Por Leandro do Carmo
Travessia Petrópolis x Teresópolis
Dia: 10 e 11/09/2022
Local: Parque Nacional da Serra dos Órgãos
Participantes: Leandro do Carmo, Leandro Conrado, Fernando Marques, Willian
Pedrozo, Thiago Wentzl, Charles Gomes, Gustavo Chicayban e Higor
Como chegar
A portaria da Sede Petrópolis fica no Bairro do Bonfim, em
Corrêas, Petrópolis. O acesso terrestre principal é feito pela BR 040, que liga
o Rio de Janeiro (RJ) a Juiz de Fora (MG). Do centro de Petrópolis até a
portaria, o acesso é através da Estrada União-Indústria, que margeia o Rio
Quitandinha. Deve-se tomar o acesso do Distrito de Corrêas.
Para quem vem de Teresópolis o acesso é através da Rodovia
BR-393 (Teresópolis-Itaipava). Chegando-se a Itaipava toma-se a direção do
Centro de Petrópolis até o Distrito de Corrêas.
A partir de Corrêas deve-se seguir as indicações do Bairro
Bonfim. O acesso é feito por estrada de terra e trechos ruins de asfalto e
paralelepípedo. A portaria do parque é a última construção na área mais alta do
bairro.
De ônibus a melhor opção a partir do Centro de Petrópolis é
tomar um ônibus para o Terminal de Corrêas. De lá existem duas linhas que
atendem ao Bonfim - a linha 611 (Bonfim) que tem ponto final a cerca de 1 Km da
portaria e a linha 616 (Pinheiral) que chega mais perto, até a Escola Rural do
Bonfim.
Início da Trilha
Dicas
Optamos por fazer em 2 dias. No primeiro dia, acampamos no Açú e no segundo, seguimos direto até a portaria de Teresópolis. Com relação à logística, deixamos os carros na sede em Teresópolis e de lá, contratamos uma van para nos levar até a portaria de Petrópolis.
Relato
Voltando para mais uma Travessia Petrópolis x Teresópolis.
Uma das mais clássicas do montanhismo brasileiro. A travessia começou há mais
de um mês atrás, quando encaminhei uma mensagem lá no grupo do Clube
Niteroiense de Montanhismo avisando sobre a minha vontade. As inscrições
estavam abertas e seria necessário que fizéssemos nossa solicitação de
inscrição, preenchendo um formulário “on line” e aguardando a resposta sobre a
validação. Como sou guia do clube, não necessito fazer agendamento. Deixei
aberto, cada um ficaria responsável por sua vaga.
Nas semanas anteriores da viagem, definimos alguns detalhes
de como faríamos com os carros. Optamos pode deixar já na sede em Teresópolis e
pegar uma van até o início, em Petrópolis. Nas outras vezes, tinha contratado
uma pessoa para levar o carro de Petrópolis até Teresópolis. Algumas pessoas
não conseguiram vaga. Próximo ao dia, algumas pessoas desistiram, deixando
nosso grupo com 8 pessoas. Com tudo resolvido, saímos de Niterói às 5h de
sábado rumo à Teresópolis.
A previsão era razoável. Tempo bom no sábado e possibilidade
de chuva, já na noite e para o domingo. O dia amanheceu firme. Pelo menos nessa
manhã, não havia sinal de chuva. Pelo contrário, tinha certeza de que o sol
apareceria forte. Chegamos no horário combinado e a van já nos aguardava.
Entramos um pouco antes da abertura do parque para estacionar os carros e de lá
seguimos na van até a portaria de Petrópolis. Foi a primeira vez que passei
pela estrada que liga as cidades de Teresópolis e Petrópolis. Fizemos uma
parada na padaria da Praça de Corrêas e de lá seguimos até a portaria do
parque.

Paramos um pouco antes, pois a van não conseguiria manobrar
lá em cima. Dali caminhamos uns 150 metros. Já na portaria, preenchemos as
papeladas e fizemos nossa foto de saída. Era 9:15h quando iniciamos a
caminhada. Esse trecho inicial é um bom aquecimento. Apesar de ser subida, ela
é bem leve e vamos ganhando altitude bem lentamente, porém constante. Uma parte
caminhou mais rápido. Fui um pouco mais atrás.
Fizemos nossa primeira parada rápida na bifurcação para a
Cachoeira do Véu da Noiva. Ali é um ponto estratégico, pois antecede a forte
subida até a Pedra do Queijo. Tomei uma água e comi algo bem rápido. Descansei
um pouco, já pensando no próximo trecho. Voltamos a caminhar. Fomos ganhando
altitude rapidamente. Num ritmo mais lento, porém cadenciado fui subindo,
sempre de olho na paisagem. Em alguns pontos é possível ver o Vale do Bomfim,
bem como parte do chapadão, local onde estaríamos em breve. Passamos a entrada
para o “Alicate” e mais à frente, paramos rápido para uma foto em um belo
mirante. Já estávamos bem próximos da nossa segunda parada. Esse trecho, apesar
de forte, ainda está no começo da caminhada, por isso consegui fazer bem. O
cartucho do gás ainda estava cheio! Mais alguns metros e estávamos na Pedra do
Queijo.
Fizemos uma parada mais longa. Ali, pude comer algo mais
reforçado. Na minha programação, completávamos 1/3 do caminho. Andamos num bom
ritmo. Ali é um excelente ponto para fotos. Do alto da Pedra do Queijo, podemos
ver todo o Vale do Bomfim. Abdiquei das fotos e apenas descansei e lanchei. A
partir desse ponto, já é bem visível a mudança na vegetação. As grandes árvores
vão dando lugar à pequenos e retorcidos arbustos. O Charles subiu à frente,
pois ele queria subi o drone para filmar um trecho mais acima. Depois de um
merecido descanso, era hora de voltar a caminhar. Nosso próximo objetivo, era a
parada no Ajax.
Assim que começamos a andar, ouvimos o barulho do drone.
Esse é um trecho que está mais aberto. O sol batia e o calor aumentava. Fomos
andando e logo chegamos ao Charles, que já preparava a mochila para voltar a
caminhar. Nesse ponto, conseguíamos ver o Ajax e Alto da Izabeloca bem ao
fundo. Esse seria o caminho que teríamos que percorrer. Veio uma descida mais
longa, a primeira depois de um longo caminho. Mas a alegria da ilusão logo foi
vencida pela tristeza da verdade, quanto mais descêssemos, mais teríamos que
subir novamente. Mas não tinha jeito, era concentrar e subir. A descida até que
foi longa, mas deu uma aliviada. Subi até o Ajax, onde fizemos outra parada
mais longa. Ali fiz outro lanche e enchi o cantil no último ponto de água.
Aos poucos, fomos saindo em direção ao nosso próximo
objetivo, a Izabeloca. Essa subida já foi pior. Depois de um grande manejo
realizado, foram feitos novos trechos em curvas de nível, aliviando a subida.
Olhando para trás, era possível ver boa parte do caminho que já havia feito.
Foi um alívio ver o totem. Já no alto do chapadão pude descansar. Algumas
nuvens cobriam o sol e o vento trouxe um frio mais forte. Coloquei o anorak e
aí sim, pude relaxar um pouco. Fiz algumas fotos aguardei que todos chegassem.
Já havíamos completado 2/3 do caminho. Era a nossa última parada e dali,
seguiríamos até o Abrigo do Açú.
De vota a caminhada, estávamos no trecho, teoricamente, mais
tranquilo. Mas esse mais tranquilo é muito relativo. Já estávamos cansados e o
chapadão não é tão reto assim. Existem subidas e descidas. Claro que nada se
compara aos trechos anteriores. O maior problema ali é a orientação no caso de
forte neblina. Como o dia estava aberto, não seria um problema. Faltava cerca
de 1,5 km para concluirmos o dia. Lá no fundo, era possível ver o cruzeiro no
alto do Açú. Depois de alguns minutos, já era possível ver os Castelos do Açú.
Uma vista fantástica. Já conseguia ver também o Abrigo do Açú. O abrigo está
fechado, devido ao fim do contrato com a concessionária.
Quem chegou primeiro, iniciou a montagem das barracas na
área de camping quase ao lado do abrigo. Optamos ficar ali por estar próximo ao
ponto de água e banheiro, mas talvez não seja o melhor local. Aproveitei para
tomar logo o banho. Me surpreendi com a temperatura da água. Estava melhor do
que imaginava. De banho tomado e com o ânimo renovado, fui armar a barraca.
Como cheguei por último, acabei ficando com os piores lugares. Tive que
preparar o chão, colocando os ramos secos de capim. Isso deixou o fundo da
barraca mais confortável. Até pensei em montar em outro local, mas era menos
abrigado e se ventasse, ficaria ruim.
Depois da barraca montada, preparei meu almoço. Comi com
vontade. Dei uma organizada no equipamento e fui até o cruzeiro ver o
pôr-do-sol. Foi um espetáculo, apesar de estar um pouco nublado. O frio lá no
alto estava forte, mas nada que uma boa roupa de frio não resolvesse. Os cumes
mais altos do PARNASO eram os únicos visíveis. Abaixo, um tapete de nuvens.
Estávamos literalmente sobre as nuvens. Voltei até a barraca e me preparei para
descansar, afinal de contas o dia seguinte seria mais cansativo. A noite chegou
e com ela a lua cheia, era uma daquelas que iluminava tudo. O céu estava bem
estrela e tinha uma previsão de chuva para a madrugada e o dia seguinte. Agora
era dormir e torcer para o tempo não virar.

Dormi extremamente mal. Mesmo cansado, acordava toda hora.
Foi uma noite bem tranquila. Ventou pouco e por algumas vezes, ouvia o barulho
que pareciam pingos caindo em cima da barraca. Era por volta das 4 h quando uma
menina que estava na barraca em frente a minha acordou e fez muito barulho,
falando alto e até cantando. Nem se preocupou que tinham outras pessoas
dormindo. Fiquei esperando dar 5h para levantar e assim que celular tocou,
levantei já achando que o dia estaria fechado. Estava errado, ainda bem. O dia
estava firme. O barulho que ouvia durante a noite, provavelmente era de areia
carregada pelo vento. Preparei o café e fui arrumando a mochila para deixar
tudo pronto para a partida.
Saímos para caminhar as 6:30h, um pouco depois do previsto,
mas num bom horário. O Charles saiu bem cedo, ainda era noite, na tentativa de
fotografar algum animal. Partimos do camping e seguimos descendo o primeiro
lajeado. Dali, podíamos a ver a grande subida que teríamos pela frente, para
atingir o Morro do Marco. Do outro lado, víamos a subida para o Morro da Luva.
Assim que cruzamos o vale, deu para perceber que a subida não era tão longa
assim. Acho que de longe parece bem pior. Ainda era o começo da caminhada e por
enquanto, tudo tranquilo.
Chegamos ao cume do Morro do Marco, que tem esse nome devido
a um grande totem de pedra que existia e foi destruído há alguns anos. Nesse
ponto, tínhamos a opção de seguir aos Portais de Hércules, mas fazendo a
travessia em dois dias, fica muito puxado. Seguimos em direção ao Morro da
Luva, descendo até o colo entre os dois cumes. Nesse ponto há o primeiro ponto
de água. Como meu cantil estava cheio, optei por não coletar água nesse ponto.
Minha estimativa era de pegar somente no Vale das Antas. Do colo, começamos a
subir o Morro da Luva. Uma das piores subidas da travessia. Não adiantava ter
pressa. No começo, tem vários trechos onde é necessário usar as mãos para
ajudar a subir. Mais acima, alguns trechos bem escorregadios. Depois de uns
bons minutos, havíamos chegado ao Morro da Luva. Lá encontramos com o Charles.
Fizemos mais uma parada para descanso.

Dali, seguimos descendo até atravessar um charco e seguir
paralelo a um pequeno córrego. Dessa vez estava mais seco, diferentemente da
última vez que passei por ali. Mais à frente, entramos num lajeado e descemos.
Já conseguíamos ver o trecho do elevador. Já no final da descida, bem próximo
ao precipício, seguimos para a esquerda e cruzamos o córrego. Nesse ponto há um
corrimão que balança um pouco. Fomos andando num trecho bem delicado até chegar
à base do elevador. Nas fotos, ele parece bem mais difícil que ao vivo. Para
quem não conhece, o elevador é uma sequência de degraus fincados na rocha. É um
trecho obrigatório e não há como contorná-lo. Lá no alto, fizemos mais uma
parada para descanso.
Fizemos algumas fotos e voltamos a caminhar. Dali,
conseguíamos ver por onde passaríamos. Seguimos subindo levemente até descer
forte numa rampa. Dali pegamos o caminho até chegar ao Dinossauro. Ali,
estávamos bem de frente para o Garrafão. Uma vista fantástica. Lá no fundo,
aquele tapete de nuvens. Nossa próxima parada seria o Vale das Antas.
Continuamos a caminhada por mais um lajeado até começar a descer. Já no final
da descida, passamos por trecho que sempre tem lama, mas dessa vez, assim como
em outros trechos, estava bem tranquilo. Já no Vale das Antas, fizemos mais uma
parada. Aproveitamos para captar água e comer algo. Era importante descansar,
pois essa próxima subida seria forte. Mas antes que o corpo esfriasse, voltamos
a andar.
Cruzamos uma pequena ponte de madeira e iniciamos a subida
para a Pedra da Baleia. Foi mais uma subida dura. Mas logo estávamos passando
por uma pedra, que chamamos de Dorso da Baleia. Dali, cruzamos mais um charco e
fizemos mais uma parada no totem que indicava cerca de 1,5km até o Abrigo 4. O
vento era um pouco mais forte. Procurei um local um pouco mais abrigado para
evitar o frio. Descansamos bem. Estávamos cada vez mais próximos.
Descemos em direção ao lance do Mergulho. Não levamos corda.
Muita gente opta por fixar uma corda nesse ponto para ajudar a descida,
principalmente nos dias de chuva. Mas descendo devagar, é possível fazer sem.
Fomos descendo um por um. Havíamos feito o penúltimo trecho técnico de toda a
travessia, faltava apenas o “Cavalinho”. Andamos mais um pouco e começamos a
subir. Já estávamos colados na Pedra do Sino. Paramos na base do Cavalinho e
pude observar as pessoas passando. Nem chega a ser tão difícil como se fala,
mas com atenção, dá para passar tranquilo. Optamos pela seguinte estratégia: um
sobe, pega a mochila, o próximo sobe sem mochila e pega a mochila do próximo,
que sobe sem. E assim fomos subindo, passando o trecho bem rápido.
Continuamos subindo e passamos pela escada. Andamos até o
ponto onde dá acesso ao cume da Pedra do Sino. Alguns subiram, eu optei por
seguir direto até o Abrigo do Sino. Aproveitei que tem sinal de celular nesse
ponto e mandei algumas mensagens, avisando que estava tudo bem. Foram mais
alguns minutos até chegar ao Abrigo 4. Dei uma boa descansada e preparei um
almoço. Era cedo ainda, havíamos chegado por volta das 12h. Tempo suficiente
para almoçar, descansar e ainda chegar durante o dia na portaria de
Teresópolis. Alguns preferiram descer sem almoço.
Depois de um bom almoço e uma boa descansada, começamos a
descer a trilha do Sino. O tempo permanecia bom, mas na medida que iríamos
perdendo altitude, entraríamos na zona das nuvens e, a partir daí, não daria
para garantir mais nada. E não deu outra. Assim que cruzamos a cota 2000, ponto
onde marca a altitude de 2.000 metros, estava tudo bem fechado e não tínhamos
mais visual. Pelo menos, não chovia. Seguimos descendo e fizemos uma parada na
saída para o Paredão Paraguaio e outra, na Cachoeira do Véu da Noiva. É uma
descida que parecia não ter fim. Estava tudo bem molhado, mas não chovia.
Chegamos quase juntos à Barragem com o grupo que havia saído
primeiro. Se tivéssemos combinado, talvez não tivesse dado tão certo. Mas ainda
não havia acabado, faltavam mais aproximadamente 2 km até o ponto onde o carro
estava estacionado. Seguimos descendo pela rua até lá. Assim que avistei o
carro, pude dar como encerrada a travessia. Troquei de roupa e arrumei as
coisas. Dali, seguimos direto para o Paraíso Café, onde fizemos um lanche
reforçado para pegar o caminho de casa. Mais uma Travessia Petrô x Terê
finalizada.