Pedal Cassorotiba x Parque Paleontológico de Itaboraí
Dia: 04/02/2023
Local: Niterói/Maricá
Participantes: Leandro do Carmo, Hebert Calor e Andréa Vivas
Depois de ter feito o pedal até Ponta Negra, combinei com o
Hebert de fazer um pedal. Optamos por pedalar pela estrada de Cassorotiba, em
Maricá. Marcamos cedo e atrasamos um pouco a nossa chegada. Minha preocupação
era com o sol. Estamos num verão bem forte. Quando não está chovendo, está
fazendo sol. São só essas duas opções. E não dá para escolher. Vai na sorte.
Estacionei o carro em frente à Igreja de São João Batista, na entrada do Spar.
Montei minha bicicleta e aguardei o Hebert e a Andréa chegarem.
Saímos para o pedal por volta das 7 horas. O calor já estava
bem forte. Seguimos pedalando em direção à Estrada de Cassorotiba. Poucos
carros passavam pela estrada. Hoje, boa parte da estrada já está asfaltada e
está bem melhor do que quando passei pela primeira vez, a pé, quando fiz a
travessia da Serra de Itaitindiba pela primeira vez. Fomos pedalando até que o
asfalto acabou. Apesar de quente, estava uma manhã bonita.
Seguimos andando até começarmos uma subida mais forte. Não
consegui pedalar direto, mas cheguei lá. Ao final da subida, fizemos uma
parada. Ali tive que ajeitar meu banco. Depois de uma boa descansada,
continuamos o pedal. Dali, já pegamos uma descida, o que facilitou e compensou
a forte subida que havíamos passado. O caminho seguia bem bonito e paramos numa
bica d’água bem na beira da estrada, próximo a uma porteira. Após me refrescar,
seguimos pedalando. Passamos por algumas grandes poças de água, na qual, passei
com cuidado e com medo de ter algum buraco. Mais a frente, uma subida, onde parei
para apreciar a bela vista. O local impressionava. Uma área rural tá próxima do
centro urbano. Um privilégio.
Seguimos pedalando até entrar novamente no asfalto e seguir
até o Parque Paleontológico de São José do Itaboraí. Já na porta, estava
fechado por conta do horário. Mas entramos por uma portinha lateral e seguimos
até o portão onde dá acesso à Lagoa de São José. Estava fechado, mas o Hebert
foi procurar alguém que pudesse liberar o acesso. Como o vigia havia perdido a
chave, ele disse que podíamos pular. Passamos as bicicletas e seguimos até o
mirante ao final da estradinha. Tudo bem conservado e bonito. Ali, fizemos uma
parada e descansamos um pouco.
Após o descanso, pegamos as bicicletas e voltamos pelo mesmo
caminho. Parei no mesmo ponto onde havia parado na ida para apreciar a vista e
aproveitei para fazer algumas fotos. Nesse ponto, veio um grande grupo de
ciclistas. Dali seguimos pedalando e aproveitei para jogar uma água no corpo lá
na bica. Mais a frente, a grande descida na ida, se transformou, é claro, numa
grande subida. Nem pensei em seguir pedalando, saltei da bicicleta e fui
empurrando até o alto, onde paramos para descansar.
Dali, pegamos uma grande descida e seguimos pela estrada de
Cassorotiba. O sol estava bem forte. No começo, as árvores faziam uma sombra,
mas depois foi sol até o final. Esse trecho castigou, já estávamos próximos das
10 horas e trinta minutos da manhã. Cheguei no carro bem cansado. Arrumamos
tudo e fomos tomar um caldo de cana que desceu perfeito. Mais 33 km, nada mal
para o segundo pedal.
Participantes: Leandro do Carmo e Michel Cipolatti
Vídeo
Relato
Foi duro completar os 76 km de pedal. Afinal de contas,
nunca havia pedalado uma distância tão grande, o máximo que fazia era pegar a
bicicleta para ir até a praia de Icaraí e isso de vez em quando. Mas como estou
com vontade de pedalar pela Praia do Cassino, a maior praia do mundo, com cerca
de 235 km, tinha que fazer um teste. Já estava até atrasado na preparação.
Comprei minha bicicleta em dezembro de 2022, mas lesionei minha mão logo assim
que comprei e acabei quebrando duas costelas no dia 1º de janeiro, o que me
impediu de fazer esse pedal antes. Mas enfim, saiu!
Amanheceu um sábado chuvoso, uma chuvinha fraca, mas
constante. Pensei: “se o dia der sinal de melhoras, vou pedalar amanhã”. Fui
velejar logo após o almoço, já com bastante sol, o que me deu a certeza de o
dia seguinte fosse parecido com o de hoje: manhã nublada e tarde. Mandei uma
mensagem no grupo do Clube Niteroiense de Montanhismo, perguntando se alguém
queria me acompanhar. Só o Michel topou a empreitada. Marcamos de sair as 5
horas da subida de da Serrinha em Itacoatiara.
Acordei cedo, eram 4 horas da manhã. Tomei um café. Já havia
deixado tudo arrumado na véspera. Seguia até a entrada de Itacoatiara, onde
estacionei o carro e fui até o posto da subida da Serrinha, onde o Michel já me
esperava. Até pensei em atravessar até o Recanto de Itaipuaçú de carro e
iniciar o pedal de lá, mas resolvi começar dali mesmo.
Iniciando o pedal, comecei a subida da serrinha e fui só até
um certo ponto. Já ficou pesado. Tem um trecho bem íngreme no começo. Subi
empurrando e encontrei o Michel logo ali no Mirante. O dia estava bem aberto e
o sol já tinha nascido. Estava bem quente e pegar uma manhã nublada, como achei
que fosse acontecer, não rolou. Agora era torcer para não esquentar muito.
Dali, descemos até o recanto, cruzamos o canal seguimos paralelo a praia por
uma estrada de chão, até estar novamente na orla da praia de Itaipuaçú. A rua
já está toda asfaltada, faltando somente o acabamento em algumas partes. Mais à
frente, seguimos pela ciclofaixa da orla.
O mar estava bem calmo. Algumas pessoas corriam pela rua. Mais
a frente, passamos por uma festa, estavam quase fechando a rua. A gente ali
pedalando e o pessoal ainda bebendo. Algumas também estavam na areia pescando.
Passamos por um trecho onde existe uma colônia e lá tinham vários barcos e
redes esticadas na areia. Mais à frente, um grande grupo de caiaques na água
pescando. Não tinha nada aberto. Já no final da praia, fizemos uma rápida
parada para algumas fotos. Aproveitei para beber um pouco de água. Dali,
entramos na estrada que cruza a restinga. É o trecho mais bonito, até porque só
tem vegetação de restinga, uma paisagem fantástica.
Fomos pedalando e seguimos direto até Barra de Maricá, onde
pegamos o asfalto novamente. Como estava cedo, tinha pouco movimento. Passamos
por Barra de Maricá, cruzamos a ponte e seguimos por Guaratiba. Esse trecho é o
mais chato, porque a ciclovia é na calçada e não tem espaço na rua. Começamos a
procurar um local para tomar um café da manhã. Seguimos até Cordeirinho, onde
achamos uma pequena padaria. Ali, fizemos nossa parada. Michel aproveitou para
uma rápida manutenção na bicicleta dele. Comprei dois “Gatorades”. Depois do
merecido descanso, voltamos para o pedal.
Em pouco tempo, chegamos à Ponta Negra, sugeri passarmos
pela ponte nova, ainda não conhecia. Demos a volta, passando pelo centro de
Ponta Negra e paramos perto da boca do canal. Fizemos algumas fotos e demos uma
boa descansada. A praia já estava cheia e o sol esquentando cada vez mais. Era
hora de voltar. Afinal de contas, tínhamos muito caminho pela frente. Já estava
sentindo um pouco a perna, mas não dava para desistir.
Iniciamos a pedalada de volta, seguindo pela ciclofaixa até
cordeirinho. Eu já estava bem cansado e o banco incomodava bastante. Passamos
pela mesma padaria onde havíamos parado na ida, mas resolvemos seguir e parar
somente em Barra de Maricá. E continuamos a pedalada embaixo de um sol
implacável. Aproveitei uma pequena sombra para uma rápida parada. Já em
Guaratiba, pude ver a ponte e um alívio, pois já estávamos próximos a nossa
parada programada. Cruzamos a ponte e paramos próximo a uma padaria, em frente
ao DPO.
O calor forte desgastava demais. Ainda faltava toda a
restinga e a praia de Itaipuaçú. Depois de mais uma boa descansada, foi hora de
voltar. Subi novamente na bike e dei as primeiras pedalada. As pernas meio que
lutando para eu parar, mas logo avisei que não dava! Aos poucos, fui retomando
o ritmo. Seguimos agora pela orla, e logo estávamos na entrada da estrada de
terra que corta a restinga. Dali até Itaipuaçú, não teríamos sombra! Nem mesmo água
fresca. Era sol em cima o tempo todo. Optamos por seguir pela estrada próxima à
lagoa, visto que o Michel ainda não conhecia.
Passamos por Zacarias e seguimos pedalando. Ao fundo, as
montanhas de Maricá e a Serra da Tiririca ao fundo, por vezes me faziam
esquecer das dores que estava sentido, mas era só passar num buraco que
lembrava novamente. Continuei num ritmo bem tranquilo. Já próximo ao caminho
para voltar a estrada paralela à praia, tinham alguns carros parados com alguns
grupos pescando. Aproveitei para dar uma olhada no acesso à lagoa, pois estou
estudando a possibilidade de fazer a travessia das lagoas remando, saindo do
canal de Ponta Negra até a entrada do Canal da Costa.
Dali, pegamos o segundo caminho à esquerda e saímos já
próximos à Aeronáutica, fazendo um trecho maior do que se tivéssemos pego o
primeiro. Dali, foi rápido até a Itaipuaçú. Avistei uns pinheiros um pouco mais
a frente e avisei ao Michel que iria parar. Tinha que pegar forças para cruzar
a praia, apesar de que esse trecho, por ser asfalto, seria mais tranquilo.
Aproveitei para tirar o tênis e descansar bem. O vento agora era a favor,
apesar de fraco. Ajudaria pouco, mas já era bem melhor do que contra. Agora a
praia estava cheia e tínhamos que ter mais cuidado na ciclofaixa. Já no próximo
ao início da praia, demos uma parada numa sombra. O celular que estava na bolsa
da frente esquentou tanto que parou de funcionar. O sol estava forte.
Continuamos o pedal até o Recanto de Itaipuaçú, onde paramos
num mercado para fazer um lanche e descansar bem para o último desafio, ou o
tiro de misericórdia: a subida da serrinha! Nessa hora, eu me perguntava:
“porque que eu não havia deixado o carro ali?” Não adiantava chorar o leite
derramado, era subir e pronto. Eu saí a frente do Michel, mas logo ele me
alcançou. Nesse trecho, até subir quebra mola estava difícil. Fui subindo até
onde deu, e logo estava empurrando a bike. O Michel, guerreiro, passou por mim
pedalando e avisou que dava para subir. Achei até engraçado, só eu sabia do meu
sofrimento.
Foi duro chegar novamente ao mirante da serrinha. Lá
descansei mais um pouco. Resolvi descer empurrando, estava tão cansado que não
tinha condições nem de descer. Enfim havia chegado ao final! Me despedi do Michel
e segui até o carro, onde pude realmente relaxar. Havia pedalado cerca de 76
km, nada mal para quem nunca tinha pedalado uma distância maior que 5 km...
Conquista da Via Paredão Inoã, Pedra de Inoã - Maricá
Vídeo de uma das investidas da Paredão Inoã
Croqui da via Paredão Inoã
Relato da Conquista da via Paredão Inoã, por Michel Cipolatti
Conquistar uma via no Monumento Natural Pedra de Inoã tem as
suas dificuldades e recompensas. Por ter suas paredes irregulares, com muitas
fendas, diedros, platôs, trechos negativos e muita vegetação, é difícil
escolher uma linha. E foi durante a conquista da via Bernardo Collares Arantes,
em meados de 2020, que surgiu o desafio de tentar conquistar uma via que
atravessasse a maior extensão da parede voltada para Inoã, aquela que damos
"de cara" quando chegamos em Maricá descendo a serrinha pela RJ vindo
de Niterói.
Primeira dificuldade encontrada: não há trilha para a base!
Foram três investidas de abertura de trilha, em junho de 2020, para se chegar
na base, bem bonita por sinal.Só nesta etapa já temos muita história pra
contar: espinhos, mosquitos, cobras, queda de bloco com pé preso... Se eu
pudesse dar nome a esta trilha,a chamaria de “Trilha do Cipó”.
Ainda em junho, fomos eu, Michel Cipolatti, com Juratan
Câmara e ZoéCaveari na primeira investida de parede. Conquistamos cerca de 90
metros de via, que variam entre 3° e 4° graus. Foram instaladas sete chapeletas
Pingo e utilizadas três proteções móveis, já no 2° esticão.
No mês seguinte, conquistamos mais 60 metros de via, com a
instalação de quatro chapeletas e um móvel, passando por uma barriga que
sugerimos ser um 5° grau.
Na terceira investida, já em outubro de 2020, conquistamos
mais cerca de 60 metros de via passando por um diedro com boas colocações de
proteções móveis. Foram instaladas três chapeletas na ascensão e mais uma
durante o rapel para reduzir a exposição de um lance que ficou "meio
perrengue".
Neste trecho, a via se aproxima de uma “florestinha”,que
fica no alto da parede, e ao redor, é repleta de bromélias. Na investida de
novembro, com mais 60 metros de via e alguns lances em aderência, chegamos na
misteriosa florestinha. Ela fica a cerca de 270 metros da base e tem árvores de
grande porte. Impressionante!!!
Para acessar a primeiraárvore, que serve de ancoragem e
ponto de rapel até a parada dupla (foto 4), foi necessário aprimorar a técnica
de "transposição de bromélias", tentando não machucar a planta e não
molhar os pés. Tentamos ao máximo contornar a vegetação, mas chegou uma hora
que não conseguimos mais.
O ano de 2020 se foi e o projeto ficou adormecido por mais
de um ano. Durante uma conversa com Leandro do Carmo e Luiz Avellar, numa
reunião social no CNM, decidimos dar andamento à conquista. Quando contei a
história do que já estava conquistado, eles caíram na armadilha.kkkk
Combinamos de ir no dia 16 de janeiro de 2022. Isso mesmo,
no verão! Escalamos o trecho conquistado e chegamos naflorestinha exaustos. O
objetivo era explorar em busca de uma nova base para dar sequência à via, que
ganhou uma trilha no meio da parede. Não é só bater grampo que dá trabalho não.
Abrir trilha também tem suas dificuldades: escolher o caminho, levando em conta
a direção desejada e os obstáculos pela frente, como espinhos e cipós. Sem
contar os marimbondos que nos atacaram.
Foi o maior perrengue. Para cima tem um grande buraco, com
um teto que se vê da estrada, parecendo um olho. Tentei pela direita, mas
achamos uma base de uma linha aparentemente muito difícil de conquistar em
livre. Luis decidiu tentar pela esquerda e encontrou outra base, numa linha
menos vertical. Batemos duas chapeletas até chegar em uma barriga e as forças
acabaram. Rapel.
Tentamos combinar a próxima investida, mas perdemos algumas
datas por causa das chuvas ou por outros compromissos, então tentei uma
investida em solitário. Chegando mais uma vez na florestinha exausto, e dessa
vez com câimbras, bati apenas uma chapeleta e a barriga estava muito difícil, o
que causou a impressão de não ser uma boa linha, além de haver muita vegetação
logo acima.Cheguei também à conclusão de que não dava para ir sozinho.
Combinamos eu e o Luis uma investida no dia 11 de dezembro
de 2022. Entramos na trilha às 5:30, subimos na intenção de terminar a via e
descer por trilha.
Escalamos rápido e às 9:15 já estávamos na florestinha,
possível P6. Mais uma vez, ficamos incomodados com a base encontrada naquela investida,
e resolvemos explorar mais para a esquerda. Fomos por caminhos diferentes e chegamos
juntos a uma outra base, desta vez na direção do “blocão” do Mirante que tem no
cume. Perfeito! Era a minha intenção terminar a via lá, por já ter trilha de
descida e por desconfiar de que encontraríamos uma chaminé, o que deixaria a
via mais “completa”.
Abandonamos então as
três últimas chapeletas e partimos para essa nova linha. Parecia ser fácil, mas
deu trabalho, com muito regletinho e sem descanso. Sugerimos outro quinto grau
pela sequência. Batidas quatro chapeletas, a via vai um pouco mais para a
esquerda e vai ficando mais fácil até chegar noblocão após passar por mais
bromélias. Que lugar lindo! Sombra, um banquinho de pedra e uma caverninha.
Perfeito para o descanso e para apreciar a paisagem. Já foram 50 metros de via conquistados
nesta data. Para cima um grande negativo. Então, ao contornar pela esquerda,
mais uma surpresa: uma fenda maravilhosa para ser escalada “em chaminé”.
A chaminé assusta, por ter blocos entalados que podem cair.
Recomenda-se o participante fazer a segurança de fora da chaminé, preso em uma
árvore, enquanto o guia avança por dentro da chaminé por cerca de 20 metros,
com duas colocações de móveis, até encontrar uma boa saída, parecendo uma
janela. A chaminé continua, mais estreita, mas a janela foi mais convidativa,
onde preferi sair e instalar a última parada dupla da via.
Durante a subida, o Luis derrubou alguns blocos que estavam
entalados na chaminé mas estavam soltos. Só não contava que ia soltar um monte
de terra junto e ele ficou “empanado” de sujeira. A partir dali,a via vira uma escalaminhada
de uns 50 metros com algumas bromélias no caminho até chegar no mirante.
Chegamos no cume às 15 horas, exaustos e quase sem água, mas com o alívio de
termos conseguido completar o desafio.
Descemos pela trilha, que é bem íngreme, leva cerca de 1
hora e meia descendo, e termina na estrada, porém, do outro lado da montanha. O
resultado é uma nova via com uma grande diversidade de técnicas, como a
escalada em agarras, em aderência, chaminé e o uso de equipamentos móveis. Fica,
agora,a recompensa de entregar aos escaladores, no dia 11 de dezembro de 2022,
mais uma bela e exigente via, toda conquistada em livre, e digna de receber o
nome de "Paredão Inoã".
Juratan Câmara na trilha
Zoé Caveari escalando, vista da terceira parada
dupla
Michel Cipolatti, Leandro do Carmo e Luis Avellar na
“florestinha”
Relato da Conquista da Via Bernardo Collares Arantes, por Michel Cipolatti
Há alguns anos eu carregava duas vontades que nunca havia
colocado em prática: conquistar uma via e dar o nome em homenagem ao Bernardo,
e; saber se alguém já tinha conquistado alguma via naquela aresta que me
chamava atenção toda vez que eu passava pela estrada em Inoã.
E foi escalando a CEB 60 com a Hélida, sempre muito motivada
para escalar, no dia 22 de fevereiro de 2020, que ao contar essa história eu
escuto: “Bora chegar na base amanhã!”. E fomos no dia seguinte mesmo.
Depois de muita subida abrindo trilha e muitos espinhos,
chegamos na base da aresta, e para nossa surpresa, não tinha nenhuma via!
Começou então a conquista, sem nenhum projeto ou preparação. Começamos do zero.
Compra de chapeletas… Juratan entrou para reforçar o time com a sua
experiência… contato com a prefeitura, pois o local é uma Unidade de
Conservação… equipamentos móveis e furadeira emprestados… parabolts do Miguel
Monteza… e tudo pronto.
No sábado, dia 7 de março, conseguimos iniciar a escalada
(desculpa pai, por não ter conseguido te dar um abraço no dia do seu
aniversário). A idéia foi, desde o início, conquistar uma via limpa explorando
ao máximo as proteções móveis, economizando nos furos e evitando a vegetação.
Mais uma vez, para a nossa surpresa, a parede se mostrou
muito generosa, oferecendo boas agarras e muitas fendas. A via já começa com
uma fenda, com boas proteções móveis. Lembro de ter chegado no primeiro platô,
aos 10m de via, e o Juratan dizer: “Cabe uma chapeleta aí, hein!” Mas eu estava
com um móvel perto do pé e “toquei para cima”. A primeira proteção fixa fica a
13m da base, e neste dia foram conquistados 30m de via, passando por um lance
talvez de 5° grau, após a segunda chapeleta.
Uma semana depois voltamos para mais uma investida. Saindo
do P1, encontramos uma sequência de pequenas fendas boas para colocação de
móveis. Foram instaladas mais duas chapeletas até o P2. Mais uma vez, tocando
para cima, mas desta vez com a Hélida fazendo a segue, que ficou orando kkk.
O traçado encontrado e indicado pela parede alterna entre
sair da aresta para aproveitar as fendas existentes e voltar para a aresta para
aproveitar o visual do diedro, com a vista para suas paredes negativas em toda
sua extensão. E que visual! A cada investida a parede superava nossas
expectativas.
Entraram para o time o Sérgio Magalhães, que foi em todas as
demais investidas com sua raça, e o Bruno Moretto, que fez imagens incríveis
com o drone. Na terceira investida foram conquistados mais 30m de via. Terceiro
esticão todo em proteções móveis. Optamos por fazer esticões curtos, para não
perdermos a comunicação entre guia e participante, e que coincidem com as
duplas de rapel com uma corda de 60m.
Definido o P3 e… Perrengue!!! Ao tentar puxar a mochila com
a furadeira, a mesma agarrou em um arbusto e não subia de jeito nenhum. Achei
que fosse arrebentar a retinida de tanto puxar do platozinho do P3. Não soltava
por nada! A solução foi descer a mochila de volta até o Magalhães, que soltou a
retinida para eu poder recolher, e consegui jogar de volta em uma linha reta
com a chave 14 de peso. Deu certo!
Passados mais cinco dias e estávamos nós de volta à parede
para conquistar um dos lances mais bonitos da via: o lance da aresta! Logo após
o P3, com ajuda do Magalhães que apontou um possível traçado passando pela
aresta (enquanto eu estava buscando um caminho com muita vegetação) consegui
vencer um trecho que alterna entre agarras e aresta, com a utilização de dois
móveis. Porém, o lance ficou um pouco exposto demais e não é facil (eu não ia
querer guiar aquele lance de novo rs) a ponto de colocamos uma chapeleta
intermediária para reduzir o risco. Mais 30m de via e definido o P4.
A última investida antes de interrompermos por causa da
pandemia foi a mais produtiva, com ascensão de 60m. O quinto esticão não
apresenta grandes dificuldades e é protegido todo por móveis. Em seguida vem
uma horizontal para a esquerda, que passa por cima do “grande negativo”. O
final da horizontal também ganhou uma chapeleta na última investida para diminuir
o grau de exposição. A chegada ao P6, talvez o crux da via, tem proteção fixa e
boas colocações móveis.
Passados alguns meses sem voltarmos na via, decidimos
terminar a conquista. O dia escolhido em que estávamos disponíveis eu e Sérgio
Magalhães, e que não choveu, foi o dia 20 de dezembro de 2020. Marcamos 5 horas
da manhã no início da trilha para não pegarmos muito sol, tendo em vista que a
via fica voltada para o noroeste e pega sol à tarde. O objetivo era recolher as
3 cordas fixadas na parede, instalar as duas citadas chapeletas para reduzir o
risco (pintadas de amarelo para diferenciar) e conquistar o trecho final, do P6
para cima, para acessar o mirante e descermos por trilha. Chama atenção a
presença de blocos soltos a partir do P6. Sendo assim, quem optar pela descida
por trilha deve escalar a chegada ao cume com bastante cautela, também em
móvel.
A descida, conforme indicado no croqui, pode ser feita por
rapel a partir do P6 com uma corda de 60m (todas as paradas são em chapeleta
dupla) sendo o primeiro rapel em diagonal, ou por trilha a partir do mirante
(cume). Não há proteção fixa no cume, para evitar que pessoas inexperientes
montem rapel. A segurança do participante pode ser feita em arbustos ou
palmeiras confiáveis.
Ao todo, a via tem cerca de 200m, foram instaladas 12
chapeletas durante a conquista (mais seis duplas), duas intermediárias para
reduzir a exposição, e foram utilizadas 21 colocações de móveis.
Agradeço muito aos demais conquistadores, Magalhães, Juratan
e Hélida, por me permitirem a realização deste trabalho, que acredito ser o
maior feito da minha vida (depois dos meus filhos). Sem o apoio e a
participação de vocês não seria possível. Não medimos esforços durante a
conquista, pegamos sol, sentimos sede, muitas dores musculares, mas como disse
o Juratan, a dedicação e o espírito de montanhista sempre prevaleceu.
Conseguimos superar esse desafio. Ainda segundo o Jura, que conhece
praticamente todas as vias da região, “é a mais bela conquista de Niterói e
Maricá”. Eu não discordo. A parede é realmente impressionante pela sua formação
e pelo visual.
Fico muito honrado em poder contribuir para o esporte,
oferecendo mais uma opção de escalada com um requinte de adrenalina. Ainda, em
conseguir homenagear meu amigo Bernardo, um grande escalador que deu sua vida
para as montanhas, e que tanto contribuiu para o desenvolvimento do esporte,
com suas conquistas, com a intensa participação na FEMERJ e nos Clubes, com a
sua contagiante paixão pelas montanhas que certamente influenciou e ainda influencia
muitos escaladores. Esta homenagem ainda é pouco para a grandeza do Bernardo e
para o que ele representa para o montanhismo.
Fico com o sentimento de missão cumprida. Valeu cada momento
de dificuldade e superação, cada esforço e dor sentida, cada minuto de
desânimo, cada gota de suor deixada na montanha, pois “As Montanhas são uma
espécie de Reino Mágico, onde por meio de algum encantamento, eu me sinto a
pessoa mais feliz do mundo”. Bernardo Collares Arantes. Obrigado meu amigo!