Participantes: Leandro do Carmo, Mariana Abunahman, Ricardo Barros, Simone
Oliveira, Juliana, Angelo Verdan, Waldino, Diego, Carla Rosa e Márcio Mafra
Vídeo da Travessia Espraiado x Tomascar
Vídeo de Drone da Travessia Espraiado x Tomascar
Relato da Travessia Espraiado x Tomascar
Estava de volta à Travessia mais clássica de Maricá: A
Travessia Espraiado x Tomascar! Com um percurso de aproximadamente 8 km, a
travessia corta córregos, matas, áreas abertas e temos uma vista fantástica de
parte do litoral do município. Para fechar com chave de ouro, temos a opção de
almoçar no concorrido Restaurante da Marilene, com uma excelente comida
caseira, feita no fogão a lenha. Em todas as vezes que fiz a travessia, voltei
para o Espraiado, pois a logística ficaria muito pesada, caso optássemos por
voltar por Tanguá ou Rio Bonito.
Era uma aula do Curso Básico de Montanhismo do CNM e
faríamos novamente um bate e volta. Combinamos de nos encontrar as 08h30min lá
no Espraiado, em frente à sede das Unidades de Conservação. Chegamos cedo e de
lá seguimos para a cachoeira da represa. Os bares estavam fechados e foi fácil
conseguir um bom local para estacionar. Hoje, o local está pavimentado,
seguindo com paralelepípedo até o local onde ficava um portão. Arrumamo-nos e
iniciamos a caminhada.
Seguimos estradinha e logo cruzamos o primeiro córrego. A
estradinha segue bem abrigada, mas a essa hora da manhã, não seria um problema
pegar um sol. Mais acima, viramos à esquerda, saindo da estradinha. Cruzamos o
córrego novamente e iniciamos a subida, que fica próximo a uma casa. O trecho
inicial é bem complicado, devido ao alto estágio de erosão causado pela
passagem de motos. Inclusive, esse é um problema grande da região. Continuando
a subida, comecei a ouvir um barulho de moto bem ao fundo. Em pouco tempo, eles
estavam passando por nós.
Passamos a última porteira e mais acima, ficamos à direita
numa bifurcação, onde começa uma área aberta. Na volta, viríamos pelo caminho
de baixo. Pegar o caminho da esquerda nos livraria de pegar uma subida, mas a
vista que teríamos lá do mirante do Vale de São Francisco compensaria o esforço
extra. Esse caminho acabou virando o principal. Subi mais rápido para conseguir
filmar com o drone o pessoal chegando. Já próximo ao mirante, vi que tinha um
grande grupo lá em cima. Com todos no local, fizemos alguns exercícios de
orientação, lanchamos e seguimos descendo.
Tomascar estava bem ao fundo. Visível graças a igreja,
próxima ao restaurante da Marilene. Dali, pegaríamos uma descida mais forte e
seguiríamos pela estradinha até ao nosso destino. O grupo grande saiu à frente
e logo os ultrapassamos. Passamos por um trecho bem erodido, com vários
caminhos que se juntavam mais abaixo. Demos uma parada rápida num córrego para
nos refrescar e de lá seguimos andando. Passamos por diversas propriedades com
plantação de laranja. Algumas pareciam abandonadas. Fui lembrando das inúmeras
vezes que havia passado por ali.
Sem perceber, havia chegado à porteira que antecede o vilarejo.
Estávamos a poucos metros do nosso destino. As ruas já estavam cheias de carro.
O restaurante da Marilene é bem frequentado aos finais de semana, sendo o
“point” desde os praticantes de trekking até aos amantes do “off road” e
simplesmente dos que querem desfrutar de um local agradável com boa comida.
Arrumamos uma mesa e nos acomodamos. Cada um foi arrumando
seu prato e fomos contagiados pela boa conversa e o astral de todos, sem
exceção. Depois de um excelente almoço, a preguiça cobrou seu preço. Foram necessários
alguns bons minutos para nos recompormos. Com o avançar da hora, aproveitei
para apresentar conhecer a cachoeira de Tomascar a quem não conhecia e pegamos
o caminho de volta.
Começamos a caminhada bem lentamente e aos poucos fomos
deixando Tomascar para trás. Paramos novamente no córrego, só que agora numa
posição invertida. Uma parada estratégica para vencermos a subida. Não foi
fácil, mas havíamos passado toda a subida da caminhada do dia. Fizemos uma
parada num mirante e de lá percebemos fumaça bem no mirante do alto do Vale do
São Francisco, muito próximo ao ponto onde havíamos passado no início da
caminhada. A preocupação era o fogo se alastrar pela vegetação seca, pois
passaríamos num ponto bem crítico.
Adiantamos a caminhada e ao longo do caminho pude presenciar
um espetáculo promovido por pássaros que voavam e cantavam em meio a uma mata
exuberante. Dali, seguimos descendo e logo estávamos cruzando o córrego e
entrando novamente na estradinha que nos levaria de volta a cachoeira da Represa
do Espraiado.
Participantes: Leandro do Carmo, Michel Cipolatti, Luís Avelar, Nicolas
Loukides, Ezequiel Gongora, Leonardo Farias, Higor Souza, Leonardo Carmo e
Marina Fernandes
Histórico da Conquista do Garrafão
O Garrafão, à época conhecido como Fagundes, foi conquistado
em 28/10/1934 por Émérico Hungar, Gilberto Ferrez, Geoffrey Edwards e W. George
Andrews, todos eles membros do Centro Excursionista Brasileiro. Foi um período
de grandes conquistas no montanhismo brasileiro e sua dificuldade técnica, bem
como a distância, o tornam menos frequentado, se comparado a outros cumes da
região.
Horários e pontos de referência da Trilha do Garrafão
5h – Saída de Niterói; 6h 30 min – Entrada do Parque; 7h 49
min – Início da trilha (Barragem); 8h 40 min – Abrigo 2; 9h 30 min – Bifurcação
Paredão Paraguaio (Pausa 10 min); 9h 55 min – Trilha da Pedra da Cruz; 10h 02
min – Trilha do Sino; 10h 38 min – Abrigo 4 (Pausa 20 min); 11h 10 min – Início
da subida da Pedra do Sino; 11h 20 min – Cume da Pedra do Sino (Pausa 10 min);
12h 10 min – Buraco; 12h 24 min – Cabo de Aço; 13h 15 min – Cume do Garrafão;
13h 45 min – Saída do Cume do Garrafão; 15h 30 min – Saída do Buraco; 16h 18
min – Cume do Sino; 16h 40 min – Abrigo 4; 17h 17min – Bifurcação Morro da
Cruz; 17h 38 min – Abrigo 3; 17h 45 min – Bifurcação Paredão Paraguaio/Trilha
do Sino; 19h 05 min – Véu da Noiva; 19h 55 min – Barragem; 20h 20 min – Carro.
Dicas para chegar ao cume do Garrafão
Para chegar ao Garrafão, primeiro é necessário chegar à
Pedra do Sino. Do cume da Pedra do Sino, já é possível ver o Garrafão. Devemos
ir em direção a ele num misto de laje e pequenos trechos de vegetação. Desce
até um vale e depois sobe novamente até chegar à borda de frente ao Garrafão.
Nesse ponto, vem o primeiro trecho técnico, onde deve-se procurar um buraco,
dentro dele podemos descer desescalando um lance em chaminé ou fazendo um
pequeno rapel, numa proteção que fica no alto. Convém deixar uma corda curta
(10 metros) fixa no local para auxiliar a volta. Depois desse trecho, segue até
o cabo de aço. Existe uma parada dupla onde dá para fazer um rapel. Com uma
corda de 60 m meada, não dá para chegar ao final. Um pouco mais abaixo, há um
grampo onde dá para rapelar com uma corda meada de 60 metros. A mesma pode ser
usada para segurança na volta. Optamos por dar segurança de baixo, fazendo com
que subíssemos de top rope, progredindo pelo cabo de aço. Facilitou e agilizou
bastante. Após esse trecho, pega-se uma trilha subindo, até chegar a uma canaleta
exposta. Há uma proteção no início e uma bem mais acima, onde é possível montar
um corrimão para dar mais segurança. O trecho está bem erodido e está bem
exposto. Há uma corda fixa numa raiz. Muito cuidado ao utilizá-la. Acima,
pega-se um trecho exposto com lance fácil de escalada, onde tem um grampo para
proteção. Dali para o cume são mais alguns metros.
Três semanas depois de ter feito a Agulha do Diabo, estava
de volta ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Agora para fazer o Garrafão.
Mas a ideia surgiu na semana seguinte a Agulha do Diabo, quando perguntaram
qual seria a próxima escalada? Como eu ainda não havia feito, sugeri o
Garrafão. Todos aceitaram. Aproveitei para abrir a atividade no Clube Niteroiense
de Montanhismo, dando oportunidade para outros amigos também conhecerem a
montanha. Convidei, também o Ezequiel (Ziki), depois de o ter encontrado no
CEB. Meu irmão e a Marina se juntaram a nós, confirmando somente na
sexta-feira, véspera da escalada. Ao todo, éramos 9 montanhistas. Grupo
relativamente grande, principalmente se levarmos em conta os trechos técnicos
na qual passaríamos, sendo o principal, os 30 metros de ascensão obrigatórios,
no colo entre o Garrafão e o Sino, no retorno do cume. Mas como todos eram
escaladores experientes, com exceção da Marina, acho que não teríamos problema.
E não tivemos!
Saímos pontualmente as 5h da manhã de Niterói e chegamos ao
PARNASO um pouco mais cedo do que a última vez, sendo o segundo carro da fila.
Ficamos ali conversando até dar 7 horas e o parque abrir. Fomos direto para o
Centro de Visitantes preencher os termos e de lá seguimos para a área de
estacionamento, onde deixamos os carros e seguimos até a barragem, local de
início da caminhada, propriamente dita. Estava uma manhã agradável e não fazia
tanto frio, comecei a andar apenas com a segunda pele. Havia um grupo grande
que também faria o Garrafão. Eles tinham programado de pernoitar no Sino e
atacar o cume no dia seguinte, mas como a previsão do tempo era mudança para o
dia seguinte, resolveram que iriam hoje mesmo. Mas como estavam com bastante
peso para o pernoite, com certeza seriam mais lentos e chegaríamos bem à
frente. Ainda encontramos mais um grupo de CNM, guiados pela Ana, que iriam
para a Travessia da Neblina. Bom, era hora de começar a andar.
Entramos na trilha do Sino por volta das 7h 50 min. Foi uma
subida tranquila. Passamos por alguns grupos que haviam subido primeiro e
também encontramos com outros que já estavam descendo do Sino. Fomos num bom
bate papo e logo passamos pela Cachoeira do Véu da Noiva. Continuamos a subida,
já chegando aos pontos onde era possível ver a cidade de Teresópolis ao fundo.
O dia estava firme, prenúncio de uma excelente caminhada. Paramos na entrada da
trilha do Paredão Paraguaio, onde fizemos um rápido descanso. Dali seguimos
subindo e as 10 horas entramos novamente na Trilha da Pedra do Sino. Até ali,
nenhuma novidade. Já havia percorrido esse caminho inúmera vezes. No ritmo que
estávamos, nem tinha muito tempo de aproveitar o caminho. Nosso objetivo era
chegar logo ao Abrigo 4. A partir dali sim, poderíamos curtir o caminho.
Passamos pela entrada da Trilha do Papudo e mais a frente, depois de nos
afastarmos um pouco dessa vertente, conseguíamos ver o cume do Papudo ao fundo.
Cruzamos um trecho bastante molhado e com 40 minutos de caminhada havíamos
chegado ao Abrigo 4, eram 10 h 40 min da manhã. Fizemos o trecho em 2h e 50
minutos, um excelente ritmo. Só tinha uma barraca montada. Aproveitamos para
fazer uma parada mais longa. Fiz um lanche reforçado e deixei uma garrafa de
isotônico guardada num buraco próximo ao abrigo para a volta, não queria levar
peso extra.
Abasteci minha garrafa de água e fomos em direção ao cume da
Pedra do Sino. Nem percebi a discreta saída e quase perdi a entrada da subida.
Rapidamente estávamos aos pés do totem de cimento, que fora reconstruído após
ser atingido por um raio alguns anos atrás. Aproveitei para fazer algumas
imagens com o drone, o que nos fez ter que fazer mais uma parada rápida. Já
podíamos ver o Garrafão ao fundo. Fomos descendo em sua direção e o caminho não
muito bem definido. Andar em laje de pedra é muito complicado, mas o dia estava
bem aberto e foi mais fácil ver os totens e algumas fitas amarradas nos arbustos.
E assim, seguimos serpenteando. Passamos por alguns trechos mais fechados,
porém, no geral foi tranquilo essa primeira parte. De longe não dá para
perceber, mas assim que fomos nos aproximando do Garrafão, tivemos que
atravessar um vale. Do outro lado desse vale, podia ver um grande totem.
Deveríamos seguir em sua direção, mas alguns totens e fitas nos distanciavam,
forçando-nos a contornar esse vale bem mais para a esquerda. Descemos um longo
trecho e passamos por um trecho bem fechado e confuso. A sorte é que era curto.
Assim que voltamos a subir, já próximos do totem que havia visto lá de cima, é
que pude perceber o motivo de termos que nos distanciar tanto: um trecho bem
íngreme e intransponível. Descer em linha reta era impossível. Continuamos a caminhada
por esse labirinto, sempre guiados pelos totens.
Estávamos cada vez mais próximos do Garrafão. A vista
impressionava. Daquele ponto, parecia ser impossível alcançar o cume. Nosso
objetivo agora era chegar a um buraco, onde desceríamos até chegar ao cabo de
aço. Fomos procurando, sempre seguindo pelo caminho mais óbvio até que
conseguimos achá-lo. E olha que não muito óbvio assim. Fica meio escondido,
numa passagem entre a vegetação. Dali, descemos e entramos numa gruta. Fixamos
uma corda e fomos descendo um a um, usando a técnica de chaminé. Rapidamente
descemos e começamos a montar o rapel para iniciarmos nossa descida para o colo
entre essa vertente do Sino e o Garrafão. Optamos por montar o rapel num grampo
mais abaixo, dali conseguimos dobrar a corda e deixá-la meiada, dando exatos
trinta metros. Se fossemos usar as chapeletas de cima, talvez precisássemos de
uma corda de 70 metros, mas mesmo assim, não posso afirmar que chegaria. Fomos
descendo um a um. O trecho estava bem molhado e a rocha é bem lisa. O cabo de
aço está em boas condições. O rapel foi bem tranquilo, o maior problema seria
para subir. Optamos por deixar duas cordas, assim poderíamos dar segurança de
baixo para que pudéssemos subir pelo cabo mais rapidamente.
Fui um pouco mais para cima, para poder ver de longe a
descida. Era um trecho bem bonito. Comentamos sobre a audácia da conquista,
pois ali era o caminho mais óbvio para essa descida, sem contar que achar
aquele buraco não deve ter sido uma tarefa fácil. Era uma galera a frente do
seu tempo. Uma conquista de 1934, que hoje em dia, mesmo com todo equipamento
que temos disponível, ainda é um marco para os montanhistas. Assim que todos
passaram, iniciamos a subida e o ataque final ao cume. Faltava pouco. Seguimos
em direção a uma canaleta bem íngreme. Subimos um trepa pedra e na base desse
trecho, uma corda meio velha amarada num arbusto serviria para nosso apoio. Ali
era um trecho que merecia uma segurança melhor, mas começamos a subir usando a
corda só como um apoio moral. Tem algumas agarras boas na lateral direita na
qual davam um bom suporte. Fui subindo, sempre procurando os trechos mais
sólidos, até que passei pelo arbusto onde a corda estava amarrada. Dali pra
cima, fui caminhando e procurando o acesso ao cume. Vi uma laca apoiada e não
tive dúvida de era por ali, era o único caminho possível. Segui subindo e o
trecho foi tranquilo, apesar da exposição. Mais alguns metros e estava no cume.
A vista dali era algo impressionante. Como o dia estava
aberto e firme, conseguíamos ver boa parte da Baía de Guanabara. Por todos os
lados as montanhas despontavam de forma magnífica. De um lado era possível ver
o São Pedro, Agulha do Diabo, São João, Santo Antônio, Três Marias, Dedo de
Deus, Dedo de Nossa Senhora, Escalavrado, entre muitas outras. Para o outro
lado, conseguíamos ver boa parte do caminho da Travessia Petrópolis x
Teresópolis. Geralmente estamos lá e a vista que temos para o Garrafão, chama a
atenção e vira referência. Há uns meses atrás, tive o prazer de ver o Garrafão por
esse ângulo e lembro que na época, a vontade de estar nesse cume fantástico foi
grande. Pensei: “Vou subir nessa temporada.” E hoje estava ali vendo e
relembrando o caminho que havia feito há uns dois meses atrás. Aproveitei para
filmar com o drone e fazer algumas fotos. Assinei o livro de cume e descansei
um pouco, o suficiente para o retorno. Dentro da nossa programação, ficaríamos
no cume por 30 minutos. E assim que bateu o tempo, iniciamos nosso retorno.
Iniciei a descida e cheguei naquele ponto do arbusto onde a
corda está amarrada. Desci com bastante cuidado e logo estava na base,
auxiliando a descida dos demais. Lentamente, passamos o trecho e seguimos
descendo até a base do cabo de aço. Encordoei-me numa ponta de corda e subi
utilizando os cabos, sob segurança do meu irmão. Estava bem molhado e o que eu
pressenti na descida, se confirmou na subida. Como estava molhado, alguns
trechos escorregavam bastante. Tinha que tentar me manter perpendicularmente a
rocha, mas isso demandava um esforço maior nos braços. Até que subi bem rápido,
pois quanto mais parado ficasse, mais esforço faria. Ao longo da subida,
percebi que a corda da segurança estava com um arrasto grande e só fui ver o
motivo quando cheguei à parada. As cordas haviam sido passadas em mosquetões
que estavam paralelos e um acabava fazendo uma força sobre o outro, gerando um
atrito extra e, além disso, a fita na qual esses mosquetões estavam presos ao
grampo era curta. Assim que o Luis subiu, pedi para aguardarem e precisei de
uns 5 minutos para reorganizar o nosso sistema e otimizar a subida. Com tudo
certo, joguei a outra ponta de corda para baixo e aos poucos todos foram
subindo. Faltando três subirem, chegou um grupo de Nova Friburgo. Eles
aguardaram um pouco até que todos subiram. Dali, seguimos para a gruta, onde
tínhamos que voltar por uma corda fixa que havíamos deixado. Fizemos o lance de
chaminé e nos reunimos na laje ao lado do buraco. Ali, tiramos o equipamento e
organizamos todo o material que não seria mais usado. Aproveitei para comer
algo rápido, era 15 h 30 min. O astral do grupo era excelente, faz a diferença
a boa companhia. Dali, pudemos acompanhar a entrada de nuvens pesadas. Parecia
que a virada do tempo prevista para a noite havia se antecipado. Estava
convicto de que choveria em pouco tempo. Com isso, iniciamos rapidamente nosso
retorno, ainda passaríamos por alguns trechos de difícil orientação. Em pouco
tempo o Garrafão foi tomado por nuvens que se movimentavam numa velocidade
absurda.
E seguimos caminhando. Senti alguns pingos, mas não quis
colocar o anorak, na esperança de que não aumentasse. Cruzamos o capinzal e
começamos a subir. Nos trechos mais íngremes estava escorregadio, mas ainda
conseguíamos progredir com segurança. Se aumentasse a chuva, acho que ficaria
mais complicado. Da mesma forma que as nuvens chegaram, elas se dissiparam e em
pouco tempo, mais nenhum sinal de chuva e seguindo os totens, atingimos
novamente o cume da Pedra do Sino. Eram 16h 18 min, havíamos completado cerca
de 75% da nossa atividade. Apesar desse trecho final ser longo, a divisão leva
em conta, também o grau de dificuldade. Agora era só descer. Ficamos pouco
tempo no cume e seguimos direto para o Abrigo 4. Alguns decidiram descer
direto. Eu aproveitei para lanchar e descansar um pouco mais para a descida.
Num ritmo constante e automático, segui descendo, dando apenas duas paradas
rápidas na bifurcação para entrada da trilha do Paredão Paraguaio e no Véu da
Noiva. Assim que a noite caiu, peguei a lanterna e ela não funcionou. Ainda bem
que o Ziki me emprestou uma reserva. Cheguei à barragem por volta das 19h 45min
e dali, fui direto ao carro. Aos poucos todos foram chegando e aproveitei para
pegar o carro e voltar até a Barragem para dar uma carona aos que chegaram por
último. Pegamos os carros e seguimos, parando no primeiro Posto, para fazermos
um lanche e seguir viagem. Missão cumprida!
Participantes: Leandro do Carmo, Marcos Lima Velhinho e Sandro Monteiro
Relato
A Aurora Boreal é uma via nova no Costão de Itacoatiara,
fica ao lado direito da Luiz Arnaud. Na verdade, ela era a via solo Soluços e
Tremedeiras, que agora foi protegida. Resolvi entrar na via e aproveitei que o
Velhinho estava indo com o Sandro e perguntei se poderia ir também. Havia
marcado uma remada cedo com um amigo em Itaipu, mas acabou furando. Ainda bem
que a escalada estava confirmada, senão teria que voltar para casa na
saudade...
Depois de ficar esperando um pouco em Itaipu, pois havia
chegado as 5h 30 min, passei na casa do Velhinho e de lá, seguimos para
Itacoatiara. Deixamos o termo de risco na portaria e seguimos para a praia,
onde iniciamos a subida. Para muitos, a parte mais difícil das escaladas na
região. Como já estou acostumado, não tenho mais problemas. Já na base da via,
nos arrumamos e repassei as cordas.
Comecei guiando essa primeira enfiada. Optei por subir
puxando as duas cordas, um erro. Os trechos da primeira enfiada foram
tranquilos. Ouvi alguns relatos de que havia muita coisa quebrando, mas nem
achei tão ruim assim. A via segue com paradas duplas de 30 em 30 metros, mas
optei por seguir direto para a próxima dupla, segundo erro. O arrasto estava
grande e tive que dar uma esticada a mais na corda para poder chegar à parada.
A enfiada foi bem bacana, com lances mais verticais e um grau constante.
O Velhinho e o Sandro vieram em seguida. Na parada, mudamos
a cordada e seguimos em “i”, assim levaria apenas uma corda. Comecei subindo. A
via seguia com lances bem variados e constantes, diferentemente da Luiz Arnaud
que segue bem fácil na maioria dos lances. Mas segui subindo, parando mais
acima. O Velhinho tocou a última enfiada, seguindo até uma parada antes do cume.
Subi em seguida e fui direto ao cume, onde puxei os dois.
O mês passou rápido e já estávamos na semana de mais uma
regata. Para mim sempre tem alguma coisa nova e dessa vez não seria diferente.
A novidade era que nessa regata teria a participação de várias classes, cada
uma largando num horário. Como sempre, chegamos cedo ao PREVELA para arrumar os
barcos. Na semana anterior, já havia separado todo o material, ficando mais
fácil dessa vez. O dia estava meio nublado fazia um pouco de frio. A previsão
era um vento mais forte para o horário da Regata. Ajustamos tudo tivemos que
fazer alguns ajustes na distribuição das tripulações dos barcos. Com isso, o
João acabou indo com o Pepe e a Alice e o Lucas foram comigo. Programamos nossa
saída para as 11 horas e muito antes disso já estava com tudo pronto.
Aproveitei para fazer um lanche junto com as crianças.
Foi dando a hora e começamos a colocar os barcos na água. O
ventou entrou e conseguimos ir velejando até ao Praia Clube. Foi um velejo
gostoso. Alice foi timoneando até bem próximo. Como não iríamos atracar no
Praia Clube, ficamos dando uns bordos. Foi um espetáculo ver os grandes
veleiros em volta. Uma atmosfera diferente. Fiquei um pouco afastado, mas aos
poucos fui tomando coragem e me aproximei mais. Aos poucos, as largadas das
diferentes classes foram iniciadas. A classe dingue seria a última. O percurso
divulgado para essa regata foi o barla-sota, que consite de duas boias
alinhadas na direção do vento, além de uma boia de largada. A largada ocorre em
uma linha imaginária situada entre a boia de largada e o barco da comissão de
regatas. Cada trecho a ser percorrido entre duas boias é chamado de perna. O
barla-sota possui apenas pernas de contra-vento e de empopado. Eu não entendi
muito bem, então a minha estratégia foi acompanhar os barcos da frente, simples
assim.
Continuei dando uns bordos já perto da linha de largada e
assim que tocou o sinal, a bandeira foi levantada, dando o sinal de 1 minuto.
Foi hora de me preparar. Largamos um pouco atrás e na empopada seguimos. O
vento estava bom e seguimos em direção à primeira boia. Fui pedindo ao Lucas e
a Alice para irem ajudando nas tarefas e na organização do barco. As vezes
sentavam atrás, as vezes um pouco mais a frente, tudo isso para equilibrar o
peso do barco. A primeira boia foi montada e seguimos em direção a próxima.
Seguimos velejando com um vento um pouco mais forte até montar novamente a boia
perto do barco da Comissão de Regata. Dali, voltamos na empopada. Seguimos bem,
até que chegamos a boia e o barco do Pepe ficou atravessado, tive que desviar
um pouco para fora. Fazendo o contorno da boia, um outro barco me atrapalhou e
tive que manobrar para não ser atingido. Isso me fez perder 3 posições na
manobra. O vento havia aumentado e já estava numa direção um pouco diferente.
Cacei bem a retranca e a Alice e o Lucas começaram a ajudar a escorar o barco.
Foi muito bacana a agilidade dos dois.
Num determinado momento, o moitão da escota soltou, pois, a
argola que prendia o pino havia esgarçado. Fui perdendo velocidade e não tinha
muito o que fazer. O Lucas e Alice procuraram a peça no fundo do
barco e não acharam. Enrolei o cabo da escota nos pés e pedi para a Alice ir
timoneando. Finalmente consegui achar a peça e recoloquei o moitão no lugar.
Perdemos mais duas posições. Voltamos a velejar com uma velocidade considerável
e logo cruzamos a linha de chegada. As crianças adoraram a aventura. Dali,
seguimos direto para o PREVELA. Mas não foi fácil voltar. Fomos num contravento
até conseguir chegar à praia. Missão cumprida!
Participantes: Leandro do Carmo, Michel Cipolatti, Luís Avelar, João Pedro e
Thiago Hentzl
Dicas para escalar a Agulha do Diabo
É uma atividade pesada. Só de caminhada de aproximação,
leva-se, em torno de 4 a 5 horas. A caminhada após o Mirante do Inferno é a
mais crítica e costuma ficar bem úmida, dificultando bastante, por isso, avalie
caso esteja em período chuvoso. Muita gente opta por acampar no Paquequer, numa
pequena área antes do Mirante do Inferno (mas deve-se pedir autorização com o
Parque), para sair bem cedo no dia seguinte. A escalada em si consiste em
lances de entalamento e chaminés. O lance final é feito em cabo de aço. No
cume, o espaço é limitado e cabem poucas pessoas. Não é muito comum encontrar
grandes grupos escalando, mas há possibilidade. Se for fazer em um dia, comece
bem cedo e tenha certeza de que voltará parte do caminho durante a noite.
Como chegar à Agulha do Diabo
Na trilha para a Pedra do Sino, logo após a Cota 2000, há
uma saída para a esquerda. Essa trilha é conhecida como “Caminho das
Orquídeas”. Siga descendo e vire à direita na bifurcação. Seguirá por um longo
caminho até chegar ao acampamento Paquequer, um pequeno descampado, onde cabem
poucas barracas. Dali, cruzará o rio Paquequer e subirá em direção ao Mirante
do Inferno. Pegar uma saída à esquerda, que te levará ao colo entre o Mirante
do Inferno e o São João. Descerá à direita, até a base da Agulha e subirá um
trecho bem úmido.
Relato da Escalada à Agulha do Diabo
Quase seis anos se passaram desde a minha primeira ida à
Agulha do Diabo. Já estava na hora de voltar nessa espetacular escalada. Assim
como os antigos ensinamentos, algumas escaladas seguem a mesma dinâmica: um vai
com um que já foi e leva outro que ainda não foi... E assim, a experiência vai
se perpetuando. Nos clubes de montanhismo isso ainda é bem forte. E foi desse
jeito que essa escalada foi marcada. Conversando com amigos, um sugeriu fazer a
Agulha do Diabo e como na roda de conversa, eu era o único que já tinha ido,
coube a eu organizar a empreitada. E com o maior prazer. Logo criamos um grupo
no WhatsApp e começamos a organizar os detalhes. Primeiro foi decidir o dia.
Nem todos puderam ir. No final, formamos um grupo de cinco: eu, Michel, Luís,
João e o Thiago. Combinamos de sair às 5h, visto que o horário de abertura do
parque é somente às 7h, mas vale a pena chegar um pouco mais cedo e aguardar na
fila. Seguimos direto e já tinham alguns carros na fila. Assim que deu 7h,
começamos a subir e estacionamos ao lado do Centro de Visitantes para assinar
os termos. Já tinha duas cordadas para subir a Agulha, todas comerciais, algo
que aumentou consideravelmente nos últimos anos. Depois dos trâmites
burocráticos, seguimos para o estacionamento, onde nos preparamos e começamos a
caminhar.
A caminhada
Eram 7 horas e 40 minutos quando iniciamos a caminhada.
Fomos direto até a Barragem e entramos na trilha do Sino. Seguimos subindo num
bom ritmo. Fomos revezando as cordas, assim não ficaria pesado para ninguém.
Demos uma boa esticada, parando somente na entrada da trilha do Paredão
Paraguaio, onde aproveitamos para comer algo rápido. Assim que algumas pessoas
se aproximaram, iniciamos a caminhada para não atrasar. O caminho que era uma
trilha bem discreta, já está bem aberto. Com certeza o volume de pessoas ali
aumentou nos últimos tempos. Apesar de mais íngreme e técnico, corta um caminho
considerável, principalmente para quem vai em direção à Pedra da Cruz e Mirante
do Inferno. Esse é o motivo do aumento do fluxo. Mais acima, passamos pela entrada
para a Pedra da Cruz e continuamos subindo até pegar uma saída à esquerda,
estávamos entrando no “Caminho das Orquídeas”. O nome foi dado por Salomyth,
Minchetti e Thiers, todos montanhistas do CEB, que ao procurarem um novo e mais
fácil acesso à Agulha do Diabo, se depararam com uma pedra de bom tamanho
coberta de musgo, batizada com nome de "Pedra do Tapete", na qual
pendia uma imensidão de orquídeas em flor, daí, resolveram dar o nome do
caminho de “Caminho das Orquídeas”.
Assim que começamos a descer, chegamos a um lajeado e foi
possível se deparar com uma vista fantástica. Estávamos de frente para o
Mirante do Inferno. Ao lado esquerdo, víamos o São João e parte da cidade de
Guapimirim, do lado direito, o São Pedro. Bem mais ao fundo, a ponta da Agulha
do Diabo. Esse seria o nosso primeiro contato com ela. O dia aberto e firme
dava a certeza de que teríamos uma grande escalada. Fizemos algumas fotos e
iniciamos a descida. Era um caminho bem delicado e fiquei impressionado com a
degradação nas bordas do caminho. Alguns trechos ficaram bem escorregadios por
conta da lama formada, mas com cuidado continuamos descendo. Cruzamos um
córrego com bastante lama e foi difícil passar sem molhar o pé. Mas seguimos
firmes até chegarmos ao acampamento Paquequer. Ali, encontramos uma das
cordadas que estavam à nossa frente e aproveitamos para fazer um lanche
reforçado, visto que é um ponto de coleta de água. Descansamos bem e
continuamos nossa caminhada. Voltamos a subir e logo pegamos uma discreta saída
à esquerda e seguimos em direção ao colo entre o Mirante do Inferno e São João.
Foi um trecho na qual não lembrava muito bem, mas segui à frente sem problemas.
Já no colo, ponto que antecede a descida para o “Vale da Geladeira”, tivemos o
segundo contato coma Agulha, esse sim completo. É uma vista de arrepiar.
Difícil de acreditar que em pouco tempo estaríamos naquele cume. Ventava forte,
talvez potencializado pelo canal formado entre as montanhas, com isso não foi
possível ficar muito tempo ali. Tínhamos que voltar a caminhar. O trecho a
seguir era bem delicado, com muita pedra solta.
Assim que todos chegaram, começamos a descer. Em pouco tempo
já estávamos bem abaixo. Num lance o bastão de caminhada do Luís caiu e o
peguei. Fui caminhar com ele e depois de uns três passos, escorreguei e minha
mão esquerda bateu com força no chão, diretamente nos dedos. Foi uma for forte,
mas mexi os dedos e não senti nada fora do lugar, tinha sido só a pancada
mesmo. Na hora, com o sangue quente, não foi um problema, mas no dia seguinte
que o inchaço foi forte. Acho que o bastão me fez ter a falsa sensação de que
estava mais tranquilo e acabei me desconcentrando. Entreguei logo o bastão e
voltei a caminhar mais concentrado. Mais abaixo, voltamos a subir num trecho
bem molhado. Escorria água por todos os lados e não foi fácil, mais uma vez,
percorrer o caminho. Só que agora estávamos subindo. Lembrei que teríamos volta
e subida seria descida, assim como a descida, subida. Mas para que sofrer por
antecipação? De volta à subida, seguimos passando pelos trechos difíceis até
chegar à grutinha, onde tínhamos um lance de chaminé, tendo que passar por um
buraco bem apertado, já um aquecimento para os trechos da escalada. Fomos
passando um por um e dali até a base, foram poucos metros. Lá, a primeira
cordada já estava na via e a segunda, se preparando para subir. Não tinha
espaço para todos no pequeno platô, com isso alguns ficaram mais embaixo.
A escalada
No platô, nos arrumamos e a segunda cordada que estava na
nossa frente ainda demorou um pouco em sair. Estávamos perdendo um tempo
precioso. Assim que eles subiram, nos preparamos seguir. Dividimos nossas
cordadas assim: Eu, Thiago e Luiz e outra era o João Pedro e o Michel. O João
seguiu escalando e o Luís, logo em seguida. A primeira enfiada segue num trecho
usando uma canaleta bem à esquerda, ganhando um bloco. Após o João subir, o
Michel sentiu um puxão forte na corda e ouvimos um barulho. Na hora, nem
percebemos, mas o João tomou uma queda, devido à quebra de um arbusto. O Luís
subiu em seguida, dando segurança para mim e o Thiago. Assim que passamos pelo
João, vimos que ele tinha machucado o dedo. Ele fez o curativo e seguimos na
escalada. Fizemos nossa parada logo após a diagonal. Subi e parei mais acima,
antes de um trecho meio de entalamento. O Luís chegou e tocou essa próxima.
Subiu e ganhou o friso, fazendo um lance até chegar ao platô, onde subimos eu e
o Thiago. Dali seguiu por mais uma horizontal, num trecho exposto até chegar a
um platô, onde seguiu andando até a parada que usamos para o rapel na volta.
Dali para cima, seguimos andando numa trilha, passando por baixo de alguns
blocos, até a base onde fazemos as chaminés.
Organizamos as cordas e voltamos para a escalada. Cada um
foi subindo da sua forma. Dá para ver claramente para onde devemos seguir.
Fomos até ao final do corredor, subindo uma chaminé, passando por um buraco e
ganhando um bloco. O Luís estava à frente e segui por uma horizontal, dando uma
parada num grande bloco entalado, que antecede um lance que dá para artificializar
para chegar ao platô. O Michel passou por mim e foi para junto do Luís que
subiu e montou uma parada bem na borda do platô. Subi em seguida, indo direto
ao platô. Ali organizei novamente a corda para deixar tudo pronto para o
“cavalinho”. Fiz um lanche rápido para entrar no trecho final da escalada.
Ainda aguardamos a cordada da frente por um tempo considerável. A menina que
estava meio travada no lance do cavalinho, quase desistindo por algumas vezes.
Depois de bastante tempo, conseguiu passar. O Luís foi em seguida. Entrou no
cavalinho e seguiu para dentro da chaminé. O Thiago foi o próximo. Entrou com
um pouco de dificuldade, mas passou. Fui o terceiro. Posicionei bem a perna
esquerda dentro da fenda e fui passando rapidamente, sem dar muito tempo.
Quanto mais demoramos, mais vai cansando. Para entrar na chaminé, ganhei um
bico de pedra, mas tive que voltar e mudar a minha mochila de posição. Posicionei-me
novamente no bico de pedra e consegui entrar na base da Chaminé da Unha. É bem
apertado, não dava nem para movimentar os pés. Na posição que eu estava,
fiquei. Só dava para mexer a cabeça lá dentro. O Michel chegou em seguida e se
posicionou mais na entrada da chaminé.
Estava frio, mas pelo menos demos sorte de não estar
ventando lá dentro. Era hora de subir a Chaminé da Unha. Ela começa bem
estreita, mas melhora depois que chegamos num pequeno friso, onde existe uma
segunda laca, simplesmente apoiada nessa maior. Como o Luís havia subido
primeiro, montou a segurança e nós aguardamos até a cordada de cima ir ao cume.
Fui subindo lentamente para dar tempo da cordada subir. Dei uma parada nesse
pequeno platô que divide as lacas que formam a unha. O Michel chegou logo em
seguida. Ficamos ali durante um tempo, pois não tinha espaço para todos no topo
da unha. O Thiago já estava lá e assim que liberou, também subi. Sentei ao lado
do Luiz, enquanto e ainda aguardamos um pouco enquanto o pessoal já terminava o
rapel. Assim que o caminho foi liberado, pudemos começar a entrar no cabo de
aço e começar a fazer cume. O Luís seguiu primeiro. Fui dando segurança e logo
ele chegou. O Michel já estava no topo da Unha conosco, enquanto o João subia.
O sol já havia ido embora e o vento deixa o fim de tarde bem frio. Minha mão
doía e ficar com ela exposta foi duro. Era ficar movimentando, pois ainda tinha
o trecho do cabo de aço para passar e fazer força no cabo com mão gelada, gera
um certo incômodo, mas era subir ou subir. Era aproximadamente de 16 horas e
trinta minutos quando o Luís chegou ao cume. Fui logo em seguida. Já no cume,
pude contemplar toda aquela imensidão. Só de pensar que há pouco tempo atrás
estava olhando lá de baixo. Aproveitei para fazer algumas fotos e assinar o
livro de cume. Aos poucos todos subiram e nos reunimos para a tradicional foto
de cume.
Iniciamos o rapel. Fizemos o primeiro até o topo da Unha e
mais um até o platô do Cavalinho. Com muito cuidado descemos até os grampos
para o terceiro rapel. O chão estava bem escorregadio. Do platô fizemos um até
a base da chaminé e descemos andando até o último rapel. Dali, emendamos duas
cordas e fizemos um até a base. O Michel foi o último e optou por parar e fazer
mais um rapel, visto que como estávamos com duas cordas, elas poderiam agarrar
quando fosse recolhida. Eram 18 horas e 10 minutos quando todos chegaram à
base, a escuridão tomou conta. Foi preciso acender as lanternas. Ali, arrumamos
tudo e aproveitei para comer algo bem rápido. Começamos a descida e fizemos um
rapel curto acima da grutinha, evitando ter que passar por dentro dela. Se já foi
difícil na ida, imagina agora? Já estava bem cansado e com tudo molhado e
escorregadio, descer parece ser pior. Fomos lentamente e logo começamos a subir
em direção ao colo entre o Mirante do Inferno e São João. A subida foi
delicada, havia muita pedra solta e sem visibilidade, todo cuidado era pouco. Às
19 horas e 20 minutos já estávamos na trilha do Mirante do Inferno e 25 minutos
depois, estávamos descansando no Paquequer. Ali pudemos relaxar um pouco. Foi
hora de fazer um lanche reforçado e descansar para o trecho final. Falava uma
subida até a bifurcação da Pedra da Cruz e depois só descida. Havia duas
pessoas que estavam dormindo no Paquequer, iriam fazer a Agulha no dia
seguinte. Uma estratégia diferente. Era hora de voltar a caminhar.
De volta à trilha, subimos o Caminho das Orquídeas e
entramos na trilha que passa na base do Paredão Paraguaio. Agora era só
descida. Era só ligar o piloto automático e deixar levar. O bate papo da ida
deu espaço ao silêncio total, quebrado somente pelo som da natureza. Não
enxergava nada além de uns dois metros a minha frente, bastava apagar a
lanterna que a escuridão era total. Caminhamos relativamente próximos, mesmo
distantes, conseguíamos ver a luz da lanterna do outro. Sempre com sensação de
que o próximo ponto de referência nunca chegava, seguimos descendo e foi um
alívio chegar à Cachoeira do Véu da Noiva. Fiz uma parada rápida, hora de
recuperar um pouco de energia para o trecho final. Era 22 horas e 17 minutos
quando chegamos à Barragem. Dali até o carro foi mais uns 15 minutos. Foi um
alívio chegar. Iniciamos a caminhada às 7 horas e 33 minutos e terminamos 15
horas depois. Um belo teste de resistência. Mas ainda não havia acabado,
faltava a volta. E voltar dirigindo não foi uma tarefa das mais fáceis. Descemos
a serra de Teresópolis e tudo fechado, nem loja de conveniência de Posto de
Gasolina funcionando. Por sorte, achamos um posto perto da entrada de Magé. E
foi um milagre! Foi só entrarmos que a loja fechou a porta. Mas pelo menos
fomos muito bem atendidos, mesmo com os funcionários já querendo ir embora. Foi
comer um lanche e beber o um energético para o ânimo e humor voltarem com
força, ficando bem mais tranquilo chegar em casa. Deu até para separarmos os
equipamentos. Um dia cansativo, mas escalar a Agulha do Diabo é literalmente
assim: do inferno ao céu em pouco tempo!