quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Travessia Baependi x Aiuruoca

Por Leandro do Carmo

Travessia Baependi x Aiuruoca



Dia: 31/05/2024
Local: Baependi/Aiuruoca - MG
Participantes: Leandro do Carmo, Leandro Conrado, Amanda Leobino, Ricardo Barros, Simone D’Oliveira, Andrea Vivas, Márcio Mafra, Letícia Lopes, Vanesa Ogliari, Alexandre Bibiani, Carla Rosa, Silvana e Thiago

Vídeo completo da Travessia Baependi x Aiuruoca

Relato da Travessia Baependi x Aiuruoca

A travessia Baependi x Aiuruoca, também conhecida como a travessia da Serra do Papagaio, sempre este na minha lista, mas a logística para lá não é das mais fáceis, principalmente quando saímos de Niterói. Era preciso um feriado de 4 dias. Nossa ideia era ter feito a Travessia Rancho Caído + Ruy Braga, no Parque Nacional de Itatiaia, mas não conseguimos vagas para pernoite em todos os dias e aí, sugeri de fazermos a Baependi x Aiuruoca. Começou com uma ideia e ela foi tomando corpo, até que definimos a logística. Entre confirmações e ausências, fechamos em 13 pessoas, um número razoável.

Nos encontramos as 23h 30min na sede do Clube Niteroiense de Montanhismo. Optamos por viajar durante a noite e tomar café da manhã na Padaria Rezende, em Baependi. Foi uma viagem tranquila. Dormi a maior parte do tempo. A padaria foi uma ótima opção. Super bem arrumada. Já tinha um outro grupo lá. Sinal de que encontraríamos bastante gente pelo caminho. Inclusive, no feriado de Corpus Crhisti, é uma época em que há bastante procura pela travessia, principalmente pela quantidade de dias disponível e ser recomendada fazê-la com três pernoites. Essa logística, você vai ver mais adiante.

Tomamos café da manhã com tranquilidade e de lá partimos para uma longa viagem até o início da trilha, em Vargem da Lage, cerca de 50 km, que fizemos em quase 2h, visto que a maior parte era estrada de terra e van, bem pesada, teve que fazer devagar.

Dia 1 – Vargem da Lage x Abrigo Salvador

Distância: 11,7 km
Tempo: 5h 5min
Desnível Positivo: 1.011 m
Desnível Negativo: 428 m

Quando chegamos ao início da caminhada, já tinham duas vans e bastante gente se arrumando. Nos preparamos e nos despedimos do motorista, que nos encontraria quatro dias depois, lá no Vale do Matutu, no Camping Panorâmico. Iniciamos nossa caminhada. Estava uma manhã agradável e principal vista do dia, o Pico do Careta, também conhecida como Chapéu, estava encoberto. Seguimos por uma estradinha no meio de uma plantação de eucalipto até uma porteira. A estradinha deu lugar a um caminho mais estreito, enfim, começávamos a nossa jornada.



Passamos por uma placa que indicava o Pico do Careta e seguimos subindo. Mais acima, uma outra porteira e cruzamos uma área gramada bem aberta, até voltarmos, novamente para a trilha. Passamos por um ponto de água. Aos poucos, a vegetação foi ficando menos densa até que abriu totalmente. Aos poucos fui passando por diversos grupos e percebi que tinha mais gente do que havia visto lá embaixo. O tempo foi abrindo e as nuvens que encobriam o Careta, começaram a se dissipar. Do lado oposto, conseguia ver o quanto já havíamos subido e uma centena de morros apareciam no horizonte.



Eu, Thiago e Letícia fomos caminhando no mesmo ritmo e no ponto onde fazemos o ataque ao Careta, demos uma parada para reunir o grupo. Como começou a demorar um pouco, resolvemos fazer o cume e encontrá-los na descida. A Vanesa estava bem a frente e podíamos vê-la de longe. Subir sem mochila foi bem fácil. Rapidamente chegamos ao cume e ali tínhamos uma visão 360º de toda a região. Fizemos várias fotos e descemos para continuar a caminhada.  Pegamos nossas mochilas e combinamos com a Vanesa de nos encontrarmos novamente, mais a frente, onde os caminhos de juntávamos, próximo ao Cruzeiro.

De volta a trilha, encontramos nosso grupo novamente. Acabamos nos dividindo em dois grupos, mas isso acabou sendo bom e vocês virão o porquê mais à frente. A partir dali, combinamos que seguiríamos à frente e tentaríamos nos encontrar sempre que pudéssemos, caso não fosse possível, aguardaríamos no ponto de pernoite. Voltamos a andar e chegamos ao Cruzeiro, onde a Vanesa nos esperava. Fizemos uma foto e continuamos a caminhada. Descemos um pouco e contornamos uma formação rochosa, onde algumas pessoas descansavam.

Apesar do sobe e desce, fomos perdendo altura e já não encontrava mais ninguém pelo caminho. O sol firmou, mas não estava forte, deixando a caminhada bem agradável. Caminhávamos paralelos a linha de cumeada, contornando alguns morros. Depois de uma descida, antes de uma matinha, dei uma parada para juntar o grupo, já estávamos bem próximos do nosso ponto de chegada. Meu tracklog indicava passar por fora da mata, mas teria que subir um pouco. Havia um outro caminho bem marcado que seguia reto. Optei por ele e logo estávamos chegando no Rancho do Salvador, nosso ponto de pernoite. Tínhamos terminado a caminhada do primeiro dia.



É uma grande área de acampamento com uma estrutura de cabana com fogão a lenha, mas apesar de grande, a maioria dos locais era com pedra no chão e irregular. Com a quantidade de gente que estava pelo caminho, fomos nos arrumando e deixando alguns pontos para que nossos amigos armassem as barracas quando chegassem. Quando cheguei, já tinham algumas barracas montadas, mas eram de uma empresa de turismo, que colocam os carregadores para irem à frente.

Montei minha barraca próximo ao rio e fui tomar um banho na congelante água. Foi um mergulho para molhar e outro para completar e pronto. Assim que as pernas começaram a doer, já saí e sequei, aproveitando o sol para esquentar. Aos poucos todos foram chegando e se arrumando. Encontrei, por coincidência, alguns amigos de Niterói. Foi só o sol ir embora que o frio apertou. Era hora de colocar a roupa extra. Aproveitei para fazer a janta. Tinha muita gente, sendo o ponto de acampamento mais cheio na qual pegamos. O frio foi aumentou, sendo a senha para entrar na barraca e fechar o saco de dormir, dormindo ao som das águas do rio.

Fotos do Dia 1

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca


Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca







Dia 2 – Rancho Salvador x Camping após a Cachoeira do Charco

Distância: 8,6 km
Tempo:
Desnível Positivo: 450 m
Desnível Negativo: 462 m



Foi uma noite extremamente fria, talvez potencializada por estarmos em um vale e ao lado rio. Combinamos de sair bem cedo, meu receio era pegar os piores lugares nas áreas de acampamento. A caminhada hoje seria a mais curta da travessia, porém teríamos uma travessia de rio. Não sabia exatamente o que encontrar pela frente. Acordei antes das 5h e ainda estava escuro quando comecei esquentar água para o café da manhã. Comecei a arrumar as coisas e assim que começou a clarear, saí da barraca. Pense numa manhã gelada! Pois é... A maioria das barracas estavam com uma capa de gelo por cima. Dei uma volta pelo acampamento para tentar esquentar um pouco.

Só deu para desarmar a barraca com o sol aparecendo e mesmo assim, não foi fácil. Minha mão doía e com tudo molhado não adiantava colocar a luva. Com tudo pronto, eu, Leticia, Vanesa, Carla, Leandro e Amanda saímos para o segundo dia da caminhada. Com as primeiras passadas, o corpo já foi esquentando e foi questão de tempo ter que tirar o anorak.

Seguimos paralelos ao rio e aos poucos ele foi ficando para baixo até que podíamos ver uma grande cachoeira à nossa direita. Não tem coisa mais confortante do que sentir o sol esquentando o corpo. Vai dando um ânimo extra, mas logo tive que dar uma parada e tirar o anorak. Mais à frente, demos uma rápida parada para uma foto, num belo mirante. Continuamos andando e adiante um outro mirante, esse para a cachoeira da Juju. Uma bela queda d’água. Do alto, fiquei imaginando como faríamos para atravessar esse rio. Continuando a trilha, veio uma bifurcação e pegamos a saída para a direita, contornando um morro. Mais à frente, vi que os dois caminhos se encontravam. Pegamos uma descida forte até que chegamos ao rio. O trecho era bem fácil de atravessar, mas foi preciso tirar a bota. Aproveitamos para fazer um lanche e bater algumas fotos. O local era bem bonito.

Desse ponto, podia ver uma subida forte. Não teve jeito, começamos a subir lentamente. Aos poucos dividimos o nosso pequeno grupo novamente. Já no alto, começou a aparecer algumas bifurcações que geraram dúvida. Como estava com GPS, ficou mais fácil. Voltei para avisar ao Leandro que estava seguindo à frente. Comecei a fazer alguns tótens para indicar qual caminho ele deveria pegar. Em alguns pontos, conseguíamos ter contato visual, assim tinha certeza de que estavam no caminho certo.

A estratégia dos tótens foi dando certo, mas a certeza só veio lá na cachoeira do Charco. Antes disso, fui conversando com a Letícia, torcendo para que ele entendesse os sinais. Estávamos num bom ritmo e já fazia um calor considerável. Estava mais quente que o dia anterior. Estava tudo muito seco e por sorte entramos numa área com árvores maiores, o que refrescou um pouco. Assim que saímos dessa mata, um casal de Carcará ficou nos rodeando, como se estivessem nos vigiando. Começamos a descer por caminho com bastante erosão e passamos por uma cascavel morta. Parecia que havido sido morta há pouco tempo. Como que alguém pode fazer uma coisa dessa...

Depois de lamentar, continuamos descendo e cruzamos um córrego. Subimos e demos uma parada rápido num ponto confortável. De lá, conseguíamos ver o Leandro, Amanda e a Carla. Estavam seguindo bem os totens. Continuamos subindo, entrando novamente numa área abrigada do sol. Mais acima, uma bifurcação. O caminho da direita seguia pela linha de cumeada, contornando um vale. O da esquerda, mais fechado seguia descendo numa linha quase reta. Conferi o GPS e a marcação indicava “encurta o caminho”, não pensei duas vezes. Coloquei um totem novamente e começamos a descer.

Dava para ver uma pequena cabana bem ao fundo. Estávamos próximos da Cachoeira do Charco. Depois de uma descida bem íngreme, voltamos para trilha principal e mais alguns metros havíamos chegado na margem, onde deveríamos atravessar o rio. A cachoeira é bem bonita e com bastante volume de água. Tinham várias pessoas atravessando e optamos por fazer uma fila e fomos atravessando as mochilas, assim não teríamos o risco de molhar nada.

A água estava extremamente gelada e não foi fácil ficar ali com a água até o joelho esperando as mochilas. Conseguimos atravessar rapidamente e ficamos esperando os outros chegarem. Assim que eles apareceram no alto, tive a certeza de que os tótens estavam dando certo. O Leandro havia percebido e os seguiu, ganhando um grande trecho. Já na margem, optamos por fazer o mesmo trabalho de passar as mochilas. Aproveitei para dar um mergulho e até nadar em direção à queda d’água, mas foi só passar alguns segundos que os braços começaram a travar. Tratei de voltar logo!

Comi alguma coisa e me arrumei, procurando algum lugar para acampar, pois segundo nosso planejamento, acamparíamos no entorno. Porém, não encontrei nenhum lugar que comportasse todas as nossas barracas. Seguimos subindo e logo cruzamos um córrego com uma área que parecia um charco, mas estava bem seco e não foi um problema passar por ele. Ainda não via nenhum lugar para acampar. Continuamos andando e veio uma área aberta, mas não tinha nenhuma indicação. Cheguei a andar mais um pouco, mas já estava ficando preocupado com o grupo que vinha atrás. Já havíamos andado mais do que o programado para o dia. Como ninguém sabia que já havíamos passado tanto da Cachoeira do Charco, imaginei que se eles não nos vissem, continuariam a caminhada, confiando que eu acharia algum lugar para o pernoite.

Dei uma parada e logo veio um casal. Conversei com eles e eles me disseram que estávamos no caminho certo. Bom, pelo menos não saímos da trilha. Resolvi voltar até essa área mais aberta e olhando com calma, vi que era excelente para acampar. Estávamos mais ou menos na metade do caminho entre dois pontos de água. Montamos nossas barracas e descansamos um pouco. Resolvi voltar até último ponto de água na esperança de que encontrasse o pessoal. Decisão acertada e já próximo a água, todos estavam lá. Falei que o acampamento estava bem próximo e que era para eles pegarem água.

Dali, voltamos para o nosso ponto de pernoite e todos se arrumaram. Comentamos sobre o local indicado sobre o acampamento na Cachoeira do Charco e como pensei, eles seguiram andando quando não nos encontraram por lá. Havíamos encontrado um ótimo local para pernoitar. Estávamos sós. Comemos, conversamos e rimos bastante, num final de tarde maravilhoso. Mas foi só o sol baixar entre as montanhas que o frio chegou. Nem havia escurecido, mas foi hora de colocar as roupas extras. Comi algo e depois de mais um papo, fui para dentro da barraca organizar as coisas para o dia seguinte. De onde estávamos, conseguíamos ver alguns pontos de acampamento bem ao fundo, com lanternas aparecendo de vez em quando.

Decidimos dividir o grupo o novamente, e marcamos de sair às 6h. A estratégia de acordar cedo e chegar cedo estava dando certo.

Travessia Baependi x Aiuruoca
Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

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Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

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Dia 3 – Camping após a Cachoeira do Charco x Refúgio dos Pedros

Distância: 16,4 km (11,6 km se não contar os cumes opcionais)
Tempo:
Desnível Positivo: 940 m
Desnível Negativo: 543 m



Foi uma noite bem agradável, não chegou a fazer tanto frio quanto no primeiro dia. Eram 4h 30min quando o despertador tocou. Acordei e preparei um café para despertar. Dei uma organizada nas coisas e fui passando nas barracas de quem havia resolvido sair mais cedo. Desmontei a barraca e organizei a mochila. Às 6h em ponto, saímos eu, Letícia, Mafra, Leandro e Amanda. Pelo nosso roteiro, hoje seria o dia mais longo de caminhada, então, nada melhor do que começar cedo!

Ainda estava clareando quando começamos a andar. Havia um caminho que subia para o cume de um morro, onde tinha algumas pessoas acampando, mas pegamos o que contornava para a direita e logo começamos a descer. Cruzamos um córrego e aproveitei para captar água. Voltamos a subir, passamos por mais um ponto de água e logo cruzamos outro córrego novamente, esse bem menor que o anterior. Não encontramos o caminho de primeira, mas logo achamos a trilha correta e iniciamos uma subida longa. Mais acima, entramos numa estradinha fechada e passamos por dois excelentes pontos de acampamento. Não havíamos visto antes nos relatos que pegamos, mas teria sido uma ótima opção, visto que não caminhamos tanto no dia anterior. De qualquer forma, já estávamos ali e acabou que não fez tanta diferença assim. O trecho era bem bonito. Continuamos subindo e já no alto, passamos por uma bonita área de camping. Havia bastante gente por lá e fizemos uma parada rápida para comer algo. Ficamos conversando durante um tempo. O sol estava entre nuvens e ventava um pouco. O frio apertava e era hora de voltar a andar.

Seguimos nosso caminho em direção ao Refúgio dos Pedros por essa estradinha que agora estava bem mais aberta. Em alguns trechos era possível perceber que ainda era usada, visto que víamos o trilho das rodas. Pegamos uma suave descida, passando por algumas porteiras indicando área particular. Avançamos bem pelo fácil trecho, pois caminhar com piso regular e numa leve descida é ótimo. Passamos por algumas áreas bem abertas e entramos numa área com floresta densa. Nesse ponto, as árvores eram bem grandes. Ouvi barulho de água, mas ainda tinha o suficiente para a caminhada.

Saímos da mata e entramos em mais um descampado, onde demos uma parada próximo a uma placa com alguns avisos, inclusive uma indicando que o local tinha incidência de “felinos de grande porte”. Depois de fazermos algumas fotos, descobri que ali era o local conhecido como Santo Daime. Fiquei pensando sobre qual seria a origem do totem, mas só quando voltamos que pesquisar sobre o local. Pelo relato que li, ele está localizado na RPPN Serra do Papagaio – Matutu e não tem relação com o Santo Daime. Lá dizia que foi instalado na propriedade como parte do projeto de "Acupuntura da Terra". O totem é um trabalho de cunho esotérico do artista esloveno Marko Pogacnik. Ele instalou alguns desses pilares de pedra também em outros pontos da região, e tem peças instaladas inclusive em vários outros lugares do mundo.



De volta a caminhada, começamos a ganhar altura. Entramos novamente em uma mata e depois de uma subida forte, já no alto de um morro, fizemos uma parada para descansar. Dali, podíamos ver o caminha que já havíamos feito, bem como uma ampla vista. O dia continuava agradável e aproveitamos para fazer um lanche. Voltei a andar com um pouco mais de disposição e logo pegamos mais uma subida forte. Estávamos novamente numa densa floresta e mais acima, meu tracklog indicava a entrada para o Pico do Canjica, sendo um desvio de, aproximadamente, 1 km ida e volta.

Deixamos as mochilas na borda da trilha, bem visível para que o Leandro e a Amanda vissem quando estivessem passando. Achei que eles estivessem um pouco longe, mas eles chegaram em seguida e como ainda estávamos bem no começo, eles também nos acompanharam.  Foi uma subida rápida, porém um pouco confusa, pois a frequência no local é pouca. Mas a vista compensou, conseguimos chegar a um belo mirante. Está num dos pontos mais altos da travessia.

Faltava pouco para chegar ao nosso objetivo do dia. Descemos do Canjica com uma vista para dois cumes e fiquei com vontade de subir, mas não sabia como. Colocamos nossas pesadas mochilas nas costas e seguimos caminho. Saímos da mata e voltamos a caminhar num trecho aberto, até entrar num grande trecho de uma espécie de pântano. Procuramos o melhor caminhão para atravessá-lo, visto que não queria me molhar, já estávamos próximos do nosso destino. Achamos uma passagem e caminhamos mais alguns metros até chegar à entrada do Refúgio dos Pedros. Uma moça estava sentada ao lado do ponto de água e nos indicou o caminho a seguir.

Assim que chegamos, pudemos escolher com calma o melhor local para montar a barraca. Fiz sem pressa. O local é bem grande e com bastante espaço. Montei a barraca dentro de um cercado de pedras. Chegamos bem rápido e não senti dificuldades nesse dia que era para ser o mais difícil. Preparei meu almoço e fiz um café. Quando fui lavar as coisas, encontrei o restante do grupo chegando. Novamente, dei sorte em recebê-los e indiquei o caminho a pegar.

Descansei bem e aproveitei para subir o Pico do Tamanduá. Lá de cima, conseguia ver a cadeia de montanhas do Marins/Itaguaré, Serra Fina e até as Agulhas Negras. Fiquei na dúvida se estava vendo a Pedra Selada. De qualquer forma, uma vista fantástica. No cume do Tamanduá, tem uma excelente e bonita áreas de acampamento. Se já não tivesse montado minha barraca, valeria a pena subir e ficar ali. Na descida, ainda passei num cume secundário, subindo uma laje. Outra bela opção. Conversamos bastante e o final de dia foi super agradável. Alguns aproveitaram para ver o pôr-do-sol numa pedra próxima ao acampamento.

Assim como nos dias anteriores, foi só o sol se pôr, que o frio apareceu. Desci rápido até o acampamento, preparando um lanche reforçado. O dia seguinte era o último. Combinamos a mesma coisa do dia anterior, sair as 6h. Com tudo certo, foi entrar na barraca e dormir, ou melhor, tentar dormir. Essa seria a noite mais fria da travessia.

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca

Travessia Baependi x Aiuruoca


Dia 4 – Refúgio dos Pedros x Camping Panorâmico

Distância: 13,7 km
Tempo:
Desnível Positivo: 458 m
Desnível Negativo: 1.422 m



Quando entrei na barraca para dormir, não sabia o que me esperava. Não era nem 20h quando já estava enrolado no saco de dormir. Acordei por volta das 22h com muito frio, mas não tinha muito o que fazer. Passei uma noite dura. As 4h 30min, tocou o despertador e acordei já esquentando água para tomar café, foi o que aqueceu um pouco. Aos poucos fui organizando as coisas dentro da barraca. Não me preocupei muito, pois era o último dia de caminhada e não precisaria mais pegar nada dentro da mochila.

Por volta das 5h, saí da barraca para avisar aos que iriam sair no primeiro grupo. Tomei mais um café quente e comecei a desmontar a barraca. Estava muito frio e minha mão doía ao ter que manusear o sobre teto quase congelado. Tudo pronto para a saída e as 6h em ponto, iniciamos nossa caminhada. Ainda estava escuro e começamos a andar com as lanternas ligadas.

Fui deixando o Refúgio dos Pedros com um sentimento de saudade, pensando em cada ponto na qual havia passado. O tempo vai passando e se a gente não aproveitar, fica para trás. Mas hoje ainda havia um longo caminho pela frente. Estava bastante frio e nem a caminhada foi suficiente para esquentar o corpo, era preciso que o sol aparecesse. Num trecho, fomos seguindo o caminho mais batido e só percebi que estávamos errados quando já havíamos andado um pedaço considerável. Voltamos e subimos uma formação rochosa para fazer algumas fotos.

De volta a trilha, andamos praticamente pela linha de cumeada, passando por diversas lajes, com pontos mais técnicos até agora, mas nada que complicasse a caminhada. Próximo a mais um cume, fizemos numa parada e aproveitamos para fazer um lanche. Pegamos uma descida e passamos por um trecho bem bonito até chegarmos à Pedra Quadrada, que de onde estávamos, não víamos nada de quadrada, mas daria fotos fantásticas. Todos aproveitaram a paisagem. Mais alguns minutos caminhando e chegamos ao grande local de acampamento, conhecido como “Base do Papagaio”. Valeu muito a pena a nossa logística, pois havia muita gente nesse local e acho que ficaria bem desconfortável ter que montar mais algumas barracas ali. Levando em conta que quase todas as barracas ainda estavam montadas, não fazia muito sentido ter esticado a nossa caminhada no dia anterior, teria sido um esforço grande.



Encontramos com algumas pessoas na qual havíamos passado durante toda a travessia, parece que todos se encontraram naquele ponto. Foi uma boa conversa. Deixamos nossas mochilas num canto e seguimos ao tão esperado cume do Pico do Papagaio que nem é o mais alto, mas é o que dá nome a Unidade de Conservação na qual cruzamos de ponta a ponta. Durante toda a travessia, ficávamos indagando se o cume ao fundo era o Papagaio, quando é que estaríamos vendo e etc. Como ninguém havia feito a travessia, estávamos com essa dúvida. Mas agora não tinha erro, ele estava próximo e era “logo ali”.

Pegamos a trilha e seguimos uma leve descida, passando por um ponto de água e após uma mata, na borda esquerda, mais um ponto de acampamento. Após esse trecho, entramos numa área de mata fechada com grandes árvores e foi só subida a partir daí. Pegamos trechos bem íngremes, mas sem mochila pesada, tudo ficou mais fácil. Estava bem molhado, apesar de não ter chovido. Mais acima, um bonito mirante e já podíamos ter uma noção do que encontraríamos lá em cima. Faltava pouco e em mais alguns minutos estávamos no cume! O tão esperado cume do Pico do Papagaio. A vista era fantástica. Enquanto estávamos lá, foi formando um tapete de nuvens que dava um toque espetacular.

Arrumei um cantinho abrigado para fazer um café e ficamos ali durante um bom tempo, apreciando o espetáculo da natureza. Esperamos um pouco e quando estávamos prontos para descer, chegou o resto grupo. Estávamos todos lá, e fizemos uma foto para celebrar aquele grande momento. Fizemos várias fotos e foi hora de pegar o caminho de volta. Começamos a descer e foi mais fácil para mim, não tenho problemas com descidas. De volta ao ponto de acampamento, onde ficaram nossas mochilas, nos preparamos para o último trecho de caminhada.

Como era a parte final, não me preocupei muito em ver quanto teríamos pela frente. Achei que fosse pouco, mas foram, aproximadamente, 6 km de descida. Pelo menos não teríamos mais subida. Desci num bom ritmo, pegando um trecho de mata fechada, até que chegamos a uma área bem aberta, onde existia uma placa com uma bifurcação. Pegamos o caminho da esquerda que termina no Camping Panorâmico, por sinal bem bonito. Mais abaixo, começamos a caminhar bem próximos da parede do Pico do Papagaio. Depois que saímos da mata fechada e começamos a caminhar num ponto onde havia uns arbustos de pequeno porte, a trilha ficou bem seca e com bastante poeira. Foi ficando bem monótona e resolvi apetar o passo e acabar logo. Já conseguíamos ver as casas bem ao fundo.

Cheguei a uma cerca, próximo a uma casa e fiquei na dúvida se deveria seguir reto. Cruzei a cerca e depois outra, andando mais um pouco. Resolvi parar e esperar o resto do grupo. Ali descansei bastante e refleti sobre tudo o que havia passado. Foram quatro dias intensos e a tive a sensação do dever cumprido. Tinha uma vista privilegiada do Papagaio. Passou um tempo razoável e já estava impaciente com a demora. Resolvi voltar para ver se tinha alguém chegando, encontrei com outra parte do grupo logo após a casa. O Ricardo subiu para avisar aos que vinham e eu continuei descendo. Segui a cerca da direita, num trecho bem confuso, até que avistei um local com vários carros estacionados. Segui até lá. Quando vi algumas pessoas sentadas, tive a certeza de que estava no caminho certo. Em poucos minutos estava tomando um merecido banho e organizando minhas coisas para o retorno.

Almoçamos no restaurante da Tia Iraci, em Aiuruoca. Uma comida excelente. De lá, iniciamos nosso retorno, chegando à sede do Clube Niteroiense de Montanhismo por volta das 0h. Pegamos 4 dias de tempo excelente, que foram fundamentais para que percorrêssemos os 50km de trilha da melhor maneira possível.







 


quinta-feira, 11 de julho de 2024

Remada no Rio Paraíba do Sul: De Itaocara à São Fidelis

Por Leandro do Carmo

Remada Itaocara x São Fidelis


Remada no Rio Paraíba do Sul: De Itaocara à São Fidelis

Dia: 11/05/2024
Local: Itaocara
Participantes: Leandro do Carmo, Jefferson Figueiredo, Markley Santos e Mateus Leite

Trecho total remado: 52 km
Tempo: 9h 30min

Veja também:


Dicas para remar na região


Trecho feito



Vídeo da Remada Itaocara x São Fidelis


Relato da Remada Itaocara x São Fidelis

Foi em Junho de 2022 que remamos o trecho de "PortoVelho do Cunha x Itaocara", totalizando 56 km. Nossa idéia era fazer um trecho por ano até chegar à barra do Rio Paraíba do Sul, em Atafona. Porém, em 2023, não conseguimos pôr em prática nosso objetivo, mas esse ano saiu. Até que foi meio no susto, cosa do tipo: “Pode na outra semana?”, mas se não for assim, acaba não saindo. Confirmando a data, compramos logo a passagem de ônibus para Itaocara. Agora sim estava marcado!

Aproveitamos que estava uma janela de tempo extremamente favorável, com tempo firme. Fazia calor e o único problema seria o sol forte por volta das 12 horas. Mas dentro d’água podemos nos refrescar a qualquer momento. Na noite de sexta feira, fizemos as compras para o lanche e preparamos todo o equipamento. A logística foi diferente: sairíamos de Itaocara e dessa vez não teria muita correria e nem ter que acordar na madrugada. Marcamos de nos encontrar às 6 horas 30 minutos na sede do Kayak & Sup Club, em Itaocara.

Chegamos lá e na hora de pegar os caiaques, o que iria usar não estava no clube. A solução foi utilizar outro do Markley, não tão apropriado para remadas longas. Mas era isso ou desistir. Como Desistir não estava nos nossos planos, preparamos tudo e colocamos os caiaques na água, já fazendo a foto de partida. Era uma manhã bonita e a Serra da Bolívia nos da um excelente bom dia. A água do rio Paraíba estava exuberante e numa temperatura extremamente agradável, difícil ter condições melhores.

Remada Itaocara x São Fidelis


Era 7 horas e 30 minutos quando iniciamos nossa remada. Aos poucos fomos deslizando pelas águas do Rio Paraíba do Sul rumo ao nosso destino... As águas que no extremo sul do país estão causando tanto desastre, aqui nos proporcionam tanto prazer. É o contraste que a vida nos dá. Seguimos descendo e logo estávamos cruzando a Ponte Ary Parreiras, que liga Itaocara à Aperibé. Seguimos passando por pequenas corredeiras num bom ritmo. Já sentia bastante o caiaque. Mantê-lo no rumo me obrigava a fazer um esforço extra e lá na frente isso cobrou seu preço. Remava sempre um pouco mais atrás, isso para mim até facilita, pois vejo sempre o caminho que eles fazem e sigo com mais calma.

Logo deixamos o centro da cidade e voltamos a remar com poucas construções nas margens, trazendo aquela sensação de estarmos literalmente fora da civilização. Fizemos uma parada rápida e logo voltamos para a água. Mais à frente, entramos num trecho bem fechado com pequenos canais. Difícil para quem nunca passou ali identificar qual seria o melhor caminho. Mesmo já conhecendo, o Markley errou o caminho e tivemos que voltar e pegar um canal mais estreito, passando por diversos galhos que dificultavam um pouco a progressão.

Remada Itaocara x São Fidelis


Seguimos descendo o rio por entre pequenas corredeiras num silencia total, até que ele foi quebrado pelo som de alguns carros, cruzando as estradas que seguem paralelas ao rio. Logo chegamos à Portela, Distrito de Itaocara. As pessoas ainda dormiam e havia pouco movimento. Passamos rapidamente pelo distrito de Portela e começamos a pegar muita água parada. Não estava fácil remar naquele caiaque, mas fui seguindo. De um ponto, o Markley falou: “Olha lá a ponte de Cambuci!”. Juro que fiquei procurando, mas como não via nada, fiquei na minha. Só depois que ele disse que era brincadeira, fazendo isso só para motivar. No alto de um morro, na margem esquerda, dava para ver uma casinha e o Jefferson me disse que era a referência da ponte de Cambuci. Agora sim estava perto.

Ia sempre remando num ritmo mais lento que os outros, mas sempre antes de alguma corredeira alguém me esperava para dar um auxílio, caso necessário, afinal de contas era o menos experiente do grupo. Passamos pela ponte de Cambuci e remamos por trechos com bastante água parada. O calor foi aumentando e a todo momento tinha que jogar uma água na cabeça. Passamos o centro de Cambuci e já estava bem cansado quando fizemos uma parada rápida. O local era bem bonito, assim como inúmeros pelo qual passamos. Aproveitamos para comer algo rápido, nossa parada para almoço seria mais a frente. Aproveitei para trocar caiaque com o Markley. Como o caiaque era dele, talvez ele estivesse mais acostumado. Para mim ficou mais fácil, o caiaque era parecido com o TS, na qual havia remado no trecho Porto Velho do Cunha x Itaocara.

Voltamos para a água e já nas primeiras remadas senti bastante diferença.  Foi um alívio. Mais à frente, comecei a ouvir um barulho forte de água, chegávamos à Cachoeira do Romão. Uma corredeira forte, com grandes ondas que segue numa curva. Jefferson e o Mateus desceram algumas vezes, eu e o Markley optamos por fazer a portagem sobre as pedras e voltar a remar uma pouco mais abaixo. Descemos o final da corredeira e num remanso fizemos nossa parada para o almoço. O local era bem bonito e agradável. Demos uma boa descansada, mas já era hora de voltar a remar. Estávamos mais ou menos na metade do caminho, havíamos remado cerca de 28 km. Lá fundo conseguia ver uma formação rochosa bem bonita. Não sabia exatamente se era naquela direção que iríamos, mas minha intuição dizia que sim e acabei tomando-a como referência.

Remada Itaocara x São Fidelis


Depois de um bom lanche, voltamos para água, ainda tinha muito rio para remar. Continuamos passando por lugares fantásticos. As corredeiras diminuíram de intensidade. Para mim foi até melhor, visto que precisava remar com mais força durante a descida e já estava cansado. Pegamos um braço auxiliar e fizemos uma parada em Pureza, 3º Distrito do município de São Fidelis. Fomos muito bem recebidos por um senhor que morava na beira do rio. Quando perguntamos onde tinha um bar para comprarmos água, ele nos ofereceu várias garrafas de água gelada. Sempre com aquela excelente hospitalidade de cidade do interior. Aproveitei para descansar e confesso que fiquei desanimado quando fiz as contas, pois ainda faltavam cerca de 20 km para o nosso destino.

Continuamos nossa jornada e depois de um longo trecho de água parada, num local paradisíaco, chamei o pessoal para darmos uma parada. Aproveitamos para descansar e rir um pouco. O bom astral dava forças para continuar. Dei uma caminhada até uma laje e fiz um lanche bem próximo água, só sentindo a água bater nos meus pés. O sol estava forte e já estava incomodando. Senti alguns calos na mão esquerda, mas não quis tirar a luva. Estava com medo de que tivesse dado bolhas. Agora era recarregar as baterias e seguir até o final.

Remada Itaocara x São Fidelis


Passamos por diversos pontos de água parada. Para mim era bom, remava tranquilo sem ter que forçar muito nas corredeiras. Já estava bem cansado quando numa corredeira sem grandes dificuldades, o caiaque foi virando e não tive forças para me equilibrar e tombei. Fui para a margem um pouco mais a frente e com ajuda do Mateus, tiramos a água e voltamos para a água. Voltei a remar um pouco desanimado, mas tinha que continuar, estávamos no trecho final. Aquela formação rochosa que havia tomado como referência já estava ficando para trás.

Fomos acompanhando uma linha de trem desativada e isso ajudou a fazer o tempo passar. De longe já era possível ver uma ponte, pelo formato, provavelmente era da estrada de ferro na qual vinha acompanhando. Sinal de que estávamos chegando. Isso me deu forças. Estávamos num trecho bem largo do rio, na qual parecia uma lagoa. Fui remando e percebi que o barulho das águas estava aumentando, sinal de estávamos próximos de uma corredeira. Segui o Jefferson, que foi em direção à margem esquerda. Como sempre, esperei todos descerem e fui em seguida. Fui com bastante cuidado, não podia dar errado. Passamos a última corredeira da remada, conhecida como “Salto”. Passada mais essa, o Markley seguiu com o Mateus para a esquerda e eu fui seguindo o Jefferson que ainda aproveitou uma boa onda e ficou surfando por alguns minutos. Nos reencontramos num areal, logo após a ponte, onde paramos pela última vez. Já estávamos bem próximos. Já estávamos no final do dia e o sol começou a se por. Estava bem bonito. Fizemos uma foto para e seguimos para o ponto onde havíamos combinado o resgate.


Remada Itaocara x São Fidelis

Foram mais uns 2 km até chegar à CEDAE, onde arrumamos um local para subir. Conseguimos colocar os para cima e levamos até o carro, onde amarramos tudo e seguimos de volta à Itaocara.

No total, foram cerca de 52 km, em aproximadamente 10 horas de remada num dia fantástico.


Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis

Remada Itaocara x São Fidelis