Por Leandro do Carmo
Parte aérea: Voo - Rio x Boa Vista
Parte terrestre: Boa Vista (RR) x Santa
Elena de Uiarén (Venezuela) - Aproximadamente 235 km - Táxi (Dá para ir de
ônibus até Pacaraima e de lá seguir até alguma pousada em Santa Elena)
Santa Elena x Paraitepuy - Aproximadamente
90 km - Carro 4x4 (Responsabilidade do guia)
Optamos por contratar um guia, não uma
empresa.
Vantagens: Mais barato
Desvantagens: Difícil de fazer contato e acertar os detalhes
Estava incluso: Guia, barracas,
alimentação durante todos os dias, transporte Santa Elena x Paraitepuy x Santa
Elena.
Algums dicas:
Moeda: Bolívar Venezuelano;
Câmbio: 1 Real = 320 - 330 Bolivares (em
julho/2016);
A maioria dos lugares aceitam Real, não há
necessidade de comprar Bolívar;
As coisas na Venezuela são bem baratas.
Dados sobre o Parque Nacional Canaima (Venezuela)
Dados sobre o Parque Nacional do Monte Roraima (Brasil)
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Relato
1° Dia, 25/07/2016: Aldeia Paraitepuy x Acampamento Kukenan
Distância: 16,2 km
Tempo Total: 05h 54min
Acordamos cedo e saímos para tomar um café em uma padaria em Santa Elena. Era o dia mais esperado... Fui bem rápido, não queria que nada desse errado. Nem estava com fome, de tanta expectativa. O horário marcado com o Juan, foi as 8 da manhã e as 08h 01min, já estava achando que ele estava atrasado... O coração bateu forte quando vi as Toyotas Land Cruiser entrando pelo portão da pousada... Agora sim a expedição estava começando!
Arrumamos as coisas e quem foi contratar o carregador, acertou ali na hora. Colocamos nossas mochilas e nos ajeitamos. Enfim pegamos a estrada. De Santa Elena até a Aldeia Paraitepui, foram aproximadamente 2 horas entre asfalto e estrada de chão, só com 4x4! Na aldeia, descarregamos tudo e fomos assinar o livro de presença no posto do InParques, entidade venezuelana que administra o sistemas de parques e monumentos nacionais. Para que não sabe, o lado venezuelano do Monte Roraima está dentro do Parque Canaima, segundo maior parque nacional venezuelano.
Depois dos trâmites legais, colocamos nossas mochilas nas costas e começamos a andar. Para mim omprimeiro dia é sempre o mais difícil... O corpo ainda não sabe o que vem pela frente e as vezes demora um pouco a se adaptar... O dia estava quente e nublado. Passamos por algumas casas bem humildes da aldeia e seguimos num sobe e desce. Se não fosse a grande expectativa de estar ali, te digo que seria uma caminhada meio sem graça... Isso porque o tempo não estava ajudando e o Monte Roraima e o Kukenan estavam encobertos e só saberia que ele estava ali na nossa frente, alguns dias depois...

Em poucos minutos, fomos literalmente atacados por uns mosquitos conhecidos como Puri Puri. Eles são pequenos e quando picam, devem expelir algum anti coagulante que deixa o sangue escorrendo... Nem deu para curtir muito... Seguimos andando. Um pouco mais abaixo, atravessamos o Rio Ték, primeira grande aventura do dia. O rio não estava muito cheio e o atravessei com a água na altura da coxa. Do outro lado da margem,segui descalço,seriam aproximadamente 2 km até o ponto final do dia. Em seguida, passamos pela Igreja de Santa Maria e mais a frente pude contemplar o Rio Kukenan e o Kamaiwa, um de água quente e o outro de água fria, respectivamente.
forte e todo o cuidado é pouco. Atravessamos bem lentamente, não queria ter minha mochila toda molhada logo no primeiro dia. Com cuidado, cumprimos o último desafio do dia. Foi diferente chegar ao ponto de acampamento e encontrar tudo arrumado e logo em seguida vir um lanche. Nunca pensei que fosse ser tão bem servido! Aproveitei para tomar um bom banho e descansamos o final do dia. À noite, lanchamos e aproveitamos para jogar cartas para passar o tempo...
2° Dia, 26/07/2016: Acampamento Kukenan x Acampamento Base
Distância: 8,35 km
Tempo Total: 4h 55min
A noite foi bastante chuvosa. Acordamos ainda com um tempo meio estranho, mas logo foi firmando um pouco. Nesse primeiro café da manhã, comemos arepa, uma espécie de pão feito com farinha de milho. Após esse delicioso café, arrumamos nossas coisas e partimos rumo ao acampamento base por volta das 9 horas. A caminhada começa relativamente plana, mas depois de alguns quilômetros começa a subida. Seguimos subindo e o tempo fechou de vez, fazendo desabar uma forte chuva. No meio do caminho o Juan, milagrosamente sacou um melão de dentro da mochila, isso mesmo, um melão, cortando em fatias e dando a quem estava por perto. Nessa hora ele deu uma ajuda a minha mãe, levando a mochila dela por um longo trecho.
Depois da chuva o tempo parecia que iria firmar, mas logo veio mais água e o frio aumentou consideravelmente. Foi um alívio chegar no local do acampamento. Mas dessa vez, devido a forte chuva que caía, as barracas não estavam montadas. Já estava ficando mau acostumado... Todos estavam esperando embaixo de uma lona estendida sob uma armação de madeira. Foi só o chuva dar uma trégua, para que as barracas fossem armadas. Foi o único dia na qual não tomei banho. A caminhada havia me desgastado muito.
Depois de algum tempo, a chuva cessou e o tempo abriu. O Monte finalmente apareceu e foi aí que pude ter a noção exata da magnitude do local. Chega dar arrepio só de lembrar... Acabei esquecendo do cansaço da subida e fui hipnotizado pelas belíssimas cachoeiras que se formavam em vários pontos do imenso paredão de pedra, em especial a bela Kukenan. No local haviam muitos pássaros que ficavam rodeando nossas barracas e cercando a cabana onde a comida estava sendo preparada.
Comemos pipoca com chocolate quente antes da janta. Aproveitei para ir dormir um pouco mais cedo. O dia seguinte apesar de mais curto, seria o dia com a subida mais pesada, passaríamos por trechos bem delicados.
3° Dia 27/07/2016: Acampamento Base x Hotel Principal
Distância: 5,38 km
Tempo Total: 6h 15min

Cruzamos uma queda d’água próximo ao acampamento e já começamos uma forte subida. O trecho é bem íngreme e o piso é de uma espécie de barro bem compactado. A sorte é que não estava chovendo. Segui subindo e percebi o quanto estava enganado com a distância. Talvez pela grandeza do local, mas tinha a nítida impressão de que não era tão longo assim... Mais a frente tive a oportunidade de tocar o paredão do Monte Roraima pela primeira vez. Uma emoção! Pensei em como seria chegar ao topo... Mas deixei as hipóteses de lado e me concentrei no que tinha realmente no momento: mais subida!





4° Dia, 28/07/2016: Hotel Principal x Hotel Coati
Distância: 13 km
Tempo Total: 06h 24min

O tempo foi melhorando e logo saímos para a caminhada. O caminho fica bem marcado por cima das pedras, uma espécie de linha branca de tanto se andar. Seguimos por entre belas formações rochosas, atravessamos córregos, pegamos sol, chuva, frio, calor, tudo isso em apenas algumas horas...
Entramos num trecho com algumas passagens bem bonitas, até que chegamos à Tríplice Fronteira. Para mim, mais um objetivo cumprido na expedição! Nesse ponto, podíamos estar em solo venezuelano, brasileiro e guiano! O Monte Roraima faz fronteira entre esses três países, sendo o lado venezuelano com 85%, o brasileiro com 5% e o guiano, com 10%. Tiramos várias fotos e seguimos caminhando.
Mais a frente, me deparei com um impressionante buraco em meio a uma depressão, havíamos chegado ao “El Fosso”. Me surpreendi com o local! Havia um rio que corria e desembocava dentro desse belo e simétrico buraco, parecia que havia sido feito a mão, de tão perfeito que era. Ali, faríamos nosso almoço. Enquanto descansávamos, aproveitamos para ir dentro do “El Fosso”. Há uma entrada por trás das pedras onde ficamos, porém é preciso fazer uma passagem bem delicada, o que deixou alguns de fora dessa exploração. Começamos a descer e a chuva começou a cair fraca, mas como estávamos dentro de uma gruta, fomos seguindo. A água estava muito gelada e para chegar ao meio do buraco, foi preciso molhar um pouco a calça. Enquanto andava, o chuva caiu forte. Fui até a parte abrigada da chuva e esperei o resto da galera chegar. Ali pude contemplar mais um espetáculo da natureza!!!
Na volta, tivemos que esperar por alguns minutos a chuva passar. Estava tanto frio que os minutos pareciam horas... Já de volta a superfície, almoçamos e seguimos caminhando até o nosso destino. Passamos por labirinto até que chegamos num grande lajeado. O tempo fechou novamente e baixou uma forte serração. Seguimos e passamos por uma imensa fenda, onde o som assustador da água correndo ao fundo, dava a impressão de que seria sugado... ainda mais passando por cima de uma pontezinha de madeira, amarrada com arame...
Mais alguns minutos caminhando e chegamos ao “Hotel Coati”, uma espécie de caverna, onde abrigamos nossas barracas. Um belo e aconchegante local de acampamento. Aproveitei uma cachoeira formada pela água da chuva, bem na entrada do “Hotel” para tomar um banho. Seco e com uma roupa bem quente, foi fácil passar o tempo! Continuamos nossa conversa e ouvimos grandes histórias do nosso mestre e guia Juan, onde pudemos conhecer um pouco sobre a cultura local. Ainda comemoramos o aniversário do Pulga, cantando todo o tipo de música de parabéns que conhecíamos!
5° Dia, 29/07/2016: Hotel Coati x Lago Gladys x Hotel Coati
Distância: 10 km
Tempo Total: 07h
Tentamos ver o sol nascendo, mas o tempo não ajudou. Amanheceu com uma forte cerração. Como estávamos bem abrigados, nem percebi se fora uma noite chuvosa. Fora da barraca a temperatura bateu a mínima de 10,2°C. Enquanto aguardávamos o tempo abrir, tomamos um delicioso café da manhã e aproveitei para dar uma arrumada nas minhas coisas. Passaríamos mais uma noite por aqui. Assim que o tempo foi melhorando, saímos para nossa caminhada.


Depois que todos chegaram e cansaram de bater fotos, seguimos o caminho de volta. Começou uma forte chuva, como já estava acostumado com a mudança rápida do tempo, paramos um pouco perto da borda do precipício, esperando que o tempo abrisse. E não é que fomos agraciados novamente pela mãe natureza! O tempo abriu e pudemos ter uma excelente visão . Batemos fotos de tudo quanto foi maneira. Ninguém queria perder um ângulo sequer!

O tempo abriu, aproveitamos para pegar um sol e colocar algumas de nossas roupas para secar. Fui dar uma volta pelo local e fui seguindo alguns totens. Em um determinado ponto, encontrei o José, um dos guias, que me indicou um mirante, de frente para um monte conhecido como Roraiminha. Já está até parecendo um clichê, mas não encontrei outra palavra diferente do fantástico para descrever o local. Garanti algumas fotos e voltei até o acampamento.
A noite foi ótima. Muita conversa na nossa varanda com vista panorâmica. No dia seguinte, retornaríamos para o Hotel Principal, passando pelo Vale dos Cristais.
6° Dia, 30/07/2016: Hotel Coati x Hotel Sucre (Vale dos Cristais)
Distância: 12 km
Tempo Total: 06h
Acordei antes das 5 da manhã na esperança de ver o sol nascendo. Mas como os dias anteriores sempre amanhecia fechado, nem tinha muita esperança. Quando ouvi o Juan falando “E aí Leandro, vamos?”, saí rapidamente do saco de dormir e seguimos para o mirante. Como já havia feito o caminho no dia anterior, segui à frente achando que seria fácil... Puro engano... Tive que ir e voltar algumas vezes para acertar o caminho. O céu estava estrelado e bem aberto. Quando chegamos no mirante, tive a noção exata de onde estávamos. A vista era fantástica... As cores que se formavam no horizonte faziam um contraste com branco da nuvens e negro da noite, um espetáculo.
Numa manhã mágica, presenciei um dos mais emocionantes nascer do sol que já havia visto. E quando tudo parecia perfeito, apareceu o Ramón com uma jarra de café! Quase chorei!!!!! Tomar café vendo um nascer do sol desses... Coisa para poucos! Nem preciso falar que fizemos várias fotos. Já era hora de voltarmos e levantar acampamento. E assim fizemos. No Hotel, reforçamos nosso café da manhã, arrumamos nossas mochilas e seguimos caminhando de volta até quase chegar à Tríplice Fronteira novamente.
Pegamos uma saída para a esquerda e entramos no Vale dos Cristais. Como o próprio nome diz, é um local com grande concentração de cristais de quartzo, alguns tão perfeitos que parecem até vidro de tão transparentes... O local já teve mais cristais, a retirada foi grande no passado. Hoje em dia o controle é muito mais rigoroso pelo InParques, ao final da caminhada, em Paraitepui, é feita uma revista nas mochilas e a multa é forte, se encontram alguma coisa na mochila...
Caminhamos no fundo do vale até que conseguimos ver o marco da Tríplice Fronteira bem lá trás. Voltamos por um caminho diferente do que fizemos na ida. Mais a frente, os carregadores apareceram novamente fui seguindo-os até que chegamos perto do Hotel Principal. Lá vimos que ele estava ocupado e seguimos para o Hotel Sucre. No Sucre, as barracas não ficam tão bem acomodadas, mas ficar abrigado já é um luxo. Deixei as coisas na barraca e fui direto para um banho. O dia estava bastante agradável no momento. Aproveitei para dar um subida em uns mirantes próximos.
Comemos e descansamos bem, o dia seguinte seria longo. Desceríamos direto e pernoitaríamos no Acampamento do Rio Ték, pulando o Acampamento Kukenán.
7° Dia, 31/07/2016: Hotel Sucre x Acampamento Ték
Distância: 15,4 km
Tempo Total: 07h



Lá encontramos alguns grupos que estavam iniciando suas caminhadas e ficamos conversando e contando histórias num tom bem descontraído. Olhando ali, percebi o quanto é bom estar com um grupo fechado, só de amigos. A viagem segue bem melhor...

No apagar das lanternas, nos recolhemos em nossas barracas para nossa última noite, com o Monte Roraima a nossa frente...
8° Dia, 01/08/2016: Acampamento Ték x Aldeia Paraitepuy
Distância: 13,9 km
Tempo Total: 4h 37min
Tirando o dia que acordamos para ver o sol nascendo, esse
foi o dia na qual acordamos mais cedo. Nossa meta era chegar por volta das 11
horas, pois ainda iríamos almoçar antes de irmos de volta para Santa Elena. Mas
antes de sair, batemos uma foto com todos. Uma foto para entrar para história!
Arrumamos nossas mochilas e fomos saindo, um de cada vez... Depois de tudo que
passamos, esse foi um caminho onde fui lembrando de cada dia, cada subida, cada
risada... enfim, cada momento...
Depois de algumas horas chegamos a Aldeia Paraitepuy e
passamos pela revista do pessoal do InParques. Foi um momento de alegria e
tristeza quando os jipes chegaram... E o Juan com mais uma surpresa! Cerveja e
Coca Cola gelada para todos! Seguimos para o delicioso almoço de despedida.
Quando estamos sozinhos, o sucesso depende somente da gente.
Em grupo, o sucesso não é mais individual, ele vai depender do sucesso de
todos. E posso te garantir que vencemos! Monte Roraima 2016... Pra sempre...