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quarta-feira, 26 de junho de 2019

Travessia da Serra Fina - 3 Dias

Por Leandro do Carmo

Travessia da Serra Fina - 3 Dias

Local: Serra Fina
Dia: 19/04/2019 a 21/04/2019
Participantes: Leandro do Carmo, Marcelo Correa, Marcos Lima, Samantha Rocha, Stephanie Maia, Rafael Raria, Blanco P. Blanco, Vander Silva, José Antônio e Flávia Figueiredo


Vídeo da Travessia Serra Fina - 3 Dias





Serra Fina

Relato

Fazer a Serra Fina em três dias passou a ser uma questão de honra. Em 2018, nesse mesmo período, tentei fazer a travessia, também em 3 dias, mas pegamos um tempo bem ruim e resolvemos voltar do Capim Amarelo. Mas dessa vez foi diferente. Pegamos 3 dias fantásticos. Sem nenhuma nuvem no céu! Estávamos com um grupo de 10 pessoas e todas concluíram a travessia.

Tudo começou com o Vander lançando o desafio, isso com alguns meses de antecedência... Criamos um grupo no WhatsApp e ao longo dos meses, alguns entraram e alguns saíram... No final das contas, fechamos o grupo com 10. Foram muitas trocas de mensagens e até reunião presencial para acertar os detalhes. Depois de idas e vindas fechamos o seguinte:

Dia 18: Chegada ao Hostel Picus
Dia 19: Saída do Hostel as 3h e início da travessia as 5h
Dia 21: Término da Travessia e volta


Partiríamos para fazer em três dias, com o primeiro pernoite na base da Pedra da Mina e o segundo, na base do Pico dos Três Estados. Assim nos organizamos. Arrumar a mochila e escolher o que levar, sempre foi o maior desafio. Ainda mais para a Serra Fina, qualquer coisa a mais, significaria mais peso para carregar. Mas dessa vez, optei por não levar nada extra, nem comida, nem roupa. Era tudo para uso e pronto. Aproveitamos também para organizarmos a divisão das barracas, afinal de contas não seria necessário cada um levar sua barraca... Eu dividiria com o Blanco, no caso, ele levaria a barraca e eu levaria o fogareiro e panelas.

Os dias foram passando faltando 1 semana, já dava para conferir a previsão do tempo. Pelas fotos de satélite, já dava para ver que teríamos tempo bom. Faltando dois dias, a previsão era a melhor possível. Não havia possibilidade de chuva.

Enfim, havia chegado o dia. Partimos em direção ao HostelPicus na quinta feira, por volta das 14:00. Ainda pegamos um pouco de trânsito na Linha Vermelha, mas no geral a viagem foi tranquila. Chegamos ao HostelPicus e fomos muito bem recebidos pela Tatá e pelo Felipe. Depois de um bom descanso, preparei minha janta e fui dormir, afinal de contas o dia seguinte seria longo...

Nossa previsão de saída era as 3 horas da manhã, com previsão de início da travessia as 5h. As duas, todos estavam de pé e fomos tomar um belo café da manhã. Todos prontos, era esperar nosso transporte. Veio uma informação meio desencontrada de que o transporte que nos levaria, havia acabado de sair para levar outro grupo... Pensei: “Pronto, agora toda a logística que havíamos pensado foi pelo ralo...” Isso me desanimou, deitei num crashpad e tirei um cochilo. Mas na hora combinada, a Kombi chegou. Graças a Deus!!!!!!!!

Já no caminho para Passa Quatro, olhei pela janela e o tempo continuava ótimo, nem sinal de nuvens. Seria a travessia perfeita!

Relato do 1º Dia da Travessia Serra Fina

Chegamos ao Refúgio Serra Fina por volta das 5 h, o horário na qual havíamos combinado. Nos preparamos e posamos para a foto oficial de partida! As 5:15h iniciamos a caminhada. Estava escuro e o caminho estava bem aberto. Estava bem mais limpo que da última vez. Na bifurcação, pegamos o caminho da esquerda até chegarmos à Toca do Lobo. Grupo unido. Ali começava o desafio.

Serra Fina
Atravessamos o rio e iniciamos a subida. Para mim, o início é mais difícil, o corpo ainda está se adaptando. Então comecei mais lento até estar bem aquecido. Logo que saímos da parte fechada, entramos na crista e já dava para ver uma cidade bem iluminada ao fundo. A lua estava um espetáculo. Passamos por alguns grupos o local conhecido como Quartzito, captamos água para o dia. Nessa nossa logística de fazer a travessia em 3 dias, terminaríamos o primeiro dia com água. Aproveitei para tomar bastante água, o que me deixaria um pouco mais confortável em carregar menos, o que equivale a menos peso também... No local encontramos alguns amigos. Muito bom ver o astral da galera!

Com as garrafas abastecidas, reiniciamos a subida. Nosso primeiro objetivo do dia era o Capim Amarelo. Mais acima o primeiro cume relevante e um dos trechos mais bonitos de toda a travessia. Aquela crista é algo fantástico! Não dava para continuar sem uma foto, na verdade, sem várias fotos... Na última vez que tentamos fazer a travessia, as condições do clima estavam tão adversas, que nesse ponto já foi difícil... Era muito vento e chuva. Mas hoje, o dia estava espetacular. A lua quase se escondendo deu um espetáculo a parte.

Serra Fina
Dali, continuamos nossa subida. Após a crista, mais uma subida. Já no alto, fizemos uma pausa para o lanche, contamos algumas histórias e seguimos caminhando. Mais acima, o trecho mais difícil dessa primeira parte. Uma sequência forte de subida, onde existem algumas escadas de corda e madeira e algumas cordas fixas. Sem elas, ficaria difícil. Tinha muita lama. Vencido o trecho, alguns bem expostos, cheguei ao cume do Capim Amarelo. Fiz num tempo excelente. Aos poucos todos foram chegando e finalmente estávamos todos reunidos. Assinei o livro de cume e ainda dei uma volta pelos pontos, relembrando as últimas vezes que estive lá, isso em 2015 e 2018.

Serra Fina
Depois de um lanche reforçado e várias fotos, era hora de seguir caminhando. Afinal de contas, ainda tínhamos muito caminho pela frente. Começamos a descer o Capim Amarelo e acabamos pegando um caminho errado, apesar de estar bem marcado. Percebi uma descida bem íngreme e exposta. Quando conferi o GPS, vi que estávamos bem fora do traçado. Demos meia volta e seguimos até o caminho correto. De volta ao traçado normal, continuamos a descida. Caminhamos por trechos bem fechados. Como é início da temporada, havia muita vegetação nas bordas da trilha, em certos pontos se enroscavam na mochila. A descida foi dura e chegar ao Maracanã, um grande ponto de acampamento, foi um alívio. O sol estava forte e fizemos mais uma parada longa. Foi difícil conseguir uma sombra. Mas todos se ajeitaram. Fiz minha conta para a água. A partir desse ponto, pegaríamos algumas subidas fortes.

Serra Fina
Já era hora de andar. Pegamos as mochilas e pé na trilha! Passamos por um ponto onde dizer haver água, um pouco depois do Maracanã e antes de uma subida. Dali fomos devagar até vencer essa subida. O sol continuava castigando. Uma parte do grupo adiantou e outra ficou um pouco mais para trás. Dali, podíamos ver o quanto a descida do Capim Amarelo é forte. Mas não tínhamos muito tempo para olhar para trás, tínhamos que seguir em frente. Com um pouco mais de subida chegávamos ao Melano e uma sequências de cristas e cumes. Nesse ponto o grupo separou de vez. As fortes subidas foram cobrando seu preço individualmente. Não fazia sentido todos ficarem juntos. Assim como na primeira vez que fiz a Serra Fina, o grupo mais rápido foi à frente, para poder arrumar um bom lugar para montar as barracas.  Acabei ficando no meio. Assim acompanhava os dois grupos de longe. Desse ponto, conseguia ver a Cachoeira Vermelha, parecia que era logo ali... Mas enganava.

Depois de vencidas as cristas, vem um pequeno charco, onde passei com certa dificuldade, pois não queria afundar na lama... Nesse ponto encontrei com o Antônio e paramos num lajeado até poder juntar o grupo que vinha atrás. Demoraram um pouco. Olhei para a minha garrafa de água e só tinha mais um gole. Assim que eles chegaram, perguntei para o Antônio se ele poderia ficar para o apoio, queria adiantar, visto que minha água acabara.

Serra FinaColoquei meu último gole de água na boca e comecei a dar. Parecia que era só contornar mais um morro e logo estaria lá... Mas não foi tão fácil assim. Estava sozinho  e pude apertar o passo. Dali até o acampamento foram alguns longos minutos. Quando Cheguei, já tinha parte do acampamento montado. Poucos espaços disponíveis. O local onde resolvemos acampar não era dos melhores, mas pela quantidade de gente que estava na frente, era melhor ficar ali. Pelo menos tinha água. Deixei a mochila e fui logo pegar água. Lá aproveitei para tomar um “meio banho”. Voltando ao local do acampamento, descansei um pouco antes de organizar as coisas.

Aos poucos, todos foram chegando. O local não era dos melhores, mas tínhamos o receio de avançar e não encontrar local disponível. O tempo foi passando e não parava de chegar gente. Não tinha mais espaço vazio. Os que chegavam, olhavam e continuavam a caminhada. Preparei minha janta e dividi com o Rafael. A noite foi chegando e com ela o frio. A lua apareceu triunfante por de trás da Pedra da Mina. Ainda ficamos conversando um pouco, até que o cansaço bateu com força. O primeiro dia bem mais longo cobra seu preço. Fomos dormir cedo e acertamos de sair às 7h da manhã.

Relato do 2º Dia da Travessia Serra Fina


Serra Fina
Eram 5:30 e despertador tocou. A noite foi fria... O termômetro marcava -1,8°C. Ainda fiquei uns 15 minutos curtindo uma preguiça. O movimento nas outras barracas já havia começado. Saí da barraca, pois havia muita coisa para arrumar. Fui em cada barraca, avisando do horário. Quando olhei a caneca que havia deixado do lado de fora, percebi que a água havia congelado. Agora tinha certeza do frio que havia feito. Na barraca do Marcelo, ficou uma leve camada de gelo. Embaixo da minha também. O punho dos bastões de caminhada do Vander estavam congelados. A manhã estava linda. Completamente aberta e sem nuvens, esse era o motivo de tanto frio.

Preparei um café e comi algo. Já um pouco mais aquecido, fui organizar minha mochila. Deixei tudo pronto. Deixei para pegar água no próximo ponto, onde atravessaríamos o rio. Saímos quase no horário, eram 7h30min. Já conseguíamos ver algumas pessoas subindo a Pedra da Mina. Comecei a caminhada ainda sonolento e de lá seguimos subindo um pouco até descer em direção à travessia do rio. Cruzamo-lo e passamos por uma boa área de acampamento, a que eu previa parar... Dali, andamos mais um pouco e iniciamos a subida da Pedra da Mina.

Serra Fina
Fazer esse trecho descansado faz a diferença. Rapidamente chegamos aos grandes totens que antecedem o cume. A vista estava surpreendente. Na vez que fui, estava muito fechado e não tinha ideia de como era. Passei pelo livro de cume deixei meu nome no 4º ponto mais alto do país.  Dali, pude ter uma noção de onde havia acampado da última vez. Haviam algumas barracas mais embaixo e um grupo voltando pela trilha do Paiolinho. Fizemos nossa primeira parada. A vista estava fantástica. O vento soprava forte, coloquei o anorak e sentei para comer alguma coisa. A vista do vale do Ruah era impressionante. Na verdade, tudo era impressionante. Fizemos algumas fotos e começamos a nos preparar para a descida.

Iniciamos a descida pelo lado oposto ao que chegamos. Existem alguns totens pelo caminho. É uma descida por um misto de laje e pedras soltas. Lá pela metade do caminho, eu e o Marcelo acompanhamos dois grupos que atravessavam o primeiro trecho do Vale do Ruah. Nossa ideia era tentar fazer o caminho menos molhado... Pegamos algumas referências e continuamos descendo. Já na base, esperamos o grupo se reunir novamente. Com todos juntos, começamos a andar. O Vale do Ruah é um imenso charco, com grandes tufos de capim de anta. É cortado por diversos córregos e se unem, formando o leito do Rio Claro.

Serra Fina
O trecho inicial é o mais molhado do caminho. Pensei que estivesse pior, mas foi relativamente tranquilo passar. Rapidamente cruzamos o charco e passamos a caminhar a margem do Rio Claro. Mais a frente, fizemos nossa segunda parada do dia. Ali deveríamos pegar água para resto do dia e para o dia seguinte. Fiz mais um lanche reforçado e bebi o quanto pude de água. Assim, daria para beber menos água durante o dia, o que resultaria em menos peso para carregar. Reiniciamos a caminhada e continuamos na margem do rio. Mais a frente, começamos a subir. Nesse ponto, demos adeus a água... Só teríamos água, já na parte final da descida do dia seguinte...

Começamos a subir novamente e já no cume do primeiro morro, fizemos uma rápida parada. Dali, seguimos para um sobe e desce, já vendo parte do nosso destino à esquerda. Cruzamos uma sequência de cristas num interminável sobe e desce, até chegar ao nosso local de acampamento do dia. Logo na entrada do bambuzal, arrumamos um local bem amplo, onde daria para armar todas as barracas. Deixei a mochila e andei um pouco até ver se teria outro local, mas já estava tudo ocupado. Descansei um pouco. Havíamos chegado bem, era 14:30 e já estávamos com acampamento armado. Aos poucos todos foram chegando.

Todas as barracas foram bem acomodadas. Era hora de comer alguma coisa. Preparei um café que desceu redondamente bem. Aproveitei os últimos minutos de sol e subi um pouco até onde ele ainda batia. Já estava fazendo um frio e logo desci para o acampamento. Preparei minha janta. Ainda estava claro. Foi arrumar um local para descansar e esperar o tempo passar. Ficamos batendo um papo super agradável até a noite chegar com força. Decidimos a hora de sair e fui para a barraca descansar.

Relato do 3º Dia da Travessia Serra Fina

Acordei as 4h45min. Ainda estava bem escuro. A noite foi fria, mas não tanto quanto a anterior. O termômetro marcava 4,2°C. Preparei um café para despertar e fui de barraca em barraca acordando o pessoal. Acho que todos já tinham acordado, mas não tinham saído das barracas. O Dia foi clareando. Uma pena não poder ver o sol nascer. De onde estávamos, não conseguíamos ver nada. As 6h30min, estávamos todos prontos e começamos a caminhar rumo ao nosso primeiro objetivo do dia: o Pico dos Três Estados.

Serra Fina
Logo de cara, pegamos uma forte subida com alguns trechos bem molhados. Todo cuidado era pouco. No dia anterior, vi uma pessoa caindo, justamente nesse trecho. Com bastante cuidado, subimos e seguimos andando. Fizemos uma pequena pausa para o complemento do café e de lá continuamos subindo. Passamos por um sobe e desce até chegarmos ao cume. Tinham várias barracas. Dificilmente conseguiríamos um local para dormir lá. Paramos para a tradicional foto no grande totem. Mais uma pausa merecida antes do ataque final ao Alto dos Ivos.

Depois do merecido descanso, iniciamos a descida e já podíamos ver o Bandeirante, com mais uma subida exposta. Passamos bem devagar e do alto, descemos até o colo entre o Bandeirante e o Alto dos Ivos. Dali, demos o ataque final à última subida da travessia. A subida foi dura e os dois dias de caminhada cobraram seu preço. Mas estávamos no final e isso deu um gás. Com alguns minutos de subida estávamos no Alto dos Ivos.

No Alto dos Ivos, fizemos mais uma parada. Comemos um pouco e conversando com algumas pessoas que faziam a travessia, conseguimos uma carona. Mas para isso, teríamos que acompanhar o ritmo deles... Propus-me a acompanhá-los. Dali em diante seria só descida. Nesse ponto, estávamos eu, a Samantha e o Marcelo. Começamos a descida num ritmo bom. Ainda passamos alguns grupos na descida e logo chegamos ao último ponto de água. Ali, foi só beber um pouco e deixar a garrafa pela metade... Já estávamos próximo ao nosso destino.

Continuamos a descida, agora por uma estradinha com muito mato em volta. Poucos minutos depois, estávamos no Sítio do Pierre. Dali continuamos descendo até chegar à ultima casa antes do asfalto. Quando olhei de longe, vi uma prateleira com algumas latas de cerveja, água e refrigerante. Não pensei duas vezes, me dá uma coca cola! Arrumamos uma carona até o Hostel Picus.



Serra Fina

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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Serra Fina, a difícil decisão de voltar!

Por Leandro do Carmo

Serra Fina, a difícil decisão de voltar!

Local: Serra Fina
Participantes: Leandro do Carmo, Blanco P Blanco, Vander Silva, Marcelo Correia, Guilherme Gregory, Rafael Faria e Gleisson Santos.

Serra Fina
Depois de dois anos retornaria à Serra Fina. Muitos consideram como a mais difícil do Brasil. Mas convenhamos que isso faz mais parte do folclore do que da realidade. Não estou querendo dizer que é fácil, mas também dizer que é a mais difícil... Para alguém afirmar isso, deve, pelo menos, ter feito todas as travessias possíveis... Não há parâmetro.

Com perfil altimétrico forte, pouca água, lugares inóspitos, apesar de já pegar celular em diversos pontos, passar boa parte do percurso acima dos 2.000 m, opção de acampar na Pedra da Mina, 4º ponto mais alto do Brasil, com 2.798 m, todos esses fatores dão um charme especial à travessia. Bom, mas vamos ao que interessa, afinal de contas, não adianta falar muito sobre ela se tivemos que abortar...

Havia feito a travessia em 4 dias, mas dessa vez o desafio seria completar em 3 dias. Mas para isso tínhamos que mudar um pouco o planejamento, optamos por fazer o primeiro pernoite na base da Pedra da Mina e o segundo pernoite, na base dos Três Estados. Isso impediria que acampássemos nos cumes, mas pelo menos dividiríamos melhor o percurso. Outra coisa que alteramos no nosso planejamento, foi ao invés de ir para Passa Quatro e, ao final, contratar o resgate e retornar, optamos por deixar o carro no Abrigo Picus e contratar o transfer até o início da travessia, assim terminaríamos junto ao abrigo.

Com o planejamento feito, fomos monitorando as condições do tempo. Foram, praticamente, duas semanas de tempo ótimo. Nada de chuva ou nuvens. Mas a medida que ia se aproximando da data, foi dando alguns sinais de piora. A previsão era de uma passagem rápida de uma frente fria, ocasionando ventos e chuvas isoladas.  A princípio nada que assustasse. Mas uma coisa me deixou preocupado. Apesar de prever tempo bom, os sites mostram a previsão para as cidades. Lá no alto, as condições são bem diferentes.

Nossa programação era sair na quinta feira, às 20:00h. Marcamos de nos encontrar na sede do Clube Niteroiense de Montanhismo.  Já chegando em casa, a Thaiana, do Abrigo Picus, me passou uma mensagem avisando que havia chovido na região. Recado dado...  Durante o dia, como a previsão havia informado, ventou bastante e o tempo virou. Avisei a galera do recado que havia recebido e falei que estava inclinado a desistir. Resolvemos decidir todos juntos.

Com todos na sede do clube, foi hora de avaliar o que tínhamos: previsão razoável para os próximos dias com baixa probabilidade de chuva; apesar da rápida chuva, o tempo estava aberto na região de Itatiaia; tempo fechado em Niterói; além disso, tínhamos a opinião da Thaiana, que conhece bem a região. Apesar de tudo, após muita conversa, resolvemos manter a programação. Seguimos para a Serra Fina.

Assim que saímos de Niterói, pegamos uma chuva. Mas o irmão do Marcelo, que estava em Itatiaia, avisou que o tempo estava firme e aberto. Então, tínhamos certeza do acerto da decisão. Seguimos direto até o Graal de Itatiaia, onde fizemos uma rápida parada. Dali fomos direto para o Abrigo Picus, onde fomos muito bem recebidos pelo Felipe. Jantamos uma excelente comida e seguimos direto para o início da trilha. A cochilada nas quase 2 horas até o caminho para a Toca do Lobo foi importante, afinal de contas, iríamos começar a caminhar “virados”.

A noite estava fria. O céu aberto e com bastante estrelas. Dois amigos meus haviam feito a travessia na semana anterior, a Li-Chang e o Roberto Mohamed, e eu só pensava nas a belas fotos que eles haviam postado. Iniciamos a caminhada às 5h da manhã. Ainda estava escuro, quando iniciamos o caminho até a Toca do Lobo, uns 1.200 m de caminhada. Ali, alguns pegaram água, outros deixaram para o Quartzito. Como já estava com uma garrafinha, deixei para pegar mais acima. Atravessamos o rio e, enfim, iniciamos a verdadeira caminhada.

Nessa primeira parte do dia, seria uma subida forte ou melhor: só subida forte! Até o cume do Capim Amarelo, teríamos um desnível de aproximadamente 1.000 metros. Fomos subindo e a medida que ganhávamos altitude, podíamos ver as luzes das cidades ao fundo. Porém, quando olhávamos para cima, em direção ao cume, percebíamos que estava fechado. Mas continuamos. Aos poucos foi clareando e dei uma parada no Quartzito para abastecer meus cantis. Dessa vez não precisaria de tanta água, pois nosso objetivo era acampar no próximo ponto de água, na base da Pera da Mina.

Com o tempo claro, já tinha certeza que o tempo estaria bem fechado, mas não tinha noção do que nos esperava. Passamos por duas barracas onde um cara falou que no dia anterior, havia pego um vento fortíssimo, por volta do meio dia, que os fizeram desistir. Esse mesmo vento chegou ao centro do Rio, por volta das 15h. As condições nesse ponto já não eram as melhores, mas como estava cedo, achamos que poderia melhorar e seguimos subindo.

Serra Fina
Fomos ganhando altitude e o tempo fechou de vez. Já não tínhamos visual. As nuvens estavam concentradas na região do maciço e a intensidade do vento foi aumentando.  Estávamos num bom ritmo. Até que começou a chover.  Uma chuva fina que por vezes aumentava. Como estávamos caminhando na linha de cumeada e só que foi sabe como é estreita, o vento vinha subindo pela escarpa da montanha, fazendo com que chuva literalmente “caía” de baixo para cima! O vento forte e a chuva potencializavam o frio e isso foi minando as minhas esperanças de concluir a travessia.

Como já havia feito, sabia do trecho bem escorregadio que havia acima, onde tem vários lances com corda fixa. Além disso, fica muita lama e com a chuva o perigo aumentaria. A subida foi dura. Minha mão já doía com o frio. Num dos pontos de acampamento, avisei que se não melhorasse, seria melhor desistirmos. Optamos por chegar ao cume do Capim Amarelo e de lá, avaliarmos. Mais acima chegaríamos no trecho mais forte do dia. Continuamos a subida e começamos a passar por trechos bem escorregadios.  A lama preta, característica daquele local, tornava a subida perigosa. Havia algumas cordas fixas. Algumas com degraus. Assim, subimos com atenção redobrada.

Serra FinaComo tínhamos que usar bastante as mãos, minha luva ficou encharcada e com isso o frio foi aumentando. Fui perdendo a sensibilidade nas mãos. Minha mão doía quando precisava segurar a corda para subir. Acelerei para tentar esquentar um pouco, mas o terreno íngreme e a mochila pesada me fazia diminuir o ritmo. Sem olhar muito pra cima, avançávamos lentamente.

Depois de muito penar nesse trecho, chegávamos ao cume do Capim Amarelo. Ao contrário da última vez que estive lá, dessa vez não havia ninguém no cume. O que não faltava era espaço. A chuva fina deu uma trégua, mas o vento ainda estava forte. Procuramos um lugar mais abrigado do vento. Minha mão estava dormente e não conseguia abrir o engate da mochila. Foi preciso pedir ajuda ao Vander para conseguir tirar a mochila. Tirei a luva molhada e comecei a aquecer as mãos. Aos poucos, a dor foi diminuindo e já conseguia manusear as coisas. Aproveitei para preparar um café e fazer um lanche.

Nos reunimos e foi e hora de decidir se continuávamos ou não. A decisão foi unânime. Devido as condições, era hora de voltar. É duro desistir, mas como sempre digo: a montanha sempre estará lá! Haveria possibilidade de voltar quando quisermos...  E começamos a descida... Passamos por aquele trecho delicado das cordas e descemos num ritmo bom. Já sem luva, minha mão não doía. Foi ficando mais fácil. Abaixo da linha das nuvens podíamos ver alguma coisa. Até dava a impressão de que o tempo estava melhorando, mas era só olhar para cima que tínhamos a certeza de nada havia mudado. Ao fundo, dava para ver uma forte chuva se aproximando, mas ela ainda estava longe.

Serra FinaEnfim havíamos chegado de volta à Toca do Lobo. Colocamos as mochilas no chão e descansamos um pouco. Agora teríamos a missão de conseguir voltar para o Abrigo Picus, afinal de contas, nossa logística era ter completado a travessia. Não tínhamos contato para voltar. Caminhamos até o Abrigo Serra Fina e tentamos um carro para nos levar, pelo menos até a rodoviária de Passa Quatro. Mas o que conseguimos foi um telefone de um cara que tem uma Kombi em Passa Quatro. Ligamos para ele, mas estava ocupado e passou o contato de um amigo. Conversando, ele até sabia em qual curva estávamos, pois era o único lugar onde pegava sinal de celular.

Serra Fina
Esperamos por mais um tempo. Preparei um café e fizemos um lanche rápido até que a Kombi chegou para nos levar de volta ao Abrigos Picus. O tempo estava aberto, mas no alto da serra, havia uma concentração de nuvens pesadas, daquelas com sinal de temporal. Aquelas nuvens diminuíram a minha sensação de derrota... Mas fui entendo que não havia sido derrotado. Ou melhor, não existe competição na montanha. Apenas adiamos nossa missão. Descer, foi mais a escolha mais prudente. A melhor escolha. Não se pode ir contra a força da natureza. Poderemos voltar em outra oportunidade, afinal de contas, a montanha sempre estará lá!


Serra Fina
Preparando um lanche no cume do Capim Amarelo

Serra Fina
Tempo bastante fechado

Na hora do resgate

Serra Fina
Na esperança do tempo melhorar

Serra Fina
O tempo ainda estava bom

Serra Fina
Rafael Faria

Serra Fina
Descansando...

Serra Fina
Voltando...

Serra Fina
Na Toca do Lobo

Serra Fina
Lanchando à beira da estrada

Serra Fina
Na hora da descida

Serra Fina
Descendo...

Serra Fina
Tempo ruim, mas nada de mau humor!

Serra Fina
Torcendo para melhorar

Marcelo Correia e Leandro do Carmo

Serra Fina

Serra Fina
Na crista, já voltado...

Serra Fina

Serra Fina
Chegada ao cume do Capim Amarelo

Serra Fina
Na Toca do Lobo

Serra Fina
Marcelo Correia e Blanco P. Blanco

Serra Fina
Pausa para o lanche

Serra Fina
Gleisson Santos

Serra Fina
Vista geral com as pesadas nuvens acima