De volta ao Dedo de Nossa Senhora. O Dedo de Nossa Senhora é
um dos quatros cumes que são acessados por fora da sede de Teresópolis e são
eles, na ordem de cima para baixo: Cabeça de Peixe, Dedo de Deus, Dedo de Nossa
Senhora e Escalavrado. Eu já estava para voltar lá fazia um bom tempo, mas
nunca era prioridade. Enfim surgiu a oportunidade.
Depois que foi marcada a ATM (Abertura da Temporada de
Montanhismo) do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, eu havia decido fazer a
Verruga do Frade como parte do evento de invasão dos cumes. Mas como o CET –
Centro Excursionista Teresopolitano tem a Verruga do Frade como símbolo e eles
tinham a intenção de fazê-la, optei por escolher outro cume. Pensei: já tem um
tempo que fui ao Dedo de Nossa Senhora, já é hora de voltar! Abri a atividade e
logo fechamos o grupo.
Para fazer algum desses cumes no final de semana tem que
chegar cedo e mesmo assim torcer para não ter muita gente na frente. E
arriscamos. Marcamos de nos encontrar às 6h no estacionamento do Paraíso Café. Assim
que chegamos lá já tinha bastante gente pronta para sair e vários carros
estacionados. Não tínhamos muita noção de quantas estariam em cada cume.
Descemos a estrada ainda noite.
Entramos na trilha e começamos a subida. Fomos conversando e
o tempo passou rápido. Rimos bastante pois o Velhinho estava conosco e isso é
garantia de boas risadas. Já quase ao final da subida, comecei a ouvir gente
conversando. Não imaginava que tinha gente à frente. Falei para me
acompanharem, pois se estivesses lentos, pediria licença e seguiria subindo.
Mas nem precisou. Assim chegamos, eles estavam parados numa área mais aberta. O
grupo era grande. Passamos e seguimos para os primeiros trechos de escalada.
Nos arrumamos rápidos e já saí, subindo os dois primeiros
grampos, parando um pouco mais acima. Nem nos encordoamos, pois ainda teríamos
que continuar a caminhada mais acima. Nesse ponto, o grande grupo chegou e meio
que deu uma embolada. O trecho acima não foi muito fácil. Era uma sequência de
fendas, na qual subíamos entalados. Um dos caras usou um cipó grosso que estava
mais para o lado, argumentando que sempre usava. Eu avisei que mais acima esse
grosso cipó ficava fino, na grossura de um dedo. Não adiantou e passei a não
falar mais nada.
Vencido o lance, subimos mais um pouco até chegar à base do
artificial. Lá sim nos equipamos. Juntei todos os estribos que tínhamos e mais
algumas fitas e saí para guiar. Fui intercalando estribos e fitas para
facilitar a subida. Fui subindo e montei a parada num confortável platô. A
galera subiu em seguida. Assim que todos subiram, peguei o equipamento e segui
para o segundo trecho de artificial, esse menor um pouco. Após a reforma, os
cabos de aço que existiam ali foram trocados por proteções.
Foram lances bem bacanas, apesar de estar em artificial. Tem
gente que não gosta, mas para mim tudo é divertido. Terminado o artificial,
segui um pouco mais para cima, onde montei a parada. Dali para cima, era uma
trilha. Mas não se engane achando que iria ser fácil. Havia um trecho acima que
estava escorregando bastante. Conseguimos passar com tranquilidade, mas
soubemos que teve gente que sofreu para conseguir passar.
Faltava pouco para chegarmos ao cume e fomos os primeiros a
chegar. Ainda bem que tivemos um tempo sozinhos. Aos poucos a galera foi
chegando. Fiz um lanche e descansei bastante. Conversamos e aproveitamos para
assinar o livro de cume. Chegaram alguns amigos de Teresópolis. Foi lotando. Já
era hora de começar a descer.
O Velhinho achou melhor fazermos o rapel do cume. Como eu
nunca havia feito, não estava muito confiante. Mas ele me convenceu. Mas antes
tive que tirar algumas dúvidas com o pessoal de Teresópolis e a informação era
de que esse rapel terminava perto do final da escalada, assim não teríamos que
descer naquela parte escorregadia. Montamos o rapel e fui o primeiro a descer.
Chegando à base, percebi que foi uma boa opção. Dali, havia possibilidade de
fazer um outro longo por fora, mas teríamos que parar no meio da parede.
Achamos melhor descer por onde havíamos subido.
Voltamos para a trilha e ainda tivemos que aguardar mais
algumas pessoas subindo. Ainda bem que começamos primeiro. Montamos mais um
rapel até o platô e depois um até a base. Dali, seguimos descendo e ainda
montamos outro no primeiro trecho de escalada. Aos poucos fomos descendo e
pegamos a trilha de volta. Ainda fizemos uma parada para arrumar as coisas,
antes de descer direto até o asfalto. Caminhamos e ainda paramos para um bom
lanche no Paraíso Café, antes de pegar a estrada de volta para Niterói.
Dia: 22/06/2024 Local: Bomfim – Petrópolis - RJ Participantes: Leandro do Carmo, Leonardo Carmo e
Marina
Vídeo da Trilha do Alcobaça e Mãe D'Água
Relato da Trilha do Alcobaça e Mãe D'Água
Havia marcado de fazer a Travessia Petrópolis x Teresópolis,
mas por um problema no sistema de agendamento do Parque e mudança nas regras,
acabei não conseguindo vaga. Como opção, pensei em fazer o Alcobaça e o Mãe
D’Água na mesma tacada. São dois cumes bem bonitos que tem o acesso em comum, o
que facilitaria a logística. Era muito melhor aproveitar a viagem e fazer os
dois, que totalizando daria, aproximadamente 11 km de caminhada. Acabei não me
preocupando muito com a altimetria. Ainda bem que só fui saber na hora e da
pior maneira possível. É aquela velha história: “tá na chuva é para se molhar”.
Encontrei meu irmão em Magé e de lá seguimos para
Petrópolis, subindo a serra velha, em Raiz da Serra, distritro de Magé. Eu
ainda não conhecia e achei bem bonita a vista, apesar do calçamento em
paralelepípedo. Chegamos em Correas e fomos direto para o Vale do Bomfim. Até o
restaurando do Tourinho, nós conhecíamos o caminho, a partir dali, seria
novidade. Entramos na estradinha e seguimos subindo até que ficamos na dúvida
de qual caminho seguir e estacionamos o carro num bom local. Perguntamos a um
morador se podíamos deixar o carro ali e ele disse que sim. Ele nos disse que a
trilha era mais acima.
Como estávamos relativamente próximos e não sabíamos as
condições para cima, resolvemos deixar o carro ali mesmo e seguimos andando
pela estradinha. Mais acima, no local indicado como estacionamento, vimos que o
local era bom, mas fica para uma próxima. Continuamos subindo passamos pelo
local onde o meu GPS indicava o início da trilha do Mãe D’Água, mas havia uma
casa com portões fechados e uma placa com uma seta, indicando o início da
trilha. Como nosso primeiro objetivo era o Alcobaça, seguimos subindo.
Um pouco mais acima, numa curva, uma placa indicava o início
da trilha do Mãe D’Água. Essa ficaria para a volta. Continuamos subindo e numa
bifurcação, pegamos o caminho da direita. A estradinha foi diminuindo e logo
estávamos numa trilha. Passamos por um ponto de água e continuei subindo até
chegar a umas placas do parque. Nesse ponto, a trilha continuava reta, mas
tinha uma para a esquerda e outra para a direita. Como o Alcobaça estava para a
direita, não tive dúvidas de qual caminho pegar.
Esperei meu irmão e a Marina chegarem. Entramos na trilha e
ela fomos subindo. Era uma subida forte, sem trégua. A vezes a gente reclama
das curvas de nível que suavizam a subida, mas alongam o caminho, porém, ali
preferia que tivesse alguma coisa que ajudasse. A subida foi dura. Fui subindo
na frente cheguei a um bonito mirante, onde tinha vista para boa parte da
Travessia Petrópolis x Teresópolis. Aproveitei para dar uma descansada. De
volta a subida, vi uma saída para a esquerda e decidi dar uma olhada. O caminho
estava bem batido, andei por cerca de 200 metros e quando a descida foi ficando
mais forte, voltei.
De volta a trilha principal, os arbustos foram dando lugar a
vegetação rasteira e logo estava tudo aberto. Estava ouvindo o barulho do vento
nas árvores desde o início desse trecho da trilha, mas só agora, quando estava
desabrigado, é que pude perceber o quanto o vento estava forte. Passei por
alguns trechos íngremes e que foi necessário o uso das mãos para poder subir.
Em pouco tempo, estava no cume. A vista era fantástica. O dia aberto ajudava.
Ventava bastante e procurei um local mais abrigado para ficar. Dali de cima era
possível ver o Mãe D’Água mais abaixo. Ainda tinha um chão pela frente.
Aproveitei para dar uma volta pelo local e tentar achar o ponto que faz a
ligação para o Mãe D’Água. Fui me orientando pelo GPS, mas o caminho foi
ficando meio estranho e acabei desistindo. Fizemos um lanche e nos preparamos
para a descida.
A descida foi rápida. Logo chegamos na estradinha novamente.
Descemos mais um pouco e entramos na plaquinha que indicava o início da trilha
do Mãe D’Água. No começo achava que seria tranquilo, mas foi só começar a subir
que fui me dando conta de que não seria tão fácil assim. Nesse primeiro trecho,
estávamos abrigados e foi bem tranquilo. Porém, depois que passamos um ponto de
água, a trilha foi abrindo e ficando mais íngreme. Nesse trecho, víamos o
Alcobaça numa visão diferente. Entramos numa laje e nos guiamos por alguns
totens. Passamos por grandes bromélias, até entrar novamente na trilha, numa
saída para a esquerda.
O caminho continuava íngreme e estava bem seco, com muita
poeira. A terra seca fazia escorregar bastante. Segui num bom ritmo, me
distanciando do meu irmão e da Marina. Já estava mais alto que o Mãe D’Água e
isso me incomodava, pois teria que descer e depois subir novamente. E fiquei com
isso na cabeça. Já no alto, bem próximo ao Alcobaça vi que subida havia
terminado, mas o Mãe D’Água estava lá embaixo e teria que descer até um colo e
depois subir. E ainda tinha a volta...
Não via mais o meu irmão. Peguei a descida. Bem íngreme, por
sinal. Quase uma linha reta. Segui descendo e atravessei o colo e comecei a
subir. Subi um barranco bem íngreme e escorregadio e entrei num trecho bem
bonito, com várias bromélias e um tipo de gramínea de uma cor vende bem
diferente do que tinha em volta. Dali, conseguia ver meu irmão e a Marina
iniciando a descida. Acenei para eles, que responderam logo. Continuei subindo,
chegando ao cume logo em seguida.
Uma vista bem bonita. Como estava mais na borda do Vale do
Bomfim, deu para ver melhor diversos cumes, como o Alicate e Pico do Glória. O
Alcobaça roubava a cena. Num grande totem, pegamos o livro de cume e deixamos
nossos nomes. Ventava menos que no Alcobaça, o que nos fez aproveitar um pouco
mais. Nos preparamos e reiniciamos a caminhada. Ainda faltava um longo caminho
pela frente.
A volta foi mais rápida. A maior parte foi descida, o que
facilitou um pouco para mim. Cheguei ao carro e fiquei conversando com um
morador. Com todos no carro, seguimos para a Padaria da praça de Correas e
fizemos um bom lanche. Um dia excelente, já risquei mais dois cumes da minha
lista!
Participantes: Leandro do Carmo, Leonardo Carmo, Marina, Marcos Lima, Camila
Chaves, Fernando Marques e Washington Portela
Vídeo da Trilha do São João
Vídeo de drone do cume do São João
Relato da trilha do Morro São João
Havia tentado fazer o São João em pelo menos 3 vezes. Todas
elas, marcadas no evento que celebra a Abertura de Temporada de Montanhismo do
Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Para quem não conhece, a Abertura da
Temporada de Montanhismo ou simplesmente ATM, é um evento que ocorre anualmente
em várias regiões, tendo como objetivo marcar o início da melhor época do ano
para a prática do montanhismo, que aqui no Brasil é entre o outono e a
primavera. Esse ano a previsão era ótima e seria a oportunidade de, enfim,
conseguir chegar ao cume do Morro São João.
Marcamos de nos encontrar já na sede do Parque. Eu e o
Velhinho passamos na casa do meu irmão, em Magé, para subirmos juntos.
Finalmente conseguimos tomar um café na casa dele. Chegamos cedo, era por volta
das 5h 40min. Fizemos tudo com tranquilidade e chegamos ao Parque as 7h,
justamente quando os portões se abriram.
No controle de acesso, entregamos os termos e seguimos para
a área de estacionamento, onde deixamos os carros e continuamos a pé, até a
Barragem. Com todos reunidos, fizemos uma foto. Enchi minha garrafa na fonte,
ao lado do início trilha. O início é em comum à diversos cumes da região, como
o Sino, Mirante do Inferno, Pedra Cruz, Travessia Petrópolis x Teresópolis e
etc. Estava uma manhã fria, mas o tempo estava firme. Subimos rápido, fazendo
paradas bem curtas e logo estávamos no mirante, logo que iniciamos a descida do
Caminho das Orquídeas.
Nesse ponto, a vista do São João era fantástica, assim como
o Mirante do Inferno e do São Pedro. Dali, também conseguíamos ver a pontinha
da Agulha do Diabo. Seguimos descendo e percebi o quanto o caminho está
degradado. Pela dificuldade em descer as lajes que ficam molhadas, as pessoas
acabam utilizando a borda da trilha e cada vez mais ela vai se alargando.
Continuei descendo com bastante cuidado, visto que estava
tudo molhado. Demos uma parada no Acampamento Paquequer para pegar mais água e
aproveitar para fazer um lanche rápido. Continuamos a caminhada e começamos a
subir novamente. Já próximos ao Mirante do Inferno, pegamos uma saída à
esquerda e seguimos em direção ao colo entre o Mirante e o São João, mesmo
caminho que utilizamos para escalar a Agulha do Diabo. O caminho começa bom,
mas logo, pega uma descida bem íngreme, na qual fiz com bastante cuidado. Assim
que chegamos ao colo, nos deparamos com aquela vista fantástica da Agulha.
A partir dali, já não conhecia mais o caminho. Olhando o São
João, pegamos o caminho descendo para a esquerda, pois o da direita, segue para
a Agulha do Diabo. Seguimos descendo até chegar à parede. Nesse ponto segui
subindo por uma calha natural, subindo até um pequeno platô, fazendo um lance
de escalada. Nesse ponto há possibilidade de fixar uma corda num pequeno
arbusto, mas não foi necessário. Todos subiram direto.
Seguimos por um caminho, numa diagonal para a esquerda,
bordeando a rocha até ir ganhando altura por trechos mais abertos, subindo com
cuidado, pois os pequenos platôs são bem frágeis. De longe parecia impossível
acreditar que subiríamos andando por esse trecho, mas foi tranquilo, apesar de
exposto. Já na crista, seguimos na direção do cume por mais um trecho de
“escalaminhada”, onde pude notar a presença de alguns grampos. Ninguém precisou
usar sapatilha, mas subimos com bastante cautela.
Assim que chegamos no alto, percebi que era um falso cume e
tínhamos ainda um trecho pela frente. Continuei andando e cheguei de frente a
uma rampa, onde vi mais alguns grampos, com certeza uma via de escalada com
acesso direto ao cume. Procurei pela esquerda e não vi nada, pela direita,
descia um caminho bem discreto que seguia colado na parede do cume. Fui andando
com dificuldade pela quantidade de bambuzinhos que a todo momento se enroscavam
na mochila e pernas. A frente, uma trepa pedra e já era possível ver o acesso
ao cume.
Segui em direção a um grande bloco e optei por descer pela
direita, mas o caminho estava bem fechado. Voltei e de frente para esse bloco,
notei que havia uma passagem pela esquerda, mas seria necessário dominar um
lance exposto. Fiz com bastante cuidado e cheguei ao topo do bloco, onde vi
algumas pedras empilhadas, formando uma espécie de escalada. Subi nessas
pedras, mas não havia mão que me ajudasse a vencer o lance. Mais acima um
grampo, mas estava longe e não era possível alcançá-lo. Peguei uma fita longa e
depois de algumas tentativas, consegui laçá-la. Segurando bem alto, consegui
jogar minha perna para cima e aí ficou fácil subir. Segui caminhando até o cume
onde pude apreciar a vista fantástica.
Ventava um pouco e o cume é bem exposto. Depois de ficar um
tempo por ali, desci até a base do grande bloco e preparei um café. Ali estava
abrigado e mais confortável de ficar. Depois de um tempo, pegamos o caminho de
volta.
Esse cume estava engasgado, mas saiu! Qual será o próximo?
Participantes: Leandro do Carmo, Michel Cipolatti, Luís Avelar, Nicolas
Loukides, Ezequiel Gongora, Leonardo Farias, Higor Souza, Leonardo Carmo e
Marina Fernandes
Histórico da Conquista do Garrafão
O Garrafão, à época conhecido como Fagundes, foi conquistado
em 28/10/1934 por Émérico Hungar, Gilberto Ferrez, Geoffrey Edwards e W. George
Andrews, todos eles membros do Centro Excursionista Brasileiro. Foi um período
de grandes conquistas no montanhismo brasileiro e sua dificuldade técnica, bem
como a distância, o tornam menos frequentado, se comparado a outros cumes da
região.
Horários e pontos de referência da Trilha do Garrafão
5h – Saída de Niterói; 6h 30 min – Entrada do Parque; 7h 49
min – Início da trilha (Barragem); 8h 40 min – Abrigo 2; 9h 30 min – Bifurcação
Paredão Paraguaio (Pausa 10 min); 9h 55 min – Trilha da Pedra da Cruz; 10h 02
min – Trilha do Sino; 10h 38 min – Abrigo 4 (Pausa 20 min); 11h 10 min – Início
da subida da Pedra do Sino; 11h 20 min – Cume da Pedra do Sino (Pausa 10 min);
12h 10 min – Buraco; 12h 24 min – Cabo de Aço; 13h 15 min – Cume do Garrafão;
13h 45 min – Saída do Cume do Garrafão; 15h 30 min – Saída do Buraco; 16h 18
min – Cume do Sino; 16h 40 min – Abrigo 4; 17h 17min – Bifurcação Morro da
Cruz; 17h 38 min – Abrigo 3; 17h 45 min – Bifurcação Paredão Paraguaio/Trilha
do Sino; 19h 05 min – Véu da Noiva; 19h 55 min – Barragem; 20h 20 min – Carro.
Dicas para chegar ao cume do Garrafão
Para chegar ao Garrafão, primeiro é necessário chegar à
Pedra do Sino. Do cume da Pedra do Sino, já é possível ver o Garrafão. Devemos
ir em direção a ele num misto de laje e pequenos trechos de vegetação. Desce
até um vale e depois sobe novamente até chegar à borda de frente ao Garrafão.
Nesse ponto, vem o primeiro trecho técnico, onde deve-se procurar um buraco,
dentro dele podemos descer desescalando um lance em chaminé ou fazendo um
pequeno rapel, numa proteção que fica no alto. Convém deixar uma corda curta
(10 metros) fixa no local para auxiliar a volta. Depois desse trecho, segue até
o cabo de aço. Existe uma parada dupla onde dá para fazer um rapel. Com uma
corda de 60 m meada, não dá para chegar ao final. Um pouco mais abaixo, há um
grampo onde dá para rapelar com uma corda meada de 60 metros. A mesma pode ser
usada para segurança na volta. Optamos por dar segurança de baixo, fazendo com
que subíssemos de top rope, progredindo pelo cabo de aço. Facilitou e agilizou
bastante. Após esse trecho, pega-se uma trilha subindo, até chegar a uma canaleta
exposta. Há uma proteção no início e uma bem mais acima, onde é possível montar
um corrimão para dar mais segurança. O trecho está bem erodido e está bem
exposto. Há uma corda fixa numa raiz. Muito cuidado ao utilizá-la. Acima,
pega-se um trecho exposto com lance fácil de escalada, onde tem um grampo para
proteção. Dali para o cume são mais alguns metros.
Três semanas depois de ter feito a Agulha do Diabo, estava
de volta ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Agora para fazer o Garrafão.
Mas a ideia surgiu na semana seguinte a Agulha do Diabo, quando perguntaram
qual seria a próxima escalada? Como eu ainda não havia feito, sugeri o
Garrafão. Todos aceitaram. Aproveitei para abrir a atividade no Clube Niteroiense
de Montanhismo, dando oportunidade para outros amigos também conhecerem a
montanha. Convidei, também o Ezequiel (Ziki), depois de o ter encontrado no
CEB. Meu irmão e a Marina se juntaram a nós, confirmando somente na
sexta-feira, véspera da escalada. Ao todo, éramos 9 montanhistas. Grupo
relativamente grande, principalmente se levarmos em conta os trechos técnicos
na qual passaríamos, sendo o principal, os 30 metros de ascensão obrigatórios,
no colo entre o Garrafão e o Sino, no retorno do cume. Mas como todos eram
escaladores experientes, com exceção da Marina, acho que não teríamos problema.
E não tivemos!
Saímos pontualmente as 5h da manhã de Niterói e chegamos ao
PARNASO um pouco mais cedo do que a última vez, sendo o segundo carro da fila.
Ficamos ali conversando até dar 7 horas e o parque abrir. Fomos direto para o
Centro de Visitantes preencher os termos e de lá seguimos para a área de
estacionamento, onde deixamos os carros e seguimos até a barragem, local de
início da caminhada, propriamente dita. Estava uma manhã agradável e não fazia
tanto frio, comecei a andar apenas com a segunda pele. Havia um grupo grande
que também faria o Garrafão. Eles tinham programado de pernoitar no Sino e
atacar o cume no dia seguinte, mas como a previsão do tempo era mudança para o
dia seguinte, resolveram que iriam hoje mesmo. Mas como estavam com bastante
peso para o pernoite, com certeza seriam mais lentos e chegaríamos bem à
frente. Ainda encontramos mais um grupo de CNM, guiados pela Ana, que iriam
para a Travessia da Neblina. Bom, era hora de começar a andar.
Entramos na trilha do Sino por volta das 7h 50 min. Foi uma
subida tranquila. Passamos por alguns grupos que haviam subido primeiro e
também encontramos com outros que já estavam descendo do Sino. Fomos num bom
bate papo e logo passamos pela Cachoeira do Véu da Noiva. Continuamos a subida,
já chegando aos pontos onde era possível ver a cidade de Teresópolis ao fundo.
O dia estava firme, prenúncio de uma excelente caminhada. Paramos na entrada da
trilha do Paredão Paraguaio, onde fizemos um rápido descanso. Dali seguimos
subindo e as 10 horas entramos novamente na Trilha da Pedra do Sino. Até ali,
nenhuma novidade. Já havia percorrido esse caminho inúmera vezes. No ritmo que
estávamos, nem tinha muito tempo de aproveitar o caminho. Nosso objetivo era
chegar logo ao Abrigo 4. A partir dali sim, poderíamos curtir o caminho.
Passamos pela entrada da Trilha do Papudo e mais a frente, depois de nos
afastarmos um pouco dessa vertente, conseguíamos ver o cume do Papudo ao fundo.
Cruzamos um trecho bastante molhado e com 40 minutos de caminhada havíamos
chegado ao Abrigo 4, eram 10 h 40 min da manhã. Fizemos o trecho em 2h e 50
minutos, um excelente ritmo. Só tinha uma barraca montada. Aproveitamos para
fazer uma parada mais longa. Fiz um lanche reforçado e deixei uma garrafa de
isotônico guardada num buraco próximo ao abrigo para a volta, não queria levar
peso extra.
Abasteci minha garrafa de água e fomos em direção ao cume da
Pedra do Sino. Nem percebi a discreta saída e quase perdi a entrada da subida.
Rapidamente estávamos aos pés do totem de cimento, que fora reconstruído após
ser atingido por um raio alguns anos atrás. Aproveitei para fazer algumas
imagens com o drone, o que nos fez ter que fazer mais uma parada rápida. Já
podíamos ver o Garrafão ao fundo. Fomos descendo em sua direção e o caminho não
muito bem definido. Andar em laje de pedra é muito complicado, mas o dia estava
bem aberto e foi mais fácil ver os totens e algumas fitas amarradas nos arbustos.
E assim, seguimos serpenteando. Passamos por alguns trechos mais fechados,
porém, no geral foi tranquilo essa primeira parte. De longe não dá para
perceber, mas assim que fomos nos aproximando do Garrafão, tivemos que
atravessar um vale. Do outro lado desse vale, podia ver um grande totem.
Deveríamos seguir em sua direção, mas alguns totens e fitas nos distanciavam,
forçando-nos a contornar esse vale bem mais para a esquerda. Descemos um longo
trecho e passamos por um trecho bem fechado e confuso. A sorte é que era curto.
Assim que voltamos a subir, já próximos do totem que havia visto lá de cima, é
que pude perceber o motivo de termos que nos distanciar tanto: um trecho bem
íngreme e intransponível. Descer em linha reta era impossível. Continuamos a caminhada
por esse labirinto, sempre guiados pelos totens.
Estávamos cada vez mais próximos do Garrafão. A vista
impressionava. Daquele ponto, parecia ser impossível alcançar o cume. Nosso
objetivo agora era chegar a um buraco, onde desceríamos até chegar ao cabo de
aço. Fomos procurando, sempre seguindo pelo caminho mais óbvio até que
conseguimos achá-lo. E olha que não muito óbvio assim. Fica meio escondido,
numa passagem entre a vegetação. Dali, descemos e entramos numa gruta. Fixamos
uma corda e fomos descendo um a um, usando a técnica de chaminé. Rapidamente
descemos e começamos a montar o rapel para iniciarmos nossa descida para o colo
entre essa vertente do Sino e o Garrafão. Optamos por montar o rapel num grampo
mais abaixo, dali conseguimos dobrar a corda e deixá-la meiada, dando exatos
trinta metros. Se fossemos usar as chapeletas de cima, talvez precisássemos de
uma corda de 70 metros, mas mesmo assim, não posso afirmar que chegaria. Fomos
descendo um a um. O trecho estava bem molhado e a rocha é bem lisa. O cabo de
aço está em boas condições. O rapel foi bem tranquilo, o maior problema seria
para subir. Optamos por deixar duas cordas, assim poderíamos dar segurança de
baixo para que pudéssemos subir pelo cabo mais rapidamente.
Fui um pouco mais para cima, para poder ver de longe a
descida. Era um trecho bem bonito. Comentamos sobre a audácia da conquista,
pois ali era o caminho mais óbvio para essa descida, sem contar que achar
aquele buraco não deve ter sido uma tarefa fácil. Era uma galera a frente do
seu tempo. Uma conquista de 1934, que hoje em dia, mesmo com todo equipamento
que temos disponível, ainda é um marco para os montanhistas. Assim que todos
passaram, iniciamos a subida e o ataque final ao cume. Faltava pouco. Seguimos
em direção a uma canaleta bem íngreme. Subimos um trepa pedra e na base desse
trecho, uma corda meio velha amarada num arbusto serviria para nosso apoio. Ali
era um trecho que merecia uma segurança melhor, mas começamos a subir usando a
corda só como um apoio moral. Tem algumas agarras boas na lateral direita na
qual davam um bom suporte. Fui subindo, sempre procurando os trechos mais
sólidos, até que passei pelo arbusto onde a corda estava amarrada. Dali pra
cima, fui caminhando e procurando o acesso ao cume. Vi uma laca apoiada e não
tive dúvida de era por ali, era o único caminho possível. Segui subindo e o
trecho foi tranquilo, apesar da exposição. Mais alguns metros e estava no cume.
A vista dali era algo impressionante. Como o dia estava
aberto e firme, conseguíamos ver boa parte da Baía de Guanabara. Por todos os
lados as montanhas despontavam de forma magnífica. De um lado era possível ver
o São Pedro, Agulha do Diabo, São João, Santo Antônio, Três Marias, Dedo de
Deus, Dedo de Nossa Senhora, Escalavrado, entre muitas outras. Para o outro
lado, conseguíamos ver boa parte do caminho da Travessia Petrópolis x
Teresópolis. Geralmente estamos lá e a vista que temos para o Garrafão, chama a
atenção e vira referência. Há uns meses atrás, tive o prazer de ver o Garrafão por
esse ângulo e lembro que na época, a vontade de estar nesse cume fantástico foi
grande. Pensei: “Vou subir nessa temporada.” E hoje estava ali vendo e
relembrando o caminho que havia feito há uns dois meses atrás. Aproveitei para
filmar com o drone e fazer algumas fotos. Assinei o livro de cume e descansei
um pouco, o suficiente para o retorno. Dentro da nossa programação, ficaríamos
no cume por 30 minutos. E assim que bateu o tempo, iniciamos nosso retorno.
Iniciei a descida e cheguei naquele ponto do arbusto onde a
corda está amarrada. Desci com bastante cuidado e logo estava na base,
auxiliando a descida dos demais. Lentamente, passamos o trecho e seguimos
descendo até a base do cabo de aço. Encordoei-me numa ponta de corda e subi
utilizando os cabos, sob segurança do meu irmão. Estava bem molhado e o que eu
pressenti na descida, se confirmou na subida. Como estava molhado, alguns
trechos escorregavam bastante. Tinha que tentar me manter perpendicularmente a
rocha, mas isso demandava um esforço maior nos braços. Até que subi bem rápido,
pois quanto mais parado ficasse, mais esforço faria. Ao longo da subida,
percebi que a corda da segurança estava com um arrasto grande e só fui ver o
motivo quando cheguei à parada. As cordas haviam sido passadas em mosquetões
que estavam paralelos e um acabava fazendo uma força sobre o outro, gerando um
atrito extra e, além disso, a fita na qual esses mosquetões estavam presos ao
grampo era curta. Assim que o Luis subiu, pedi para aguardarem e precisei de
uns 5 minutos para reorganizar o nosso sistema e otimizar a subida. Com tudo
certo, joguei a outra ponta de corda para baixo e aos poucos todos foram
subindo. Faltando três subirem, chegou um grupo de Nova Friburgo. Eles
aguardaram um pouco até que todos subiram. Dali, seguimos para a gruta, onde
tínhamos que voltar por uma corda fixa que havíamos deixado. Fizemos o lance de
chaminé e nos reunimos na laje ao lado do buraco. Ali, tiramos o equipamento e
organizamos todo o material que não seria mais usado. Aproveitei para comer
algo rápido, era 15 h 30 min. O astral do grupo era excelente, faz a diferença
a boa companhia. Dali, pudemos acompanhar a entrada de nuvens pesadas. Parecia
que a virada do tempo prevista para a noite havia se antecipado. Estava
convicto de que choveria em pouco tempo. Com isso, iniciamos rapidamente nosso
retorno, ainda passaríamos por alguns trechos de difícil orientação. Em pouco
tempo o Garrafão foi tomado por nuvens que se movimentavam numa velocidade
absurda.
E seguimos caminhando. Senti alguns pingos, mas não quis
colocar o anorak, na esperança de que não aumentasse. Cruzamos o capinzal e
começamos a subir. Nos trechos mais íngremes estava escorregadio, mas ainda
conseguíamos progredir com segurança. Se aumentasse a chuva, acho que ficaria
mais complicado. Da mesma forma que as nuvens chegaram, elas se dissiparam e em
pouco tempo, mais nenhum sinal de chuva e seguindo os totens, atingimos
novamente o cume da Pedra do Sino. Eram 16h 18 min, havíamos completado cerca
de 75% da nossa atividade. Apesar desse trecho final ser longo, a divisão leva
em conta, também o grau de dificuldade. Agora era só descer. Ficamos pouco
tempo no cume e seguimos direto para o Abrigo 4. Alguns decidiram descer
direto. Eu aproveitei para lanchar e descansar um pouco mais para a descida.
Num ritmo constante e automático, segui descendo, dando apenas duas paradas
rápidas na bifurcação para entrada da trilha do Paredão Paraguaio e no Véu da
Noiva. Assim que a noite caiu, peguei a lanterna e ela não funcionou. Ainda bem
que o Ziki me emprestou uma reserva. Cheguei à barragem por volta das 19h 45min
e dali, fui direto ao carro. Aos poucos todos foram chegando e aproveitei para
pegar o carro e voltar até a Barragem para dar uma carona aos que chegaram por
último. Pegamos os carros e seguimos, parando no primeiro Posto, para fazermos
um lanche e seguir viagem. Missão cumprida!