Coincidentemente, estava de volta a via Leila Diniz,
exatamente, 6 anos depois. A minha primeira e única investida nessa via, havia sido
em 21 de janeiro de 2012. Nesse dia, havia escalado com o Guilherme Belém e meu
irmão, Leonardo Carmo, sendo a primeira via dele. Mas hoje, meu parceiro foi o
Vander Silva. Como o calor no sábado havia sido algo meio clima desértico,
sugeri ao Vander que entrássemos bem cedo na via. Como ele topou, marcamos as
6:30 em Itaipu, assim não correríamos o risco de pegarmos esse calor. Como
estávamos só eu e ele, com certeza, às 10 horas já deveríamos ter terminado a
via.
Acordei bem cedo, ainda estava escuro. Me preparei e saí de
casa. O tempo estava nublado e com cara que poderia chover. Mas com o tempo que
fez ontem, não dava para acreditar... Assim que passei o túnel de Charitas,
caíram uns pingos que marcaram o parabrisa, mas olhando para o alto, tinha certeza
que essa chuva não iria para frente. Passei na casa do Vander e de lá seguimos
para Itaipu. Chegamos e a praia estava vazia, também pudera, não era nem 7 da
manhã. A movimentação ainda não havia começado. Somente o pessoal dos bares e
os pescadores transitavam pela praia. Aquele clima agradável de colônia de
pescadores logo se transformaria... Mas com certeza, nesse momento já estaria
bem alto!
O Vander ficou preocupado com o tempo e eu falei para ele
não se preocupar, não iria chover! Caminhamos pela areia e chegamos à base da
via. Enquanto mostrava ao Vander os grampos, uma mulher que trabalhava num bar
que fica ao lado da base, falou: “É por aqui mesmo que o pessoal sobe.” O local
tá frequentado! Nos arrumamos no conforto das mesas e comecei a subir. Nessa
primeira enfiada, é fácil ver as sequências dos grampos. O primeiro grampo
ficou baixo, devido a um platô construído por um antigo bar, demolido há alguns
anos atrás. Não adiantava costura-lo. Subi mais um pouco e protegi no segundo
grampo. Dali, fui subindo. A via tinha muita areia. Tanta areia, que parecia
calçada de casa em frente à praia. Mais alguns lances e estava na primeira
parada. O Vander veio logo em seguida. O tempo estava bem agradável.
Dali segui para a segunda enfiada. Com certeza mais chata da
via. Segue subindo até abaixo de um grande platô de vegetação e fazer uma
diagonal para a direita entre em meio vegetação. Já não tinha mais contato
visual com o Vander e a corda fazia um grande arrasto. Fui no limite da corda e
parei num grampo, montando a parada. O Vander chegou logo em seguida. Já
tínhamos feito quase a metade da via.
Dali toquei para a terceira enfiada e novamente haveria
contato visual. A via sobe bem levemente para a direita e segue assim até a
próxima parada. Os grampos a partir daí
ficam um pouco mais espaçados, mas nada que comprometa. A via vai seguindo com
lances bem tranquilos. O visual vai ficando cada vez mais bonito. Já fazia
tanto tempo que nem lembrava direito da via. Estava como se fosse a primeira
vez... Na verdade, lembrava para onde eu tinha que ir, mas nada além de uma
vaga lembrança. Como a via fica bem tranquila, não me preocupei muito. Havia
olhado o croqui na base e na primeira parada, mas como não parei na indicação
dele e ainda acabei pulando um grampo, abandonei-o definitivamente.
Subi mais alguns lances e parei antes de um grande platô de
vegetação, que dá a impressão de que é o final da via, mas ela continua numa
longa diagonal para a direita, até um diedro bem visível. O próximo grampo fica
escondido entre umas bromélias e de onde eu estava não estava vendo. Quando
estiquei o pescoço para o lado, foi que vi o grampo. Dei segurança para o
Vander que veio logo em seguida.
Dali segui, segui para a penúltima enfiada da via. Fui
subindo sem muita dificuldade e optei por parar logo abaixo de um lance mais
vertical, meio estilo domínio. O Vander veio em seguida e pedi para ele montar
a parada dois grampos abaixo, visto que eu poderia cair nesse lance e como
estava num grampo, daria uma queda fator 2. Daria até para fazer num trecho
mais fácil, mas optei pelo mais difícil... Passado o lance, segui até a parada
dupla final, uns 10 metros de onde estava.
Já no final da via, arrumei os equipamentos e fomos tentar
achar o caminho. Tinha bastante mato, tentei por um lado e nada. Voltei e aí
sim conseguir achar a trilha. Ela estava quase na direção dos últimos grampos.
Pegamos a trilha de volta e rapidamente chegamos ao estacionamento. Era por
volta de 10:30 da manhã... Dentro do esperado. Além do tempo de escalada,
acertamos na previsão do clima. Dia extremamente agradável, sem chuva. Missão
cumprida.
Dicas para Travessia Theodoro de Oliveira x Boca do Mato
A trilha pode ser divindade em duas partes. Na primeira você
caminha no leito de um trecho da antiga rodovia RJ116 e no outro, no leito da
antiga Estrada de Ferro que ia até Cantagalo. No primeiro trecho, caminhamos
literalmente sobre o asfalto, sendo possível ver olho de gato e até as faixas
amarelas em alguns pontos. No segundo, passamos por pontes antigas e até
trechos contam ainda com trilhos. Por todo o percurso, passamos por pontos de
água e locais para banho.
Na logística, se tiverem em dois carros, vale a pena deixar um na rua que leva à Sede do Parque Estadual dos Três Picos, um pouco acima de
onde terminará a caminhada. Se tiverem com apenas um carro, pode-se deixar o
carro no mesmo local e pegar um ônibus ou van, até o posto da Polícia.
Vídeo
Como Chegar
O início fica na rua ao lado do Posto da Polícia na RJ 116,
nos limites do município entre Cachoeiras de Macacu e Nova Friburgo.
Relato da Travessia Theodoro de Oliveira x Boca do Mato
Ponte que cruzamos durante a travessia
Nos dias de calor, nada melhor do que caminhar em meio a
mata e com diversos pontos para banho. Mas será que existiria um lugar assim? A
resposta é sim e é em Cachoeiras de Macacu. Caminhar pelas trilhas da região é
garantia de poder se refrescar em dias quentes... O destino dessa vez foi a
Travessia Theodoro x Boca do Mato. Uma bela e peculiar caminhada, pois
caminhamos por cima de um trecho da antiga estrada que ligava Cachoeiras de
Macacu à Friburgo e depois pelo leito da antiga Estrada de Ferro Cantagalo.
Saímos bem cedo de Niterói e seguimos viagem até Cachoeiras
de Macacu. O dia não estava dos melhores e parecia que não teríamos sol. Chegamos
à entrada da sede do Parque Estadual dos Três Picos em Cachoeiras de Macacu,
deixamos um carro lá e seguimos para o início da trilha, 15km serra acima.
Início da travessia
No início do caminho, logo após o posto policial, que fica
no limite entre os municípios entre Cachoeiras de Macacu e Nova Friburgo,
estacionamos os carros e nos preparamos para nossa caminhada. Como nem todos se
conheciam, nos apresentamos antes de iniciar a caminhada. Dali, seguimos
andando. Fomos andando pela estradinha até que tem uma saída discreta à
esquerda, com uma barreira impedindo o acesso de carros. Passamos pelo canto e
entramos definitivamente na trilha, ou melhor, no asfalto, ou seria trilha
mesmo? Mas como assim asfalto? Pois é, essa parte da trilha segue pelo trecho desativado
da antiga rodovia e literalmente caminhamos no asfalto. A vegetação tomou conta
e ficou apenas um caminho limpo no centro da estrada.
Caminho asfaltado
E fomos andando. Por hora, víamos as faixas amarelas
pintadas na estrada e até olho de gato. Coisas bem inusitadas para uma trilha.
Passamos por diversos pontos de água e por muitos deslizamentos, talvez um dos
motivos pela desativação desse trecho. Mais a frente, uma bela cachoeira.
Continuamos a descida, esse é um detalhe que não havia comentado, mas a trilha
é uma suave e constante descida, o que a torna um passeio perfeito. Passamos
por uma grande ponte, de onde podíamos ouvir e ver o rio bem ao fundo.
Passamos por diversos pontos de água. Em dias quentes, uma
boa pedida para um banho. Como o piso é bem regular, rapidamente chegamos
novamente ao asfalto. Nesse ponto, a trilha volta para o leito da rodovia.
Paramos para fazer um lanche e seguimos descendo por cerca de 1km pelo
acostamento até entrarmos novamente na trilha. A entrada é meio discreta.
Começamos a descida por um caminho bem definido até
chegarmos a uma construção, tipo uma torre, que servia para abastecer de água
as locomotivas à vapor. Uma pausa para as fotos. Percebi em meio a vegetação
algumas vestígios de construções, talvez do tempo da Estrada de Ferro. A partir
desse ponto, começávamos a caminhar no leito da rodovia. Em um trecho, é
possível ainda ver um pedaço do trilho. Novamente passávamos por grandes
pontes, o que proporcionava uma aventura a mais... Uma dessas pontes,
impressionava pelo tamanho. O Rio corria pequeno ao fundo. Continuamos a
descida até chegarmos à uma área bem aberta da antiga Estrada de Ferro. O local
está bem cuidado. Ali paramos para um descanso e um lanche reforçado. Eu saquei
meu fogareiro, preparando um rápido almoço e o tradicional café.
Ainda ficamos por mais algum tempo, até começarmos a
caminhada de volta, onde pegamos uma estrada de chão, passando por diversas
propriedades até estar de volta à rodovia. Dali, caminhamos até a entrada o
Parque Estadual dos Três Picos, onde um grupo subiu para pegar o outro carro.
Aprovei para conhecer a Trilha do Jequitibá, próximo a sede o Parque. Um
refrescante banho fechou o dia! Ainda paramos na estrada para comermos algo. E
de lá, seguimos viagem de volta. Missão cumprida.
Posto policial
Rio durante a caminhada
Início da trilha
Trecho que caminhamos na rodovia
Durante travessia, já no trecho da Estrada de Ferro
Travessia da Neblina - Parque Nacional da Serra dos Órgãos
Relato da Travessia da Neblina
A história era para ser outra... Mas foi o que deu para o
dia! Havíamos marcado de fazer a Agulha do Diabo. Marcamos eu, Ary Carlos,
Marcelo Correia e o filho dele, Lucas. Fomos na sexta feira e optamos por
dormir no parque, assim poderíamos começar a trilha bem cedo. Saí do trabalho e
fui direto para casa. O Ary já estava me esperando e seguimos direto para
Teresópolis. Tínhamos que entrar até as 22 horas no parque pois é o horário
máximo de entrada, permitido somente para que compra ingressos antecipadamente
no site, caso contrário, o horário é até as 17:00. Saímos antes das 20 horas e
seguimos viagem. Sexta feira, geralmente o trânsito fica enrolado, mas não
contávamos com tanto... O caminho até Manilha, onde pegaríamos a estrada para
Magé estava muito engarrafado e corríamos o risco de não chegar à tempo. O
tempo foi passando e por sorte conseguimos chegar em cima do laço! Mas acabamos
mudando os planos em cima da hora. O Marcelo deu a ideia de dormirmos na casa
do filho dele, que fica bem próximo à entrada do parque, assim poderíamos ter
uma noite mais agradável. Aceitamos prontamente.
A noite foi ótima e a expectativa para o dia seguinte era
grande. Acordamos ainda no escuro e tomamos um café reforçado, afinal de contas
o dia seria longo... Chegamos no parque e subimos a estrada até a Barragem. O
céu estava estrelado. Garantia de tempo bom. Garantia? Bom, isso era o que eu
achava... Seguimos subindo a trilha do Sino e após a Cachoeira do Véu da Noiva,
percebi que o céu já não estava tá aberto assim, inclusive, muitas nuvens se
aproximavam. Mais para cima um pouco, uma leve neblina encobria o caminho. Como
estava cedo, pensei que pudesse ser passageira. Assim continuamos a subida. Entramos
pelo acesso ao Paredão Paraguaiao e uma leve garoa foi caindo. Mais acima,
próximo à bifurcação para a Pedra da Cruz, percebi que o chão já estava bem
úmido. Fui desanimando... Olhei para o céu e perdi de vez as esperanças de
fazer cume. Assim que chegamos na laje de pedra que fica no início da descida
do Caminho das Orquídeas, paramos para avaliar a situação.
Dali já poderíamos ver a ponta da Agulha do Diabo, mas não
víamos nada. Estava tudo encoberto. A
garoa caía e as vezes aumentava. Até
daria para fazer, mas subir e não curtir? Esse não era nosso objetivo. Poderíamos
voltar quando quiséssemos. Voltamos a um lugar um pouco mais abrigado e ainda
esperamos mais um pouco, afinal de contas, esperança é a última que morre! Três
pessoas passaram e disseram que estariam indo para a Agulha. Bom, cada um tem
seu objetivo... Depois de esperar algum tempo e nada das condições melhorarem,
resolvemos abortar. Mas para não perder de zero, optamos por descer pela
Travessia da Neblina. Dali, subimos para o cume da Pedra da Cruz.
Lá de cima, confirmamos a precariedade do tempo. Decisão
acertada. Seguimos descendo e cruzamos para o Queixo do Frade, onde subimos
mais um trecho e daí seguiríamos descendo até o ponto do antigo Abrigo 2. Na
descida, paramos no ponto onde ficaríamos de frente apara a Verruga do Frade.
Havia subido a Verruga há um tempo atrás, mas ainda não havia tido a
oportunidade de vê-la por esse ângulo. Estava bastante encoberta, mas por um
instante, as nuvem se dissiparam e pudemos vê-la perfeitamente. Aquela
“pedrinha” no alto e aquele “rasgo” na pedra impressionam pela beleza. Paramos
para várias fotos, afinal de contas, o local pedia!
Continuamos a descida e passamos por alguns grampos onde
fixamos uma corda para ajudar. O Marcelo fez um caminho contornando um pouco
mais para a esquerda e eu desci sem o auxilio da corda. Dali, passamos pela
base do Nariz do Frade e sua Verruga. Apesar do tempo fechado, estava
agradável. Ainda bem que não choveu. Dali, conseguíamos ver Teresópolis entre
as nuvens. O tempo continuava fechado. Mais abaixo, passamos pelo Paredão Roi
Roi e com mais um tempo de caminhada, chegamos ao ponto do antigo Abrigo 2.
Dali, seguimos descendo até a Barragem.
Mesmo a noite estrelada da véspera não foi garantia de tempo
bom. Atividade na Serra é assim! O que não deu hoje, dará em outra
oportunidade. Em breve voltaremos, afinal de contas, a montanha sempre estará
lá!
Já subi o Mourão inúmeras vezes, nem sei dizer quantas...
Mas dessa vez foi diferente. E muito diferente... Foi a primeira vez que o
João, meu filho, foi comigo. Faço questão de deixar aqui registrado!
Como iria levar uns amigos do trabalho na trilha, vi que
seria o dia perfeito para isso. A semana estava com tempo firme, sol e
temperatura agradável, diferente de alguns dias atrás. A princípio, um dia
perfeito. Marcamos de começar a subir as 7:30. Vinham pessoas do Rio e outras
de Icaraí. Como a distância é grande,
tinha tudo para atrasar. Mas que nada! As 7:40 estávamos iniciando a subida.
Nada mal para um grupo de 8 pessoas.
A manhã estava muito agradável. O João veio conversando no
carro e não tinha dúvida de que ele se sairia bem. Chegamos ao ponto de
encontro e de lá subimos até o mirante da Serrinha. Não tinha mais vaga e
acabamos estacionando bem no canto da estrada. Iniciamos nossa caminhada as
7:40. O começo é o mais chato, principalmente para aqueles que não estão muito
acostumados. O João foi subindo ora na frente, ora atrás. Eu sempre de olho, fui
deixando-o bem à vontade. Meio que vai no seu ritmo....
Tudo era novidade para ele. Uma teia de aranha, um teiú
correndo pela trilha, etc... Estávamos num ritmo bem tranquilo. Algumas paradas
curtas nos faziam seguir sempre num ritmo constante. Passamos pela primeira
laje de pedra e a subida forte havia ficado para trás. Continuamos subindo,
agora num terreno mais suave. Mais alguns minutos e chegamos ao primeiro
mirante, aquela laje voltada para Itacoatiara. Uma pequena pausa para recuperar
o fôlego e um lanche rápido.
Dali andamos mais alguns minutos e chegamos ao grande
desafio. Um trepa pedra que assusta os menos acostumados. Muitos desistem
naquele ponto. Outros tentam subir e desiste... Outros são literalmente
rebocados! O João subiu brincando... Orgulho do papai. Em alguns trechos, o
piso está bem erodido. Mas nada que pudesse atrapalhar... A vista nesse ponto é
fantástica. Impressiona. Mas o melhor ainda estava por vir, era melhor deixar
para bater as fotos no cume.
Mais uma subida e estávamos na “nuca do elefante”.
Caminhamos mais um pouco até passar pela pedra onde fica o cume. 412 metros
alcançados! Descemos mais um pouco até o tradicional ponto final. Dali podíamos
ver toda a praia de Itaipuaçu e boa parte de Maricá. O dia estava lindo, bem
aberto. Ficamos lá por algum tempo. Lanchamos, batemos diversas fotos e nos
preparamos para a descida.
Na volta, demoramos um pouco, pois havia bastante gente
subindo. O que deixava aquele trecho técnico bem engarrafado. Devagar
conseguimos passar e logo entramos na trilha novamente. O calor foi aumentando,
mas já estávamos descendo. Passamos por muita gente subindo. Havíamos chegado
na hora certa.
O João desceu tranquilo, nem pediu colo! Já estava pronto
para a próxima. Aproveitamos para comer um bolinho de peixe em Itacoatiara e
apreciar a bela vista da praia. Missão cumprida!!!!
Participantes: Leandro do Carmo, Marcelo Correa, Ary Carlos, Blanco Pinheiro e
Guilherme Gregory
Dicas para escalar a Agulha do Diabo
É uma atividade pesada. Só de caminhada de aproximação,
leva-se, em torno de 4 a 5 horas. A caminhada após o Mirante do Inferno é a
mais crítica e costuma ficar bem úmido, dificultando bastante, por isso, avalie
caso esteja em período chuvoso. Muita gente opta por acampar no Paquequer, numa
pequena área antes do Mirante do Inferno (mas deve-se pedir autorização com o
Parque), para sair bem cedo no dia seguinte. A escalada em si consiste em
lances de entalamento e chaminés. O lance final é feito em cabo de aço. No
cume, o espaço é limitado e cabem poucas pessoas. Não é muito comum encontrar
grandes grupos escalando, mas há possibilidade. Se for fazer em um dia, comece
bem cedo e tenha certeza de que voltará parte do caminho durante a noite.
Como chegar à Agulha do Diabo
Na trilha para a Pedra do Sino, logo após a Cota 2000, há
uma saída para a esquerda. Essa trilha é conhecida como “Caminho das
Orquídeas”. Siga descendo e vire à direita na bifurcação. Seguirá por um longo
caminho até chegar ao acampamento Paquequer, um pequeno descampado, onde cabem
poucas barracas. Dali, cruzará o rio Paquequer e subirá em direção ao Mirante
do Inferno. Pegar uma saída à esquerda, que te levará ao colo entre o Mirante
do Inferno e o São João. Descerá à direita, até a base da Agulha e subirá um trecho
bem úmido.
Vídeo da Escalada na Agulha do Diabo
Relato da Escalada na Agulha do Diabo
Enfim havia chegado o grande dia. Há alguns anos atrás,
quando fiz o curso básico de escalada, ouvi alguém dizer sobre uma escalada na
Agulha do Diabo. Como não conhecia, fui logo pesquisar. Na primeira pesquisa,
eis que surge uma foto simplesmente fantástica! Numa primeira análise, parecia
algo impossível... Mas era naquele momento. Porém, algo me dizia que um dia
estaria lá...
O tempo foi passando e foram algumas tentativas... Ora o
tempo não ajudava, ora compromissos pessoais... Sempre tinha alguma coisa que
me fazia adiar. Mas não desisti e nem desanimava, toda vez que passava pelo
Parque Nacional da Serra dos Órgãos, me certificava de que ela estava lá a me
esperar. E passou tanto tempo, que ficava até com um pouco de vergonha, quando
o assunto Agulha do Diabo vinha a tona e eu falava que ainda não havia ido.
Estava na hora de passar isso a limpo!
Eu, Ary Carlos, Marcelo Correa e seu filho, Lucas, havíamos
marcado de escalar a Agulha dois meses atrás. Pensa naquela noite estrelada...
E foi assim. Entramos no parque às 6 da manhã com um dia aberto e firme. Foi só
passar da altura do antigo Abrigo 2 que as nuvens estavam lá estacionadas,
trazendo uma chuvinha rala... Ainda chegamos ao início da descida do Caminho
das Orquídeas na esperança do tempo abrir, mas nada... Havia parado na garganta
o grito de gol.
Dessa vez tinha tudo pra dar certo. Estávamos num período
forte de estiagem. Tudo muito seco. Apesar das condições difíceis para a
vegetação e animais, estar seco, facilitaria a muito a caminhada de
aproximação. Dessa vez, eu, Ary Carlos, Marcelo Correa, Guilherme Gregory e o
Blanco Pinheiro nos organizamos para, enfim, escalar a tão sonhada Agulha do
Diabo. Saímos as 4:30 da manhã de sábado. O Marcelo Correa nos esperava em
Teresópolis. A viagem foi tranquila e com a estrada livre chegamos cedo em
Teresópolis. Já havia gente na portaria, prenúncio de um dia cheio no
PARNASO. Acertamos tudo e seguimos para
a Barragem. Lá nos preparamos e tivemos
que descer para deixar o carro estacionado mais embaixo.
Enfim começamos a caminhada. Eram 6:30 da manha e nossa
previsão de chegada à base, seria por volta das 10:30. Começamos a subida e
fomos num ritmo bom. Cruzamos o local do
antigo Abrigo 1 e passamos pela Cachoeira do Véu da Noiva completamente seca.
Isso mesmo, completamente seca. Ainda não havia visto algo parecido. Seguimos e
mais acima, na Cachoeira do Papel, mais uma decepção, só existia um pequeno
filete de água, que mal dava para encher as garrafas. Tratei logo de encher minha
garrafa extra, não sabia se o Paquequer estaria com água.
Continuamos a subida e usamos a subida pela base do Paredão
Paraguaio, na Pedra da Cruz para ganharmos um pouco mais tempo, apesar da
subida mais forte. Quando chegamos na laje, já na descida para o Caminho das
Orquídeas, onde havíamos voltado da última vez, nos deparamos com uma vista
fantástica. O dia estava completamente limpo. Uma leve brisa balançava as
folhas das árvores. Pequenas nuvens contrastavam com o céu azul. Um espetáculo.
Descemos com o piso seco e foi mais fácil que das últimas
vezes que havia ido ao local. Descemos o grotão e logo chegamos no Abrigo
Paquequer. Um pequeno local de acampamento muito utilizado para quem faz a
Agulha do Diabo em dois dias. Muitos preferem pernoitar no local e acordar cedo
para escalar. Existe o incômodo de subir com mais peso, mas cada um define sua
estratégia. Ali a água era escassa, mas em maior quantidade. Enchemos novamente
nossas garrafas. E seguimos subindo em direção ao Mirante do Inferno. No caminho
pegamos o caminho da esquerda, em direção ao São João. Descemos um terreno
instável e até que chegamos ao colo entre o Mirante e o São João. Dali,
descemos à direita em direção ao Vale da Geladeira.
É uma descida técnica e difícil, apesar de seca. Muitas
pedras soltas. Havia muito limo seco nas pedras. Fiquei imaginando como seria o
local molhado... Ficou apenas na imaginação. Dali, a vista da Agulha era
fantástica. Estávamos a uma distância razoável o que nos permitia ver com
detalhes, alguns dos lances clássicos da escalada, como o Cavalinho. E
continuamos a descida. Em um determinado ponto começamos a subir em direção à
Agulha. O caminho era mais difícil. Mais uma vez agradeci a seca... Fomos
ganhando altitude e chegamos a uma gruta, onde entramos e fizemos um lance de
chaminé até chegar ao alto da pedra, na volta, faríamos um rapel num grampo que
havia ali no alto. Dali chegamos a um pequeno largo e com mais uma subida,
estávamos na base da escalada!
Fizemos um lanche e nos preparamos para a escalada. Deixamos
nossas mochilas e levamos somente o necessário. No casa do Agulha, a mochila
iria atrapalhar os vários lances de entalamento e chaminés estreitas. Dividimos
em duas cordadas. Eu e o Macelo fomos na frente e o Blanco, Ary e Guilherme por
último.
O Marcelo guiou a primeira enfiada. Fui observando o
movimentos, pelo menos os primeiros, logo acima, já se perde o contato visual.
Assim que ele chegou à parada, foi hora de seguir. O primeiro lance olhando de
baixo parece simples, mas as fendas são cegas e é preciso posicionar bem o pé
esquerdo para sair bem e dominar o lance. Logo acima vem um bloco, um pouco
mais fácil que o de baixo. Seguimos mais
uns trepa pedras até pegar uma diagonal para cima. Primeira parte finalizada!
Chegou minha vez de guiar. Sai da primeira parada e a
segunda enfiada começa com um lance de entalamento. Subi um pouco e protegi com
um camalot, melhorando o psicológico do trecho. Tentei uma vez, mas não
encaixei e na segunda tentativa, me posicionei melhor, usando as pernas e o lado
do corpo até subir mais um pouco e chegar próximo ao grampo, quando pude passar
a costura e ficar protegido. Um lance bem bacana. Daí pegar uma horizontal para
a esquerda numa fendinha, seguindo na ponta dos pés. Uma boa agarra acima
deixou o lance bem tranquilo. Depois foi seguir uma pequena e delicada trilha
até a parada dupla utilizada para o rapel, onde montei a segunda parada. O
Marcelo veio logo em seguida. Dali já pude ver a outra cordada chegando.
Seguimos todos mais ou menos juntos.
Subi uma pequena trilha, num caminho já bem marcado. Alguns
trechos estão bem instáveis e é preciso atenção. Passei por baixo de uns
grandes blocos até a base de mais uma chaminé. Dali dava para ver o quanto
vertical era o trecho. Já estávamos bem próximos do nosso destino. O Marcelo
guiou esse lance. Segui até o final da chaminé e subi até um buraco, onde
entrei até o lado de fora, passando com um pouco de dificuldade. Daí foi subir
mais um pouco e ir andando pelas pedras suspensas até uma grande pedra
entalada, bem acima de onde entramos. Deu um pouco de arrasto na corda. Chegou
até a prender em alguns momentos. Em cima dessa grande pedra, dá para ver o
grampo um pouco mais alto. Na técnica de oposição, dominei o lance, até chegar
ao grampo onde o Marcelo já havia deixado uma fita, fazendo um artificial até
um confortável platô.
Nesse ponto, podíamos ver toda a extensão da Chaminé da
Unha. Estávamos de frente para o São João e podíamos ver um grupo lá no alto. Ali,
a vista surpreendia... Enquanto a cordada de trás subia, fui me preparando para
o famoso lance do Cavalinho. Já estava pronto e o Marcelo me passou algumas
dicas. Dei uma olhada antes e respirei fundo e subi um pouco depois do grampo
afim de pode encaixar primeiro o ombro para poder me equilibrar. Depois, foi
chegar um pouco para frente e colocar a perna esquerda. Alguns escaladores até
passam em pé, mas preferi fazer o lance da maneira mais comum e na qual achei
mais fácil... Segui devagar, sempre me apoiando bem. Olhei para baixo e vi o
quanto estava alto. Tratei logo de olhar para frente e me concentrar, faltavam
apenas alguns metros para completar. O Marcelo me chamou e bateu uma foto.
Segui até a ponta e optei por entrar completamente na fenda. Como sou magrinho,
não tive dificuldades. Saí do lance entrei numa estreitíssima chaminé. Era tão
estreita que foi fácil dar segurança dali para o Marcelo.
Assim que ele completou o lance, segui para o outro lado, já
me preparando psicologicamente para a Chaminé da Unha. Vou aqui descrever um
pouco esse trecho. Trata-se de uma gigantesca laca, que está equilibrada em uma
das faces, já próxima ao cume, formando uma grande e regular chaminé. Diz a lenda que ela até balança! Brincadeiras
a parte, não seria eu o responsável por descobrir a verdade!!! Foi hora de me
preparar para guiar mais esse trecho, talvez o melhor da escada. Talvez não,
com certeza.
De onde estava, podia ver um grampo muito alto. Pensei que
fosse o primeiro, mas chegando um pouco mais para frente, pude ver que era o
segundo, mas mesmo assim, estava alto. As proteções são aquelas padrão chaminé
que conhecemos bem: um grampo lá longe e outro muito lá longe... Sem muito enrolar e aproveitar o corpo
quente, toquei para cima. Como movimentos sincronizados, fui ganhando altura e
mais altura. Já não tinha como voltar atrás... A parede é bem aderente e
regular. Comecei o lance de frente para o São João, seguindo a dica do Marcelo.
Protegi no primeiro grampo e segui para um degrau, onde pude descansar um
pouco. Consegui fazer algumas fotos e nesse ponto, virei de costa para o São
João, visto que unha fica convexa ao seu final, isso facilitaria terminar o
lance.
Segui subindo e protegi num grande, antigo e torto grampo.
Fui ganhando altura e olhando para cima, a alça do cabo de aço já se
aproximava. Faltavam apenas alguns metros... Com aquela vontade de chegar rápido, parecia
que o cabo se distanciava. Concentrei e parei de me preocupar. Quando olhei
novamente, ele já estava na altura da minha cabeça. Apoiei com mão no cabo e
subi mais um pouco até passar para o topo da unha. Ali foi descansar um pouco e
apreciar a fantástica vista. Descansei um pouco e dei segurança ao Marcelo que
rapidamente chegou. Estar ali é algo que dificilmente conseguirei descrever...
Bom, faltava o último trecho. O lance do cabo não tem muito
mistério, mas todo cuidado é pouco. Fui subindo e passei por um trecho bem
vertical, até que foi perdendo inclinação. Pronto, estava no cume. Realizava um
sonho. Sozinho por um instante, com aquele dia maravilhoso, foi difícil conter
as lágrimas. Uma mistura de sentimentos entre realização, alegria, alívio,
etc... Rapidamente olhei em volta e me posicionei no centro do pequeno cume e
agradeci a Deus por estar me proporcionando esse momento mágico. Poucos terão a
oportunidade que tive. Por instante refiz todo o caminho que percorri até ali.
Fechei os olhos e respirei fundo, me fazendo voltar a escalada, afinal de
contas, tinha completado a metade do caminho.
Me prendi ao grampo
que fica ao lado da caixa metálica onde se encontra o livro de cume e montei
segurança para o Marcelo que subiu rapidamente. Quando ele chegou ainda falei:
“Missão cumprida”. Ele me respondeu: “Ainda falta a volta”. Pois é, completamos
apenas metade da missão! Enquanto a outra cordada não chegava, batemos várias
fotos para registrar e tivemos a sorte de ter outros grupos no São João e
Mirante do Inferno. Um moça que estava no Mirante do Inferno nos viu no cume e
gritou: “De qual clube?” Eu respondi: “Niteroiense” . Aos poucos todos foram chegando e conseguimos
nos reunir no pequeno cume. O dia continuava perfeito. Começamos a nos preparar para descer. Seguimos
por dois rapeis até a base de um bonito e mais baixo cume, chamado de Agulha da
Neblina. O Blanco escalou e eu me arrependi profundamente de não ter ido... Mas
tudo bem, ficará para a próxima...
Descemos uma pequena trilha e fizemos mais um rapel até a
base, onde havíamos deixado nossas mochilas. Fizemos um lanche e foi hora de
pegar o longo caminho de volta até a barragem. Às 18:00, estávamos de volta a
Trilha do Sino e as 20:00, chegávamos na Barragem.
Agora sim, poderia dizer:
Missão cumprida!
Base da via
Lance do Cavalinho
Chaminé da Unha
Leandro do Carmo e Marcelo Correia no cume
Leandro do Carmo escalando o lance final
No lance final
Ary chegando ao cume
Leandro, Ary e Marcelo
Marcelo Correia (em pé) e Leandro do Carmo no cume
da esquerda: Blanco, Ary, Marcelo, Leandro e Guilherme