sábado, 16 de março de 2013

Pico do Frade - Macaé

Nossa próxima aventura...

Dia 24/03/2013

Um breve histórico...

Por Geraldo Barfknecht


Símbolo e cartão postal de toda região serrana de Macaé, o Pico do Frade é constituído de duas grandes rochas, sendo a maior, denominada Pedra do Frade e outra menor, localizada em seu lado norte, denominada por seus desbravadores como Pedra do Paulo (atualmente Pedra do Grito, sendo essa que faz as costas do frade). A região do pé do pico até o topo é coberta por densa floresta tropical (Floresta Ombrófila Densa-Mata Atlântica) com diversos estratos, conforme a variação da altitude, apresentando em seu interior variada flora e um grande número de animais selvagens, todavia de rara aparição, frente a diversas causas, sendo a caça clandestina algo que não é estranho na região.

A parte mais elevada do Pico do Frade, é típica das mais elevadas porções dos cumes da "Serra do Mar", escarpa do Embasamento Cristalino (terrenos com cerca de 500-650 milhões de anos)com os monolitos, grande pedras isoladas, formando relevos do tipo "pão de açúcar" nos estados do RJ e ES e a vegetação constituída de diversas espécies, onde predominam as gramíneas,alguns arbustos, em campos desprovidos de arvores e algo que aqui, de certo modo pode ser chamado, de pequeno campo de altitude, pela reduzida área de ocorrência, dado a inclinação do terreno e pouca espessura do solo.


Por causa de sua grande altitude, o Pico do Frade é avistado em vários pontos da região norte do Estado fluminense, de Barra de São João até Campos, assim como desde as maiores elevações da região de Nova Friburgo a Oeste ( que próximo a última cela, paredão do Frade, na trilha de acesso, são avistados a Oeste 2-3 picos incríveis) e de todos os municípios vizinhos.Com certeza, precisamos frisar que o Pico do Frade, também deve ter sido referencia para os navegantes portugueses, que inicialmente "descobriram" o Brasil e depois, "tomaram um pouco", do Pau-brasil, para fazer corantes para a nobreza.

De sua parte mais alta, no Norte tem-se uma visão ampla de toda a Região Serrana de Macaé, assim como todos os povoados desde a BR-101 (Córrego do Ouro, Trapiche, Glicério, Óleo, Frade e parte do Sana). A Leste, avista-se a sede de Macaé e à Oeste, parte dos municípios de Conceição de Macabu e Trajano de Moraes, cuja elevação está próxima dos limites entre esses municípios.










sábado, 9 de março de 2013

História do Montanhismo Fluminense, um fenômeno recente?

Por Alex Figueiredo

Quando da fundação do Clube Niteroiense de Montanhismo, em 2003, se debateu sobre este tema, se o CNM seria “inovador” ao ser criado na região leste da Baia da Guanabara.

Logo depois de sua criação, a surpresa! O sexto clube de montanhismo do Brasil era de Niterói! O extinto Clube Excursionista Icaraí (CEI), fundado em 03 de maio de 1939, com o lema; “Sois brasileiros? Quereis conhecer de perto a vossa pátria? Inscrevei-vos no Clube Excursionista Icaraí.” Com atividades de caminhadas tando em Niterói quanto no Distrito Federal (a atual cidade do Rio de Janeiro).

Mas, entre o CEI e o CNM temos um hiato de tempo de 63 anos ..., o que houve nesse periodo? Existia a prática de montanhismo em Niterói e arredores?

Em Niterói sempre houve atividade de tropas escoteiras em diversos bairros, o que sem dúvida, permitiu que a prática do montanhismo continuasse em nosso berço, sendo algo um pouco “naturalizado”, mas não com a alcunha de montanhismo, era simplesmente o hábito de frequentar nossas florestas e montanhas, mas infelizmente não como a ideia de um clube excursionista como conhecemos hoje me dia.

Os excursionistas da Capital vinham frequentar nossas montanhas que, de certa forma, eram pouco frequentadas, sendo que a primeira conquista de uma via de escalada em Niterói foi, parece, em 1956, batizada de “Artificial da Conquista”, na Agulha Guarish, na Serra da Tiririca. Tivemos também a “Chaminé Campelo” em 1956 no morro do Cantagalo, na Reserva Darcy Ribeiro (acho que agora, deve ser conhecida como Setor Darcy Ribeiro, do Parque Estadual da Serra da Tiririca) e o “Paredão Surpresa” em 1978, no Morro do Santo Inácio.

Na década de 70, houve cerca de 8 conquistas de vias, 13 conquistas na década de 80 e 10 até fins dos anos 90. Após este período, as rochas niteroienses testemunharam uma verdadeira febre de novas de vias de escaladas!

Mas voltando a idéia de Clubes de Montanhismo, em junho de 1989 houve a fundação do Grupo Caminhante Independente, por Gerhard  Sardo que, originalmente, almejava a ideia de um clube excursionista, tanto que em suas programações de atividades, o informativo do GCI constava um item curioso, que era “Influência Ideológica” onde elencava os nomes dos clubes de montanhismo cariocas. Houve também o Grupo Terra, mas de curta duração.

Em 1992 o GCI executou um projeto que foi, a seu modo, um marco na História das Montanhas de Niterói, a campanha SOS Montanhas de Niterói, quando foram realizados mutirões de limpeza em todos os topos e trilhas do município. Nesse momento, as pessoas que frequentavam as trilhas se deram conta de duas informações importantes: SIM, nós temos montanhas! E do quanto estavam degradadas nossas montanhas.

Infelizmente também em 1992 o GCI começou a enveredar o caminho do movimento de defesa ambiental, perdendo de forma irreversível sua ideia original, que era o de um clube de montanhismo. Mas essa iniciativa acabou rendendo frutos, e membros deste grupo fundaram: o Grupo Cauã de caminhadas; Grupo Sussuarana, de Jorge Antônio Lourenço Pontes e Flávio Siqueira, ambos de curta existencia no território fluminense; e o Projeto Ecoando, em 1994, de Cássio Garcez, que é um misto de empresa de ecoturismo e de um Clube Excursionista, que existe até hoje.

O ano de 1994 também foi marcado pela tragédia no montanhismo fluminense. Em 25 de setembro de 1994 um grupo do Clube Excursionista Brasileiro, em uma atividade de caminhada ao Morro do Cantagalo, foi atacado por um enxame de abelhas africanizadas, gerando o óbito de Herald Zerfas (guia) e Joaquim Afonso Braga. Herald era um montanhista apaixonado pelas montanhas de Niterói, onde realizava diversas caminhadas e escaladas, sempre com bom humor e um chapéu estilo tirolês.

Ao iniciarmos o novo milênio, o montanhismo em Niterói ressurgiu em sua forma mais organizada e, com o apoio da FEMERJ montanhistas organizaram, finalmente, o segundo clube de montanhismo de Niterói, o Clube Niteroiense de Montanhismo, que teve em sua primeira diretoria Gustavo Muniz (presidente), Alan Marra (vice-presidente), Nise Caldas (tesoureira), Jerônimo dos Santos (diretoria técnica) e Alex Figueiredo (diretoria de meio-ambiente).

Agora, nove anos se passaram desde a primeira reunião organizada por essas pessoas e, dessa forma, tivemos um período de diversas atividades, explorações e conquistas, mas principalmente, 9 anos se passaram de risos, aventuras e camaradagem, que nos deram muitas alegrias e histórias para contar.

domingo, 3 de março de 2013

Pracinha de Itacoatiara

Vias diversas

Data: 17/02/2013

PARTICIPANTES

Do CNM: Leandro do Carmo, Leonardo Carmo, Eny Hertz, Alexandre Valadão, Alessandra Neves, Marcos Soares;

Da Companhia da Escalada: Vitor Pimenta, Bia Pimenta, Victor Ferreira e outros.

DICAS: Boulders, esportivas e muita sombra o dia inteiro

RELATO

A pracinha ficou lotada!!! Do Clube Niteroiense de Montanhismo foram 6, mais 4 da Companhia da Escalada, mais 4 amigos de amigos... Tinham +/- umas 22 pessoas lá!!!! Top rope para tudo que é lado. Era sair de um e entrar na fila do próximo. Todo mundo revezando nas cordas, na segurança, nos boulers. Uma tarde excelente.

Cheguei às 14:00h e a Eny, Alexandre e a Alessandra já estavam lá se arrumando. Depois chegou o Victor Ferreira e o Marcos Soares, esse último, do Clube. Fiz um aquecimento na fendinha, bem a direita do bloco da esquerda. Segui depois para a travessia, que fica no bloco da direita.

Foi montado top na fendinha, no grampo torto do bloco da esquerda, nas vias Tô na Merda, Pescoço de Ganso e em um grampo à direita do bloco da direita.

O Marcos havia me perguntado sobre a possibilidade de fazer a avaliação nesse final de semana, mas como já estava com duas atividades abertas, falei para ele que seria melhor marcarmos outro dia e aproveitei e o convidei ir à Pracinha. Apesar dele ainda não ter feito a avaliação, considerei que essa atividade não teria exposição a algum tipo de risco.

No mais, todos se divertiram e treinaram. Uns pela primeira vez, outros na enésima...




segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Escalada no Costão de Itacoatiara - Via do Tetinho


Morro do Tucum - Costão de Itacoatiara

Via Tetando Ramirez - VI E2 D1
Via do Tetinho - V E2 40m

Data: 16/02/2013
Participantes: Leandro do Carmo, Guilherme Belém e Bruno Santos

DICAS: No verão, faz sombra até as 12:30; para a via Tetando Ramirez, é necessário móveis, exposta nos lances iniciais; na via do Tetinho, o crux está no pequeno teto, bem protegido (E1), o primeiro grampo é bem baixo, os outros um pouco mais difícil de visualizar, mas os lances iniciais são bem tranquilos.

Relato

Ou chovia, ou fazia sol de mais. Foi assim o mês de janeiro. Devido à essas condições climáticas, fiquei praticamente o mês inteiro sem fazer uma via longa, exceto pela Agulha Guarischi. Não dava para esperar mais.... Mas escalar nesse sol.... também não dava!!!! Podem até achar que é bobeira, mas faz uma diferença ficar semanas sem escalar... queria entrar numa via mais tranquila. Decidi em fazer a Via do Tetinho, uma via curta, 40 metros, apenas uma enfiada e crux em 5º. Aproveitei para abrir essa atividade no Clube Niteroiense de Montanhismo e como já havia conversado com o Bruno Santos, fiz o convite e ele aceitou.

Como o calor estava forte, marcamos às 06:30 no gramado, em frente ao Costão. Saí de casa ainda meio escuro, era o último dia do horário de verão. Quando cheguei em Itacoatiara, o Bruno e o Guilherme já estavam lá me esperando. Foi só pegar a mochila e caminhar até a base. Contornamos o grande platô pela direta até o início das vias.

Na base, nos arrumamos e o Guilherme decidiu que ele iria guiar. Enquanto ele se arrumava, fui procurar um local mais acima para ir filmando e tirar algumas fotos. O Guilherme foi subindo, costurou o primeiro grampo e não viu o segundo. De onde eu estava, dava para ver um grampo bem no alto, mas deveria de ter um outro mais em baixo, talvez escondido por alguma vegetação. Pelo que tinha visto, a via não era tão exposta assim. Falei para o Guilherme: “Cara, o grampo deve estar aí na sua frente!” Ele me respondeu que não e eu falei que estava vendo um mais em cima. Ele foi subindo e chegou a esse grampo. Foi seguindo e os grampos continuaram espaçados. Até que ele chegou numa para dupla em baixo do teto.

Não podia ser. Pelo croqui não tinha parada dupla e ele não via nenhum grampo no teto, continuar para cima não dava. Foi aí que eu lembrei da via Tetando Ramirez, que chega numa linha reta até o teto e faz uma horizontal para a esquerda, protegendo em móvel até o final dele. Entramos na via errada!!!! Ele ficou dentro de um buraco, um pouco desconfortável por causa do cheiro de urina (impressionante como uma pessoa teve a idéia de urinar dentro daquele buraco!), ele montou a parada enquanto eu procurava a via correta.

E não é que eu estava acima do primeiro grampo! Olhei mais acima e consegui achar os outros. Vi a linha até o teto e os grampos no meio dele. Pronto, problema resolvido. Nisso, falei com o Bruno e ele resolveu escalar até onde o Gruilherme estava e depois descer, pois não tínhamos móvel para proteger a próxima enfiada dessa via. Ele subiu com a corda do Guilherme para fazerem um único rapel.

Quando eles desceram, foi a minha vez de entrar na via, mas agora na correta! Os primeiros lances foram bem tranquilos, na verdade, até o 3º grampo, se não me engano. Dali para cima, vai ficando mais vertical. Batia na pedra e tudo oco. Foi acreditar e tocar para cima... rs. Ali, minha camisa já estava encharcada. Não corria nem uma brisazinha que pudesse refrescar. Apesar de não ter sol, às 08:30 da manhã, já parecia ser 11!!!!! Depois de algumas passadas, cheguei no grampo bem abaixo do teto. Realmente os lances acima são bem protegidas. Numa esticada de braço, costurei o primeiro grampo do teto. Dei uma descansada e tentei prosseguir. O suor já estava escorrendo pelo braço e o magnésio já não adiantava mais. Resolvi abortar e descer.

Não daria para eu descer de baldinho, então tive que retirar a última costura que coloquei, a primeira do teto. Com um pouco de dificuldade, retirei-a e a coloquei invertida com uma que já estava lá para fazer um top rope. Desci e o Guilherme subiu até embaixo do teto. Depois foi a vez do Bruno. Quando o Bruno já estava descendo, lembrei a ele que era para tirar a costura e descer de rapel... Tarde de mais... rs. Teve que escalar novamente para preparar o rapel!!! Mas por que não me avisaram antes??? Disse ele. Pegadinha do Mallandro..... rs! Volta lá agora.... falei rindo. Não teve escolha...

Na base, ficamos ainda trocando uma idéia e fizemos um lanche. Aí, foi só voltar e dar um mergulho. Afinal de contas, ninguém é de ferro!!!!






terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Ao Topo


Um excelente  texto enviado pelo meu amigo Paulo Guerra, à lista de discussão da Companhia da Escalada.

AO TOPO
Por Eduardo Manhães

Experiências são insubstituíveis. Nenhum vídeo, texto ou foto pode dar a exata dimensão das nossas sensações. Mesmo tendo a certeza disso, quero tentar reviver com palavras a emoção de uma escalada.
            Tudo começa bem antes, quando marco o dia de subir na rocha, na verdade quando marco o dia em que irei desafiar a mim mesmo, meus medos, minha determinação, meu desejo de superação. Sim, escalar não é apenas um esporte para mim, é uma viagem ao meu interior, uma maneira de encontrar minhas convicções, enfrentar minhas dúvidas, é um questionamento sobre o que sou capaz de realizar.
            Nos dias que antecedem a aventura fico ansioso, o planejamento torna-se o alvo prioritário, busco informações sobre a via, verifico o equipamento, procuro visualizar as etapas da ascensão, me pergunto sobre a descida, se por trilha ou rapel, enfim, esquadrinho na cabeça como será estar na pedra, e sair dela.
            Um dia antes, deixo tudo preparado, cadeirinha, mosquetões, sapatilha, solteira, costuras, freios, capacete, tudo na mochila. Coloco para gelar a água e os isotônicos, separo alguns materiais de primeiros-socorros, a câmera. E o coração já esta a mil. Durmo sonhando com o dia seguinte e quando ele chega não perco tempo, levanto me preparo e parto para a rocha.
            Dependendo da via tenho que caminhar por alguma trilha de acesso. Começa aí um contato delicioso com a natureza. Quando vivemos numa cidade, mesmo naquelas privilegiadas por um entorno verde, perdemos por completo o entendimento do que é o silêncio das matas. Longe de ser opressor, o silêncio da floresta é libertador, porque não significa ausência de sons, mas sim o som harmonioso do vento, do canto dos pássaros, do arrastar de um lagarto nas folhas secas que crepitam sob o seu peso. O silêncio da floresta é o calar repentino do barulho da urbe, do som de motores desregulados, das ordens do nosso chefe, das urgências falaciosas do dia-a-dia. E isso é bom. Na mata posso ouvir a mim mesmo, minha respiração, a dos meus colegas de escalada, posso ouvir com mais clareza minhas divagações.
            Chego a base. Vislumbro a via, anoto mentalmente os grampos que consigo enxergar, realizo uma primeira leitura da via, busco apoios, pequenas fendas, apoios mínimos que possam garantir minha ascensão. O equipamento é descarregado da mochila e visto-me com minha armadura de segurança. O guia dá início a escalada.
            Entre o guia e o participante se estabelece uma necessária e imprescindível relação de confiança, de um depende a segurança do outro e vice-versa. Aqui uma primeira lição desse esporte. Para se alcançar um objetivo mútuo devemos primeiro pensar no outro, em garantir a integridade do seu companheiro, para que em seguida ele faça o mesmo por você. No mundo de hoje muita gente pensa em subir pisando na cabeça dos companheiros, dos colegas, esquecendo-se que no caso de queda, não vai existir ninguém que a freie.
            A rocha quase nunca é fria, geralmente esta quente, como um ser vivo. E para mim ela esta viva, faz parte desse organismo maior chamado Terra. Por isso devo respeitá-la, não devo agredi-la. No primeiro contato das mãos com a pedra já sinto uma energia diferente fluir, não é nada místico, não é uma experiência religiosa, é sensorial, físico, concreto. A aspereza, a porosidade, o limo. Nos pés a sapatilha aperta, como deve ser, meus dedos e solas chapam para conseguir aderência, meu abdômen se retesa em busca de equilíbrio para o corpo. ESCALANDO. Essa é a palavra que nos conduz para cima.
            Passo a passo, uma mão após a outra. A subida deve ser cautelosa. Nesse momento todo o entorno de problemas desaparece, só consigo pensar na via, nos apoios, em retirar as costuras, em não escorregar. O ponto de parada montado pelo guia é o objetivo primário. Outra lição da rocha para a vida. Se quer chegar ao cume, ao último grampo, trace metas curtas. Uma após a outra os obstáculos vão ficando para trás. Se pensar apenas no topo, vai desprezar o caminho, vai se esquecer de ler a via e vai cair.
            A parada é um momento ímpar. De descanso, de recuperação e de apreciação da vista. Ah, a vista! Fotos podem retratar o que eu vi, mas não como eu vi ou como me emocionei. A cada parada, quanto mais alto, a vista vai se tornando mais bela, mas intangível e ao mesmo tempo mais real. É uma ambiguidade que não posso explicar, só vivenciar. É o momento de se alegrar com seu companheiro, de trocar impressões, sorrir e compartilhar a emoção. É também um recomeço para se chegar a próxima parada, a próxima meta.
            Finalmente o topo, o cume ou o último grampo. O corpo exausto, o suor lavou meu corpo, os dedos das mãos esfolados pelo carinho intenso da rocha, os dedos dos pés com bolhas, mas o sentimento de ter alcançado o fim, de ter superado seus medos mais primordiais, isso anula os efeitos físicos da escalada. Olhar de cima o mundo, não com o ar de falsa superioridade dos vaidosos, mas com o orgulho dos conquistadores.
            O verdadeiro conquistador não vence a natureza. O verdadeiro conquistador sabe que ela não pode ser vencida, ela é absoluta, não se verga a nada nem a ninguém, por isso o conquistador se reintegra a natureza, cônscio de que é parte do todo. Dessa forma, pode apreciar de maneira plena o cume, o último grampo, pode se sentir completo, vivo. Aí esta a beleza da escalada.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Relato da Conquista no Fitz Roy

Matéria retirada do site www.companhiadaescalada.com.br, escola dirigida pelo Flávio e Cíntia Daflon.

Ainda na Patagônia o escalador Flavio Daflon nos escreveu um relato com detalhes da conquista da nova via no Fitz Roy em Chaltén, Patagônia argentina. Flavio Daflon (Brasil), Luciano Fiorenza (Argentina) e Sérgio Tartari (Brasil) foram os conquistadores desta nova via, graduada em 6º VIIa, com 1300 metros e que foi batizada como Samba do Leão. Veja abaixo o texto e algumas fotos:




Samba do Leão - Garibotti - PataClimb





















"A escalada foi show! Saímos de Chalten dia 22 a tarde com uma previsão do tempo que não era um espetáculo, mas que se não piorasse talvez desse para concluir a via. Começamos com o tempo não muito bom para ir se aproximando e acompanhando a melhora prevista. Nesse dia caminhamos quase 4h e bivacamos no lugar chamado Piedras Negras.
O dia 23 amanheceu bonito e com pouco vento e continuamos aproximando, começando a caminhar pelas 6 da manhã. Logo colocamos crampons para entrar no glaciar e cruzamos um trecho por onde desceu uma avalanche enorme na semana anterior. A última parte pra chegar a base da via é uma boa subida e bem em pé. Nos deu a primeira cansada. Estava frio e na sombra, a água da garrafa congelava. Descansamos para encarar os últimos 200 metros e poder finalmente tocar na parede. Nesse trecho subimos duas longas enfiadas, uma de rocha e outra de neve, encordados já com segurança.
Agora sim estávamos na base, mas demoramos mais que imaginávamos e já era meio-dia. O primeiro muro como chamamos, terminava num imenso platô, conhecido como Grand Hotel. Este muro de perto parece pequeno, tipo um Babilônia, mas foram 9 enfiadas, uns 400 metros. Seguíamos por um sistema de fendas e na metade da parede precisaríamos mudar para outro, mas essa transição era uma incógnita. No final acabou sendo relativamente fácil, sendo necessário bater apenas uma chapeleta. Aliás, foi a única proteção fixa em toda a via. No restante tudo em móvel, do jeito que deve ser com fissuras, fairplay, inclusive todas as cerca de 30 paradas, que fazíamos questão de serem totalmente seguras. Nesse dia só Serginho e Luciano conquistaram.
Dormiríamos no Grand Hotel, que apesar de grande, só tinha um pequeno espaço plano. Chegamos quebrados pela caminhada e escalada, 16 horas depois que começamos a caminhar naquela manhã. Este seria o tempo médio de atividade por jornada. Teríamos que matar um leão por dia! Esta madrugada, segundo a previsão, seria de -10 graus. Como nunca podemos levar tudo que queremos, já esperávamos acordar no meio da madrugada com o frio. A noite e de manhã derretíamos neve pra fazer água e bebíamos ao máximo, forçando a hidratação, chá e mate. Nos Paines lembro das caimbras que tive por estar pouco hidratado. Comíamos também bem. Polenta, queijo, salame, biscoitos, manteiga, pão. Na parede, frutas secas, gel, barrinhas, alfajor.

Grand Hotel.No segundo muro.

Agora, dia 24, era encarar o segundo muro, que se via mais vertical e imponente. Foram 10 enfiadas. Eu e Serginho dividimos a conquista. Peguei algumas das melhores enfiadas da via. Fendas perfeitas e contínuas. Uma delas uma enfiada de entalamento de mão! E também a primeira fenda de meio corpo, os famosos off width. Essa deu trabalho, subia cinco centímetros e descia dois escorregando! O topo do segundo muro é uma crista e não imaginávamos encontrar um lugar tão fantástico pra bivacar, uma pedra plana na borda do paredão.

Tartari na primeira parte do segundo muro.Daflon no segundo muro. Fenda perfeita de mão.

No terceiro dia, 25, madrugamos de novo e havia a opção de seguir para o cume pela Afanassief, uma via clássica da montanha, ou continuar conquistando um terceiro muro à direita. O tempo continuava bom então fomos pra conquista do novo muro. O Luciano encabeçou. Esta parte alterna paredes curtas com grandes platôs. Foram mais umas 10 enfiadas esse dia.
Chegamos na crista do cume bem próximo ao cume, a via terminava bem alta. E ai foi só caminhar e... festa. Me lembrei de uma matéria e uma foto do Reinhard Karl no cume do Fitz na National Geographic que me impressionou. Estava começando a escalar e agora eu estava ali!

Grand Hotel abaixo e o cume da Mermoz.Jumares no último muro para o cume.

Em pouco tempo já começamos a descer. Subimos pelo lado norte e desceríamos pelo leste, via Franco-Argentina, um pouco mais curto e mais protegido do vento que estava previsto para chegar. Depois de umas cinco horas de descida paramos pra bivacar antes da última sequência de rapéis, já havia escurecido. Antes de pararmos, ainda no rapel, escutamos uma grande avalanche à direita de onde estávamos. Não deu pra ver, mas o barulho foi grande. Não foi por nenhum local de via.

Sérgio Tarrtari em ação.Bivaque na Silla.

Faltava agora os rapéis da Brecha, um trecho conhecido pela queda de grandes blocos de pedra quando a temperatura está quente, e local de alguns acidentes. Num deles, faz alguns anos, uma cordada argentina de três descia por ali e num dos rapéis, dois dos escaladores já se encontravam na parada, mas antes de o terceiro clipar sua solteira, viu os amigos despencarem com a parada e tudo. O bloco inteiro aonde estava a parada desceu com eles! Sorte que já estavam relativamente próximos das rampas de neve. Se quebraram, ficaram inconscientes e foram evacuados em helicóptero. Mas estão vivos e inteiros.

Descida pela Franco Argentina.Flavio Daflon no cume do Fitz.

A descida foi tensa, começamos um pouco mais tarde do que gostaríamos e já fazia calor onde estávamos. A neve no fundo da brecha que ajuda a segurar as pedras soltas e blocos já não havia, devido aos dias de calor no início de janeiro. Estava tudo muito solto, descíamos com o máximo de cuidado para não encostar em nada, mesmo assim Luciano apenas tocou num bloco do tamanho de um aparelho de som e vimos ele descer na direção do Serginho que estava abaixo. Ainda bem que bateu em alguns platôs, perdeu velocidade e se quebrou. Serginho pulou de um lado pro outro e só uma lasca acertou sua canela. Mas foi um susto, tudo pareceu em câmara lenta. No penúltimo rapel, esquentando mais, caíam uns pedacinhos de gelo e algumas pedrinhas do alto, vindo do nada. E a gente torcendo pra que isso não significasse que algo maior estava por vir. Sei que agilizamos nesses seis ou sete rapéis e saimos da brecha ao glaciar. Foram momentos tensos, mas agora dava pra respirar.


Flavio Daflon e Sergio Tartari no cume. Foto de Luciano Fiorenza.

Ainda levaríamos mais de 6 horas de caminhada entre glaciares e trilhas para voltar a cidade, incluindo uma parada no rio para comer a última refeição: polenta, queijo e salame!"

Veja mais fotos no link: Facebook

E outras matérias que sairam em sites especializados:
Cordillera de Los Andes
PataClimb.com
ESPN
Alpinist
Desnivel
PitBull Aventura

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Vídeo da Trilha para a Agulha Guarischi

Fala pessoal,

Teve uma galera querendo saber como é a trilha para a Agulha Guarishi. É difícil explicar, então resolvi filmá-la. Aproveitei a manhã livre do sábado de carnaval, pois só iria viajar à tarde.

Ela começa lá no Bananal, quase chegando no local onde chamamos de garganta. Para chegar ao Bananal, pegar a trilha que se inicial na subsede do Parque Estadual da Serra da Tiririca, em Itacoatiara. Não tem erro!!!


Segue o link para o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=VNy6Ocm4Suw

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Mais uma na Guarischi... Nem um pouco cansado....

Por Leandro do Carmo

Agulha Guarischi


Data: 06/01/2013
Local: Parque Estadual da Serra da Tiririca – Itacoatiara – Niterói

Participantes: Leandro do Carmo, Alfredo Castinheiras, Guilherme Belém e Paulo Guerra

Bom, escrever o terceiro relato sobre a Agulha Guarischi, talvez não fosse a coisa mais fácil a fazer, mesmo sabendo que uma escalada não é igual a outra e que sempre acontecem novas situações... Também tem o fato de que, tirando o Guilherme que me acompanhou em todas, os participantes foram outros, então qual foi a minha idéia? Vou pedir aos outros participantes escrevam! E não é que deu certo!!!... rs. Seguem abaixo os relatos do Guilherme Belém e o Paulo Guerra, esse último “estreando” no PitBull Aventura!


Agulha Guarischi
Por Guilherme Belém

Previsão boa, tudo certo para uma escalada. Recebi a ligação do Leandro, que gostaria de visitar a Agulha Guarisch novamente com a galera do CNM. Prontamente aceitei, aliás a qualquer hora! Adoro essa montanha! Chegamos bem cedo e sabíamos que o sol tava pronto para castigar,  quem me conhece sabe que sou “branquelo” e odeio fritar na pedra. Grande surpresa, o Paulo (novo integrante PitBull) já estava na entrada do Parque Estadual da Serra da Tiririca, juntamente com Leandro e Alfredo. Como de costume eu (Guilherme Belém), uns minutinhos atrasado, afobado, logo toquei a trilha puxando um ritmo mais rápido. Afinal queria me redimir. Todos guiam, então ficou mais fácil de decidir as duplas e enfiadas a serem guiadas. Paulo pediu para guiar o lance inicial, pois o grampo era bem alto e o crux de 5º logo depois. Segui dando segurança e dançando, pois tinham muitos mosquitos (eu disse muitos!). Rapidamente o Paulo foi vencendo os lances e aproveitando a parede para aperfeiçoar sua técnica. Subi logo em seguida, porque não queria deixar o Leandro e Alfredo esperando. Guiei a parte que sempre passo perrengue, a P2 que está suja e é preciso de GPS para achar o 1º grampo. Sinceramente acho esta diagonal tranqüila, mas fico tenso com a exposição. Já ultrapassei e tive que desescalar duas vezes esse lance, tenso... mas não dessa vez!

P2 vencida, já conseguia enxergar o Leandro na P1. Deixei o Paulo guiar a aresta mais bonita de Niterói. Rapidamente Alfredo e Leandro nos alcançaram. Algumas fotos pra cá, água pra lá, sabe como é?! O sol ainda não tinha dado nem sinais, isso me tranqüilizava. Achei super engraçado como o Paulo é um entusiasta, e mandava altos elogios para a vista, adoro apresentar essa montanha seja quem for. Me senti em casa! Na P3 passamos pela mata e seguimos rapidamente pois o sol deu um “oi “ muito forte. P4 era minha e eu todo ansioso para ouvir berros do Paulo na última enfiada (cume). Ao tocar comuniquei ao Paulo uma possível perda de contato visual. Combinamos os códigos e toquei pra cima, fiz a segurança do Paulo e ao chegar ele passou direto rumo ao cume. Fiquei ainda atento à segurança e maravilhado com a vista do Costão, Alto Mourão e a praia de Itacoatiara. Passado alguns minutos e como previa, ouvi Paulo: - Uhull!!!! Muito Lindoooo Caracaaaa!

Ri demais e cheguei no cume logo depois. Leandro passou a bola para o Alfredo guiar o último lance deles também, pois é uma sensação única presenciar a primeira conquista de Niterói.

É o topo de uma agulha, sendo assim, só cabem pessoas montadas igual em um cavalo. Todos quando chegam ficam assustados e trêmulos com isso. Normal! Tem muito grampos, inclusive os antigos, da época da primeira conquista. Sendo alguns de highline feito em direção ao Alto Mourão.

A última vez que fiz esse pico, estava na companhia do Leandro, Leonardo e Bruno Silva. O que me fez ter um belo papo com Deus, afinal tava tão perto! Nada como agradecer ao Bruno ensinamentos de montanha e respeito a mesma. Saí de lá renovado, creio que o Leandro pensara o mesmo que eu.

Leandro abriu o primeiro de muitos rapeis, só que dessa vez recomendado de que não faríamos o “raio” do 60m. Pois o último deixou marcas até hoje (a trilha é fechada e cheia de espinhos). Não me lembro, acho que Alfredo tinha dado a idéia de o Leandro descer e aprontar um novo rapel de 30m , tínhamos 2 cordas, mas a vegetação nos trairia num rapel longo. Assim foi feito: O SOL!!!!Matandoooo! E eu igual a um camarão! Doido para descer. Confesso que fico ainda mais chato com fome... frito então...

Ainda não consegui aprender com Leandro a calma e o silencio diante de um perrengue. Admiro muito isso...Alfredo também super no bom humor, mesmo com o sol matando a pau!

Totalizando nosso tempo de escalada, foi igual a o de rapel! Pense numa coisa chata, mas sempre vale a pena. Com boa companhia, a aventura é sempre boa. Seguimos a trilha de volta, e no final tem sempre o “sandubão do quiosque” que salva a fome. Concluímos que nessa época a escalada tem que ser ainda mais cedo, em torno das 5h no mínimo. Grande Abraço e até a próxima !


Àquela tartaruga agarrada à pedra
Por Paulo Guerra


Aquela tartaruga agarrada à pedra, olhando pra cima, deixando apenas o tempo passar sempre me fascinou. Faço há anos as trilhas de Itacoatiara: Bananal, Mourão e Costão. Quando terminei o CBE, em agosto de 2012, alcançar a cabeça da tartaruga era uma meta. Então no começo de janeiro, em um domingo ensolarado “e que Sol”, me vejo na base da Via Paredão do Zezão, me equipando, com um frio na barriga, prestes a abrir a cordada, guiando o meu primeiro crux de 5º grau. O primeiro grampo bem alto, um pouco exposto e aí vem o Guilherme, dizendo “vamos parar aqui e qualquer coisa estamos aqui para tentar lhe dar uma segurança de bolder !”

Claro que eu não pretendia cair e quem pretende, não é mesmo? Mente forte, toquei pra cima. A parede bem técnica e o crux vem logo após o primeiro grampo. Consegui passar com relativa tranquilidade.  A Via segue em meio a vegetação, montei a primeira parada e chamei o Guilherme. Assim que ele chegou na parada, Leandro vinha guiando a segunda cordada, trazendo o Alfredo. Guilherme guiou a segunda enfiada, uma diagonal, sem dificuldades, não esquecendo que diagonal é pêndulo.

Ao fim da diagonal, Guilherme foi generoso e me deixou guiar, talvez o trecho mais bonito da Via. Uma aresta com toda vista à volta. Chegamos à segunda parada, um pequeno trecho de trilha e estávamos no pescoço dela, a tartaruga. Escalada tranquila neste trecho, nada com muita dificuldade, exceto pelo cuidado em escolher o ponto para fazer a parada. O tempo todo, Guilherme me gritava a quantidade de corda que eu tinha pra subir. Após uma escalaminhada, sem abrir mão da segurança, havíamos cumprido nossa meta, a cabeça da tartaruga, que não deixou, em nenhum momento de olhar pra cima. Nós não a importunávamos. Ela sabe a importância que tem.

Depois dos lanchinhos, fotos, poses, rapel de descida. Definimos a estratégia, o calor começava a nos castigar. Leandro optou por fazermos um revezamento no rapel, mas todos sabem que rapelar uma via longa é um saco! No terceiro rapel, trecho bonito da aresta, pra variar, a corda tinha que embolar comigo, eu descia e desembolava a corda, atravessamos o trecho em diagonal e nós quatro nos encontramos no platô onde montamos a primeira parada, na subida. Todos muito cansados, qualquer sombra de uma folha poderia caber uma família. Alfredo abriu o último rapel, seguido por Guilherme, eu e por fim, Leandro. Ufa, enfim, sombra. Repetindo o jargão: Missão dada é missão cumprida.


Agulha Guarischi
Por Alfredo Castinheiras
Depois dos relatos de Guilherme e de Paulo, só me resta acrescentar que foi uma excelente escalada, em razão do belíssimo lugar e das ótimas companhias. No mais, endosso o comentário de que convém começar mais cedo, no verão. Além disso, o uso de joelheiras torna a escalada mais confortável, bem como o protetor de nuca, adaptado ao capacete. Filtro solar é indispensável. Além do cantil flexível, com água, sugiro levar, também, garrafa com repositor hidroeletrolítico, pois a transpiração é muita.


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