupo que estava acampado num local amplo, mas bem irregular, numa laje de pedra, bem exposta ao vento. Tinha uma barraca que estava num local tão inclinado, que fiquei pensando na noite de quem dormiu ali... Chegamos ao ponto onde havia visto de longe. De perto não era tão ruim assim, um pouco exposto, mas tem bons locais para os pés. Seguimos e subimos mais um pouco antes de descer para iniciar a última subida da travessia. Andamos mais um pouco e estávamos aos pés do Alto dos Ivos. Respirei fundo e toquei para cima. Até que foi mais rápido do que eu esperava. Chegamos lá em cima e estava literalmente lotado. Parece que todos resolveram se encontrar lá... A área é bem ampla e não há vegetação, somente um lajeado, onde impossibilita qualquer tentativa de acampamento. Ficamos ali durante algum tempo, recarregamos as baterias e combinamos que dividiríamos o grupo pois como encontramos vários grupos pelo caminho e muitos diziam que voltariam com o Sr. Edinho, tínhamos certeza de que isso iria dar problema. Nossa ideia era chegar e já ir pegando o resgate. Com certeza seria por ordem de chegada, assim como foi na casa dele.

Então seguimos Eu, Michael, Paulo, Felipe e o Vinícius. Partimos para a descida... É uma caminhada sem muitas dificuldades. Tudo muito bem marcado, mas não podia faltar o bambuzinho e os tufos de capim. Passamos por alguns pequenos morros e cruzamos uma área de camping. Mais a frente, entramos definitivamente na mata fechada. O Felipe havia pego a dianteira, o Paulo e o Vinícius ficaram para trás, acabou que eu e o Michael fomos caminhando juntos. Entramos numa estradinha abandonada e bem mais a frente chegamos ao último ponto de água. Na verdade, mais a frente ainda dá para coletar em dois pontos, mas consideramos esse o último, pois ainda está na trilha. Dali, entramos numa estradinha abandonada, passamos por uma bifurcação. Nesse ponto, deve-se pegar o caminho da esquerda, pois o da direita, sairá na Garganta do Registro. Seguimos descendo até que passamos à Sede da Fazenda, uma grande construção abandonada. Continuamos e passamos por algumas cercas e porteiras, até que chegamos ao nosso destino: O recuo na BR 354. O Felipe já havia e eu e o Michael chegamos alguns minutos depois. Sr. Edinho também estava lá, todo enrolado. Havia dezenas de pessoas para descer e apenas uma Kombi fazendo o translado do pessoal para Passa Quatro. Botamos uma pressão e fomos no EcoSport dele. Apertamos e conseguimos ir em 5, mais o motorista.

Chegamos à Passa Quatro e fomos logo almoçar. Enquanto almoçávamos, a Andréa ligou e pediu que fôssemos de carro, pois eles iriam embora direto. Tinha muita gente lá e a volta estava sendo por ordem de chegada. Pelo cálculo da quantidade de pessoas, voltariam por volta das 18h. Essa foi a gota d´água com o Sr. Edinho. Ter que ficar esperando lá esse tempo todo, depois de termos marcado horário... Agora deu para entender porque não contratar o Sr. Edinho?

Pegamos o carro e deixamos Passa Quatro. Subimos a BR 354 e chegamos ao encontro de todos! Arrumamos nossas mochilas e partimos para a Garganta do Registro, onde todos fizeram um lanche reforçado. Assim, voltamos cansados, mas felizes por termos concluído, com êxito, o nosso objetivo: TRAVESSIA SERRA FINA EM 4 DIAS!

Missão cumprida, até a próxima!

Fotos:


Serra Fina
A Serra Fina e o caminho que já fizemos no primeiro dia

Percorrendo o caminho

Pausa para a subida final

Almoço no cume do Capim Amarelo

Itaguaré - Marins ao fundo

Por do sol no cume do Capim Amarelo



O sol nascendo

Café da manhã

Foto antes da caminhada

Lajeado de pedra

Cume da Pedra da Mina - 4º ponto mais alto do Brasil

Assinando o livro de cume

Acampamento na Pedra da Mina





Inciando a descida em direção ao Vale do Ruah

No Vale do Ruah

Caminhando

Pausa para o descanso

Mais uma pausa

Os bambus que nos atormentaram durante toda a travessia

O pouco que deu para ver no terceiro dia...




O sol iluminando a Pedra da Mina

Subida para o Pico dos Três Estados

No cume do Pico dos Três Estados

Serra Fina
Ary numa passagem bem exposta

Serra Fina
Eu e a lua bem acima

Serra Fina
Agulhas Negras a direita

Serra Fina
Descanso...

Serra Fina
Subida do Alto dos Ivos

Serra Fina
Deixará lembranças...











terça-feira, 7 de julho de 2015

Expedição ao Dedo de Nossa Senhora

Por Leonardo Carmo



Expedição – Dedo de Nossa Senhora
Local: Parque Nacional da Serra dos Órgãos
Data: 18/06/2015

Participantes: Leonardo Carmo e Marcos Lima

Participação especial: Monique Zajdenwerg





Relato


Lá vamos nós de novo. Pra variar, às 23hs de quarta-feira, o telefone toca, e do outro lado: Fala aí, tá livre amanhã? R: Tô. Então amanhã 6hs aqui em casa. Vamos pro Dedo de Nossa Senhora.... Missão PitBull..... Missão dada... partiu.


Foi assim... por volta das 8:15 chegamos na entrada do PARNASO (Tere) para preencher o termo de responsabilidade. Descemos e paramos no Paraíso das Plantas. Rapidamente tomamos um café e partimos para a entrada da trilha. 

As 9 da manhã começamos a subir. Trilhazinha exigente. O caminho estava muito molhado. Alguns trechos são de pedras, caminhos de água ou leito de rio seco. Estava muito escorregadio. Mas aqui não tem molezinha. Tocamos pra cima num ritmo puxado.

Depois de aproximadamente 1 hora de subida, chegamos no primeiro lance de artificial, um trecho curto seguido de meio vara mato e meio entalamento. Cuidado nesse trecho. Não subestime o lance. Tem três grampos nessa parte de entalamento. Não custa passar uma fita ou até mesmo colocar um estribo para dar um auxílio. Ainda mais se o grupo estiver grande. Isso vai dar mais segurança e agilidade.

Passado esse lance, tem mais um pedacinho de trilha que leva à base do principal trecho de artificial.

Se eu não me engano, são 18 grampos. Eles são bem espaçados uns dos outros. A sequência depois da parada dupla fica mais espaçada. Também, tinha que ser. O conquistador foi um alemão rsrs. O cara devia ser gigante.

Eu, com 1,77 de altura me esticando todo, não consigo alcançar todos os grampos. Aí vai da criatividade de cada um para conseguir alcançar esses grampos rsrsrs.

Na primeira vez que eu fiz essa via, eu subi sem corda, mas achei muito arriscado. Cada um foi usando um par de estribos. Dessa vez, juntamente com o Marcos Lima, optamos por dar mais segurança a escalada. Utilizamos corda e fomos costurando normalmente. Costuramos todos os grampos. Utilizamos um par de estribos. Um, era o estribo de verdade e o outro, feito com um pedaço de corda rsrs. Valeu o improviso.

O Marcos Lima guiou o primeiro lance até a parada dupla. Depois, eu guiei até a base do lance do cabo de aço.

**No lance do cabo de aço, o Marcos guiou novamente. Fizemos o mesmo procedimento de subir costurando. Não custava nada ter mais uma segurança. Nesse lance é força bruta. Em época chuvosa, costuma ficar descendo água até dois dias após ter parado de chover por conta da vegetação. Esse lance molhado fica complicado.

Depois que acaba o lance de cabo, vem um trecho íngreme de terra meio barro. Bem escorregadio.

Depois, vem um pequeno lance de trilha em meio à vegetação e pronto, o cume.

Chegamos no cume as 15:30. Ficamos por lá uns 30 min e tocamos pra baixo. O cume do Dedo de Nossa Senhora é incrível. Você vê as outras montanhas de ângulos que ninguém mais consegue ver. Pra mim, a melhor visão é a do Garrafão. Um espetáculo.

Depois da gente ficar apreciando toda aquela maravilha, resolvemos descer. Na parte de terra meio barro, da pra montar um rapel. Nós desmontamos o nosso estribo improvisado para poder utilizar a corda como um auxílio. O pedaço de corda devia ter uns 3 metros só. Nessa descida tem duas pequenas árvores onde passamos a corda para ter um ponto de apoio, pois estava muito escorregadio. Chegando na parte do cabo de aço, mas ainda na parte de caminhada, descemos só segurando o cabo mesmo. Na parte íngreme, montamos o primeiro rapel. Depois, montamos o segundo rapel. Com uma corda de 60 m da pra chegar até a base. Depois, descemos pela trilha que sai na parte do entalamento. Ali, montamos o terceiro e último rapel. Com corda de 60 também vai direto.

Depois, é só descer pela trilha. A descida também é puxada, molhado então, vira um sabão rsrs. Chegamos no final da trilha as17:23.

Depois, fomos andando até o Paraíso das Plantas onde encontramos a Monique. Batemos umas fotos e encerramos a nossa expedição.

** Enquanto eu estava nessa base do cabo de aço esperando o Marcos chegar, meu telefone toca. Era a Monique Zajdenwerg falando que ia fazer o Cabeça de Peixe e que estava passando pela entrada do PARNASO. Até aí beleza. O negócio é que a trilha que vai pro Cabeça de Peixe é extremamente puxada. Ela disse que ia chegar lá no cume pra ver a gente no cume do Dedo de Nossa Senhora. Na hora eu não entendi nada, mas tudo bem rsrs. Ainda falei que tiraria fotos dela rsrs.

Talvez ninguém acredite, pois se eu não tivesse visto eu também não acreditaria. Quando a gente chegou no cume do Dedo de Nossa Senhora, uns 10 min depois a Monique aparece no cume do Cabeça de Peixe rsrs. Ela deve ter aberto algum portal misterioso no início da trilha que teletrasnportou ela lá pro cume.

Na volta foi a mesma coisa. A gente começou a descer praticamente juntos e ela chegou muito antes da gente. Ainda tirou onda perguntando se queria que ela esperasse a gente lá no final da trilha ou no Paraíso das Plantas rsrs.










segunda-feira, 29 de junho de 2015

Livros que ando lendo: A Expedição Kon-Tiki

Por Leandro do Carmo



Título: A Expedição Kon-Tiki
Autor: Thor Heyerdahl

Sinopse: Tudo começou com uma pergunta: como os povos antigos se locomoviam pelo planeta? Quando uma jangada semelhante às embarcações pré-históricas deixou as costas do Peru em 1947, o norueguês Thor Heyerdahl (1914-2002) e seus cinco companheiros – mesmo sem nenhuma experiência em navegação – tinham uma única certeza: só o sucesso da travessia explicaria as relações entre a América e a Polinésia. Em "A expedição Kon-Tiki" – 8.000 km numa jangada através do pacífico, Thor relata sua experiência e cria uma obra-prima de reconstituição pré-histórica.

Comentário Pessoal: Um bom livro. Passar 101 dias a bordo de uma jangada não deve ser nada fácil. Mas para comprovar sua teoria, tudo era preciso. A narrativa final, com a visão das ilhas, é a melhor parte do livro. Valeu a leitura!

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Escalada na Agulha Guarischi

Por Leandro do Carmo 

Local: Itacoatiara
Data: 11/04/2015
Participantes: Leandro do Carmo e Stephanie Maia


O outono havia chegado. A temperatura ficou muito mais amena do que há 1 mês atrás... Já estava na hora de voltar a fazer algumas vias mais longas... E para começar a temporada, nada melhor do que a melhor escalada, na minha opinião, da cidade: Agulha Guarischi. Na verdade escalar a Agulha Guarischi, é fazer um mix de 3 vias: Paredão Zezão (completa) e partes da Sudoeste da Agulha Guarischi e Paredão Eldorado. (Clique aqui para mais detalhes).

Arrumar parceiro para essa via é a coisa mais simples... Na verdade, já estou devendo a guiada lá a um monte de gente!!! E foi em uma das reuniões sociais do clube que fechei com a Stephanie. Marcamos cedo. Apesar da temperatura agradável que vinha fazendo, diferente do calor dos meses anteriores, não queria ter problemas com o sol. Pedi autorização para entrar antes da abertura do Parque e, por volta das 07:15, entramos na trilha.
Acho que levamos algo em torno de 30 minutos para chegar à base da via. Lá nos equipamos e comecei a guiar. Costurei aquele grampo colocado recentemente e fui direto para o segundo, deixando o antigo de fora. Entre esses grampos está o lance o melhor e mais chato da via. E como pode ser chato e bom ao mesmo tempo? Só que escalada entende... Passado esse lance, segui escalando.
Mais alguns grampos costurados e estava na primeira parada... Aquele confortável platô. A Stephanie veio logo em seguida e iniciei a segunda enfiada. Aquela variante que proporciona menos arrasto na corda é bem legal... Segui subindo e parei no grampo abaixo do bico de pedra. A Stephanie escalou e pedi para ela parar no grampo de baixo, assim já saía com um grampo costurado.
A próxima enfiada, na minha opinião, é a mais bonita da via. Fui bem colado na aresta, onde rende um belo visual. Escalei bem devagar, só para curtir a vista. O sol já estava saindo e fica na direção da cara. Ainda bem que os lances são tranquilos. Montei a parada numa pequena árvore, naquela matinha do “pescoço da tartaruga”. Dali, dei segurança para a Stephanie, que chegou logo em seguida. Pegamos o equipamento e fomos para a base da próxima enfiada, onde bebemos água e comemos alguma coisa.
Recebi a ligação do Formiga, achando que eu estava na Emil Mesquista. Falei pra ele que estava na Agulha Guarischi e que em breve ele iria me ver. Quem estava na Emil Mesquita, era o Tauan e o Roberto. Primeiro achei que ele estava na cordada da Novos Horizontes, mas depois ao encontra-lo, me disse que estava na Chang Wei. Foi muito bom saber que o Formiga estava de volta as escaladas, depois do acidente que teve nas Torres de Bonsucesso, onde um bloco se soltou, enquanto escalada, o que ocasionou uma fratura exposta no braço, tendo levado 14 horas para efetuar a descida... Tenso!!!! Esse encontro, mesmo que a distância, resultou nessa foto aí...
Estávamos seguindo bem. Terminaríamos rápido a via. Segui escalando até a próxima parada, em um confortável platô, onde montei a parada. O dia estava bem agradável. Perfeito para escalar. Fui para a próxima e passei por aquelas veias de pedra. Formações muito bonitas. Montei a parada no grampo abaixo de uma dupla que tem a esquerda e a Stephanie veio.
Na parada, perguntei se a Stephanie gostaria de guiar esse último lance. Dei uma força e ela teve o prazer de chegar ao cume sem ninguém por perto! Existem lugares que trazem paz... Mas ali, é muito mais que isso. Sentir o vento batendo em seu rosto... O sol esquentando o seu corpo... E toda aquela vista que temos... Bom, podem até achar besteira passar por tudo o que passamos para chegar ao cume... Mas só quem esteve lá, poderá entender o que estou falando!
Ainda batemos algumas fotos antes de enfrentar os inúmeros rapéis...

Está decretada a abertura da temporada! Mais uma missão cumprida.









segunda-feira, 22 de junho de 2015

Vídeo: Escalada ao Nariz do Frade - Parque Nacional da Serra dos Órgãos

Por Leandro do Carmo

Vídeo da escalada ao Nariz do Frade e sua Verruga, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos - RJ.

Para acessar o relato clique aqui.

Vídeo em HD






quarta-feira, 17 de junho de 2015

Travessia Marins X Itaguaré

Por Rana Montanha

Sempre ouvi falar da tamanha dificuldade da travessia da Serra Fina, que devido à falta de água e ao grande desvio de altitude, era uma das trilhas mais exigentes do Brasil. Quando mais de uma pessoa virou e disse que a travessia Marins-Itaguaré era mais difícil me surpreendi, tinha de conferir. A começar por uma delas então.
Tudo se inicia com o convite da AndreÍna para esta missão organizada pela Keila, no feriado de Tiradentes. Eu e Sandro nos juntamos ao grupo quase fechado e demos início à preparação, afinal a temporada estava apenas começando e estávamos fora de forma. Fizemos algumas trilhas mais ou menos puxadas nas semanas anteriores e aumentamos o consumo de água em 50%, pois segundo relatos de pessoas que já haviam feito a travessia, a falta de água era o maior problema.
Na sexta-feira, dia 17 de Abril, partimos para Penedo afim de pernoitar lá e estarmos na base do Marins às 7h da manhã seguinte. Éramos 4: eu, Sandro e os marinheiros Davi e Silveira. Chegamos em Penedo às 23h e fomos tomar banho (the last) e dormir.

1º Dia (18/04/15): Penedo - Base do Marins - Pico dos Marins

Acordamos e às 4h30 estávamos na estrada. Tomamos café no Graal e assistimos o sol nascer na estrada Lorena-Itajubá. Keila nos havia passado todas as indicações bonitinho até a base, havia dois caminhos: um mais longo que ia por uma estrada de terra bem social, e outra mais rápida, por uma estrada de terra terrível que só passava 4x4. Ao entrarmos em Piquete vimos uma convidativa placa com os dizeres “Pico dos Marins”, nos empolgamos e entramos nela felizes. Adivinha qual caminho fomos? Sim, o pior. Nosso carro era 4x4? Nãããão...., mas o piloto era!
A estrada era lindíssima e perigosa, víamos o Pico dos Marins e outro todo charmoso ao lado, ambos recebendo os primeiros raios de sol. Mas a atenção não podia ser desviada, afinal estávamos à beira de um abismo e a cerca de arame farpado não parecia que fosse segurar o carro nas curvas. O carro ia sofrendo na estrada, mas seguia em frente. Até o crux: uma subida íngreme que era necessária tração em ambas as rodas. Sandro tentou uma, duas, três vezes e nada. Saímos do carro com as cargueiras, novas tentativas e nada. O tempo ia passando, demoramos uma meia hora ali. Desceram dois montanhistas na estrada dizendo que era impossível passar naquele trecho, que até 4x4 sofria, e que a melhor opção era dar meia volta, retornar tudo, e seguir pelo outro caminho. Íamos demorar 1h30 com isso, mas não tínhamos escolha... Quem disse?? Sandro parecia ter se dado por derrotado e deu meia volta no carro. Quando nos dirigíamos até o carro para entrar Sandro grita: “Sai de trás!”. Engata e ré sobe a toda velocidade de costas. Ninguém acreditou quando ele mandou o lance sem a menor dificuldade... foi realmente algo inesquecível! A expressão de satisfação do Sandro era impagável, sabia que não ia desistir.

Entramos no carro e seguimos nosso caminho. Passamos pela tão esperada imagem de Nossa Senhora e às 7h30 chegamos na base dos Marins.
Foto de início da trilha / Galera perdida nas nuvens
A galera já estava terminando de se aprontar. Ao todo éramos 12 guerreiros: Keila, Serginho Xpada, Gisele, Matheus, Leandro, Andreína, Ivan Diesel, Emerson, Sandro, Davi, Silveira e eu. Tiramos foto e partimos às 8h.
O início da trilha é bem tranqüilo, no final dela subimos por uma estradinha até o morro do Careca, que tinha um visual espetacular. De lá nós víamos nosso destino do dia, o Pico dos Marins, e o Marinzinho, ambos parcialmente entre nuvens. No final da estrada havia duas trilhas, pegamos a da esquerda e seguimos até a bifurcação do último ponto de água do dia. Á direita era o caminho a ser seguido, a da esquerda nos levava até outra bifurcação em que pegando a direita levava até um pequeno riacho. Enchemos as garrafas e voltamos para seguir até nosso objetivo. A partir deste o ponto a subida não acabava mais, era um costão sem fim, quase uma Isabeloca (Petrô-Terê). As nuvens chegaram com vontade e junto com elas o vento gelado. O visual era zero, a temperatura caía, o que nos ajudava a economizar na água e nos impedia de ficar muito tempo parado, o que acelerava a subida. Subimos e contornamos o morro pela esquerda. Era necessária muita atenção para não errar o caminho, sempre havia algum totem indicando ou uma discreta seta amarela na rocha. Havia pontos que tanta gente errava que começava a se abrir outra trilha que não dava em lugar nenhum, o GPS nos foi muito útil.
Era um trepa-pedra interminável, alguns só se acreditava que dava para passar depois que passava. Encontramos um casal de idosos no meio da subida que nos deixaram impressionados com tamanha vitalidade. Passamos por um lance de escalada em uma fenda de dez metros que demorei a crer que o caminho realmente era por ali.
Chegamos ao ponto de bifurcação entre o caminho de quem segue para a travessia (em frente) e outro que ia para o Marins (à direita). Um grupo de 10 pessoas passou por nós com mochilas de ataque, iam fazer a travessia em um dia. E nós tocamos em direção aos Marins.
Então passamos pela parte mais confusa da travessia. Havia muita nuvem e haviam totens para todos os lados. Conseguimos nos encontrar com a ajuda do GPS, passamos por um charco e paramos para almoçar num chapadão bem social, eram 13h. Em seguida chegamos ao acampamento um pouco antes do costão final até o cume. Alguns resolveram acampar por lá, mas a maioria seguiu e chegamos ao cume às 14h, com as nuvens aos poucos se tornando menos densas.
A área de camping era abrigada do vento, montamos as barracas e descansamos um pouco. Aos poucos chegavam cada vez mais gente, fomos explorar o cume e assistir ao pôr-do-sol. Davi, Silveira, Serginho e Gisele que haviam acampado lá embaixo, nos encontraram no cume. Nesta hora as nuvens se dissiparam, o vento deu uma trégua, limpou tudo. As montanhas se exibiram para nós, enchendo nossos olhos e as câmeras fotográficas de beleza. O sol se foi gracioso, deixando um tom alaranjado em um dos pontos mais altos de São Paulo*, até a escuridão enfim tomar conta.
O cume estava lotado, havia montanhistas que apreciavam a natureza e não-montanhistas que puxava fumo, falavam alto e colocavam música alta. Fizemos nosso jantar com direito a feijoada, estrogonofe com purê de batata liofilizado que estava com uma cara ótima. Em meio às conversas surgiu a história do temido Corpo Seco, um ser (ninguém explicou direito o que era) que sugava a alma dos montanhistas desavisados (é isso mesmo?? Rsrs).

Fomos dormir às 20h, a noite estava estrelada e o dia seguinte prometia ser lindo.
*A título de curiosidade, o Pico do Marins (2420 m) é considerado o pico mais alto de São Paulo a estar inteiramente dentro do território de São Paulo. Picos próximos como a Pedra da Mina (2798 m) e o Marinzinho (2432 m) são maiores, porém fazem divisa entre São Paulo e Minas (fonte: http:/ /pt.wikipedia .org/wiki/ Pico_dos_ Marins). Alguns consideram o Pico do Marinzinho como um setor do Pico do Marins, nomeando este último como o segundo ponto mais alto de São Paulo. Sejamos francos? Pontos altos de São Paulo: Pedra da Mina > Pico do Marinzinho > Pico dos Marins. O terceiro lugar não vai diminuir sua beleza.

2º Dia (19/04/15): Pico dos Marins - Acampamento antes do Itaguaré

A promessa foi cumprida, o dia amanheceu lindo. Acordamos 5h30 para ver o famoso nascer do sol do cume dos Marins. Davi subiu sozinho no cume para ver o espetáculo conosco. O sul surgiu tão gracioso quanto se foi, uma bola laranja, bem ao lado do Pico do Itaguaré, nosso destino na travessia. O tempo estava ótimo, com poucas nuvens, conseguimos avistar a Pedra Redonda, Marinzinho, Serra Fina...
Tomamos nosso café ao calor do sol com direito a um cafezinho de montanha delicioso, não ventava. Começamos a descida do cume às 7h30, Ivan Diesel estava sentido uma torção no pé e estava duvidoso se ia continuar a travessia, o que foi rapidamente esquecido depois do sangue esquentar. Na verdade sua disposição em caminhar era muito maior que a minha, por exemplo, rsrs. Enquanto descia o cume eu me perguntava quão delicioso seria descer aquele costão na chuva...
Encontramos com o pessoal que acampou embaixo e seguimos nosso caminho. Um pouco depois nos abastecemos de água em um rio escondido (um pouco acima do local aonde tinha a placa da existência de coliformes fecais), e com a as mochilas pesadas começamos a subida do Marinzinho, que de ‘zinho’ não tinha nada. Passamos por um charco que era necessário muita criatividade e fé para não afundar até o joelho, muitos não tiveram essa sorte... Nesta hora eu agradeci a Deus por ter comprado um bota impermeável alguns dias antes da viagem. Ótima aquisição.
Para a subida do Marinzinho era necessário ter mãos livres e firmes, qualquer queda faria um belo estrago. A pedra era bem aderente e afiada, todos ficaram com cortes nas mãos. O tempo estava ótimo e o visual era belíssimo, o que atrapalhou a subida de seu Emerson que não sabia se segurava na rocha ou pegava a câmera para bater foto rsrsrs... No topo do Marinzinho passamos pelo caminho que ia para o abrigo do Maeda, e seguimos em frente até a descida por corda fixa. Descemos, subimos, nos perdemos, nos achamos e finalmente chegamos na Pedra Redonda (que não é Redonda!!), aonde paramos para almoçar. As nuvens finalmente nos alcançaram e chuviscou por dois minutos, para depois o sol voltar com força total. Passamos por vários campos de capim maiores que nós, que era ótimo para se desorientar, mas o Serginho que ia na frente parecia que farejava o caminho. Um grupo que fazia a travessia no sentido oposto passou por nós surgindo do nada entre o capim gigante.
Chegou um momento em que entrei em uma espécie de transe devido ao cansaço e confesso que não me lembro de muita coisa, só de quão belo era o lugar. O sol estava forte, lembro que passei o protetor e isso me pareceu que atraiu a chuva, que começou a cair 5 minutos antes de chegarmos a uma área de acampamento grande o suficiente para nossas 6 barracas. Eram 16h, foi necessário um verdadeiro trabalho em equipe para montarmos as barracas sem molhar por dentro. Entramos nelas e ficamos conversando e ouvindo as piadas da Andreína, que cada vez ia se superando mais rsrsrs. In de pen dance Day?? Tá de sacanagem... a melhor!
Lá pelas 18h a chuva deu uma trégua, foi o tempo certo de prepararmos a janta, tão boa quanto à da noite anterior, com direito a arroz com caldo de galinha! Enquanto cozinhávamos, víamos a silhueta do poderoso Itaguaré em meio aos relâmpagos; estávamos sozinhos na montanha, sentimento maravilhoso. Nossa única preocupação era com a água que acabava e com as luzes que piscavam no meio do mato, o Corpo Seco nos observando...
Quando a chuva recomeçou percebemos o quão camarada São Pedro estava sendo. Nosso problema era a falta de água, ele manda chuva. Eu e Sandro colocamos a panela e o prato na calha da barraca e conseguimos captar 2 litros de água, problema resolvido. Fomos dormir às 21h e apaguei até o dia seguinte.

3º Dia (20/04/15): Acampamento - Pico do Itaguaré - Final da travessia

Acordamos às 6h, o céu estava limpo e as poucas nuvens estavam avermelhadas pela aurora. O Itaguaré nos observava todo charmoso, esperando nossa visita. Tomamos café e levantamos acampamento, às 8h já estávamos caminhando.
Não me recordo de quantas vezes tivemos que retirar as mochilas das costas para passar nos lugares apertados do caminho. Chegamos à base do Itaguaré às 9h30, deixamos as cargueiras por lá e atingimos o cume. O Itaguaré estava em meio às nuvens, e com seus 2307 m de altura, reinava soberano em seu entorno. Seus paredões e abismos me lembravam as Prateleiras, no PNI. Confesso que estava meio apavorada com a altura, diferente do Silveira que resolveu se pendurar na beirada do abismo para uma foto que não ficou tão boa assim... foi mal rsrsrs. As nuvens às vezes se retiravam, nos possibilitando a ver todo o percurso da travessia. Leandro resolveu explorar o cume e acabou encontrando um tesouro de um jogo internacional de caça ao tesouro (é isso??), em que se você retirar o “tesouro”, deve deixar outro no lugar.
Cume do Itaguaré
O Itaguaré para mim se resumiu em duas palavras: medo e fascínio. Em alguns pontos, qualquer escorregão resultaria na mais bela morte que um montanhista pode ter.
Descemos do cume e prosseguimos nossa caminhada. Passamos pelo tão esperado ponto de água e por áreas de acampamento belíssimas. A vontade era de ficar por ali, meditando em meio ao silêncio das montanhas, mas tínhamos de continuar.
Uma descida íngreme resultou em vários escorregões e nos vídeos mais engraçados da travessia rsrsrsrs. Encontramos um grupo de conhecidos da Keila que faziam a travessia no sentido oposto. A partir deste ponto a descida foi uma trilha na floresta, que massacravam os joelhos. Tempos depois naquela descida eu estava no já conhecido transe, só despertado pelo surgimento de um oásis: um rio caudaloso. Depois de 2 dias sem tomar banho, aquele foi um dos mergulhos de rio mais gostosos que já dei, renovou a alma.
Chegamos ao final da trilha às 13h, a Kombi do resgate já no local. Enquanto voltávamos para a base dos Marins, caiu uma chuva de serra gostosa. A região era muito tranqüila e bucólica, passamos por várias plantações de tomate que tivemos o prazer de experimentar alguns. Ao chegarmos na base, o almoço estava nos esperando, uma delícia, com direito a uma cervejinha para brindar a aventura.
De barriga cheia, nos despedimos dos companheiros de aventura e perrengue e pegamos o caminho, agora o certo, até a Dutra. Seguimos então para o Rio de Janeiro, para nossas preocupações bobas e cotidianas, que nos motiva a sempre buscar refúgio nas montanhas.
Valeu galera, foi uma viagem maravilhosa! Adorei conhecer esse lugar incrível, estar nas montanhas e com pessoas super alto astral! Partiu para próxima! BTBW!
Da esquerda para direita: Marinzinho, Pedra Redonda, Itaguaré, galera BTBW!

Mais um cume

Chegando...

Na van

Descendo o Marinzinho

Descida do Itaguaré

Pedra Redonda ao fundo

Pedra Redonda

Pico do Itaguaré

BTBW no Pico do Marins

Pico do Marinzinho