Participantes: Leandro do Carmo, Marcelo Correa, Ary Carlos, Blanco Pinheiro e
Guilherme Gregory
Dicas para escalar a Agulha do Diabo
É uma atividade pesada. Só de caminhada de aproximação,
leva-se, em torno de 4 a 5 horas. A caminhada após o Mirante do Inferno é a
mais crítica e costuma ficar bem úmido, dificultando bastante, por isso, avalie
caso esteja em período chuvoso. Muita gente opta por acampar no Paquequer, numa
pequena área antes do Mirante do Inferno (mas deve-se pedir autorização com o
Parque), para sair bem cedo no dia seguinte. A escalada em si consiste em
lances de entalamento e chaminés. O lance final é feito em cabo de aço. No
cume, o espaço é limitado e cabem poucas pessoas. Não é muito comum encontrar
grandes grupos escalando, mas há possibilidade. Se for fazer em um dia, comece
bem cedo e tenha certeza de que voltará parte do caminho durante a noite.
Como chegar à Agulha do Diabo
Na trilha para a Pedra do Sino, logo após a Cota 2000, há
uma saída para a esquerda. Essa trilha é conhecida como “Caminho das
Orquídeas”. Siga descendo e vire à direita na bifurcação. Seguirá por um longo
caminho até chegar ao acampamento Paquequer, um pequeno descampado, onde cabem
poucas barracas. Dali, cruzará o rio Paquequer e subirá em direção ao Mirante
do Inferno. Pegar uma saída à esquerda, que te levará ao colo entre o Mirante
do Inferno e o São João. Descerá à direita, até a base da Agulha e subirá um trecho
bem úmido.
Vídeo da Escalada na Agulha do Diabo
Relato da Escalada na Agulha do Diabo
Enfim havia chegado o grande dia. Há alguns anos atrás,
quando fiz o curso básico de escalada, ouvi alguém dizer sobre uma escalada na
Agulha do Diabo. Como não conhecia, fui logo pesquisar. Na primeira pesquisa,
eis que surge uma foto simplesmente fantástica! Numa primeira análise, parecia
algo impossível... Mas era naquele momento. Porém, algo me dizia que um dia
estaria lá...
O tempo foi passando e foram algumas tentativas... Ora o
tempo não ajudava, ora compromissos pessoais... Sempre tinha alguma coisa que
me fazia adiar. Mas não desisti e nem desanimava, toda vez que passava pelo
Parque Nacional da Serra dos Órgãos, me certificava de que ela estava lá a me
esperar. E passou tanto tempo, que ficava até com um pouco de vergonha, quando
o assunto Agulha do Diabo vinha a tona e eu falava que ainda não havia ido.
Estava na hora de passar isso a limpo!
Eu, Ary Carlos, Marcelo Correa e seu filho, Lucas, havíamos
marcado de escalar a Agulha dois meses atrás. Pensa naquela noite estrelada...
E foi assim. Entramos no parque às 6 da manhã com um dia aberto e firme. Foi só
passar da altura do antigo Abrigo 2 que as nuvens estavam lá estacionadas,
trazendo uma chuvinha rala... Ainda chegamos ao início da descida do Caminho
das Orquídeas na esperança do tempo abrir, mas nada... Havia parado na garganta
o grito de gol.
Dessa vez tinha tudo pra dar certo. Estávamos num período
forte de estiagem. Tudo muito seco. Apesar das condições difíceis para a
vegetação e animais, estar seco, facilitaria a muito a caminhada de
aproximação. Dessa vez, eu, Ary Carlos, Marcelo Correa, Guilherme Gregory e o
Blanco Pinheiro nos organizamos para, enfim, escalar a tão sonhada Agulha do
Diabo. Saímos as 4:30 da manhã de sábado. O Marcelo Correa nos esperava em
Teresópolis. A viagem foi tranquila e com a estrada livre chegamos cedo em
Teresópolis. Já havia gente na portaria, prenúncio de um dia cheio no
PARNASO. Acertamos tudo e seguimos para
a Barragem. Lá nos preparamos e tivemos
que descer para deixar o carro estacionado mais embaixo.
Enfim começamos a caminhada. Eram 6:30 da manha e nossa
previsão de chegada à base, seria por volta das 10:30. Começamos a subida e
fomos num ritmo bom. Cruzamos o local do
antigo Abrigo 1 e passamos pela Cachoeira do Véu da Noiva completamente seca.
Isso mesmo, completamente seca. Ainda não havia visto algo parecido. Seguimos e
mais acima, na Cachoeira do Papel, mais uma decepção, só existia um pequeno
filete de água, que mal dava para encher as garrafas. Tratei logo de encher minha
garrafa extra, não sabia se o Paquequer estaria com água.
Continuamos a subida e usamos a subida pela base do Paredão
Paraguaio, na Pedra da Cruz para ganharmos um pouco mais tempo, apesar da
subida mais forte. Quando chegamos na laje, já na descida para o Caminho das
Orquídeas, onde havíamos voltado da última vez, nos deparamos com uma vista
fantástica. O dia estava completamente limpo. Uma leve brisa balançava as
folhas das árvores. Pequenas nuvens contrastavam com o céu azul. Um espetáculo.
Descemos com o piso seco e foi mais fácil que das últimas
vezes que havia ido ao local. Descemos o grotão e logo chegamos no Abrigo
Paquequer. Um pequeno local de acampamento muito utilizado para quem faz a
Agulha do Diabo em dois dias. Muitos preferem pernoitar no local e acordar cedo
para escalar. Existe o incômodo de subir com mais peso, mas cada um define sua
estratégia. Ali a água era escassa, mas em maior quantidade. Enchemos novamente
nossas garrafas. E seguimos subindo em direção ao Mirante do Inferno. No caminho
pegamos o caminho da esquerda, em direção ao São João. Descemos um terreno
instável e até que chegamos ao colo entre o Mirante e o São João. Dali,
descemos à direita em direção ao Vale da Geladeira.
É uma descida técnica e difícil, apesar de seca. Muitas
pedras soltas. Havia muito limo seco nas pedras. Fiquei imaginando como seria o
local molhado... Ficou apenas na imaginação. Dali, a vista da Agulha era
fantástica. Estávamos a uma distância razoável o que nos permitia ver com
detalhes, alguns dos lances clássicos da escalada, como o Cavalinho. E
continuamos a descida. Em um determinado ponto começamos a subir em direção à
Agulha. O caminho era mais difícil. Mais uma vez agradeci a seca... Fomos
ganhando altitude e chegamos a uma gruta, onde entramos e fizemos um lance de
chaminé até chegar ao alto da pedra, na volta, faríamos um rapel num grampo que
havia ali no alto. Dali chegamos a um pequeno largo e com mais uma subida,
estávamos na base da escalada!
Fizemos um lanche e nos preparamos para a escalada. Deixamos
nossas mochilas e levamos somente o necessário. No casa do Agulha, a mochila
iria atrapalhar os vários lances de entalamento e chaminés estreitas. Dividimos
em duas cordadas. Eu e o Macelo fomos na frente e o Blanco, Ary e Guilherme por
último.
O Marcelo guiou a primeira enfiada. Fui observando o
movimentos, pelo menos os primeiros, logo acima, já se perde o contato visual.
Assim que ele chegou à parada, foi hora de seguir. O primeiro lance olhando de
baixo parece simples, mas as fendas são cegas e é preciso posicionar bem o pé
esquerdo para sair bem e dominar o lance. Logo acima vem um bloco, um pouco
mais fácil que o de baixo. Seguimos mais
uns trepa pedras até pegar uma diagonal para cima. Primeira parte finalizada!
Chegou minha vez de guiar. Sai da primeira parada e a
segunda enfiada começa com um lance de entalamento. Subi um pouco e protegi com
um camalot, melhorando o psicológico do trecho. Tentei uma vez, mas não
encaixei e na segunda tentativa, me posicionei melhor, usando as pernas e o lado
do corpo até subir mais um pouco e chegar próximo ao grampo, quando pude passar
a costura e ficar protegido. Um lance bem bacana. Daí pegar uma horizontal para
a esquerda numa fendinha, seguindo na ponta dos pés. Uma boa agarra acima
deixou o lance bem tranquilo. Depois foi seguir uma pequena e delicada trilha
até a parada dupla utilizada para o rapel, onde montei a segunda parada. O
Marcelo veio logo em seguida. Dali já pude ver a outra cordada chegando.
Seguimos todos mais ou menos juntos.
Subi uma pequena trilha, num caminho já bem marcado. Alguns
trechos estão bem instáveis e é preciso atenção. Passei por baixo de uns
grandes blocos até a base de mais uma chaminé. Dali dava para ver o quanto
vertical era o trecho. Já estávamos bem próximos do nosso destino. O Marcelo
guiou esse lance. Segui até o final da chaminé e subi até um buraco, onde
entrei até o lado de fora, passando com um pouco de dificuldade. Daí foi subir
mais um pouco e ir andando pelas pedras suspensas até uma grande pedra
entalada, bem acima de onde entramos. Deu um pouco de arrasto na corda. Chegou
até a prender em alguns momentos. Em cima dessa grande pedra, dá para ver o
grampo um pouco mais alto. Na técnica de oposição, dominei o lance, até chegar
ao grampo onde o Marcelo já havia deixado uma fita, fazendo um artificial até
um confortável platô.
Nesse ponto, podíamos ver toda a extensão da Chaminé da
Unha. Estávamos de frente para o São João e podíamos ver um grupo lá no alto. Ali,
a vista surpreendia... Enquanto a cordada de trás subia, fui me preparando para
o famoso lance do Cavalinho. Já estava pronto e o Marcelo me passou algumas
dicas. Dei uma olhada antes e respirei fundo e subi um pouco depois do grampo
afim de pode encaixar primeiro o ombro para poder me equilibrar. Depois, foi
chegar um pouco para frente e colocar a perna esquerda. Alguns escaladores até
passam em pé, mas preferi fazer o lance da maneira mais comum e na qual achei
mais fácil... Segui devagar, sempre me apoiando bem. Olhei para baixo e vi o
quanto estava alto. Tratei logo de olhar para frente e me concentrar, faltavam
apenas alguns metros para completar. O Marcelo me chamou e bateu uma foto.
Segui até a ponta e optei por entrar completamente na fenda. Como sou magrinho,
não tive dificuldades. Saí do lance entrei numa estreitíssima chaminé. Era tão
estreita que foi fácil dar segurança dali para o Marcelo.
Assim que ele completou o lance, segui para o outro lado, já
me preparando psicologicamente para a Chaminé da Unha. Vou aqui descrever um
pouco esse trecho. Trata-se de uma gigantesca laca, que está equilibrada em uma
das faces, já próxima ao cume, formando uma grande e regular chaminé. Diz a lenda que ela até balança! Brincadeiras
a parte, não seria eu o responsável por descobrir a verdade!!! Foi hora de me
preparar para guiar mais esse trecho, talvez o melhor da escada. Talvez não,
com certeza.
De onde estava, podia ver um grampo muito alto. Pensei que
fosse o primeiro, mas chegando um pouco mais para frente, pude ver que era o
segundo, mas mesmo assim, estava alto. As proteções são aquelas padrão chaminé
que conhecemos bem: um grampo lá longe e outro muito lá longe... Sem muito enrolar e aproveitar o corpo
quente, toquei para cima. Como movimentos sincronizados, fui ganhando altura e
mais altura. Já não tinha como voltar atrás... A parede é bem aderente e
regular. Comecei o lance de frente para o São João, seguindo a dica do Marcelo.
Protegi no primeiro grampo e segui para um degrau, onde pude descansar um
pouco. Consegui fazer algumas fotos e nesse ponto, virei de costa para o São
João, visto que unha fica convexa ao seu final, isso facilitaria terminar o
lance.
Segui subindo e protegi num grande, antigo e torto grampo.
Fui ganhando altura e olhando para cima, a alça do cabo de aço já se
aproximava. Faltavam apenas alguns metros... Com aquela vontade de chegar rápido, parecia
que o cabo se distanciava. Concentrei e parei de me preocupar. Quando olhei
novamente, ele já estava na altura da minha cabeça. Apoiei com mão no cabo e
subi mais um pouco até passar para o topo da unha. Ali foi descansar um pouco e
apreciar a fantástica vista. Descansei um pouco e dei segurança ao Marcelo que
rapidamente chegou. Estar ali é algo que dificilmente conseguirei descrever...
Bom, faltava o último trecho. O lance do cabo não tem muito
mistério, mas todo cuidado é pouco. Fui subindo e passei por um trecho bem
vertical, até que foi perdendo inclinação. Pronto, estava no cume. Realizava um
sonho. Sozinho por um instante, com aquele dia maravilhoso, foi difícil conter
as lágrimas. Uma mistura de sentimentos entre realização, alegria, alívio,
etc... Rapidamente olhei em volta e me posicionei no centro do pequeno cume e
agradeci a Deus por estar me proporcionando esse momento mágico. Poucos terão a
oportunidade que tive. Por instante refiz todo o caminho que percorri até ali.
Fechei os olhos e respirei fundo, me fazendo voltar a escalada, afinal de
contas, tinha completado a metade do caminho.
Me prendi ao grampo
que fica ao lado da caixa metálica onde se encontra o livro de cume e montei
segurança para o Marcelo que subiu rapidamente. Quando ele chegou ainda falei:
“Missão cumprida”. Ele me respondeu: “Ainda falta a volta”. Pois é, completamos
apenas metade da missão! Enquanto a outra cordada não chegava, batemos várias
fotos para registrar e tivemos a sorte de ter outros grupos no São João e
Mirante do Inferno. Um moça que estava no Mirante do Inferno nos viu no cume e
gritou: “De qual clube?” Eu respondi: “Niteroiense” . Aos poucos todos foram chegando e conseguimos
nos reunir no pequeno cume. O dia continuava perfeito. Começamos a nos preparar para descer. Seguimos
por dois rapeis até a base de um bonito e mais baixo cume, chamado de Agulha da
Neblina. O Blanco escalou e eu me arrependi profundamente de não ter ido... Mas
tudo bem, ficará para a próxima...
Descemos uma pequena trilha e fizemos mais um rapel até a
base, onde havíamos deixado nossas mochilas. Fizemos um lanche e foi hora de
pegar o longo caminho de volta até a barragem. Às 18:00, estávamos de volta a
Trilha do Sino e as 20:00, chegávamos na Barragem.
Agora sim, poderia dizer:
Missão cumprida!
Base da via
Lance do Cavalinho
Chaminé da Unha
Leandro do Carmo e Marcelo Correia no cume
Leandro do Carmo escalando o lance final
No lance final
Ary chegando ao cume
Leandro, Ary e Marcelo
Marcelo Correia (em pé) e Leandro do Carmo no cume
da esquerda: Blanco, Ary, Marcelo, Leandro e Guilherme
Local: Rio de Janeiro
Data: 20/12/2017 Participantes: Leandro do Carmo, Blanco P. Blanco, Marcos Velhinho e Alexandre Xavier
Vista da base da via
Dicas para escalar a Via K2
Uma das clássicas do Rio de Janeiro, com diversas
técnicas como fendas, diedros, agarras e aderências. É relativamente curta,
com cinco enfiadas e um visual fantástico.
A primeira enfiada segue por um grande diedro protegido por
proteções fixas. A segunda enfiada segue numa horizontal para a esquerda com
agarras. A vista nesse ponto chegar a dar calafrios. Chega a uma parada dupla,
antes do lance do “Crucifixo”, muitos param ali. Existe a opção de fazer a K3, uma variante que
segue o diedro da primeira enfiada, após a primeira dupla de grampos, graduada
em 6ºsup e protegida em móvel, com cerca de 20 metros. A terceira enfiada é bem
tranquila e segue até o platô antes do lance do “Palavrão”. Na quarta enfiada,
saímos para o lance do “Plavrão”. O lance é relativamente tranquilo, mas bem
exposto. Como não tem proteção, muitos acidentes já aconteceram no local. Uma queda, leva o guia direto à base. Após o
lance do “Palavrão”, segue-se numa diagonal para a esquerda, até entrar um
grande laca e subir num lance meio exposto até um grampo logo acima, seguindo,
novamente numa horizontal para a esquerda, até um confortável platô. A última enfiada
é uma retinha, até a esquerda da estrutura de contenção, onde pegamos um
pequena trilha até os pés do Cristo Redentor.
Levar pelo menos umas 7 a 8 costuras e peças ajudam a
diminuir a exposição em alguns lances.
Há um estacionamento lá no alto, próximo ao centro de
visitantes, mas pode acontecer de não ter mais vaga, pois é pequeno. Lembre-se
que finais de semana costuma ficar muito cheio. Depois que o acesso ao Cristo
fecha, as vans somem e fica tudo deserto. O melhor horário é na parte da tarde.
A partir das 14h já tem sombra. Evite deixar coisas de valor no carro,
principalmente se começar a escalar muito tarde e for
descer a noite.
Vídeo
Como chegar à base da via K2
Subir a Estrada das Paineiras, até o ponto onde param as
vans. Há um estacionamento no local, mas nem sempre há vaga. Dali pegar a estra
que continua subindo até o Cristo e numa curva acentuada para a direita, pegar
a trilha na margem esquerda, na cerca de cimento. Seguir contornando a parede
até a base.
Relato da escalada na Via K2
Essa foi uma via que estava há anos para eu fazer. Cheguei a
marcar diversas vezes, mas sempre acontecia alguma coisa que não podia ir. Mas
dessa vez foi diferente. Estava de férias e topando qualquer coisa. Achar
alguém para escalar no meio da semana não é uma das tarefas mais fáceis. O
Blanco havia ido lá alguns dias antes e estava na pilha de voltar para mandar a
variante K3. Quando ele fez o convite, logo topei. Se juntaram a nós o Velhinho
e o Alexandre.
No caminho...
Marcamos de nos encontrar as 13:00 lá em cima, no ponto
final das vans. O Velhinho passou na minha casa e de lá seguimos. O trânsito
estava bom e rapidamente chegamos em Laranjeiras. Eu, nem o velhinho
lembrávamos muito bem do caminho, mas fomos seguindo o aplicativo. Na subida,
já em Cosme Velho, quase fomos literalmente parados por algumas pessoas que
diziam não poder subir de carro, provavelmente querendo oferecer algum serviço
de transporte alternativo. Só não sabiam que não éramos turistas. Primeira má
impressão no, talvez, maior cartão postal do país...
Seguimos subindo até chegar à estação do trem do Corcovado.
Para quem vai de carro, é o ponto final. Entramos num estacionamento e fomos
recebidos por um guardador de carro que não era do Parque Nacional da Tijuca.
Haviam algumas pessoas estranhas no local, mas nada de mais, principalmente pra
gente que já conhece como funciona. Conversamos com ele e resolvemos deixar o
carro ali mesmo. O Blanco avisou que iria atrasar um pouco, então fomos fazer
um lanche.
Depois de um tempo, o Blanco chegou com o Alexandre e
seguimos para o início da trilha. Fomos subindo pela estrada, até que chegamos
ao ponto de uma curva bem acentuada para a direita. O início da trilha fica na
margem esquerda da estrada, numa mureta de concreto. Entramos na trilha e fomos
andando com parede do Corcovado bem a direita. A trilha foi bem tranquila e
está bem marcada. Há alguns pequenos trechos com erosão, mas nada que atrapalhe
muito.
Mais alguns minutos estávamos na base. O dia estava quente e
aberto. Mas faz sombra nessa face e a via fica totalmente sem sol. Ali na base,
nos arrumamos e dividimos a cordada. Não tínhamos costuras suficientes para
duas cordadas. Por uma falha de comunicação, não sabíamos que faríamos duas
cordadas. Dividimos o material que tínhamos e optamos por deixar as costuras
nos grampos para a segunda cordada. Assim não teríamos problemas. A vista da
base já impressionava, o prenúncio do que iria encontrar pela frente.
Primeira enfiada
Me preparei primeiro e saí para guiar a primeira enfiada,
com a segurança do Blanco. O primeiro lance segue no domínio de uma grande
laca, logo na base, costurando bem acima. Dali até o segundo grampo tem um
lance bem delicado, onde temos que usar uma fissura para colocar o pé, até
progredir e chegar ao segundo grampo. Uma queda ali, me levaria quase na base.
Passei o lance e dei uma descansada até seguir subindo. Foi o aquecimento
necessário. Ora em oposição, ora em agarras, fui subindo num bom ritmo. O
diedro é bem bonito e são poucos os pontos onde não conseguimos encaixar a mão.
Parei na primeira dupla de grampos, pois dali, o Blanco seguiria guiando na
variante K3. A vista era coisa de louco!
Como já começamos a escalar bem alto, dá a impressão que fazemos um verdadeiro
BigWall. O Alexandre veio subindo em seguida e teve um pouco de dificuldade
para passar o lance inicial. Chegaram mais duas pessoas para escalar, mas
acabaram desistindo, visto que, além do Alexandre, faltava ainda o Velhinho e o
Blanco a subirem.
Depois que o Alexandre chegou na parada. O Velhinho começou
a subir. Passou por mim e foi direto para a próxima parada dupla. Logo em
seguida, subiu o Blanco e parou onde eu estava. Agora, o Alexandre seguiu para
a parada onde o Velhinho montou a parada, logo abaixo do lance do “Crucifixo”..
Havíamos mudado de parceiros. O Blanco se preparou para guiar a variante e
separou as peças, visto que esse trecho não possui grampos, devendo ser todo
protegido em móvel. É a continuação natural do diedro inicial, um pouco mais
difícil, com crux de 6ºsup.
Blanco na variante K3
O Blanco saiu da parada e subiu bem, antes de colocar o
primeiro camalot. Tentou seguir, mas voltou
um pouco e melhorou a proteção.
Seguiu subindo, colocou mais algumas peças e voltou para a parada. Descansou um
pouco e daí, tocou direto até o grampo onde montou a parada. Era a minha vez de
subir. Como estava com corda de cima, não me preocupei muito. Tinha a chance de
arriscar mais. Segui subindo. Fui sacando as peças e progredindo lentamente.
Até passar pelo crux. É preciso esticar a mão e encaixar na fissura, num bico
quebrado. Olhando de baixo, nem parece, mas a pega é excelente. Tem que encaixar
bem a mão, senão, ela pode escapar. Colocada a mão e certificado que estava
firme, foi só correr para o abraço, ou melhor, para a parada.
Quando cheguei à parada, peguei mais algumas costuras e
continuei a escalada. Saí da parada meio estranho e dei um passo abaixo,
voltando a subir certo, pegando uma boa agarra na direita. Foi dominar e subir.
Não deixa de olhar para baixo nem um minuto. A altura impressionava cada vez
mais. A vista, fantástica como sempre, dava um choque de adrenalina que
precisava. Continuei subindo, agora em lances mais fáceis e com boas agarras,
até chegar ao platô, antes do lance do Palavrão. De lá, dei segurança para o
Blanco. O Velhinho chegou logo em seguida e o Blanco veio dando uma ajuda para
o Alexandre.
Leandro no lance do
"Palavrão"
O platô é bem confortável e nos acomodamos bem. Para o
conhecido lance do “Palavrão”, peguei algumas peças com Blanco, pois é uma
subida sem proteção fixa e uma queda ali, leva direto ao platô. Esse ponto já
fez algumas vítimas... Foram alguns tornozelos e pés quebrados e alguns resgates... Não queria
fazer parte da estatística! Segui subindo e com boas agarras. Coloquei um
camalot, não me recordo o número, e segui tranquilo. Passei o temido lance sem
dificuldades... Segui numa horizontal para a esquerda, até chegar numa grande
laca, onde coloquei mais uma peça e subi até o platô, abaixo da estrutura de
contenção. Montei a parada. O Velhinho veio guiando e em seguida o Blanco e o
Alexandre. Só depois de todos no platô que o Velhinho me disse que caíra antes
de costurar a proteção colocada no “Palavrão”. Sorte que nada aconteceu.
Dali, subi a retinha final, num lance com pequenas agarras.
Montei a parada numa árvore e esperei a galera subir. O lance final não é de
graça... Quem vai achando que já terminou a via, se engana... O dia estava
chegando ao fim e depois de todo o calor, um vento forte até ameaçou fazer um
friozinho, mas ficou só na ameaça. Depois de todos na parada, seguimos subindo
até o Cristo Redentor, que ainda não estava iluminado. É uma trilha curta que
chega, literalmente aos seus pés. O local estava completamente vazio, salvo por
algumas pessoas que estavam fazendo uma filmagem no local com um drone. O
horário de visitação já havia acabado.
Chegada ao Cristo Redentor
Nunca havia ido ao Cristo. A vista é realmente fantástica.
Impossível não se encantar com a Cidade Maravilhosa... Apesar de todos os
problemas, olhando lá de cima parecia que estávamos num paraíso. Fomos
apressados a descer pelo responsável do local. Descemos ainda equipados até o
ponto onde param as vans. Achávamos que ganharíamos uma carona, mas ficamos na
saudade. Assim que cruzamos o portão, paramos para nos desequipar e arrumar as
mochilas. Descemos a estrada até pegarmos a linha do trem e descer reto até a
estação, onde o carro estava estacionado. Daí, foi enfrentar o crux da
escalada: o trânsito de volta para Niterói! Mas depois desse dia, nada podia
mudar o meu humor. Missão cumprida!!!
Sabe quando uma criança ganha um brinquedo novo e quer logo
brincar com ele? Pois é... Foi assim que eu estava me sentido. Havia comprado
um carro novo e queria mesmo era colocar o carro pra andar. Apesar de não ser
uma viagem longa, aproveitei que a galera do Clube Niteroiense de Montanhismo
estaria por lá e que seria um feriado prolongado, fui passar o
final de semana nesse paraíso.
Para quem não conhece, o Parque Estadual dos Três Picos é o
maior parque estadual do Rio de Janeiro, com 46.350 hectares. Situado nos
municípios de Teresópolis, Nova Friburgo, Guapimirim, Silva Jardim e Cachoeiras
de Macacu, o parque visa preservar o cinturão central de Mata Atlântica do
Estado. Em suas densas matas foram encontrados os mais elevados índices de biodiversidade
em todo o Estado, sendo considerada uma região da mais elevada prioridade, em
termos de conservação, pelos especialistas. A criação do Parque com suas
montanhas de expressão, Caledônia, Pedra do Faraó, Torres de Bonsucesso, Mulher
de Pedra e os próprios Três Picos, entre muitas outras, é de grande
importância, não só para a região e de seus moradores, como para todos os que o
visitam.
Fui com meu tio Renato. Saímos bem cedo de casa pois
queríamos chegar rápido para aproveitar mais. A viagem foi bem tranquila e
rápida. Fomos por Teresópolis. Passei no Abrigo Três Picos para ver se o
Zezinho estava em casa, mas não encontrei ninguém. Segui subindo. Minha ideia
era deixar o carro lá no Mascarim. Após a porteira que dá acesso ao Mascarim,
parei para acionar o 4x4 e segui
subindo. A estrada até que não estava muito ruim e subi bem rápido. Dali
seguimos andando até o Vale dos Deuses. Dessa vez não economizei no peso. Levei
tudo que eu queria, o peso da minha mochila deveria estar na casa dos 20kg. Ainda bem que a caminhada é curta,
cerca de 40 min.
No Vale dos Deuses, armamos as barracas e fui dar uma volta.
O dia estava ótimo e ficaria assim durante todo o final de semana. Esse final
de semana tirei para não fazer absolutamente nada. Não programei nenhuma trilha
ou escalada. Fui para ficar literalmente à toa... Eu e meu tio montamos uma
pequena mesa com galhos, o que nos ajudaria bastante nesses dias. O dia foi passando e algumas pessoas iam
chegando. Pensei que a área de camping fosse ficar cheia, mas acabou que não. A
noite chegou e com isso o frio também. Ficamos batendo um papo até entrei na
barraca para dormir.
O dia amanheceu firme, porém frio. Fiquei esperando o sol
aparecer e acabou que demorou um pouco devido a uma nuvem. Mas quando ele saiu,
deu aquela esquentada. Não tem nada
melhor do que pegar um sol depois de uma noite de frio. Enquanto o dia passava,
mais gente ia chegando. Assim que o Marcelo chegou, ajudei-o a pegar mais
algumas coisas no carro. Deu um reforço generoso na comida, valendo a pena a
viagem. Depois do almoço, uns foram ao Cabeça do Dragão, outros ficaram por ali
mesmo. Eu fui à Caixinha de Fósforo. Uma impressionante formação rochosa. Uma
grande rocha equilibrada em uma pequena base. De vez em quando parece que vai
cair... Bati algumas fotos e voltei para o camping, passando antes em um trecho
onde o córrego que nasce perto da área de camping, forma um pequeno poço, que
até para um banho nos dias mais quentes.
Voltei e preparei meu almoço. Ficamos batendo um papo até o
final da tarde. Aproveitei para ir à base
da Rodolpho Chermont, uma das vias
mais curtas e acessíveis para se chegar ao topo do Capacete. Na volta, desci
rápido para dar uma aquecida e enfrentar o banho gelado. Deu certo! Cheguei
suado e com calor. Peguei a toalha e fui direto para o banho. Mas o calor durou
pouco. Foi só abrir a água do chuveiro... A água parecia que iria furar o couro
cabeludo. Agilizei o banho...
Durante o jantar, combinamos de ver o sol nascer do cume do
Cabeça do Dragão. Tínhamos que acordar cedo. Ficamos ainda batendo um papo numa
noite bem agradável. A hora foi passando e fui para a barraca dormir. Na
madrugada o relógio despertou. Até pensei em desistir, mas saí do saco de
dormir. Peguei a pequena mochila que havia deixado arrumada na véspera. Tinham
algumas pessoas em volta. Chamei alguns e fui subindo com que já estava
acordado. Como a trilha é curta e não tem muita dificuldade, não teria problema
em irmos separados. Subi rápido e chegamos no cume ainda noite. Tivemos que
esperar um pouco. Aproveitei para fazer um café. Ventava um pouco e procurei um
local mais abrigado. O frio estava incomodando um pouco, mas assim que me
abriguei do vento, fiquei mais confortável.
Aos poucos, o negro da noite, foi dando espaço a um
avermelhado no horizonte. As luzes da cidade contrastavam com o branco das
nuvens, formando uma obra de arte. No horizonte, a cor azulada foi predominando
e uma linha avermelhada foi se formando. O espetáculo não dura muito. Assim que
o sol nasceu a paisagem mudou de forma. O relevo foi aparecendo como uma
revelação fotográfica. Olhando para os Três Picos, percebi o quanto ele fica
iluminado pelo sol. Não faltaram fotos para registrar o momento.
Com o dia completamente claro, foi hora de descer. A
caminhada foi rápida e logo estávamos de volta. Ao chegar no acampamento uma
coisa engraçada. O Marcelo esqueceu a barraca aberta e dois cachorros que
estavam rodando o local entraram e fizeram a festa na comida. Deram um bom
desfalque, principalmente nas coisas que estavam abertas. Nada que prejudicasse
as refeições.
Ficamos ainda por ali batendo um papo. Uma parte do grupo
foi ao Pico Médio e Menor. E, optei por ficar ali sem fazer nada, esperando o
tempo passar. Não tínhamos hora para ir embora, mas fomos arrumando as coisas e
depois de tudo pronto, seguimos até o carro e de lá pegamos o caminho de volta.
Um belo final de semana! Até a próxima